A etapa seria fácil e de curta extensão,
assim pretendíamos sair mais tarde que o horário de costume.
No entanto, devido à precariedade e o cheiro
de mofo no quarto onde dormi, levantei às 3 horas e fiquei aguardando o dia
amanhecer, sentado num sofá localizado no “hall” da Pousada.
Posto que, devido ao recrudescimento de
minha rinite alérgica, tinha urgência em deixar o local o mais rapidamente possível.
Para completar, também não tomamos o café
da manhã, pois ninguém nos informou o horário em que seria servido, e também não
notei movimentação nas dependências do imóvel até às 6 horas.
No dia anterior, não conseguira contato com
a Patrícia, que se recolheu à sua residência sem falar conosco, de forma que
precisamos deixar o montante monetário, na cozinha do estabelecimento,
juntamente com um bilhete explicando a situação.
Isto posto, deixamos o local de pernoite às
6 h 15 min, seguindo por ruas desertas silenciosas e com escasso movimento de
veículos.
Depois de mil metros percorridos, pela
ponte histórica, ultrapassamos o rio Sapucaí e seguimos adiante.
Logo chegamos novamente à bifurcação
encontrada no dia anterior: se seguíssemos adiante, retornaríamos ao distrito
de Douradinhos.
Porém, observando a sinalização, fletimos à
esquerda, e acessamos uma larga estrada de terra, bastante molhada e lisa, em
face das chuvas ocorridas no dia anterior.
O trecho inicial do percurso caracterizou-se
por extensas pastagens, onde o forte é a criação de gado.
Com efeito, depois de uns 4 quilômetros
caminhados, passei diante da belíssima e verdejante Fazenda Santa Cruz,
exatamente quando um funcionário já deixava o belo cenário, dirigindo um enorme
trator.
O roteiro prosseguiu em lenta ascensão e,
já quase no cimo, fiquei a observar o trabalho de um vaqueiro, que montado em
um cavalo, tangia uma manada de gado leiteiro pela estrada, em direção a um
pasto situado numa propriedade vizinha, onde logo adentrou.
No topo do morro, num local privilegiado,
fui aquinhoado com ampla vista, para todos os lados, podendo avistar à
esquerda, em meio a um imenso vale, o belíssimo rio Sapucaí serpenteando entre
a mata nativa.
Prosseguindo, no final de extensa reta, e depois
de fazer uma grande curva à esquerda, principiei a descender em meio a um
grande cafezal.
O céu azul daquela manhã sem nuvens, e um
calor gostoso, tornavam a caminhada ainda mais agradável.
Daquele ponto, eu já avistava no horizonte,
a uns 3 quilômetros de distância, a cidade de Turvolândia, de forma que fiz uma
breve pausa, enquanto aguardava a chegada da Célia, que ficara mais atrás, para
telefonar à sua família.
Prosseguindo, já no plano, transitamos em
meio a pastagens, depois, defronte à algumas chácaras, ultrapassamos um riacho
por uma ponte, e logo adentramos em zona urbana.
Ainda era muito cedo, 10 h 15 min, mas já
havia um grande número de pessoas se movimentando pela cidade.
Mais acima, nós aportamos à praça central
do município, e eu busquei informações sobre o local de pernoite onde havíamos
feito reserva com uma transeunte, que estava acompanhada de sua filhinha.
Ela me indicou o rumo a seguir e,
gentilmente, nos acompanhou até um trecho do percurso.
Na verdade, a Pousada da Lua, local onde ficamos
alojados, está localizada a uns 800 metros do centro da urbe, próximo ao local
onde tem inicio a rodovia, que segue em direção à cidade de Silvianópolis/MG.
E valeu a pena ficar ali hospedado, vez que
o desvelo da Angélica, a proprietária do estabelecimento, bem como o de sua
filha Yara e da funcionária Dayane, fizeram toda a diferença.
A Pousada é extremamente acolhedora, e gratificou-nos
admirar o capricho e a delicadeza com que foi idealizada a decoração das
dependências do estabelecimento.
Com certeza, este foi o local em que melhor
fiquei instalado em toda a minha peregrinação, assim, recomendo-o aos futuros
peregrinos, com louvor.
Para almoço e jantar utilizamos os serviços
do Restaurante Lua, anexo à Pousada, vez que é da mesma proprietária.
Com a Angélica, proprietária da Pousada da Lua, em Turvolândia/MG
As origens históricas do município estão
relacionadas à doação de terras feita por Manoel Wenceslau e o capitão Possidônio
Gonçalves de Carvalho, em 1850, para a construção de uma capela dedicada à
Nossa Senhora do Rosário.
Em 1860, construiu-se uma segunda igreja,
dedicada à padroeira local.
O povoado se desenvolveu, e foi elevado a
freguesia, em 1877.
E, um ano depois, se instituiu a paróquia,
sendo o primeiro vigário o padre José Maria Guedes.
Em 1911, o distrito do Retiro já pertencia
ao município de São Gonçalo do Sapucaí, passando à categoria de município em
1962, quando teve seu nome modificado para Turvolândia.
Sua economia é baseada principalmente na
agricultura, porquanto a cidade abriga a Cooperativa Agrícola Sul de Minas
(CASM), também chamada Cotia, que é a principal geradora de empregos no
município.
Igreja Matriz de Turvolândia/MG
Fundada por imigrantes japoneses, a CASM
produz frutos como caqui, decopom, atemóia e ameixa.
A economia também é movimentada pela
presença de micro indústrias do segmento têxtil.
Além disso, a cidade também se orgulha de: “...
produzir o melhor leite e do queijo muito bom de Minas; da lingerie que seduz e
do polvilho que é o orgulho de quem produz; do café de qualidade e do feijão da
melhor qualidade; do milho, da mandioca, da goiaba, do caqui, da
nectarina, do pêssego, da ameixa, do tomate, do pimentão, do pepino, da berinjela,
da carne e de outros tantos sucessos encontrados nas melhores mesas, feiras
livres e supermercados da região.” (extraído do site da Prefeitura Municipal de
Turvolândia)
O nome Turvolândia é alusivo ao Rio Turvo,
que corta a cidade e que, em conjunto com os Rios Dourado e Sapucaí, são uma constante
fonte de atração de visitantes que ali buscam suas cachoeiras e pescaria.
Sua população em 2010 era de 4.658
habitantes, conforme dados do IBGE. ;)
À tarde, após merecido descanso, voltei
novamente ao centro da cidade e pude fotografar, pelo lado externo, sua igreja
matriz, dedicada à Nossa Senhora da Piedade, posto que ela se encontrava
fechada para visitas.
Também, aproveitei para conferir, em
detalhes, o local por onde eu deixaria a cidade no dia seguinte, pois pretendia
sair bastante cedo, ainda no escuro.
Na verdade, o percurso sequente se
apresentava de considerável extensão, e com alguns acidentes altimétricos
importantes, sendo o mais proeminente deles, um outeiro, que necessitaria ser
sobrelevado logo no início do trajeto.
Yara, Dayane e Célia, em Turvolândia/MG
A Célia estava se queixando de dores nos
joelhos e, precavida, para evitar o agravamento da lesão, decidiu saltar esse
íngreme trecho, e seguir os primeiros quilômetros, num táxi.
A Angélica, muito prestativa, indicou uma
pessoa de sua confiança que poderia realizar tal incumbência, de forma que na
primeira parte do percurso, eu seguiria escoteiro.
No retorno, pude utilizar os serviços de uma
Lan House, bem como de um supermercado, onde aproveitei para adquirir água e
chocolate, para me prover na jornada sequente.
À noite, como fazia frio, e atendendo a um
pedido da Célia, sempre prestativa, a Angélica preparou uma incrementada sopa
de legumes, que ingerimos com muito apetite, pois estava deliciosa.
E logo me recolhi, pois o percurso imediato,
seria de razoável amplitude.
IMPRESSÃO PESSOAL
– Uma jornada agradável e tranquila, a de menor quilometragem que cumpri nessa
aventura. O percurso atravessa áreas de exuberante beleza, onde a natureza
ainda está praticamente intocada, apesar das inúmeras fazendas existentes nesse
trecho. No geral, uma etapa fácil e de mínima variação altimétrica.
5ª Etapa: TURVOLÂNDIA à CAREAÇU – 30 quilômetros