“A fé e a nossa perseverança despertam o otimismo, que conduz à vitória final.”
A jornada seria de grande extensão, por isso às 5 h deixei o local de pernoite, atravessei a cidade toda no sentido longitudinal e, percorridos 2 quilômetros, com o dia principiando a clarear, acessei larga e plana estrada de terra, situada entre glebas de terra nua onde, recentemente, houvera a colheita de uma enorme plantação de milho.
Depois, caminhei entre verdes pastagens e mais três quilômetros à frente, ultrapassei um ribeirão por uma ponte, então, principiei a ascender com rispidez em meio a outra colossal plantação de feijão, a perder de vista.
Naquela imensidão de culturas agrícolas, integralmente solitário, eu me sentia mais livre, não precisando acompanhar o passos de ninguém.
Assim, vivenciava melhor o ambiente e a intensa alegria que existia dentro de mim.
Percorridos 7 quilômetros, por uma ponte atravessei outro encorpado ribeirão, depois voltei a ascender, sem tréguas, em meio a plantações de cana-de-açúcar e café.
Dois quilômetros à frente o caminho bifurcou e, obedecendo à sinalização, adentrei à direita e prossegui ganhando altimetria.
Esse roteiro é extremamente ermo e não encontrei vivalma nesse trecho, enquanto pelo meu lado direito eu podia avistar no horizonte e à longa distância, um vale ubérrimo, integralmente verdejante, pelas variadas plantações que apresentava.
Percorridos 14 quilômetros, eu atravessei a divisa de Estados, e deixei o de São Paulo para adentrar ao de Minas Gerais.
Sempre em perene ascensão, finalmente, no 19º quilômetro eu atingi o ponto de maior altimetria dessa etapa, situado a 1018 m de altura.
Então, as flechas amarelas me intimaram a abandonar a estrada principal, girar 90° à direita e prosseguir por um caminho descendente, situado em meio à mata nativa.
Depois, o caminho se abriu e passei a caminhar em meio a infindável plantação de café, enquanto o sol já agredia com vigor num céu azul e sem nuvens.
Eu levara 1 litro de água, porém, meu estoque estava se findando e não encontrara nenhuma casa ou local onde pudesse repor o precioso líquido, contudo, por sorte, defronte à placa dos 554 quilômetros restantes eu encontrei o Sr. José dos Reis, um anjo que, literalmente, “caiu do céu”.
Conversamos rapidamente sobre meu problema e ele indicou uma torneira localizada à minha frente, junto ao mourão que sustenta um reservatório de água, onde o líquido verte cristalino e frio, pois provém de um poço artesiano ali cavado.
E isto me salvou, pois pude matar minha insaciável sede, face ao calor sufocante, além de encher os recipientes de plástico que levava para tal finalidade.
Prosseguindo, depois de agradecer o meu benfeitor, mais abaixo, por uma ponte de madeira eu transpus o caudaloso rio Santa Bárbara, depois, já no tramo final, eu enfrentei um duríssimo aclive, ainda que sob a fronde de mata nativa, em seguidas, caminhei algum tempo por uma larga estrada de terra, que logo passou a descender com força.
Então, após ultrapassar outro volumoso ribeirão, teve início o ascenso derradeiro que, face ao cansaço acumulado e o mormaço reinante, fui vencendo devagar, passo a passo e, confesso, cheguei ao destino final extremamente exaurido.
No entanto, graças a Deus, a Patrícia e seu marido, os proprietários da Pousada Casa Grande me atenderam beatificamente bem, assim, logo eu estava recuperado e após o banho e a necessária lavagem das roupas, saí para almoçar.
À tarde, após uma revigorante soneca, dei um giro pela simpática e ordeira cidadezinha, e ainda pude fotografar e conhecer o interior da igreja matriz da cidade, cujo patrono é São Tomás de Aquino, o maior expoente da filosofia escolástica católica, já que foi influenciado por Aristóteles e Averróis.
Algumas fotos do trajeto desse dia:
Mais um dia amanhecendo...
Caminhos desertos e arejados..
Caminhando em meio a uma imensa plantação de feijão.
Caminho pelo topo do morro, locais arejados...
Ultrapassando a divisa de municípios.
Caminho extremamente ermo e silencioso..
Caminhando em meio a imensa plantação de café. Tudo verde no horizonte.
Local, próximo da plana de 554 km, em que há água potável. Na foto, o Sr. João de Deus, que me mostrou a torneira que ali existe junto ao mourão.
Quase no final da etapa.. ainda entre cafezais. Sol forte!
São Tomás de Aquino, antigo distrito criado entre 1890 e 1891 e subordinado ao município de São Sebastião do Paraíso, foi elevada à categoria de município pela Lei Estadual n.º 843, de 7 de setembro de 1923.
Localiza-se a uma latitude 20º47'04" sul e a uma longitude 47º05'53" oeste, a altitude máxima é de 1210 metros no Morro do Selado, a mínima de 768 metros junto ao Ribeirão Fortaleza.
A altitude do ponto central da cidade é de 979 metros.
Dados da temperatura incidente no município: média anual de 20,6°C, média máxima anual de 27,5°C e média mínima anual de 15,5°C.
Os principais recursos hídricos do município é o Rio Santa Bárbara e o Ribeirão da Fortaleza, ambos compõe a Bacia do Rio Grande.
O PIB de São Tomás de Aquino é de R$104.492,26, desse boa parte baseia-se na agropecuária, principalmente produção de café e milho, na pecuária, destaque para à criação de gado de corte e leiteiro, além da suinocultura e avicultura.
A industrialização no município ainda está em estagio de desenvolvimento, mas nos últimos anos vem obtendo destaque as indústrias alimentícias, e pequenas fábricas de calçados que migraram do município de Franca.
O município pertence à Diocese de Guaxupé.
População: 7.300 pessoas – Altimetria: 979 metros
Fonte: Wikipédia
Igreja matriz de São Tomás de Aquino/MG.
Interior da igreja matriz de São Tomás de Aquino/MG.
RESUMO DO DIA: Clima: Frio de manhã, depois ensolarado, variando a temperatura entre 17 e 27 graus.
Pernoite na Pousada Casa Grande: Apartamento individual excelente! Preço: R$65,00;
Almoço no Restaurante Manga Rosa: Ótimo! – Refeição por peso no self-service: R$32,90 o kilo.
IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de grande extensão e que apresenta alguns obstáculos altimétrico importantes, mormente em sua parte final, quando o peregrino já se encontra sedento e desgastado. Porém, trata-se de um trajeto ermo, silencioso e extremamente belo, um dos percursos de maior plasticidade que percorri nesse novel Ramal. Praticamente, todo o itinerário, salvo raras exceções, foi vencido sobre terra sedimentada e sem pedras, excelente para caminhar. A natureza também se mostrou exuberante no entorno, além das variadas culturas agrícolas, que contemplaram feijoais, milharais, canaviais, pastagens e, principalmente, cafezais. Ainda, necessário se prover de água, pois tirante a torneira posicionada junto à placa dos 554 quilômetros restantes até Aparecida, não há locais de abastecimento no trajeto. No global, uma etapa belíssima, inesquecível, mas bastante exigente e fatigante em termos físicos.