14ª etapa – ALFARO à CALAHORRA – 27 quilômetros

Teria uma jornada de média dimensão e, como as anteriores, sem dificuldades altimétricas.

Assim, optei por sair com o dia claro e deixei o local de pernoite às 7 horas.

Um termômetro instalado no frontispício de uma farmácia marcava 3 °C quando passei na praça central da cidade.

Ventava bastante, mas a meu favor, de forma que sem maiores problemas, passei próximo da Plaza de Toros e, mais adiante, acessei a rodovia N-232, e por ela segui uns dois quilômetros.

Mais adiante, passei ao lado da igreja de Nossa Senhora del Pilar e, logo depois, as flechas amarelas me remeteram à direita.

Seguindo à sinalização, por um viaduto, eu passei sob as vias férreas, depois segui caminhando por uma plana e larga estrada de terra.

O sol já ameaçava despontar, porém a presença de nuvens escuras no céu me preocupavam, vez que novamente deixara minhas capas protetoras no fundo da mochila.

O roteiro seguiu entre grandes plantações de trigo e uva, a tônica nessa etapa.

Mas, em determinados trechos, também avistei o cultivo maciço de pêssegos, alcachofras e, principalmente, de peras.

Aliás, a cidade de Rincón de Soto, para onde eu me dirigia, é uma das maiores produtoras desse fruto em toda a Espanha.

Na verdade, conforme li mais tarde, as peras aqui colhidas, levam a “Denominação de Origem” e são frutos da espécie Pyrus Communis L, procedentes das variedades Blanquilla e Conferencia, das categorias "Extra" e "I", destinados a serem consumidas frescas.

E são esses momentos de intensa introspecção que eu persigo em minhas jornadas, sejam em caminhos de cunho religioso ou não.

Finalmente, vencidos 10 quilômetros, por um túnel eu passei sob a Autovia Nacional e, um quilômetro à frente, adentrei em zona urbana.

As flechas me direcionaram para o centro da urbe e, numa praça, pude fotografar uma concha estilizada, homenagem aos peregrinos que por aqui transitam.

Rincón de Souto possui 3800 habitantes, que vivem exclusivamente da agricultura.

Povoação relativamente jovem, era distrito de Calahorra até 1670, quando o rei Carlos II a emancipou.

Seguindo adiante, logo cheguei à igreja matriz da cidade, cujo padroeiro também é São Miguel Arcanjo.

Fiz fotos no local, depois deixei a cidade pela Avenida Rioja, uma via larga, ajardinada e de bonito traçado.

Segui, na sequência, por uma rodovia vicinal asfaltada, que seguiu um bom tempo paralela a um canal de irrigação desviado do rio Madre.

E como a cidade de Calahorra foi edificada no topo de uma pequena elevação, eu já conseguia avistá-la no horizonte.

Ao meu lado prosseguiram, quase o tempo todo, extensas culturas de pera e pêssego.

E, claro, de uvas também.

O sol brilhava sem força, num céu azul quase sem nuvens, e eu seguia tranquilo e em paz com o mundo.

Em determinado ponto, o rio Ebro fez um grande meandro e eu passei ao lado dele.

Mas logo nos separamos e eu só iria avistá-lo novamente, a partir da metade da jornada seguinte.

O caminho, quase integralmente retilíneo e muito bem sinalizado, me conduziu sem problemas até os arredores de Calahorra.

Mas antes, por uma ponte, eu atravessei o importante Canal de Lodosa e, quase em seguida, por um túnel, eu atravessei sob as vias férreas.

Então, segui caminhando por uma rodovia bastante movimentada e logo adentrava em zona urbana.

A antiga povoação celtíbera de Kalakoricos foi conquistada por Roma no ano 187 a.C, passando a denominar-se Calagurris Julia Nassica.

Por isso, ela oferece uma grande variedade de monumentos e locais históricos, todos de origem romana.

Ademais, é a terra do grande mestre em oratória Marco Fábio Quintiliano, autor de vários textos e grande maestro na corte romana.

Em sua honra se erigiu uma estátua, localizada diante do prédio do Ayuntamento.

A cidade, historicamente falando, é outro ícone do Caminho del Ebro, pois, desde priscas eras, sediava a Casa de Moedas, com emissões próprias, privilégio que manteve até a Idade Média.

Após o domínio árabe, Garcia III “El de Nájera”, conquistou definitivamente a cidade no ano 1045 e sua possessão se alternaram entre domínios navarros, aragoneses e castelhanos.

Enrique II “El Trastámara” foi proclamado rei, em 1366, nesta cidade.

Calahorra está situada junto à desembocadura do rio Cidacos no rio Ebro, que concebem um vale especialmente fértil, formado por terras fluviais inundadas, muito propícias para a exploração agrícola.

Essa foz se completa com várias obras hidráulicas, dentre as quais se destaca o Canal de Lodosa e uma rede de canais de irrigações.

Sua população atual é de aproximadamente 25.000 habitantes.

Mais tarde, antes de tudo, fui verificar cuidadosamente por onde transitaria no dia seguinte quando deixasse a cidade, porque teria uma longa jornada a vencer.

Porquanto, como toda urbe em desenvolvimento, obras haviam sido feitas na região, como duplicação de rodovias, criação de novos bairros, aumento das avenidas periféricas, etc..

E, curiosamente, não vi nenhuma flecha amarela pintada no trecho urbano, assim, teria que confiar nas instruções apostas no guia que portava e em meu GPS.

Distinguindo-se, assim, dos povoados e vilas que estavam vinculados a um Senhor Feudal.

Nesse lugar, também denominado “La Picota”, eram expostos à vergonha pública os malfeitores que haviam cometido algum delito na cidade.

À noite, optei por ingerir um lanche com os víveres que havia adquirido num supermercado, acompanhado por uma insuperável garrafa de vinho tinto riojano.

Até porque, fazia bastante frio novamente, temperatura ao redor dos 6 °C.

E logo me recolhi, pois a jornada seguinte seria bastante extensa e cansativa.

Internamente, me regozijava, pois eu estava a apenas 58 quilômetros de Logroño, a derradeira cidade do Caminho do Ebro.

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