2021 – CAMINHO SUL-MINEIRO: TRÊS CORAÇÕES/MG a ITAJUBÁ/MG – 200 QUILÔMETROS


Viajar sem destino certo e sozinho pode parecer perturbador para muitos que nunca o fizeram, mas vá em frente e saberá o quão espiritual é essa experiência. Ela faz com que a sua alma vá liberta para onde deseja ir, sem amarras, e permite se conhecer melhor a si mesmo e aos outros, sem pré-julgamentos.


Desde o dia em que conheci a serra da Mantiqueira, ela sempre habitou o meu imaginário, assim, não resisti à vontade de retornar aos seus contrafortes e, para tanto, envidei um percurso inédito por algumas localidades nela insertas.


Assim, para a consecução de meus planos, primeiramente, viajei para a progressista cidade de Três Corações, onde iniciei minha odisseia.


Para tanto, embarquei num ônibus da Viação Gardênia e, quando cheguei ao destino, visitei a Praça do Pelé, a Catedral da cidade, cuja padroeira é a Sagrada Família, e no dia seguinte dei início à minha peregrinação, rumo ao Santuário de Aparecida.

A igreja matriz de Três Corações/MG.

1º dia: TRÊS CORAÇÕES a CAMBUQUIRA – 28 QUILÔMETROS


A grande caminhada da vida nos reserva muitas surpresas; umas boas, outras ruins, mas todas inesquecíveis!” (Mariana Gil)


Parti às 5 h 30 min, atravessei o rio Verde por uma ponte e fui deixando a cidade, transitando por bairros periféricos, até que, percorridos 4 quilômetros em bom ritmo, finalmente, eu adentrei numa larga e descendente estrada de terra onde, infelizmente, encontrei muito pó, pois não chovia na região há meses.


Com o dia claro, pude constatar que eu caminhava entre plantações de café e imensas áreas onde o milho havia sido colhido, recentemente, a tônica nessa etapa.


No trajeto, ascensos e descensos de média a baixa intensidade, algo raro de se encontrar em percursos nas “Alterosas”.


Dessa forma, sem grandes atribulações eu fui vencendo as distâncias, ouvindo o canto dos pássaros e respirando o ar puro emanado pelos capões de mata que encontrei ao longo do roteiro, por sinal, bastante ermo em alguns trechos.


Então, sem grandes dificuldades, caminhados 25 quilômetros, eu desaguei na rodovia MG-167, adentrei em zona urbana e logo chegava a Cambuquira, onde encontrei um povo muito hospitaleiro e gentil.


À tarde, após almoçar e tirar um cochilo, fui conhecer o Parque das Águas, que ocupa uma área de 3,81 hectares, onde há cinco fontes de água mineral nas versões gasosa, férrea, magnesiana, sulfurosa e litinada.


No local, há o Balneário Spa das Águas, onde é possível fazer banhos relaxantes, além de um lago com pedalinhos e uma extensa área verde com jardins e convidativos espaços para descansar e contemplar a natureza.


Eu havia convidado a amiga e peregrina Shirley para me acompanhar nesse roteiro, porém, face a seus compromissos profissionais, ela só chegou nesse dia à tarde, então, a partir daí, prosseguimos juntos na aventura.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Lentamente, o sol aparece no horizonte..

Um dos lindos trechos sombreados que encontrei nessa etapa.

No Parque das Águas de Cambuquira/MG.

Cambuquira é um refúgio em meio às montanhas do sul de Minas e sua fama nasceu da virtuosidade de suas águas. O turismo é uma importante fonte de renda da cidade, desde meados do século XIX, uma vez há notícias de que, já em 1780, doentes sentiam os efeitos milagrosos das águas minerais de Cambuquira. Um diferencial é relevante: apesar de especial, Cambuquira ainda se mantém deliciosamente pacata e pitoresca. Ela foi uma das primeiras cidades projetadas do estado, com ruas largas, calçadas amplas e arborização selecionada - na primavera, as flores de centenas de árvores de magnólia perfumam a atmosfera da cidade e são uma atração à parte. Os principais atrativos locais são: o Parque das Águas, com seis fontes de água mineral (ferruginosa, alcalina, magnesiana, sulfurosa, gasosa e com lítio); as fontes do Marimbeiro e do Laranjal (nas cercanias da cidade); e o Pico do Piripau, a 1.300 metros de altitude, de onde decolam pilotos de parapente e asa-delta. Sua economia baseia-se na cultura do café, pecuária, turismo e indústria de água mineral para exportação. Possui um observatório astronômico utilizado para pesquisas e estudos universitários. População: 13.300 habitantes – Altitude: 950 m


RESUMO DO DIA - Pernoite no Hotel Cambuquira – Apartamento individual bom – Preço: R$50,00


Almoço no restaurante do próprio hotel: Excelente! – Preço: R$43,90 o kg no sistema Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão, mas sem maiores dificuldades altimétricas. No percurso encontrei muitos cafezais e algumas áreas de pastagem. Também atravessei diversos trechos silenciosos e sombreados, um bálsamo para o peregrino. A reclamar apenas do calor e poeira reinantes, pois a estiagem grassava na região há meses.



2º dia: CAMBUQUIRA a LAMBARI – 24 QUILÔMETROS


Na caminhada da vida, é preciso estar atento para todos os perigos, mas também deixar o coração aberto para tudo de bom que há de vir.” (Mariana Gil)


Partimos cedo, a Shirley e eu, sob céu nublado e forte neblina, pois havia garoado na noite anterior, assim, o clima se mantinha hidratado e ideal para caminhar.


Após transitar por alguns bairros periféricos, acessamos uma estrada de terra e percorridos 3.400 m acabamos por desaguar na MG-167, que provem de Três Corações, então, giramos à esquerda e prosseguimos caminhando pelo acostamento da rodovia.


Mil metros adiante, num trevo, giramos à direita e prosseguimos pelo acostamento da rodovia MG-267, num trajeto extremamente perigoso, pois havia um massivo trânsito de carros e, principalmente, de caminhões.


Finalmente, percorridos 7 quilômetros tensos e preocupantes, adentramos à esquerda e acessamos uma larga e plana estrada de terra, por onde seguimos aliviados, entre pastagens, cafezais e laranjais.


O trajeto seguiu plano, silencioso e, face ao piso socado, caminhamos em bom ritmo até o 13º quilômetro, quando passamos a ascender pela mítica serra de Lambari.


Esse intermeio mesclou aclives fortes com patamares fáceis, onde aproveitámos para colocar nossa respiração em ordem.


Infelizmente a serra fora assolada por um grande incêndio na tarde anterior, então, no 17º quilômetro, quando atingimos o cume, situado a 1.400 m de altitude, encontramos tudo arrasado pelo fogo que, em alguns locais, ainda se mantinha ativo, com forte cortina de fumaça.


Foi um trecho que percorremos com imensa tristeza, face à desolação reinante no entorno.


Depois, principiamos a descender com violência e no 22º quilômetro adentramos em zona urbana, seguindo, então, calmamente, até o nosso local de pernoite.


À tarde, após o almoço, fomos visitar o Parque das Águas, o principal ponto turístico da cidade, onde brotam seis fontes de águas minerais gasosas naturais e piscinas, utilizadas em tratamentos medicinais para a pele, rins vesícula, estômago, fígado e intestino.


Distante 400 metros dali fica outro atrativo para quem gosta de passeios aquáticos e contato com a natureza: o Lago Guanabara, onde vale a pena conhecer o Palácio do Cassino e o maior exemplar conhecido de Bougainvillea do mundo, popularmente chamado de “Primavera”, que virou uma frondosa árvore de 18 metros de altura.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Um dos belos trechos que encontramos nessa etapa... A Shirley segue firme à minha frente...

Belíssimo trecho de mata que encontramos nessa etapa, já descendendo a serra de Lambari.

Defronte ao Parque das Águas de Lambari/MG.

Localizada próxima das estâncias mais famosas de Minas Gerais (Caxambu e São Lourenço), Lambari é um poço de tranquilidade. Procurada pelos turistas da terceira idade, tem o Parque das Águas como principal atração. O espaço oferece seis fontes variadas - gasosa, alcalina, magnesiana, levemente gasosa, ferruginosa e picante - além de piscinas de água mineral. O primeiro trabalho médico de que se teve notícia mencionando as águas minerais de Lambari foi um estudo de Dr. Manoel da Silveira Rodrigues, surgido entre os anos de 1816 e 1826, no Rio de Janeiro, onde são assinaladas as propriedades e indicações das fontes. Outro atrativo da pequena cidade é o Cassino do Lago, uma imponente construção de 1911, às margens do Lago Guanabara. A natureza é o destaque nos arredores de Lambari. No Parque Wenceslau Braz, um verdadeiro bosque formado por eucaliptos, magnólias e pinheiros, é possível observar diversas espécies de aves durante uma caminhada ou uma pedalada ao redor de um lago. A área oferece ainda piscinas com toboáguas, cascata, quadras de peteca e de vôlei, bares e lanchonetes. Belas cachoeiras também se espalham pela região e entre as mais conhecidas estão a de João Gonçalves e a do Roncador, ambas na estrada para Jesuânia; e Sete Quedas, protegida no Parque Estadual Nova Baden, repleto de trilhas. População: 21 mil pessoas – Altitude: 900 m


RESUMO DO DIA: Pernoite na Pousada das Águas – Apartamento individual espetacular! Preço: R$75,00


Almoço no Santa Pança Restaurante e Pizzaria: Excelente! – Preço: R$25,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de média extensão e muita beleza, porém, os primeiros 7 quilômetros foram tensos e percorridos sobre piso duro. Contudo, quando se adentra às estradas de terra, tudo muda e o percurso se torna bucólico e aprazível. O grande desafio dessa etapa foi escalar a extensa serra de Lambari, onde um mirante natural oferece vistas imperdíveis da região. Infelizmente, nosso astral foi empanado pelos focos de incêndio que encontramos na montanha, rescaldos da queimada ali ocorrida na tarde anterior. No global, tirante a primeira parte trilhada sobre piso duro e o infausto causado pelo fogo, um trajeto de grande plasticidade, pleno de belas paisagens e extremamente desafiador.



3º dia: LAMBARI a OLIMPIO NORONHA – 27 QUILÔMETROS


Na caminhada da vida, siga sempre em frente, tendo a consciência que cada obstáculo vai tornar você mais forte.


Partimos às 5 h 45 min, pois a jornada seria de razoável extensão e estávamos num sábado.


Assim, após transitar por ruas vazias e silenciosas, contornamos o Lago Guanabara pelo seu lado direito e no 2º quilômetro, junto à Praça dos Artistas, paramos para fotografar o maior exemplar conhecido de Bougainvillea do mundo, popularmente chamado de “Primavera”, que virou uma frondosa árvore de 18 metros de altura.


Depois, acessamos uma rodovia asfaltada que segue em direção ao distrito de Jesuânia e, percorridos 5 quilômetros, adentramos à direita, em larga e plana estrada de terra.


A partir dali tudo ficou calmo e, nesse trecho inicial, transitamos entre cafezais e pastagens, a tônica também nessa etapa, depois, percorridos 9 quilômetros, enfrentamos um leve aclive que, em seu ápice, nos levou a transitar a 980 m de altitude, o ponto de maior altimetria dessa etapa.


O restante do percurso seguiu plano e pleno de bucólicas paisagens, com imensas pastagens e muito gado leiteiro.


No trecho final encontramos alguns nichos de mata nativa, porém o sol já crestava com vigor quando chegamos ao destino desse dia, por sinal, uma agradável cidadezinha, que nos recebeu com muita simpatia e carinho.


À noite, fomos visitar sua igreja matriz, cujo padroeiro é São Sebastião, e tivemos a oportunidade de assistir à Santa Missa.


Por sorte, choveu a noite toda, um excelente augúrio para o trajeto sequente.


Algumas fotos do percurso desse dia:

A maior "Primavera" do mundo... em Lambari/MG. Têm 18 m de altura.

O lago Guanabara em Lambari/MG. Ao fundo, o prédio do antigo cassino.

Um dos belos trechos que encontramos nessa etapa...

Pequeno paraíso localizado na região sudoeste de Minas Gerais, Olímpio Noronha é ponto certo para quem deseja descansar da vida corrida das grandes metrópoles. Dona de um povo simples e acolhedor, a cidade possui entre seus destaques turísticos a antiga estação ferroviária, que, extinta em 1966, hoje abriga uma residência. A Cachoeira da Usina também é um ponto forte do município, exibindo gélidas águas que servem de refresco durante o verão. No fim do Século XIX, chegava o transporte ferroviário à região, o município de Cristina recebeu os trilhos da Estrada de Ferro Sul Mineira, tendo sido construída em sua área rural, em terras de propriedade de Olímpio Noronha, uma estação com o nome de Santa Catarina. Como sempre acontece, em torno da estação foi se formando o povoado de igual nome. Em homenagem a Olímpio Noronha ilustre filho do município de Cristina, que se destacou por atos de bravura na Guerra do Paraguai. Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é constituído do distrito sede. População: 2.800 habitantes – Altitude: 900 m


RESUMO DO DIA - Pernoite na Pousada San Marcos – Apartamento individual simples, porém o calor humano e a simpatia externados pela sua proprietária Dona Teresa compensam qualquer desconforto – Preço: R$50,00


Almoço no Restaurante Sabor da Roça: Excelente! – Preço: R$18,00, o Prato Feito.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de média extensão e muita beleza, porém, os primeiros 5 quilômetros são percorridos sobre piso duro. Contudo, quando se adentra às estradas de terra, tudo muda e o percurso se torna bucólico e aprazível. No geral, uma etapa agradabilíssima, plena de verde e trechos ermos e silenciosos. No global, tirante a primeira parte, um trajeto de grande beleza, com ascensos e descensos leves, e pleno de paisagens campestres.



4º dia: OLIMPIO NORONHA a CRISTINA – 25 QUILÔMETROS


A caminhada é dura e difícil, mas no final tudo vale a pena.


Choveu a noite toda, porém, após o lauto café da manhã ofertado pela Dona Teresa, quando nos preparávamos para sair a garoa cessou e pudemos seguir tranquilos.


Sob um clima fresco e hidratado, caminhamos 500 m em zona urbana, mas logo acessamos uma larga e plana estrada de terra que se encontrava bastante umedecida pelas chuvas recentes, por onde seguimos confiantes e em bom ritmo.


Durante horas caminhamos ladeados por imensas pastagens, apesar de visualizarmos extensos cafezais nos morros circundantes.


Percorridos 10 quilômetros, passamos a avistar ao longe e com seus picos bem delineados, a espetacular serra da Pedra Branca, que se esparrama pelos municípios de Conceição das Pedras, Cristina e Pedralva.


Sem maiores dificuldades, no 12º quilômetro nos enlaçamos com a estrada que provém do distrito de Várzea Alegre, cuja sede é Cristina, e que faz parte do Caminho de Nhá Chica, por onde eu transitara em julho de 2019.


Seguindo adiante, no 15º quilômetro nós desaguamos na rodovia MG-347, que provém de Pedralva, então, giramos à esquerda e seguimos caminhando pelo acostamento por mais 5 quilômetros, até um grande trevo.


Ali, abandonamos a via que segue em direção à cidade de Carmo de Minas e acessamos a rodovia que segue à direita, em direção à cidade de Cristina.


O clima se mostrava extremamente agradável, assim, prosseguimos confiantes e animados, quando se iniciou um severo ascenso que, no 22º quilômetro nos levou a transitar a 1.100 m de altitude, de onde detínhamos um lindo visual de montanhas.


Depois, prosseguimos em forte descenso e logo adentrávamos em zona urbana, caminhando, tranquilamente em direção ao local de pernoite.


À noite, pude confraternizar com meu grande amigo “Moquém”, na verdade, o Doutor Célio, um renomado farmacêutico nascido em Borda da Mata, que reside e trabalha há muitos anos na cidade, onde, por sinal, já foi aquinhoado com o diploma de “Cidadão Cristinense”.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Caminho lindo! Ao fundo a serra da Pedra Branca.

A Shirley, como de costume, feliz na trilha...!!

Com meu grande amigo Célio, festejando em Cristina/MG.

O Sul de Minas Gerais foi efetivamente desbravado somente na segunda metade do século XVIII, quando começou a se esgotar o ouro de localidades como Sabará, Ouro Preto, Mariana, Congonhas e São João Del Rey, dentre outras. Mineradores partiram daquela região, procurando o metal nos sertões sul mineiros, e dessa maneira foi povoado o Sertão da Pedra Branca, localizado em uma das ramificações da Serra da Mantiqueira. Em 1817 já havia uma pequena povoação na sesmaria de "Comquibios", quando alguns moradores solicitaram à Diocese de Mariana licença para construírem uma capela, tendo como orago o Divino Espírito Santo. O topônimo foi permutado pela designação Cristina e com a alteração do nome, prestava-se uma homenagem a Imperatriz do Brasil, Tereza Cristina Maria de Bourbon, esposa de Dom Pedro II. Entre os dias 1º e 2 de dezembro de 1868, a Princesa Isabel, seu marido, o Conde D'Eu, e comitiva, visitaram a Vila Cristina, hospedando-se na residência de Joaquim Delfino. Hoje Cristina se dedica à produção de café, destacando-se a produção da fazenda do agricultor Sebastião Afonso da Silva, ganhador duas vezes seguidas do “Cup Of Excellence”, que consagra os melhores produtores de café do mundo. O município integra o Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas e conta com várias cachoeiras, dentre elas a da Gruta que fica a poucos metros da praça central da cidade, além de belos casarões antigos dos séculos XIX e XX. População: 10.500 habitantes – Altitude: 1060 m.


RESUMO DO DIA - Pernoite na Pousada Casarão – Apartamento individual espetacular! Preço: R$150,00.


Almoço no Restaurante, Pizzaria e Pousada Real - Ótimo! Preço: R$49,00 o kg, no sistema self-service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Outra jornada de média extensão e muita beleza, sendo que os primeiros 15 quilômetros são trilhados por uma larga estrada de terra, onde seguimos ladeados por extensas pastagens e lindos cafezais, ao longe. Depois, acessamos uma rodovia perigosa, mas por sorte, continha acostamento. O trecho final, ainda sobre piso asfáltico, exigiu bastante esforço, mas o final da etapa foi em forte descenso. No global, um trajeto espetacular, mormente o percurso caminhado sobre terra.



5º dia: CRISTINA a MARIA DA FÉ – 24 QUILÔMETROS


Não deixe que as dificuldades do caminho te impeçam de seguir em frente.


Nesse dia deveríamos seguir adiante, em direção à cidade de Maria da Fé, contudo, em janeiro passado, quando trilhávamos outro caminho inédito, já havíamos percorrido esse itinerário, por sinal, de extrema beleza.


Assim, optamos por conhecer a Rota das Capelas de Cristina, um circuito recentemente inaugurado, cuja descrição poderá ser vista no link: www.oswaldobuzzo.com.br/Home/rota-das-capelas-cristina


No final desse giro, retornamos à Pousada Casarão onde, após banho e demais providências, adentramos num táxi que nos levou à cidade de Maria da Fé, onde pernoitamos nesse dia.


Lá, à tarde, pudemos visitar a belíssima igreja matriz da localidade, cuja padroeira é Nossa Senhora de Lourdes.


Mais algumas fotos desse dia:

A belíssima igreja matriz de Cristina/MG.

Percorrendo a "Rota das Capelas" em Cristina/MG.

A belíssima igreja matriz de Maria da Fé/MG.

Maria da Fé é destino turístico para usufruir o bom da vida, com uma simplicidade envolvente. Localizada ao sul de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, ela é popularmente conhecida por ser a cidade mais fria do estado, devido à sua altitude de 1.200 metros. A Fazenda Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) cultiva a produção de oliveiras (uma das maiores do Brasil) e ervas medicinais, além de possuir um maravilhoso santuário de bromélias. A Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes possui pintura semelhante à da capela do seminário maior da cidade de Mariana. O Centro Cultural, localizado na antiga estação, conserva registros fotográficos e documentais da história do município, além de uma locomotiva Raldwin 225 de 1918, que está desativada. Maria da Fé ainda conta com um exuberante cenário natural, recheado de maravilhosas cachoeiras e propício a quem busca tranquilidade. O Pico da Bandeira, mirante natural da cidade, proporciona uma contemplação única através de sua vista panorâmica. População: 15 mil pessoas - Altitude: 1.258 m


RESUMO DO DIA - Pernoite no Hotel Colonial Gold – Apartamento individual excelente! – Preço: R$90,00.


Almoço no Restaurante Fogão e Lenha Dois Irmãos: Excelente! – Preço: R$25,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.



6º dia: – MARIA DA FÉ a PEDRALVA - 21 QUILÔMETROS


A minha caminhada é longa e difícil, mas alcançarei a vitória. E mesmo que eu caia, a minha perseverança me erguerá.


A jornada seria curta, assim, partimos às 6 h, após tomar o café da manhã que o hotel nos disponibilizou com antecedência.


Depois de atravessar alguns bairros periféricos, acessamos uma larga estrada de terra levemente ascendente e bastante empoeirada, que nos levou a transitar entre cafezais e fazendas de criação de gado.


Sem grandes dificuldades, no 6º quilômetro atingimos 1.400 m de altura, o ponto de maior altimetria nessa jornada.


Então, já em declive, no 8º quilômetro, deixamos a trilha por 500 m, em direção ao bairro Lagoa, que pertence ao município de Pedralva, onde fomos conhecer o Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante, um local bastante famoso na região, mas que eu desconhecia sua existência, embora ELA tenha aparecido no local há 27 anos.


Um pouco de sua história poderá ser conferida neste link: https://www.youtube.com/watch?v=0IviqakgazI


Ali, após profícua visita ao templo, que disponibiliza água benta em torneiras existentes em seu interior, fizemos uma pausa numa padaria para ingerir um lanche acompanhado de um copo de café.


Prosseguindo, enfrentamos longo descenso, que perdurou pelos próximos 5 quilômetros, por locais onde a bananicultura é o forte.


Com o sol já queimando, sofremos muito nos 4 quilômetros derradeiros face à poeira, pois havia obras na estrada, bem como em um condomínio em construção, além do excessivo trânsito de veículos.


Assim, aportamos ao local de pernoite extremamente empoeirados, sedentos e ansiosos por um refrescante banho.


À tarde, após o almoço e merecido descanso, fomos até o centro da povoação fotografar e visitar sua igreja matriz, cujo padroeiro é São Sebastião.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Entrada para o Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante, bairro Lagoa, Pedralva/MG.

Mais um dos trechos lindos por onde passamos nesse dia.

No final, caminho bastante poeirento. A Shirley segue firme à frente...

Pedralva está localizada no interior do maciço da Serra da Mantiqueira, onde o bioma predominante é a Mata Atlântica, apresentando 3 fitofisionomias que são ocorrentes nas 2 maiores cadeias de montanha do município, onde prevalecem os maiores fragmentos de mata, destacando-se a serra do Barreiro e a serra da Pedra Branca, sendo esta última compreendendo os municípios de Cristina e Conceição das Pedras. Além de suas belezas naturais, Pedralva também se destaca na arte, especialmente pela ótima qualidade musical promovida por uma parte de sua população, destacando-se o "Pedrock," um festival de Rock 'n' Roll que teve o seu início no ano de 2001. No dia 28 de setembro de 2007, foi exibida uma matéria no programa Globo Repórter, da Rede Globo, na qual a cidade foi alvo de uma pesquisa que reuniu 40 pares de gêmeos em sua praça principal. Desde então, passou a ser conhecida como Cidade dos Gêmeos e reapareceu em outros programas televisivos. Pedralva é cercada de montanhas, oferecendo belezas naturais propícias para a prática do Turismo de Aventura. A serra da Pedra Branca, um dos pontos culminantes da região e que dá origem ao nome do município, a Pedra do Pedrão, utilizado para a prática de voo livre, trekking e escalada, grande extensão de Mata Atlântica, cachoeiras e sítios arqueológicos são alguns dos atrativos para os visitantes. População: 11.500 pessoas – Altitude: 911 m


RESUMO DO DIA - Pernoite na Restaurante e Hotel Panela Velha – Apartamento individual bom – Preço: R$70,00


Almoço no Restaurante do próprio hotel: Excelente! – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de pequena extensão e muita beleza, com direito a visitar o Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante, um local que emana boas energias e disponibiliza água milagrosa/benta nas torneiras localizadas no interior do templo. No percurso, plantações de café, banana e criação de gado leiteiro. Apenas, a lamentar o trecho final, onde aspiramos muita poeira por conta das obras em curso na estrada, agravadas pela estiagem que imperava na região.



7º dia: PEDRALVA a PIRANGUINHO – 29 QUILÔMETROS


Às vezes, a caminhada é difícil, porém nunca deixe que a chama de amor e esperança se apague. Dias melhores virão!


Seria uma jornada longa e imprevisível, pois eu não conhecia a região, então, tracei a rota via aplicativo “google-maps”.


Dessa forma, partimos às 5 h, ainda no escuro, caminhando sobre piso asfáltico, utilizando o acostamento da rodovia MG-347, até o 7º quilômetro quando, finalmente, adentramos à esquerda e acessamos larga e silenciosa estrada de terra, por onde seguimos com tranquilidade.


No trajeto, passamos diante de inúmeras fazendas onde o forte era o gado leiteiro, bem como por extensas áreas onde o milho havia sido colhido, recentemente.


Depois de superar pequeno aclive, passamos a descender, ininterruptamente, até o 14º quilômetro, quando ultrapassamos o rio Lourenço Velho por uma ponte, caminhamos um bom tempo por uma várzea, depois, giramos à direita e prosseguimos por outra larga estrada de terra.


Interessante ressaltar que no meio do percurso nós caminhamos, em 2 ocasiões diferentes, pelos ramais do Caminho de Aparecida, que provém da cidade de São José do Alegre e segue em direção a Itajubá.


No final de uma grande reta nós transitamos diante do aterro sanitário, depois, passamos por outro bairro campesino, onde giramos à direita e enfrentamos a derradeira elevação do dia para, em seguida, prosseguir em franco descenso.


Quase chegando, passamos diante de uma grande estátua de Nossa Senhora Aparecida, edificada num pasto pertencente a uma fazenda de criação de gado, onde fizemos uma pausa para fotos, orações e agradecimentos.


Depois, sem maiores dificuldades, mais abaixo, adentramos em zona urbana e logo chegávamos ao local de pernoite.


À tarde, além de provar alguns “pés de moleque”, doce típico da cidade, ainda tivemos tempo para visitar e fotografar a bela igreja matriz da cidade, cujos padroeiros são Santa Isabel e São Benedito.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Paisagens bucólicas, sossego, ar puro... tudo o que o peregrino deseja.

Vencendo a derradeira elevação. A Shirley segue firme à minha frente.

Uma grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, fincada num pasto.. É atração na cidade.

Piranguinho/MG, a terra do doce "pé de moleque"...

Piranguinho iniciou sua história no final do século XIX e ainda que muitos estudiosos focalizem o papel do café como único responsável pelo surto desenvolvimentista, sabe-se atualmente que a economia brasileira mostrava uma significativa diversificação. Conhecida nacionalmente como capital do pé-de-moleque, Piranguinho produz uma grande quantidade do doce consumido em todo o território nacional. Ele é produzido artesanalmente há mais de 80 anos, reconhecido como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais e Produto Âncora de Identidade Gastronômica do Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas, uma iguaria típica e única que confere fama internacional ao município. A “Festa do Maior Pé de Moleque do Mundo” une a cultura mineira das festividades juninas com a tradição na produção do doce, reunindo seus produtores para confecção de um Pé de Moleque gigante, que em 2010 foi homologado pelo RankBrasil – o livro dos recordes brasileiro. População: 8.600 pessoas – Altitude: 880 m


RESUMO DO DIA - Pernoite no Hotel do Leo – Apartamento individual excelente! – Preço: R$70,00


Almoço no Restaurante do próprio Hotel: Excelente! – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão e muita beleza, porém, os primeiros 7 quilômetros foram tensos e percorridos sobre piso asfáltico, por uma rodovia bastante movimentada. Contudo, quando adentramos às estradas de terra, tudo mudou e o percurso se tornou bucólico e aprazível. No geral, uma etapa agradabilíssima, plena de verde e intermeios ermos e silenciosos, embora a poeira se fizesse presente em vários trechos, face à estiagem. No global, tirante a primeira parte, um trajeto de grande plasticidade, com ascensos leves e pleno de paisagens bucólicas.



8º dia – PIRANGUINHO a BRAZÓPOLIS – 22 QUILÔMETROS


São nas dificuldades da caminhada que encontro forças para me reerguer e evoluir!


Como a jornada seria de pequena extensão, saímos às 6 h, depois de ingerir o café da manhã no bar do próprio hotel.


Com o dia claro, transitamos por alguns bairros e logo acessamos uma larga e plana estrada de terra, onde seguimos ladeados por imensas pastagens.


Percorridos 4 quilômetros, nós adentramos à direita, ultrapassamos o ribeirão dos Porcos por uma ponte e logo enfrentamos um leve ascenso, o único dessa etapa.


Posteriormente, prosseguimos por uma estrada plana e deserta e nesse trajeto extremamente bucólico, transitamos diante de inúmeras fazendas de gado leiteiro e alguns cafezais.


Percorridos 11 quilômetros, nós fizemos um giro de 90 graus à esquerda e prosseguimos caminhando ao lado de uma extensa várzea, onde avistamos inúmeros rebanhos bovinos, por uma estrada plana e que nos ofereceu nichos sombreados em alguns trechos.


E sem maiores novidades, pois o percurso não apresentou qualquer tipo de dificuldade, chegamos a Brazópolis, porém, como a Shirley necessitava regressar ao lar naquele mesmo dia, face à compromissos profissionais, tomamos um táxi e fomos para Itajubá onde, após almoçar, ela tomou um ônibus em direção a São Paulo.


Eu preferi pernoitar na cidade e retornei para a minha casa no dia imediato, para honrar compromissos urgentes, com a promessa de, em breve, Deus permitindo, voltar à cidade de Itajubá para prosseguir até o Santuário Mariano de Aparecida.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Uma paisagem digna dos campos mineiros. O caminho prossegue à esquerda, em ascenso...

Uma linda igrejinha nos dá boas vindas nesse intermeio.

Um trecho maravilhoso e sombreado por mata nativa..

Brazópolis está localizada num verdadeiro complexo turístico e possui um clima ameno e agradável de montanhas. Os atrativos naturais como as exuberantes cachoeiras, picos e suas pedras propiciam um ambiente favorável para a prática do turismo de aventura. Para os amantes de esportes radicais e ecoturismo, o lugar certo é a Pedra da Cruz, um dos maiores pontos de escalada esportiva do Brasil, conhecida por muitos como "Falésia dos Olhos". Para quem gosta de desafios, é possível a prática de esportes como a Asa Delta, que permite vislumbrar uma paisagem magnífica da Serra da Mantiqueira, e o pouco que sobra da Mata Atlântida nos dias de hoje. Do tronco da bananeira, são extraídas as fibras, que, depois de processadas, incrementam o artesanato e a renda familiar. O eucalipto também vem se destacando, pois, as carvoarias estão tendendo a somente utilizar madeira legalizada, o que resulta em uma demanda maior por essa madeira. Além disso, existe o Observatório do Pico dos Dias, situado a 1864 m de altitude, coordenado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica, que, além de ser um dos símbolos da cidade, também, é um ponto turístico. População: 15 mil habitantes – Altitude: 850 m


RESUMO DO DIA - Pernoite no Hotel Oriente, em Itajubá – Apartamento individual excelente! Preço: R$70,00


Almoço no Restaurante Carvão e Lenha: Excelente! – Preço: R$25,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de pequena extensão, muita beleza e que não apresenta obstáculos altimétricos no percurso. Caminha-se por estradas largas e planas, num trajeto extremamente agradável. A parte final acontece ao lado de uma imensa várzea, onde pastam rebanhos de gado bovino e bufalino. Infelizmente, face à compromissos já agendados, precisei retornar ao meu lar, com a promessa de em breve voltar a Itajubá, para prosseguir até Aparecida.

Caminhar em Minas Gerais... tudo de bom e melhor!! Faça uma experiência...!!

FINAL


Em um caminho você nunca sabe o que te espera, e é exatamente isso que o torna sedutor e intrigante para a nossa alma: avançar para o desconhecido, enfrentar e superar situações inéditas, este é o roteiro te faz vivenciar aquela vida que a monotonia do cotidiano te forçou a enterrar.” (Manuel Dalcesti)


A correria do dia a dia, o estresse e a rotina, podem afetar negativamente nosso corpo e mente, vez que muitas vezes o cansaço deixa de ser apenas psíquico e atinge o físico, provocando enfermidades e outros dissabores.


Inúmeras pessoas já deram conta disso e procuram atividades ao ar livre, junto à natureza, visando arrefecer sua inquietação.


Nesse sentido, quem busca destinos de viagem que contemplem um maior contato com o campo, não pode deixar de considerar o ‘mar’ de montanhas das Alterosas.


Afinal, viajar é sempre bom e se o desejo é vivenciar novas experiências, conhecer outras culturas e ainda se divertir, o Estado de Minas Gerais é o destino certo.


Pois, foi inspirado nesses argumentos que deixei o meu lar, viajei para as “Gerais” e não me arrependi, pois encontrei a paz duradoura, respirei o ar puro das serras, me deparei com a simplicidade e o bucolismo da zona rural mineira, bem como conheci cidades históricas e turísticas, todas de incomum beleza paisagística.


“Aí está Minas: a mineiridade” – como bem definiu o escritor João Guimarães Rosa, para traduzir Minas Gerais por meio daquilo que os mais de 20 milhões de mineiros, mesmo divididos em 853 municípios, carregam no peito e na alma.


Afinal, a “mineiridade” é a tradição e a liberdade, ainda que tardia, é o acolhimento e o povo trabalhador, é a cultura das festas religiosas e é a convivência familiar, é o afeto e a hospitalidade, é o cheiro bom do café coado na hora e do bolo de fubá que sai do forno, é a música, o barroco, a natureza e a fé.


Dessa forma, foi pesaroso interromper meu périplo, no entanto, sigo pleno de esperanças de que em breve retornarei à cidade de Itajubá e prosseguirei minha odisseia até o Santuário Mariano de Aparecida, a meta ansiada.


Por derradeiro, um agradecimento especial à minha amiga Shirley que, mais uma vez, “dividiu a trilha comigo”, pela excelente companhia, pontualidade e comunhão de objetivos afins.


Bom Caminho a todos!


Setembro/2021