11ª Jornada - SANTANDER a SANTILLANA DEL MAR

11ª Jornada – Santander a Santillana del Mar - 34 quilômetros: “Asfalto, a perder de vista!” 

A jornada seria uma das mais duras de todas que me restavam, posto que se a fizesse integralmente, seriam 44 quilômetros a percorrer, porém, depois de conversar com o taxista Juán, eu me sentira mais confiante, pois pude inovar em meu roteiro para aquele dia.

E como a meteorologia indicava, novamente, sol forte para aquela data, resolvi sair mais cedo, até porque eu caminharia praticamente a jornada toda em asfalto e, para piorar, quase sempre por zonas densamente povoadas.

Dessa forma, levantei às 4 h, tomei o desjejum no quarto e às 5 h, sob um vento frio e cortante, iniciei minha jornada quando a cidade ainda dormia e pouquíssimos carros circulavam por suas bem iluminadas ruas.

No dia anterior eu havia conversado com Sr. Alberto, o proprietário da pensão onde eu estava hospedado, sobre meu horário matutino, mas ele me tranquilizara, dizendo que Santander era uma cidade com baixíssimo índice de criminalidade e, ademais, eu não transitaria por nenhum bairro perigoso.

Assim, mais abaixo, passei defronte à Catedral e acessei a “calle” San Fernando e por ela segui até alcançar a “Plaza de Quatro Caminhos” localizada próximo da “Plaza de Toros” da cidade.

Na sequência, segui pela Avenida del Marquês de Valdecilla até uma grande rotatória, onde acessei a Avenida de Campogro e, mais à frente, prossegui pela rodovia N-611 até alcançar a villa de Peñcastillo, então pude enxergar uma grande igreja amarela à esquerda.

O clima estava fresco e úmido, de maneira que eu caminhei em ritmo constante e às 7 h, depois de percorrer nove quilômetros, cheguei ao “pueblo” de Santa Cruz de Bezama, sempre atento à sinalização do Caminho.

Tudo ali estava quieto e silencioso, assim, calmamente caminhei em direção à igreja local, localizada à sombra de grandes plátanos, árvore típica do solo europeu.

A partir desse local, se prosseguisse pelo traçado oficial do caminho, seguiria em direção à cidade de Boo de Piélagos e mais adiante, necessitaria transpor o caudaloso rio Pas, porém não há ponte nesse local, de maneira que eu precisaria fazer uma grande volta de, “apenas”, 9 quilômetros.

A alternativa existente seria fazer a transposição do rio, utilizado a via férrea que passa nesse lugar, porém tal trâmite é bastante perigoso e eu não sabia, nem consegui uma informação concreta, se ainda era permitida tal travessia ou se a polícia civil havia fechado essa passagem, pois tal ameaça sempre ficara no ar.

Assim, para não correr riscos desnecessários, segui o conselho do Sr, Juán, deixei o conforto das flechas amarelas e fleti radicalmente à esquerda, até acessar 500 m mais abaixo, e encontrei a já minha conhecida rodovia N-611, e por ela segui à direita, pelo acostamento e contra o fluxo de veículos.

Depois de cinco quilômetros percorridos sob forte cerração, finalmente aportei à Puente Arce, uma cidadezinha com belas construções e com destaque para a arquitetura cantábrica de sua igreja dedicada à Santa Maria.

Defronte ao templo eu girei à direita e logo transpunha o rio Pas, por uma espetacular ponte romana medieval, construída no século XVI, onde até hoje circulam pedestres e veículos de pequeno porte.

Já do outro lado, ultrapassei o restaurante Casa Setién e prossegui à direita, por dentro do parque “El Muelle”, no bairro de Orunã, uma agradável zona boscosa, onde existem mesas, bancos e fontes, para quem quiser desfrutar do lugar.

Eu estava bem disposto, o clima persistia frígido, de maneira que segui adiante, agora pela “carretera” de Mogro e depois de 3 quilômetros caminhados, sempre no plano, ultrapassei a Autovia Nacional e logo depois, a via férrea por uma ponte metálica.

Bem, o traçado oficial do Caminho prossegue adiante pela rodovia CA-232 em direção à Miengo e Cudón, na verdade, fazendo uma grande volta e sempre por piso asfáltico, apenas para passar nesses pequeníssimos povoados.

Assim, resolvi aproveitar a “dica” inserida no guia que portava, e girei à esquerda e depois de vencer pequena rampa, saí defronte à ermida de la Virgem del Monte.

Ali acessei uma rodovia vicinal, de pouquíssimo tráfego, a CA-322, que discorre entre grandes descampados e pequenas chácaras, todas dotadas de excelentes vivendas, sempre por locais amplos, ventilados e aprazíveis.

Foi uma caminhada agradável e com o sol já aquecendo a paisagem, porém o vento insistente não me permitia tirar o casaco.

Depois de caminhar por cinco quilômetros, já no povoado de Mar, reencontrei a rodovia CA-232 e, junto dela, as benfazejas flechas amarelas.

A partir dali adentrei em densa zona urbana e caminhei sempre à beira da rodovia, sobre uma calçada bem assentada, num ritmo uniforme, e sob sol ardente, atravessei a via férrea e prossegui junto a uma enorme fábrica de tubos de polietileno, por sinal, uma das maiores da Espanha.

Observando as flechas amarelas, prossegui adiante e logo atravessava Polanco, um povoado situado à beira da “carretera”, que abriga um grande parque industrial, com inúmeras fábricas e oficinas.

Localizada no chamado Valle de Polanco, e atualmente com 4.000 habitantes, ali foram encontrados diversos sítios arqueológicos, os quais comprovam a remota ocupação destas terras.

Há, inclusive, registros nas covas de Altamira, do homem do Paleolítico (2,5 milhões a 10.000 AC).

Na época da romanização, Polanco era passagem da famosa Via Agripa, calçada romana paralela à costa e que unia os atuais municípios de Castro Urdiales e San Vicente de la Barquera.

As primeiras menções a essa vila são do século XI (1.026 e 1.056) e se referem à sua dependência do senhorio monarcal de Santillana.

No Século XVI, o município experimentou grande desenvolvimento econômico e Requejada se converte, então, em um porto para o embarque do trigo de Castellano, além de receber carregamentos de ferro.

Apesar disso, não conseguiu sua independência administrativa, permanecendo vinculada ao Duque del Infantado, que ainda nomeava o alcaide (prefeito) local.

Sua independência só chegou com a primeira constituição espanhola, tornando-se município em 23 de maio de 1.812, mas que só foi formalizada em julho de 1.835.

Prosseguindo adiante, adentrei em Requejada, outro pequeno povoado, localizado em um enorme complexo industrial da Solvay, uma portentosa indústria química, cujas chaminés baforando a todo vapor, deixava no céu uma densa nuvem branca de poluição.

Ao final de uma grande reta, eu contornei o estacionamento dessa grande multinacional, atravessei o município de Barreda e transpus o rio Saja-Besaya, por uma grande e moderna ponte.

Mais acima, numa rotatória, segui à esquerda, passei defronte ao cemitério e mais acima prossegui ainda por asfalto, agora pela rodovia CA-340, em direção à cidade de Camplengo.

O trajeto final foi todo em piso duro, sob um sol candente, em meio a um campo relvado, onde o forte era a criação de gado e, para minorar o tédio e enaltecer a paisagem, alguns bosques de eucaliptos.

Finalmente, às 13 h, aportei em Santillana del Mar, meu objetivo naquele dia.

Essa povoação é uma das vilas monumentais melhor conservadas de toda a Península Ibérica, e surgiu de um pequeno monastério fundado antes do século X, onde havia, na antiguidade, uma hospedaria para pobres e peregrinos.

Dentre os numerosos museus desta pequena povoação, vale a pena destacar a “Colegiata” de Santa Juliana, uma construção do século XII, integralmente preservada, além de inúmeros edifícios históricos, o que atrai milhares de turistas todo ano.

E como é inevitável suas ruas se converteram num grande bazar aberto aos visitantes, onde se encontra de tudo um pouco, mormente no tópico de recordações, pois a cidade foi tombada no ano de 1.889 e recebeu o galardão de Monumento Histórico-Artístico Nacional.

Conta uma lenda que uma donzela católica ao ser casada à força por sua família, escapou de sua casa porque queria se manter pura perante Deus, escondendo-se nos montes onde hoje está construída essa emblemática vila, a quem chamam “Cidade das 3 Mentiras”, porque parece que a donzela não era tão santa, a cidade não é plana e tampouco tem mar.

Posso afirmar, no entanto, que Santillana foi um dos locais que visitei que maior impacto me causou, pois seu “casco viejo”, datado do, século, XIII / XIV mantém-se igual e caminhando por suas ruas me senti transportado à época medieval, quase no aguardo de cruzar com algum cavaleiro andante em qualquer de suas irregulares esquinas.

Ali fiquei hospedado numa pensão e para almoçar utilizei os serviços de um restaurante localizado numa das ruas centrais desta autêntica “villa” medieval.

Mais tarde, após um bom e merecido descanso, saí para passear pelas tortuosas ruas que compõem o “casco viejo” dessa maravilhosa cidade e aproveitei para visitar o albergue de peregrinos, localizado no parque Museo Jesús Otero.

Ali pude “sellar” minha credencial, conversar com alguns peregrinos, dentre eles, meu amigo Javier, de Valência, e também aproveitei para acessar a internet, graciosamente.

À noite, optei por um singelo lanche no quarto, pois a temperatura estava abaixo dos 10 graus, desestimulando qualquer programa ao ar livre.           

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa longa, difícil e duríssima, posto que integralmente cumprida em piso asfáltico. Ademais, a passagem por Polanco e Requejada, em face do barulho e da poluição enfrentados nessas cidades, perturbam e estressam o fatigado peregrino. No entanto, em alguns trechos transita-se por locais de infinita beleza como, por exemplo, o “tramo” entre a ermida de la Virgem del Monte e o povoado de Mar, bem como os derradeiros quilômetros antecedentes ao aporte final.

12ª Jornada - SANTILLANA DEL MAR a SAN VICENTE DE LA BARQUERA