2021 – CAMINHO DAS MONTANHAS MINEIRAS - 163 QUILÔMETROS


Partir é a mais bela e corajosa de todas as ações. Uma alegria egoísta talvez, mas um regozijo para quem sabe valorizar a liberdade. Estar sozinho, sem necessidades, encontrar desconhecidos e, no entanto, sentir-se em casa em todos os lugares, e começar a conquistar o mundo.” (Isabelle Eberhardt)

Eu já percorrera o Caminho da Fé a partir de todos os seus ramais e pretendia conectar-me a ele, apenas, em seus 110 quilômetros finais.


Assim, criei um roteiro novo, com trânsito por caminhos inexplorados, para conhecer novas localidades e diferentes culturas, culminando, após andarilhar 163 quilômetros, em aportar à cidade de Paraisópolis, a partir de onde eu encetaria o trecho final do Caminho da Fé que tanto gosto e divulgo.


Para isso, embarquei num ônibus da Viação Gardênia, apeei na cidade de Pouso Alegre/MG, me hospedei no Hotel Ferraz onde, mais tarde, reencontrei a peregrina Shirley que, novamente, “dividiria a trilha” comigo e, no dia seguinte, iniciamos nossa aventura pelos contrafortes serranos das “Alterosas”.

Diante da Catedral de Pouso Alegre/MG, na véspera da partida para a aventura.

1º dia: POUSO ALEGRE a ESTIVA – 37 QUILÔMETROS


Viva para o que o amanhã tem para te oferecer e não pelo que o ontem te tirou...


Partimos às 4 h e 30 min e o primeiro trecho foi integralmente urbano, sendo uma parte trilhada ao lado da rodovia MG-290, num trajeto desgastante e tenso, pois ela não contém acostamento e apresenta um massivo trânsito, mormente de caminhões.


Finalmente, percorridos 6 quilômetros, diante do restaurante Cabrito’s Bear, nós adentramos à esquerda e acessamos uma rodovia vicinal asfaltada que apresentava escasso tráfego de veículos, onde seguimos bem mais tranquilos, aspirando o fresco ar matutino emanado pelos imensos campos de pastagem adjacentes.


Esse trecho integralmente plano e arborizado em alguns intermeios, nos levou a transitar, depois de percorrer 19 quilômetros, pelo distrito São José do Pântano, cuja sede é Pouso Alegre, uma pequena povoação, onde existe comércio.


Ali fizemos uma pausa em um posto de combustíveis para utilizar sanitários e ingerir um copo de café gentilmente ofertados pelos simpáticos frentistas daquele estabelecimento.


Prosseguindo, finalmente, o asfalto se findou e mais 5 quilômetros palmilhados num percurso silencioso e em meio a inúmeras e bem cuidadas chácaras, fizemos outra pausa num bar existente no distrito de Pântano dos Rosas, cuja sede é Estiva, onde também há variado comércio.


Ali, numa padaria, aproveitamos a ocasião para nos hidratar, descansar, ingerir um pão de queijo supimpa e adquirir água, depois prosseguimos adiante.


Então, teve início o único ascenso do dia que, em seu topo, nos levou a transitar a 1.163 m de altura, o ponto de maior altimetria dessa etapa.


O descenso pelo lado oposto foi íngreme e perigoso, porém, já no plano, nós acessamos outra larga e plana estrada de terra extremamente arborizada que, em seu final, nos levou à cidade de Estiva, nossa meta.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Depois que o asfalto se findou, caminho belíssimo.

Paisagens surreais a nos ladear...

Ultrapassando a divisa dos municípios de Pouso Alegre e Estiva.

Após escalar o morro, descenso difícil pelo lado oposto..

Na Pousada do Póka em Estiva/MG, com os proprietários Póka e Zezé. Pessoas boníssimas!!

Localizado na zona sul do Estado de Minas Gerais, numa altitude de 965 metros, o Município de Estiva apresenta uma topografia predominantemente montanhosa. Seu nome provém da palavra estivado, que é um conjunto de varas ou paus lavrados ou roliços, com que se reveste um trecho acidentado de terreno, formando um leito ou esteira por onde passam as pessoas, os carros e os animais. Ela é conhecida, também, como a “Terra do Morango”, pois é a maior produtora deste fruto em todo o país. Conta atualmente com 11.500 habitantes e o Pico do Carapuça, símbolo marcante da cidade, possui um visual especial de toda a região, sendo local de lazer da comunidade que o visita para acampar.


RESUMO DO DIA - Pernoite na Pousada do Póka – Apartamento individual excelente! – Preço: R$70,00


Almoço no Restaurante Esquina de Minas: Excelente! – Preço: R$23,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa de excelsa beleza, entretanto, de expressiva dificuldade, mormente, para aqueles que estão iniciando o Caminho, por ser uma jornada relativamente longa e acidentada. No nosso caso específico, agravada pelo clima úmido e garoa intermitente nos 10 quilômetros inaugurais. Porém, o trajeto é pleno de bucólicas paisagens, compensando, com folgas, todo o esforço despendido no percurso. Já o pernoite na Pousada do Poka foi imperdível como sempre, pela simpatia de seus proprietários, Poka e Zezé, e dispensa maiores detalhes.

2º dia: ESTIVA/MG a BOM REPOUSO/MG – 25 QUILÔMETROS


Porque nunca é tarde, e o tempo só acaba quando a vida termina. E até esse momento, sempre existe a possibilidade para tudo.


O céu verteu água a noite toda e quando partimos às 5 h, depois de ingerir o maravilhoso café da manhã que, gentilmente, a dona Zezé nos preparou, ainda garoava, porém, logo a intempérie cessou.


Os primeiros passos foram trilhados em meio a excelsa natureza, contudo por uma estrada onde o piso se encontrava liso e embarreado, face às chuvas torrenciais vertidas na madrugada.


Sob um céu plúmbeo e ameaçador, depois de percorrer 7.500 metros, sempre em meio a inúmeras chácaras e grandes fazendas, onde o forte eram os milharais, cafezais e gado leiteiro, acabamos por sair na rodovia que liga Estiva à cidade de Bom Repouso, então, giramos à direita e prosseguimos em aclive.


Mil metros acima, nós deixamos o piso asfáltico e acessamos uma estrada de terra à direita, que seguiu em forte ascenso, por uma estrada extremamente enlameada que, em seu ápice, localizado a 1.100 m de altura, no levou a retornar à rodovia, onde seguimos ainda por mais 3 perigosos quilômetros, pois essa via, como é comum em MG, não contém acostamento.


Então, finalmente, no 14º quilômetro nós adentramos à direita e prosseguimos definitivamente sobre terra, por larga e ascendente estrada, cortando inúmeras plantações de morango e bairros periféricos, num trajeto tranquilo, silencioso e arejado, no entanto, sempre sob intermitente garoa.


Já em zona urbana, acessamos um caminho empedrado e fomos visitar a imagem de Nossa Senhora das Graças, localizada no bairro dos Bentos, sendo que o pedestal onde ela se encontra é o terceiro maior do mundo já erigido em sua homenagem, pois possuí 20 metros de altura, e se localiza ao lado de um Santuário Mariano.


Ele foi inteiramente edificado em argamassa, equivale a um prédio de seis andares e se encontra a 1.410 metros de altitude.


A iniciativa veio de uma moradora local muito devota de Nossa Senhora das Graças, e a construção foi realizada com a ajuda de toda a população e da Prefeitura Municipal, com o intuito de atrair turistas para a cidade, e segundo a municipalidade, o santuário recebe, em média, 40.000 visitantes por ano.


No alicerce da imagem há uma lojinha, onde os turistas e romeiros encontram orações de Nossa Senhora das Graças com folders, santinhos, adesivos, chaveiros religiosos em geral e um pequeno espaço com fotos de pessoas que fizeram seus pedidos e promessas e foram abençoadas, recebendo graças da santa, sendo que os visitantes também podem visitar a capela ao lado e deixar seus pedidos e ofertas a Nossa Senhora das Graças.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Caminho plano e hidratado no início...

Paisagens exuberantes, a perder de vista...

Vista desde o morro da Santa, com a cidade de Bom Repouso/MG, abaixo.

Pedindo a proteção de Nossa Senhora das Graças, em Bom Repouso/MG.

O Município de Bom Repouso está situado em planaltos de montanhas com topos arredondados pertencentes ao segmento oeste da Serra da Mantiqueira, sendo que sua altitude média é de 1.680 m, chegando a atingir, em alguns pontos, 1.800 m. Seu clima é tropical de altitude, com temperaturas que variam de -5º C a 26,5º C, constituindo um forte referencial turístico. Considerado lugar de descanso de tropeiros, surgiu a Vila de Bom Retiro que, com a sua emancipação política, passou a se chamar de Bom Repouso. Situada na Serra da Mantiqueira, no Circuito Serras Verdes do Sul de Minas, é a quarta cidade mais alta do Brasil, estando situada a uma altitude de 1.360 m. A cidade também é privilegiada por abrigar a nascente do Rio Mogi, e, além disso, possui mais de 28 cachoeiras, tornando-se uma excelente opção para quem procura desfrutar momentos de muita paz e tranquilidade nas montanhas. A população vive da agricultura, plantações de morango e batata-inglesa, produtos comuns na região, e da pecuária de leite e corte. A natureza exuberante proporciona aos amantes do turismo de aventura e ecoturismo atividades bastante agradáveis e repletas de emoção. População: 10 mil habitantes – Altitude: 1.360 m.


RESUMO DO DIA: Pernoite na Pousada Nossa Senhora das Graças: Apartamento individual excelente – Preço: R$70,00;


Almoço no Restaurante e Pizzaria Mama Mia: Excelente! – Preço: R$25,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de grande dificuldade e forte altimetria, bem como pela extensa distância percorrida. Porém, o percurso transcorreu sempre entre muito verde, com visuais de encher os olhos. Pena que o tempo não colaborou nesse dia e tomamos bastante chuva, além do risco de quedas, face às estradas enlameadas. Contudo, no global, uma jornada de excelsa beleza e gratificantes surpresas, porém, o excesso de aclives fez com que ela se transformasse numa das mais difíceis e desafiadoras dentre todas que sobrepujamos no trajeto.

3º dia: BOM REPOUSO/MG a CAMBUÍ/MG – 26 QUILÔMETROS


O caminho é tão lindo... Pare por um instante.


Choveu a noite toda e ainda garoava leve quando partimos às 5 h 30 min, após ingerir o café da manhã que, gentilmente, dona Cidinha nos preparou.


Deixando a zona urbana, acessamos uma larga e ascendente estrada de terra, que nos levou a transitar entre fazendas de gado leiteiro e extensas culturas de morango, sob um clima frio e úmido, mas, por sorte, o chuvisqueiro logo cessou.


Após vencer alguns descensos e ascensos bruscos, percorridos 5.500 m, nós desaguamos na rodovia que segue em direção a Estiva, onde há um belvedere recentemente instalado, de onde se descortina um maravilhoso visual, infelizmente, nesse dia, obliterado pela forte cerração ascendente que nos envolvia.


Após breve pausa para fotos e hidratação, passamos a descender por outra larga estrada de terra, de onde se descortinavam paisagens surreais, sempre ladeados por imensas araucárias e bosques de eucaliptos, e nesse trecho encontramos alguns trabalhadores rurais que nos cumprimentaram efusivamente.


Ainda em forte declive, no 10º quilômetro nós transitamos pelo bairro dos Lopes, situada no cimo de uma serra, onde há uma bela igrejinha vestida na cor verde, onde conversamos com o sr. João, um simpático morador local, que ia capinar uma pequena roça de sua propriedade.


Então, iniciou-se uma duríssima declivência sobre bloquetes, que culminou em seu final com a passagem pelo bairro Pessegueiros, depois, prosseguimos em ascenso, mas logo o caminho se aplainou, então, enfrentamos a derradeira elevação, transitando por estradas sombreadas, até atingirmos o cume, situado a 1.150 m, de onde se visualizava um mar de montanhas, a perder de vista, embora o clima permanecesse encoberto e úmido.


Após “saboreamos” por longos minutos esse imperdível panorama, principiamos a descender com força pela estrada da Água Comprida e logo passamos diante da entrada para a famosa Cachoeira do Andorinhão.


O restante da jornada prosseguiu em leve descenso, depois, praticamente, sempre por um belo planalto, até atingirmos a zona urbana de Cambuí, que acessamos após transpor a rodovia Fernão Dias por uma ponte.


No final, caminhando sobre calçadões bem cuidados, atingimos o centro da cidade, local onde ficamos hospedamos.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Nesse dia, nós percorremos o traçado do Caminho das Graças, mas no sentido inverso.

No início, clima nebuloso mas sem chuvas...

No alto da serra, muita garoa e neblina..

No topo do derradeiro morro, um mar de montanhas à nossa frente... Cambuí aparece abaixo e à direta..

Cambuí surgiu com as incursões dos bandeirantes paulistas que atravessavam a serra da Mantiqueira em busca de pedras preciosas. O local era um ponto de parada desses aventureiros, os quais estabeleceram seus ranchos e, posteriormente, fazendas ao longo do território do atual município. Em 1.850 foi criada a paróquia de Cambuí, cuja padroeira é Nossa Senhora do Carmo, iniciando o processo de autonomia do lugar, independência que se consolidaria em 1.892, com a emancipação do município. Recentemente o “virado de banana”, prato conhecido apenas no município, foi patenteado pela prefeitura. Localizada na região da Serra da Mantiqueira, possui uma altitude máxima de 2.050 metros a mínima de 680 metros, e sua economia é principalmente comercial e agropecuária, contando ainda com ascendentes investimentos na área industrial, fomentados pela passagem da Rodovia Fernão Dias em seu município. Possui porções de Mata Atlântica e cachoeiras, sendo o principal ponto turístico a Cachoeira do Andorinhão. A Pedra de São Domingos, uma das mais famosas da região, que alcança 2.050 metros de altitude, e das únicas que se pode ir de carro até seu topo, se localiza no município de Córrego do Bom Jesus, fronteiriço com Cambuí. População atual: 27 mil habitantes. Altitude: 1.200 m.


RESUMO DO DIA - Pernoite: Hotel Zé Maria: Bom! – Apartamento individual – Preço R$80,00.


Almoço: Restaurante La Caja: Excelente – Preço: R$45,00 o quilo no sistema Self-Service.


AVALIAÇÃO PESSOAL – Outra etapa de belíssimos visuais, porém, como as anteriores, bastante exigente. Pois nela é preciso sobrelevar algumas serras e, principalmente, enfrentar ríspidos e longos descensos. Eu já conhecia esse roteiro desde quando o percorrera no sentido inverso, contudo, o piso molhado e escorregadio em alguns lugares, exigiu nossa atenção constante. Por sorte, o clima se manteve nublado e com chuviscos ocasionais. No global, uma jornada de forte impacto em termos físicos, contudo, há que se ressaltar a beleza incomum das paisagens com que somos brindados durante todo o trajeto.

4º dia: CAMBUÍ/MG a GONÇALVES/MG – 30 QUILÔMETROS


Abençoados os corações flexíveis, pois nunca serão partidos.


A jornada seria longa e acidentada, assim partimos às 5 h debaixo de uma renitente garoa, que não deu tréguas nos primeiros 5 quilômetros, cumpridos sobre piso asfáltico, até a chegada à cidade de Córrego do Bom Jesus, onde fizemos uma pausa para descanso e readequação de nossas capas protetoras, pois a chuva apertara de vez.


Dez minutos mais tarde, assim que a intempérie amainou, prosseguimos em frente e após caminhar mais 3 quilômetros planos, nós principiamos a ascender por uma longa serra, onde encontramos trechos em terra e outros calçados por bloquetes, que auxiliaram sobremaneira nosso deslocamento.


Quanto mais subíamos, melhor divisávamos o maravilhoso entorno que ia se descortinando, porém, a forte neblina circundante não permitiu que apreciássemos com limpidez todo o panorama serrano ao redor.


Sempre em ascenso, no 12º quilômetro nós transitamos ao lado do famoso Pico da Raposa, então, principiamos a descender com ímpeto e, já no plano, percorridos 14 quilômetros, passamos pelo bairro Vila dos Raposos, onde havia comércio, mas, infelizmente, ainda fechados.


Então, lentamente, principiamos a ascender por outra extensa serra, sempre ladeados por fazendas de criação de gado e enormes bosques de araucárias, até o 18º quilômetro, situado a 1.473 m, o ponto de maior altimetria dessa jornada, localizado, exatamente, na divisa dos municípios de Córrego do Bom Jesus e Paraisópolis.


Em franco descenso, no 20º quilômetro nós chegamos ao distrito dos Costas, situado a 1.357 m de altitude, um local fresco e pleno de atrações turísticas onde, numa padaria, fizemos uma pausa para descansar, nos hidratar e ingerir um copo de café acompanhado por pães de queijo.


Retemperados, voltamos à lida e o percurso sequente se mostrou soberbo em termos panorâmicos e bucolismos, com imensas áreas verdejantes e inúmeros picos a nos ladear, num dos trechos de maior beleza paisagística desse roteiro.


O clima se manteve ameno e hidratado, facilitando nossa aventura, assim, após descendermos os 2 quilômetros derradeiros, aportamos à mítica cidade de Gonçalves, nosso destino.


Apenas, como subsídio: ....é de se notar que os fragmentos florestais de Gonçalves e regiões próximas são considerados como Floresta Ombrófila Mista ou Floresta com Araucárias, formação que hoje praticamente só é encontrada no Sul do Brasil.” (Wikipédia)


Algumas fotos do percurso desse dia:

Subindo a serra e a paisagem que ia ficando à nossa retaguarda...

O ponto mais alto dessa etapa está nesse local, onde se situa a divisa de municípios..

Igrejinha e praça central existente no distrito dos Costas.

No trecho final, de maviosa beleza... A Shirley caminha à minha retaguarda..

A igreja matriz de Gonçalves/MG, cuja padroeira é Nossa Senhora das Dores.

Localizado no Sul de Minas, o município de Gonçalves destaca-se pelas belezas naturais e pelo agradável clima subtropical de altitude. As temperaturas no verão variam de 18 a 32 graus e no inverno podem chegar a 7 graus negativos. Na Serra da Mantiqueira, em meio a florestas de araucárias e a belas cachoeiras, o município anualmente milhares de turistas, vindo de diversas partes do Brasil e exterior, principalmente de São Paulo. Nos bairros rurais ainda são encontrados carros de boi, primeiro meio de transporte do município. Alguns agricultores usam esse veículo para carregar milho e outros produtos que são produzidos nos sítios. É comum esses carros passarem pelo centro da cidade e encantarem a todos com seu ringir e suas histórias. A agricultura orgânica e biodinâmica ganha cada vez mais adeptos no município, pessoas interessadas em qualidade de vida e bem-estar, que aos poucos migram da agricultura convencional para o cultivo orgânico, atraindo consumidores conscientes e que valorizam essas técnicas de cultivo. População: 4.400 pessoas – Altitude: 1.350 m


RESUMO DO DIA - Pernoite: Pousada Arco-Íris: Excelente! – Apartamento individual – Preço R$100,00.


Almoço: Restaurante Mantiqueira: Excelente – Preços variados no sistema à la carte.


AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma das etapas mais exigentes que enfrentamos nesse Caminho, porém, plena de imorredouras belezas naturais. Em quase todo o trajeto o entorno se mostrou exuberante e preservado, quase em estado virgem, aguçando os sentidos do caminhante. Como complicador, há duas grandes serras a serem sobrepujadas, porém, a imensa variedade paisagística que o percurso oferece, compensa, com folgas, o esforço despendido. No global, uma jornada maravilhosa e com comércio no 14º e no 20º quilômetro, e que oferece água de mina potável em vários pontos do percurso.

5º dia: GONÇALVES/MG a SÃO BENTO DO SAPUCAÍ/MG – 24 QUILÔMETROS


Ciclo da vida: tentar, cair, levantar, recomeçar. Nunca desistir!


Partimos às 6 h, já com o dia claro, pois o percurso seria de pequena extensão, após ingerir o farto e saboroso café da manhã que a Estefânia, a proprietária da pousada, nos deixou preparado.


O trecho inaugural, sempre em leve ascenso, mesclou piso em terra com intermeios calçados por bloquetes e seguiu beirando o rumorejante rio Capivari, num percurso fresco e orlado por eucaliptos e imensas araucárias, e nele transitamos diante de inúmeras e bem-cuidadas pousadas e chalés.


O percurso, de maviosa beleza, após percorrer 5 quilômetros, nos levou a transitar pelo distrito de São Sebastião das 3 Orelhas, cujo curioso nome deriva de 2 suposições: A primeira vem do nome da cadeia de montanhas onde se encontra o distrito, conhecida oficialmente por "Serra das Três Orelhas", que por sua vez faz referência aos três picos desta serra: a Pedra do Forno, a Pedra Chanfrada e a pedra do Barnabé. A segunda, dita como a verdadeira pelos moradores mais antigos faz referência a uma história local, segundo a qual havia um morador dono de algumas terras que tinha um colono que tirava muita coisa do seu pequeno pedaço de terra. Um dia esse colono abateu três dos seus porcos e separou os pedaços. O dono das terras viu as carnes e propôs ao colono que lhe vendesse as seis orelhas de porco, esse recusou (regateou, como se diz em Minas) e após muita negociação concordou em trocar somente a metade das orelhas por um pedaço de terra. A história das "Três Orelhas" correu e o nome passou a identificar o lugar. Mais tarde foi erguida a capela, dedicada a São Sebastião, a partir daí a capela passou a ser referenciada como a "capela de São Sebastião" das "Três Orelhas". (Fonte: http://www.saosebastiaodastresorelhas.com.br)


O trajeto prosseguiu hidratado e fresco, pois havia chovido de madrugada, então, sem maiores problemas, mas ainda em ascenso, no 12º quilômetro chegamos à divisa dos municípios de Gonçalves e São Gonçalo de Sapucaí, exatamente, no local de maior altimetria dessa jornada, pois ali estávamos a 1.600 m de altura.


Nesse local onde, curiosamente, nós retornamos ao Estado de São Paulo, há um mirante, de onde se descortina uma visão imperdível da paisagem ao redor, com um mar de montanhas a referenciar o panorama, podendo se avistar ao longe e abaixo, a cidade de São Bento do Sapucaí, situada a uns 10 quilômetros de distância, em linha reta.


Após uma pausa para intensa contemplação, descanso e fotos, prosseguimos adiante e enfrentamos um duríssimo declive que perdurou por 5 quilômetros, até o bairro dos Serranos, quando o percurso, finalmente, se aplainou.


O trecho final, que vencemos sem maiores novidades, foi palmilhado sobre um calçadão construído à beira de uma rodovia vicinal e nos levou até o centro de São Bento, onde nos hospedamos.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Na primeira parte do trajeto, caminho fresco e sombreado..

Vista desde o mirador, localizado na divisa dos municípios de Gonçalves e São Bento.

Descendo a serra.. haja joelhos..

Diante da igreja matriz de São Bento do Sapucaí/SP.

À noite, na Pousada Vovó Hilda, confraternização com os amigos...

São Bento do Sapucaí, está localizada entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, nas Terras Altas do Sapucaí, cuja história inicia-se no tempo dos bandeirantes. Sua emancipação política é datada de 16 de agosto de 1832. Com belas cachoeiras, um rico artesanato e o famoso Complexo Pedra do Baú, é um convite aos visitantes. Sua topografia montanhosa e farta vegetação proporcionam um clima ameno e saudável, tornando a cidade conhecida como a Estância da Aventura, pois abriga a prática de uma série de esportes radicais. O município possui ainda alguns monumentos históricos. É berço do escritor Plínio Saldado e do jurista Miguel Reale. São Bento foi palco de passagens históricas que relembram a revolução de 1932. Há no município trincheiras construídas no calor daquele agudo cataclismo, que registram essa época conturbada. No catolicismo popular, São Bento é o santo conhecido como o protetor contra mordedura de cobras. Com base nisso e por sugestão de escravos e colonos, as versões tradicional e popular colocaram-no como padroeiro do município, já que havia grande proliferação desse ofídio na região. A cidade conta atualmente com 11 mil habitantes e se localiza numa altitude média de 900 metros.


RESUMO DO DIA: Pernoite na Pousada Vó Hilda: Imperdível! Apartamento individual – Preço: R$150,00;


Almoço no Restaurante Taipas: Espetacular! – Refeição por peso no Self-Service ou à vontade, por preço fixo.


AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa muito agradável, uma das mais belas de todo o trajeto, todavia, um tanto cansativa no final, porque deixa o peregrino exaurido nos derradeiros quilômetros face ao abrupto descenso da serra, bem como pelo longo trajeto sobre piso duro a ser enfrentado antes de atingir a zona urbana, exatamente quando ele já se encontra desgastado pela árdua jornada cumprida. No entanto, plena de paisagens memoráveis, onde a natureza prossegue integralmente preservada. No global, até a divisa dos Estados, um dos mais lindos trajetos que já percorri, coroado pelo pernoite na Pousada Vó Hilda, onde os hóspedes são mimados pela dona Arlete e o senhor Guilherme como “filhos da casa” e amigos da família.

6º dia: SÃO BENTO DO SAPUCAÍ/SP a PARAISÓPOLIS/MG – 21 QUILÔMETROS


A força de dentro é maior que todos os ventos contrários.


Partimos às 6 h, depois de ingerir o supimpa café da manhã que a dona Arlete gentilmente nos preparou, e logo após deixarmos a área urbana, acessamos uma larga, plana e silenciosa estrada de terra, que seguiu ladeada por belas chácaras e grandes fazendas de gado bovino.


O clima se mostrava fresco e hidratado, ideal para caminhar, assim, sem grandes atropelos, fomos vencendo as distâncias e a cada curva que fazíamos, bucólicas paisagens se descortinavam no horizonte, pleno de um intenso verde, em todas as suas nuances cromáticas.


No 9º quilômetro, após cruzarmos com vários ciclistas que faziam seu pedal domingueiro, transitamos por dois bairros periféricos que, curiosamente, pertencem ao município de Gonçalves/MG.


Então, teve início 2 pequenos ascensos que, já calejados pela rudeza das etapas anteriores, nós vencemos com tranquilidade e galhardia, e que se constituíram, basicamente, os únicos entraves altimétricos dessa jornada.


Porém, para nossa infelicidade, percorridos 13 quilômetros, nós desaguamos na rodovia MG-173, que segue em direção à cidade de Santa Rita do Sapucaí/MG e que, como de praxe em Minas Gerais, não contém acostamento.


Então, os 6 quilômetros derradeiros se constituíram num grande teste de paciência e resistência, pois o trânsito se mostrava intenso nesse dia, em ambas as direções.


Sem alternativas, percorremos esse trecho final sob aflitiva tensão e enorme desgaste físico, pelos riscos envolvidos, porém, como não há mal que sempre dure, após vencermos um pequeno outeiro, adentramos em zona urbana e prosseguimos caminhando até o centro de Paraisópolis, onde nos hospedamos.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Despedindo da simpática e acolhedora cidade de São Bento...

Flores no trajeto...

Campos bucólicos, de incomensurável beleza..

Paisagens plenas de muito verde, em todas as direções...

Interior da igreja matriz de Paraisópolis/MG, final de nossa jornada pelo Caminho das Montanhas. Depois, eu prosseguiria pelo Caminho da Fé.

RESUMO DO DIA - Pernoite: Pousada da Praça: Excelente! – Apartamento individual – Preço R$90,00.


Almoço: Cantina Mineira: Excelente! – Preço: R$23,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma etapa de pequena extensão, que oferece imensas belezas naturais em seus 13 quilômetros iniciais, porque os 6 quilômetros derradeiros até se atingir a zona urbana, são tensos e desanimadores, vez que trilhados à beira de uma rodovia expressivamente movimentada e que não contém acostamento. No entanto, a jornada é, praticamente, toda plana, não oferecendo maiores dificuldades em termos físicos.



FINAL


A verdade não está no final do caminho, mas é a soma das ações que são realizadas para conquistá-lo.” (A. Jodorowsky)


Minas Gerais é um espaço multifacetado por um considerável número de serranias, tanto que já no século XVIII era conhecido como o “Estado Montanhês”.


Basta destacar aquela que é considerada a sua espinha dorsal, vez que senhora das maiores jazidas produtoras de minério de ferro do Brasil, a Serra do Espinhaço, a única cordilheira brasileira, assim denominada por lembrar uma gigantesca coluna vertebral.


Na verdade, as montanhas são parte essencial de Minas, porque eram onde estavam o ouro e os diamantes e sem essas jazidas, não existiriam cidades como Diamantina, Mariana, Ouro Preto, São João Del-Rei, Serro e outras mais.


Escarpas e montes precisaram ser domados para erguer casas e igrejas, assim, nas encostas longínquas, a escavação de minas de ouro, diamantes e ferro exigiu o plantio e o pastoreio nos vales do sertão.

Um Caminho exigente, mas pleno de extraordinárias belezas naturais...

E para viajar por essas terras, abriram-se trilhas em locais tão elevadas que receberam a denominação de “Alterosas”, em um dos territórios brasileiros mais acidentados e inóspitos.


Contudo, se por um lado essas cadeias intrincadas de morros impuseram extrema dificuldade de circulação, por outro, foram responsáveis por preservar a arte, a culinária, a arquitetura e os modos do povo que floresceu no seio das íngremes formações, e isso se traduziu numa cultura muito própria e rica, ainda hoje presente em suas tradições.


Barreira que impediu a entrada dos europeus por mais de 100 anos, a Serra da Mantiqueira, segundo a tradução do tupi para o português, significa “serra que chora água”, uma referência aos mananciais que desses altos fluem.


E foi visando “sufocar” anseios e aplacar minha latente curiosidade, que envidei outro roteiro a pé pelos contrafortes serranos mineiros, e não me arrependi, pois transitei por locais inéditos, pernoitei em simpáticas cidadezinhas, e me encantei com a afabilidade das pessoas residentes nos lugares por onde passei.


Dessa forma, regresso ao meu lar rejuvenescido, novamente, após finalizar esse curto giro pelas “Gerais”, na certeza de que, Deus permitindo, em breve voltarei a calcorrear as montanhas mineiras que eu tanto gosto e admiro.


Por derradeiro, um agradecimento especial à amiga e peregrina Shirley que me acompanhou nessa aventura, a quem parabenizo pela confiança, apreço e imenso vigor físico, qualidades mais que bem-vindas numa “viagem” desse naipe.


Bom Caminho a todos!


Dezembro/2021