2025 – ROTA PADRE DONIZETTI: SERRANA/SP a TAMBAÚ/SP – 105 QUILÔMETROS
“Para quem não crê, nenhuma explicação é possível. Para quem crê, nenhuma explicação é necessária.” (Beato Padre Donizetti)
2025 – ROTA PADRE DONIZETTI: SERRANA/SP a TAMBAÚ/SP – 105 QUILÔMETROS
“Para quem não crê, nenhuma explicação é possível. Para quem crê, nenhuma explicação é necessária.” (Beato Padre Donizetti)
A Rota Padre Donizetti é um novo percurso de peregrinação, com 105 km de extensão, ligando as cidades de Serrana/SP, Serra Azul/SP, São Simão/SP, Santa Rosa de Viterbo/SP e Tambaú/SP, e foi solenemente lançada no dia 08/06/2024, com a inauguração de um monumento construído ao lado da Igreja Matriz de Serrana; lembrando que o trajeto pode ser feito a pé, de bicicleta, de moto, a cavalo ou até mesmo de carro.
Esse Caminho nasceu pela inspiração da funcionária pública e devota Carla de Cássia Pereira Chavans, que se reuniu com os amantes de caminhada e pedal para fazer os levantamentos necessários, a fim de possibilitar a criação desse itinerário, visando a visitação turística das localidades envolvidas e a movimentação do comércio.
O marco inicial desse inédito traçado religioso é a Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Serrana/SP, e seu ponto final é o Santuário Nossa Senhora Aparecida do Beato Donizetti, localizado em Tambaú/SP, onde os peregrinos são agraciados com o Certificado de Conclusão.
Nossa chegada à cidade de Serrana, o Vinícius e eu, ocorreu numa quinta-feira de julho, e após um festivo almoço e as providências de praxe, como visitar a igreja matriz da cidade e adquirir nossas Credenciais Peregrinas, tivemos a honra de conhecer a Carla, a idealizadora deste Caminho, bem como confraternizar com meu preclaro amigo Orlando Ferreira Nascimento, um peregrino de “mão cheia”.
E, animados pela calorosa recepção do povo serranense, no dia seguinte iniciamos nossa odisseia pelas férteis terras da região ribeirão-pretense. Um pouco do que vi e vivi nos 5 dias sequentes, conto abaixo.
Resumo do dia: Hospedagem no Hotel CMS Plaza: Excelente! – Almoço: Chiku’s Bar e Restaurante: Excelente!
A cidade de Serrana, atualmente, com pouco mais de 45 mil habitantes, me pareceu uma povoação limpa, progressista e aprazível, estando localizada a, apenas, 25 km de Ribeirão Preto.
Em Serrana/SP, antes da partida, com a simpática Carla Chavans e o amigo Orlando Nascimento.
1º dia: SERRANA (SP) a SERRA AZUL (SP) - 15 QUILÔMETROS
“Pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo e todos, são um só em Jesus Cristo.” (Beato Padre Donizetti)
Logo de manhã, às 6h30, o padre Juliano, veio abençoar nossa trajetória, num gesto cristão e acolhedor, que muito nos fortaleceu espiritualmente. Após o café da manhã e as fotos de praxe, batidas diante do marco inaugural, partimos para a jornada do dia sob temperatura amena e tempo nublado, temperatura 14°C. O Orlando Nascimento, gentilmente, nos acompanhou até o 10º km etapa, e foi um prazer imenso caminhar ao seu lado, pois ele conhece toda a região e foi um dos principais colaboradores, quando da implementação desse roteiro, mormente, no quesito sinalização. Deixando a zona urbana, passamos a transitar por uma larga estrada de terra, ladeados por imensos canaviais. Seguimos em leve ascendência até o 6º km; a partir desse marco, prosseguimos sempre em aclive acentuado até o 10º km, quando atingimos o topo da serra, situado a 860 m de altitude, o ponto de maior altimetria dessa etapa, situado num local arejado e que propiciava belas vistas dos arredores. Ali, sem pressa, em meio a intermináveis plantações de cana-de-açúcar, fizemos uma pausa para bater fotos, curtir a paisagem, descansar e ingerir frutas. O Orlando tinha compromissos e, após emocionante despedida, retornou à sua residência. Nós prosseguimos em frente, e o trecho sequente, todo em agradável descenso, nos propiciou caminhar entre alguns nichos de mata nativa e, como de se esperar, também, pelo interior de canaviais, a perder de vista. Por sorte o dia se manteve fresco e com leve aragem, propiciando-nos seguir leves e despreocupados. Chegando à cidade de Serra Azul, primeiramente, fomos visitar e fotografar sua igreja matriz, dedicada ao Divino Espírito Santo. Depois, seguimos em direção ao Restaurante e Pousada Donana, onde fomos magnificamente recebidos pela sua proprietária, Dona Ana, uma pessoa de sensibilidade aguçada, que nos tratou com muito respeito e carinho. Após o almoço e breve descanso, demos um giro pela povoação e, num supermercado, aproveitamos para nos provermos de alimentos para o jantar. Sobre o trajeto do dia, diria que foi fácil e agradável, pois não apresenta grande extensão e nem dificuldades altimétricas de peso. Serra Azul, uma cidade integralmente plana, que conta com 12 mil habitantes, me impressionou pela limpeza, simpatia e amabilidade de seu povo. Um lugar para nunca esquecer!
ALGUMAS FOTOS DESSE DIA:
Antes da partida, a benção do Padre Juliano.
Iniciando a caminhada, junto ao "Marco Zero" da Rota.
Restam 100 km. O Orlando segue à frente conversando com o Vinícius..
Trecho arejado, céu azul...
Chegando em Serra Azul, diante de sua igreja matriz.
2º dia: SERRA AZUL (SP) a SÃO SIMÃO (SP) - 25 QUILÔMETROS
“A fé é a maior arma do cristão. Só ela é responsável pelas graças recebidas, quando aliadas às orações.” (Beato Padre Donizetti)
Partimos às 5h30, ainda no escuro, após o farto café da manhã. Os quilômetros iniciais foram caminhados sobre piso duro, por uma rodovia que, infelizmente, não possui acostamento. Porém, após 2.500 m percorridos, nossos passos foram direcionados para uma estrada vicinal paralela, onde seguimos lépidos e animados, embora ela apresentasse trechos dificultosos, pelo excesso de areia. A nos acompanhar nesse trecho, pelo lado esquerdo, um infindável bosque de eucaliptos, que deixou o ambiente fresco e perfumado. Prosseguindo, logo passamos a descender, e no 8º km nós fletimos à esquerda e logo passamos pela “Capela dos 19”, que homenageia os falecidos, vítimas de trágico acidente ocorrido neste local, assim descrito:
Acidente - “Era 28 de abril de 1966, uma quinta-feira como tantas outras no interior paulista. O sol ainda nascia, mas uma neblina densa ofuscava a visão sobre os campos de cana, quando um caminhão de carga aberta partiu de Serra Azul para a Usina Santa Clara, em São Simão, levando cerca de 25 trabalhadores rurais rumo ao corte, pela estrada antiga que passava na Fazenda Tamanduazinho. Homens simples, rostos marcados pela luta diária, subiram no veículo acreditando que retornariam, como sempre, ao fim do dia. Mas aquele dia não teve volta para 19 deles. Foi uma das maiores tragédias que a região já presenciou. O caminhão encostou em um cabo de alta tensão (13 mil volts), que havia caído do poste no chão de terra. O motor, à gasolina, deixou de funcionar. O fio, energizado, transformou o veículo em um condutor de morte. Houve uma explosão, e faíscas irromperam no contato. A borracha dos pneus atenuou a descarga momentaneamente, mas, quando os trabalhadores começaram a pular do caminhão, o desastre se consumou: cada um que tocava o chão completava o circuito elétrico. A descarga atravessava os corpos, matando instantaneamente. Dos que saltaram de um lado, 19 morreram eletrocutados. Os poucos que pularam do outro lado sobreviveram, por um instinto, um milagre, um gesto de coragem.
Sobreviventes – Entre os sobreviventes, relatou o jornalista Celso Luiz, estava Nelson, o “Bregolinha”. “Meu cunhado, que fugiu da morte naquele dia por uma dessas inexplicáveis chances do destino. Lembro-me claramente, mesmo sendo apenas uma criança de seis anos. Minha irmã, com uma criança no colo, correu desesperada à Usina Santa Clara em busca de notícias. A confusão era total. O alvoroço, ensurdecedor. Informações desencontradas, gritos, choros, rostos paralisados pelo medo e pelo luto iminente. Era como se o tempo tivesse sido interrompido por um trovão de dor”, lembrou. Nelson morreu recentemente, a cerca de dois anos, e com ele vivia também o testemunho silencioso dessa tragédia. Muitos outros, porém, não tiveram essa segunda chance. A cidade inteira chorou seus mortos. Famílias foram devastadas. Filhos cresceram sem pais. Mulheres viraram viúvas num piscar de olhos. A rotina rural foi substituída por um luto coletivo que parecia não ter fim. A cobertura da tragédia chegou à imprensa regional. O repórter Antônio Carlos Morandini, hoje colunista do Tribuna Ribeirão, esteve no local. Seu relato, publicado anos depois, ainda emociona: “Um deles foi o herói: pulou para o outro lado do caminhão e cortou o fio com uma ferramenta — podão de cabo de madeira —, salvando os demais. Cada um que o fio tocava se tornava um transformador, multiplicando a potência. No necrotério, notei que ainda havia os pregos nas botinas. As marcas indicavam que a eletricidade havia passado por ali. Foi muito triste.” Era um cenário de guerra em plena zona rural. O fio caído na estrada, a ausência de sinalização, a precariedade no transporte dos trabalhadores e a falta de qualquer protocolo de segurança foram ingredientes de uma tragédia anunciada. Ninguém foi responsabilizado à época. E, como tantas outras dores da classe trabalhadora, essa também correu o risco de ser esquecida. A Usina Santa Clara foi desativada tempos depois.
A memória – Mas Serra Azul não permitiu o esquecimento. Em 2000, mais de três décadas depois, a cidade ergueu uma capela em memória dos 19 trabalhadores mortos. Uma homenagem simples, mas poderosa. Os nomes estão lá. As famílias, quando passam por ali, sentem que seus entes queridos não foram apagados pela indiferença. Cada nome gravado naquele altar de saudade é uma reafirmação de que suas vidas importaram, mesmo quando o sistema insistia em tratá-las como descartáveis. A tragédia dos 19 de Serra Azul não é apenas uma lembrança triste. Ela é um símbolo. Um alerta contra a negligência com os mais humildes. Um grito silencioso contra a invisibilidade de quem move, com o corpo e o suor, as engrenagens da economia. Ela fala sobre morte, sim, mas também sobre memória, justiça e dignidade. Relembrar essa data não é abrir feridas antigas: é impedir que novas tragédias aconteçam. É lembrar que, por trás de cada nome, havia um pai, um irmão, um amigo. Que o luto de uma cidade inteira não pode ser apagado. Que a vida de um trabalhador rural vale mais do que qualquer justificativa técnica ou burocrática. (Fonte: www.tribunaribeirão.com.br, edição de 25/04/2025)
Bem, após uma pausa para visita à capela, orações e breve descanso, emocionados, partimos com o coração em transe, refletindo sobre a infausta ocorrência, que vitimou tantas almas inocentes naquele local. O trecho sequente, todo em ascenso, por estradas rurais bem definidas, nos propiciou amplas vistas da região, onde sobressaiam imensos canaviais e, em determinados intermeios, nichos preservados da mata atlântica. Sempre em ascendência, no 14º km, atingimos o ponto de maior altimetria da jornada, quando bordejávamos o Assentamento Mário Covas, localizado na antiga Fazenda Santa Maria. Basicamente, até este local, vivenciamos um trajeto ermo, onde avistamos apenas alguns ciclistas, à distância. Então, principiamos a descender e, mais abaixo, depois de caminhar 1 km pela rodovia, nós transitamos pelo distrito de Bento Quirino, o mais antigo bairro da cidade de São Simão, cuja igreja matriz homenageia Santo Antônio. Ali, no Restaurante e Buffet Jacó, fizemos uma pausa para comprar água e carimbar nossa Credencial peregrina. O trajeto sequente, até o hotel São Simão, onde nos hospedamos nesse dia, foi integralmente urbano, por locais planos e movimentados, pois estávamos num sábado. Mais tarde, após o banho, fomos almoçar no Restaurante Cantina Brasil, um estabelecimento que recomendo, com efusão. A cidade de São Simão, minha velha conhecida, pois já pernoitara ali em 3 ocasiões pelo Caminho da Fé, encanta pela sua simplicidade e simpatia. Atualmente, com 15 mil habitantes, chegou a ter 30.000 pessoas no século XIX, tornando-se a segunda maior povoação do estado de São Paulo, à época. Ela é conhecida como o “Berço da Proclamação da República”, pois em 31 de janeiro de 1888, antecipando ao clamor popular, sua Câmara Municipal propunha a extinção da monarquia e anulava a formação do 3º império. Para se ter uma ideia da importância de sua extensão territorial, no contexto geográfico de seu ápice, ela foi comarca dos seguintes distritos, por sinal, hoje progressistas cidades: Cravinhos, Santa Rosa de Viterbo, Serrana, Sertãozinho, Ribeirão Preto, Pontal, Dumont, Guatapará, Serra Azul, Barrinha, Santa Rita do Passa Quatro e Luiz Antônio. Sobre o percurso do dia, diria que esse trecho exige pertinácia, já que a jornada é de grande extensão, tornando a etapa um tanto desafiadora. No caminho, predominam paisagens de plantações de cana-de-açúcar, com algumas áreas de eucaliptos e nichos de mata nativa. Apesar do desgaste físico, é uma jornada repleta de bucolismo e conexão com a rotina do campo.
ALGUMAS FOTOS DESSE DIA:
Em Serra Azul, após o café da manhã, despedindo-nos de Dona Ana, uma pessoa maravilhosa!
Primeiro trecho: caminho paralelo à rodovia, orlado por um imenso bosque de eucaliptos.
Mural existente na entrada da "Capela dos 19".
Andar com fé eu vou.... !
3º dia: SÃO SIMÃO (SP) a SANTA ROSA DO VITERBO (SP) - 30 QUILÔMETROS
“Esquecer as injúrias e responder com a amizade aos agravos que vos dispensarem.” (Beato Padre Donizetti)
Partimos às 5h30, ainda no escuro, após o café da manhã, seguindo em leve ascenso, num trajeto urbano e silencioso, cujo percurso coincide integralmente com o do Caminho da Fé. Depois, acessamos a rodovia que segue em direção a Santa Rosa do Viterbo, porém, no 6º km, fletimos à esquerda e acessamos uma larga estrada de terra, situada entre imensos canaviais, a tônica nessa etapa. Na sequência, seguimos cortando um frondente bosque, depois, mais abaixo, após transpor um riacho por uma ponte, atravessamos uma grande área reflorestada por eucaliptos. O trajeto seguiu mesclando trajetos arejados com outros de cobertura vegetal, com ascensos e descensos moderados. No 16º km, num local conhecido por “Vale da Saúde”, passamos diante da Fonte Santa Rita, engarrafadora da água mineral Minalice e fabricante de diversos sucos, onde pudemos repor nosso estoque do precioso líquido, graças à gentileza de seus proprietários. Pois há uma torneira instalada na portaria da empresa, onde jorra a água mineral gelada, em profusão. Prosseguimos caminhando entre canaviais, porém avistei, também, nesse trecho, algumas culturas de milho e pastagens. O Caminho da Fé e a Rota Padre Donizetti seguiram o mesmo itinerário até o 19º km, quando se apartaram, porém, voltaram a se reencontrar mais à frente, já dentro do perímetro urbano. Assim, obedecendo à sinalização, nós prosseguimos à esquerda, num percurso ermo e silencioso, sempre escoltados por canaviais. No 23º km nós ultrapassamos um riacho por uma ponte em reconstrução, depois prosseguimos em ascenso, bordejando o Sítio Recanto dos Pássaros Mandioca Amarela, num trajeto bastante interessante. Mais alguns quilômetros percorridos e adentramos em zona urbana, e o acesso até o centro da cidade se faz por uma rua bastante íngreme. Após transitar diante da igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Santa Rosa, nós prosseguimos em bom ritmo até o Hotel Malim pois, por sorte, o dia se manteve fresco e nublado. Mais tarde, após merecido banho, fomos almoçar no Restaurante Paradize, de excelente qualidade. Sobre a etapa desse dia, diria que transitamos por lugares encantadores, ao longo do caminho, onde encontramos alguns enclaves de estupenda beleza. Como pontos de destaque, passamos diante de uma mineradora e uma linda cachoeira. Também, encontramos corredores com muita sombra e ar puro, e várias propriedades situadas à beira do percurso, com pontos para descanso, e que oferecem a possiblidade de recarregar as garrafas com água fresca.
ALGUMAS FOTOS DESSE DIA:
Caminho perfumado...
Atravessando um imenso bosque de eucaliptos...
Entrada da Fonte Santa Rita, onde há água mineral gelada e gratuita..
Quase no final, terreno plano e arejado.
4º dia: SANTA ROSA DO VITERBO (SP) até a PLACA KM 20 (TAMBAÚ/SP) – 16 QUILÔMETROS
“Devemos levar todos a Deus, essa é nossa missão, missão de todo batizado.” (Beato Padre Donizetti)
Partimos às 6h30, logo após o café da manhã. O trajeto, meu velho conhecido, nos propiciou caminhar com calma e introspecção até o 6º km, onde se situa o bairro rural de Nhumirim, cuja sede é Santa Rosa do Viterbo. Ali pudemos contemplar e orar diante de uma bela igrejinha, cuja padroeira é Nossa Senhora. De se ressaltar que este povoado se desenvolveu ao redor da estação ferroviária local, inaugurada pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 10/07/1910, com o objetivo de transportar café e passageiros. Infelizmente, ela foi desativada em janeiro de 1967. Seguindo em frente caminhamos, primeiramente, por locais arejados. Depois adentramos a um grande eucaliptal que, mais abaixo, se transformou num belo e fresco bosque, por onde seguimos aspirando o ar puro ali emanado. O dia prosseguiu nublado e frio, o que muito auxiliou nosso deslocamento. Mais abaixo, caminhamos em declive e, a partir do 12º km, passamos a descender com força. Já no plano, no ponto de menor altimetria dessa etapa, localizado no 15º km, nós ultrapassamos o ribeirão Quebra-Cuia por uma ponte, exatamente, onde situa a divisa de municípios. A partir dali, enfrentamos continuado ascenso, que fomos vencendo passo a passo, até o 16º km percorrido, onde encontramos a placa da Rota, sinalizando que restavam 20 km para Tambaú. Então, eu liguei para um taxista já previamente contratado que, pouco tempo depois, nos resgatou e nos devolveu ao Hotel Malin, onde estávamos hospedados. Nesse dia resolvemos variar e almoçamos no Bar e Restaurante Divino Inácio, de estupenda qualidade. Sobre o percurso do dia, diria que fomos aquinhoados com mais um dia fresco e sem sol. Ademais, o traçado da Rota coincide, integralmente, com o itinerário do Caminho da Fé, que eu já percorrera em 3 ocasiões pretéritas. Foi, sem dúvida, uma etapa fácil e agradável, perpassando por locais ermos, onde o silencio e o ar puro deram o tom, além, é claro, dos canaviais circundantes. E, afora alguns trabalhadores rurais, com quem conversamos animadamente, não avistamos vivalma no restante da etapa, a não ser os pássaros e alguns animais silvestres.
ALGUMAS FOTOS DESSE DIA:
Caminho belíssimo, em determinado trecho.
Atravessando outra grande área de reflorestamento por eucaliptos.
Placa dos 20 km restantes, final da jornada nesse dia.
5º dia: PLACA KM 20 (TAMBAÚ/SP) a TAMBAÚ (SP) – 20 QUILÔMETROS
“Para buscar a Deus, requer-se um coração despojado e forte, livre de tudo que não é puramente Deus.” (Beato Padre Donizetti)
Partimos às 6h30, logo após o café da manhã. Posto que, no horário aprazado, o simpático taxista Gilmar nos apanhou defronte ao hotel e nos devolveu, exatamente, no local onde havíamos encerrado a jornada anterior. Acertos monetários concluídos, animados e expectantes, nós iniciamos a derradeira jornada. E o fizemos em breve ascenso, por uma estrada larga e arenosa, que fomos vencendo com obstinação. A paisagem prosseguiu imutável, contudo, em determinado trecho, nós transitamos um bom tempo junto a extenso laranjal. Também, surgiram fazendas de gado e, no horizonte, pudemos avistar bosques nativos preservados. Restando 14 km para a chegada, o Caminho da Fé que nos acompanhava desde Santa Rosa, fletiu à direita, enquanto nós prosseguimos à esquerda. Contudo, alguns quilômetros à frente, os roteiros se uniram novamente. A partir do 7º km percorrido, nós principiamos a baixar com força e, restando 10 km para chegar, fizemos uma pausa para hidratação e lanche. Um senhor que reside numa chácara próxima se aproximou, e ficamos um bom tempo dialogando. Seguindo adiante, o trecho sequente foi, sem dúvida, o mais sofrido de toda a Rota, pois enfrentamos um massivo trânsito de treminhões e veículos transportadores de uma pedreira próxima, que nos obrigaram a aspirar muita poeira. Posto que a estiagem grassava na região, deixando o leito da estrada puro pó. Porém, não há mal que sempre dure, assim, no 15º km nós adentramos em zona urbana, e prosseguimos caminhando sobre piso duro, até nossa meta final: O Santuário Nossa Aparecida do Beato Donizetti. Onde agradecemos as graças alcançadas e rogamos proteção no regresso ao lar. Ali também recebemos nosso Certificado de Conclusão, que guardarei com muito carinho e apreço. Findas as orações e gratulações necessárias, nos dirigimos ao Hotel Tarzã, onde tomamos banho e vestimos roupas limpas. Mais tarde, após profícua visita ao Museu Padre Donizetti, fomos almoçar no Restaurante Delícias da Terra, de qualidade primorosa. E, felizes, coração em júbilo, à tardezinha, retornamos às nossas residências. Sobre a jornada final, diria que, afora o trecho poeirento e com intenso tráfego de caminhões, foi tranquila e agradável, embora, pela primeira vez, desde Serrana, o sol tenha dado o ar da graça, a partir das 7 h, perdurando altaneiro o restante do dia, o que nos fez transpirar em abundância.
ALGUMAS FOTOS DESSE DIA:
No início da jornada, trecho plano e retilíneo.
Outro trecho ermo e arejado...
Nossa chegada ao Santuário do Beato Donizetti.
Somente agradecer ao Beato, pela jornada abençoada!
FINAL
"Quando se vai ao cemitério, levando uma flor e derramando lágrimas, a flor murcha e as lágrimas evaporam. Somente as orações chegam aos pés de Deus.” (Beato Padre Donizetti)
Toda peregrinação é uma viagem a um lugar de devoção religiosa, um santuário, uma cidade santa, ou um local associado a figuras importantes, geralmente, com o intuito de buscar a fé, a paz interior, ou a conexão com algo maior. E, embora esse deslocamento possa ser realizado de inúmeras formas, caminhar é um dos elementos mais comuns, simbolizando a jornada física e espiritual. Nesse contexto, muitas pessoas buscam esse viés como uma forma de introspectar, refletir sobre a vida, e encontrar paz interior. Porém, ela também pode ser uma forma de se conectar com a natureza, ou, simplesmente, um ato de devoção, uma forma de agradecer, rogar por graças, ou cumprir promessas.
Bem a propósito, a Rota Padre Donizetti foi criada para celebrar o legado do Padre Donizetti Tavares de Lima, conhecido por suas obras de caridade e pelos milagres a ele atribuídos. Nascido em Cássia (MG), em 1882, o Beato dedicou grande parte de sua vida à cidade de Tambaú (SP), onde realizou um trabalho pastoral extraordinário. Na década de 1950, uma multidão de devotos se dirigia, diariamente, à aquela localidade, atraídas pela fama dos milagres atribuídos ao sacerdote. Ele faleceu em 1961, mas seu legado de fé e caridade continua vivo, inspirando milhares de peregrinos a percorrer esta rota anímica.
Insuflado por essa motivação religiosa e imbuído de muita resiliência, fui conhecer esse novo roteiro sagrado e não me decepcionei, pois, quando se anda, nossa mente aguça e nosso olhar se inebria, então só pensamos em agradecer a Deus pelas belezas que avistamos, seja um animal, uma pessoa, uma flor e tantos outros encantos inusitados. E assim transcorreu nossa profícua caminhada: uma trajetória plena de louvores, que se encerrou no abençoado Santuário Nossa Senhora Aparecida do Beato Donizetti, em Tambaú/SP.
Assim, ao finalizar esse roteiro, não poderia deixar de agradecer à Associação Rota do Padre Donizetti, mormente, à Carla Chavans e o Orlando Ferreira Nascimento, que coordenam a conservação desse itinerário, pois sem eles, nada teria sido possível.
Por derradeiro, gratidão especial ao Vinícius, meu dileto parceiro de trilha que, como das vezes anteriores, demostrou coragem, companheirismo e fé, enquanto labutávamos, diariamente, visando à consecução de nosso objetivo: aportar ao túmulo do Beato Padre Donizetti, em Tambaú. Que assim afirmou, em certa ocasião: “Sempre fugi, durante toda a minha vida, de receber manifestações que me provocassem naturalmente vaidade ou orgulho. Tudo considero vindo de Deus!”
E, a ELE rogamos bênçãos e proteção a nós, família e amigos.
Finalizando, cumpre ressaltar que esse roteiro se encontra muito bem sinalizado. Diria mesmo que é praticamente impossível se perder no trajeto, mesmo marchando sozinho.
Bom Caminho a todos!
Julho/2025
Meu Diploma da Rota, que guardarei com muito carinho e orgulho!