2º dia: SÃO BRÁS DE SUAÇUÍ a ENTRE RIOS DE MINAS – 24 quilômetros “Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.” (Jean-Jacques Rousseau) Saída às 5 h 30 min, um pouco mais tarde do que o dia anterior, porque o percurso a ser vencido seria de menor extensão. No trajeto desse dia, tanto a Estrada Real como o CRER percorrem o mesmo roteiro. O trecho inicial foi por asfalto mas, depois de 1.000 metros, adentrei numa larga estrada de terra. O caminho mescla alguns ascensos e descensos, todos de grau médio, sem maiores dificuldades altimétricas. No percurso visualizei inúmeras fazendas coloniais, extensas plantações de milho e muitas flores. Na maior parte do roteiro, a estrada está em bom estado de conservação, com muitos mata-burros, alguns até servindo de ponte. Ao longo do trecho, pude observar do meu lado direito a paisagem da Serra do Gambá. Por sorte, o dia se manteve nublado e fresco, excelente para caminhar. As estradas por onde transitei apresentaram ínfimo tráfego de veículos e me proporcionaram momentos preciosos de silêncio e ermosidade. Diria que essa etapa foi a mais bela e fácil de toda a jornada que percorri nessa ocasião. Algumas fotos do percurso desse dia: Dia nublado, caminho deserto. O caminho serpenteia a minha frente. Bosques nativos. Trânsito por locais ermos e silenciosos. O dia prossegue nublado. Paisagens belíssimas nessa etapa. Ao longe e à direita, a serra do Gambá. Um caminho colorido... Mais flores... Trechos belíssimos e arborizados. Caminho aberto, mas o clima prossegue fresco. Um bosque de eucaliptos localizado pouco antes de acessar a zona urbana. O município de Entre Rios de Minas tem as suas origens no século XVIII, com a chegada dos portugueses Pedro Domingues e Bartolomeu Machado à região, em 1.713. Bartolomeu Machado ergueu a sua casa no lugar onde se encontra hoje a Fazenda do Engenho. Anos depois, erigiu uma capela em homenagem a Nossa Senhora das Brotas em torno da qual surgiu o povoado do Bromado, que, posteriormente, teve o seu nome alterado para Brumado do Suaçuí. Em 1.875, foi elevado a distrito e, em 1.953, a cidade. Nessa ocasião, recebeu o nome de Entre Rios de Minas, por estar situada entre os rios Camapuã e Brumado. A economia do município se baseia na pecuária leiteira e sua população atual soma 15.200 habitantes. Altitude: 940 m. Igreja matriz da cidade. E, mais tarde, em conversa com um morador local, fiquei sabendo da história do maior herói cultuado na cidade, a qual descrevo abaixo. Cassiano Campolina foi um homem que viveu há mais de 100 anos, numa época em que as pessoas não imaginavam que a ciência seria capaz de realizar inseminações artificiais em animais, e até em seres humanos, ou mesmo aperfeiçoar espécies já existentes. No entanto, ele criou uma nova raça de cavalo para atender, acima de tudo, a sua paixão pela equinocultura. Mesmo antes de serem descobertos, os princípios da Engenharia Genética foram utilizados - fora do ambiente de laboratório - por esse amante dos animais, fazendo surgir, no interior de Minas Gerais, mais precisamente na cidade de Entre Rios de Minas, a raça de cavalo que até hoje leva o seu sobrenome. Essa estirpe, assim como outras existentes naquele tempo, nasceu da necessidade dos feudos da época, de locomover-se em animais fortes, de porte altivo e de andamento cômodo, devido às longas caminhadas a serem empreendidas. E teve como referencial os animais do império, quase sempre da casta Andaluz, difíceis de serem adquiridos, àquela época. Interior da igreja matriz de Nossa Senhora das Brotas. O mercado de animais era rentável por sua aplicação em todas as atividades de deslocamento ou trabalho na lavoura. E a raça Campolina teve início em 1.857, na Fazenda Tanque, a partir do garanhão Monarca, filho de uma égua cruzada com o garanhão Puro Sangue Andaluz-Lusitano da Coudalaria Real de Alter, pertencente ao criatório de D. Pedro II. Há de se ressaltar que os descendentes de Monarca sofreram a infusão de sangue das raças Pecherão, Orloff, Oldenburger e, mais tarde, do Manga-Larga Marchador e Puro Sangue Inglês. Dessa profícua mescla, resultou animais de pelagem com predominância de baios e castanhos, temperamento vivo e dócil, com andamento em marcha batida ou picada, caracterizando-se, a primeira, por maior tempo de deslocamento dos bípedes em diagonal e, a segunda, em lateral. Devido ao seu porte elevado e andamento cômodo, a linhagem Campolina é excelente para passeio, como cavalo de lazer. E também para serviços de fazenda, sendo utilizado para esta finalidade, na maioria das vezes. É, ainda, um ótimo animal para a produção de muares marchadores, robustos, de grande porte. Cassiano Campolina faleceu solteiro e sem herdeiros legítimos, deixando toda a sua fortuna para prover um hospital que leva o seu nome, cujo funcionamento é operacionalizado num prédio belíssimo, localizado próximo ao centro da cidade. O marco do CRER e a igreja matriz de Entre Rios de Minas. RESUMO DO DIA: Tempo gasto, computado desde o Hotel Muralha, em São Brás do Suaçuí/MG, até a Pousada das Pedras, em Entre Rios de Minas/MG: 5 h 40 min, com muitas pausas para fotos e contemplação da esplêndida paisagem circundante. Pernoite na Pousada da Pedras - Apartamento excelente! Atendimento espetacular, recomendo! Almoço no Restaurante Chapéu de Sol - Ótimo! – Preço: R$31,90 o kg, no sistema self-service. IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de pequena extensão, sem maiores dificuldades altimétricas e que transcorre por estradas bucólicas e desertas. O sol não apareceu e o clima fresco auxiliou bastante em meu deslocamento. E, por sorte, o trecho que venci sobre piso de terra apresentou ínfimo tráfego de veículos. No global, um trajeto fácil, bem sinalizado, ermo e agradável, contudo com pouca sombra no percurso. No entanto, rodeado por maravilhosas paisagens, tendo como pano de fundo, pelo lado direito, a famosa serra do Gambá, de belíssima conformação. |
Home > Crer / MG - 2ª parte >