11 – LAMEGO a MESÃO FRIO – 31 quilômetros “Pare de vez em quando. Apenas pare e aproveite. Respire fundo. Relaxe e absorva a abundância da vida.” (Desconhecido) Mas, assim que houve uma trégua, às 7 h, deixei o local de pernoite, e me dirigi para a parte alta da cidade, a Alamacave, onde passei ao lado da igreja românica de Santa Maria de Almacave. A sequência foi pela rua da Boavista, que faz jus ao seu nome, pois proporciona belas vistas da localidade. Nesse local, a chuva voltou com violência, obrigando-me a fazer uma pausa sob o abrigo de um telheiro, onde aproveitei para embalar meu aparelho celular numa capa de plástico, face ao receio de que a água comprometesse o seu funcionamento. Prosseguindo, um precioso cruzeiro me despediu de Lamego para introduzir-me, quase imediatamente, em terreno rural e, entre quintas e vinhedos, fui perdendo progressivamente altura e passei por Souto Covo e Sande. Uma curiosidade nesse trecho é que em Lamego, o traçado do Caminho Torres coincide com o Caminho Português Interior (que começa em Viseu), mas não por muito tempo, posto que na primeira aldeia que passei, a rota se dividiu: à esquerda para a CPI e à direita para o Caminho Torres. Nesse trecho eu caminhei com extremo cuidado, pois um simples escorregão redundaria numa queda espetacular, já que eu estava descendendo, na maior parte do tempo, sobre placas de ardósia e ela faz a diferença nessa região. Porquanto, o solo de granito é onde as uvas para o espumante são cultivadas, enquanto o solo de ardósia é onde se plantam as uvas, cujo sumo servirá para a fabricação do famoso “Vinho do Porto”. Depois de um forte descenso, atravessei por uma ponte de origem romana o rio Varosa, o mesmo que cruzei em Ucanha, num local agreste e de enorme beleza, chamado de Sala de Audiências do Diabo. A chuva não dava tréguas, trovões espoucavam ao longe, e por um caminho ancestral passei por Valdigem, depois, transpus a rodovia Nacional por uma passagem elevada e transitei, sucessivamente, diante da Quinta das Brolhas, do Vale da Lájea, do Garcia e, finalmente, de Santa Bárbara. A vista que se descortinava desses locais eram indescritíveis, de onde eu podia divisar os vales do rio Varosa, rio Douro e rio Corgo, com suas ladeiras cobertas por intermináveis vinhedos, apesar da paisagem se encontrar embaçada, por conta do mau tempo. Mas, sobre o tema, não foi por acaso que o Alto Douro Vinhateiro foi declarado Patrimônio da Humanidade. Apos caminhar 13 quilômetros, eu ultrapassei o rio Douro por uma ponte de pedestres, adentrei em Peso da Régua e logo parei num bar para ingerir um café e deglutir um brioche, sabendo de antemão que, em seguida, eu enfrentaria um duríssimo ascenso. Então, revigorado, prossegui beirando o rio Douro até uma grande rotatória, facilmente reconhecível, pela escultura do Marquês do Pombal ali existente. Seguindo, iniciou-se penoso ascenso que me levou a Sergude, onde fiz uma pausa para tomar fôlego, enquanto a chuva me agredia com violência. Mesmo sob a intempérie, prossegui em outro fortíssimo aclive até Fontelas, de onde tinha uma vista maravilhosa do vale do Douro. A partir dessa localidade, em face da orografia do terreno e seu aterramento para as explorações vinícolas, não há outro remédio senão prosseguir por asfalto até Oliveira e Nostim. E conquanto essa rodovia não tenha acostamento, o tráfego de veículos era quase inexistente nesse trecho, embora eu tivesse enorme dificuldade na locomoção, pois a chuva prosseguia caindo em forma de pancadas e um forte vento me fustigava pela frente. Depois de caminhar um total de 25 quilômetros, uma seta amarela me encaminhou para um fortíssimo declive sobre pedras e, depois de descender com extremo cuidado, cruzei a ribeira de Seromenha pela Ponte Cavalar. Na sequência, ainda por asfalto, segui até Mártir, de onde apenas 4 quilômetros me separavam do final da etapa, que venci sobre uma rodovia asfaltada mas pouco transitada, que me levou a Mesão Frio. Nesse trecho derradeiro, observando o vale à minha esquerda, podia observar incontáveis vinhedos e, no fundo, o maravilhoso rio Douro descendendo em direção à cidade do Porto. Algumas fotos do percurso desse dia: Em Peso da Régua, transitando junto ao rio Douro. |
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