5º dia - SALVATIERRA - VITORIA - 30 quilômetros
“Esqueça o tempo passado e torne o Caminho a sua vida.”
A logística dizia que a jornada seria longa, estávamos num domingo, previsão de chuva durante o percurso, enfim, outro dia normal para um peregrino.
Sabia também que enfrentaria a planura alavesa e, pelo que havia lido, seria uma etapa monótona e previsível: polígonos industriais, asfalto e estradas de terra aprisionadas.
Como o primeiro trecho seria em asfalto, deixei o local de pernoite às 6 h, quando tudo ainda estava muito escuro.
Sem qualquer intercorrência, passei pela cidade de Gazeo e, em seguida, cheguei a Ezkerekotxa, onde me detive alguns minutos para admirar a igreja de San Román.
Então, finalmente, adentrei em terra e passei a transitar por locais de expressiva beleza, sempre situado entre imensos trigais.
Mais adiante, caminhei um bom tempo ao lado da via-férrea, depois, obedecendo à sinalização, fiz uma curva para o lado direito, que me levou, uns 3 quilômetros adiante, a transitar diante da ermita românica de Nossa Senhora de Ayala (século XIII).
Parei para fotografar o entorno e encontrei o local integralmente deserto e a igreja fechada.
Parece que ela só é aberta à visitação em datas e horários específicos, que não pude identificar em nenhuma placa ali existente.
Depois, prossegui caminhando em terra ainda por um bom tempo, agora já sob um sol ameno.
Em sequência, o roteiro me levou a transitar pelas vilas de Villafranca de Estibaliz, Arkaia e Elorriaga, onde encontrei tudo fechado e deserto.
Prosseguindo, o caminho permaneceu silencioso e quase, no final da jornada, atravessei um agradável bosque nativo.
Quando este se findou, já podia avistar a silhueta da cidade de Vitória, minha meta para aquele dia.
O final da jornada foi por caminhos de terra que se bifurcaram várias vezes, depois, por largas e modernas avenidas, até a chegada diante da Catedral de Santa Maria.
Algumas fotos do percurso desse dia:
O sol bem que tentou sair, mas o dia ficou nublado o tempo todo.
Caminhos bucólicos e desabitados.
Caminho ao lado das vias férreas.
Igreja de Nossa Senhora de Ayala (séc. XIII).
Entorno verde e arejado..
Caminho reto e plano, a perder de vista...
Tudo deserto e silencioso..
Descendendo em direção à vila de Argandoña.
No final, trânsito por um agradável bosque nativo.
A cidade de Vitoria já aparece no horizonte...
Vitoria-Gasteiz (em basco: Gasteiz) é um município da Espanha, na comunidade autônoma do País Basco, província de Álava, da qual é a capital.
Com tal distinção, ela sedia as principais instituições políticas, como o Governo e o Parlamento Vascos.
Vitória foi, ao longo da história, um importante ponto estratégico, tanto no plano militar, quanto no comercial e cultural.
Cidade belíssima e muito bem cuidada.
Recentemente, foi nomeada capital Verde europeia, devido à grande quantidade de jardins, agradáveis e muito bem cuidados.
Ela foi fundada no século XII pelo rei navarro Sancho VI, como uma linha defensiva ante o vizinho Reino de Castilla.
A cidade mantém intacto seu traçado medieval e muitas de suas ruas empinadas que, no entanto, podem ser vencidas com a ajuda da modernidade.
Pelas ruas de Vitoria, com muita alegria...
Na época moderna, Vitória hospedou, em 1808, a Napoleão Bonaparte, que se dirigia à Madrid, para colocar no trono espanhol seu irmão, José I.
Em 1813, foi cenário da batalha de Vitória, em que os franceses foram finalmente derrotados, constituindo o desenlace da Guerra de Independência.
Na Praça da Virgem Branca, núcleo central da cidade, pode ser vista uma estátua que celebra o acontecimento.
A Catedral velha, atualmente, em reformas.
Em 1980, se converte oficialmente na capital da Comunidade Vasca, por decisão de seu Parlamento, propiciando o desenvolvimento econômico e contribuindo para que a província de Álava detenha o maior PIB per capita de todo o País Vasco.
Atualmente, Vitória é uma das cidades europeias de melhor qualidade de vida, constatável, entre outras coisas, pelo seu dinamismo cultural.
A Catedral "nova" de Vitoria.
Repleta de museus e eventos de todos os tipos, a cidade acolhe anualmente dois dos festivais de música mais importantes do país: o festival de Jazz e o de Rock, que sediou sua décima edição em 2011.
Em relação ao seu Patrimônio Monumental, destaque para a Catedral Velha de Santa Maria, construção gótica do séc. XIV. Atualmente, ela passa por um processo de restauração, que foi laureado com o prêmio Europa Nostra em 2002, a máxima distinção da União Europeia para os trabalhos de reabilitação do patrimônio histórico.
O templo pode ser visitado em visitas guiadas, num projeto denominado “Aberto para reformas”, e que inclui também as muralhas.
Devido aos esforços da prefeitura em promover e revitalizar seu centro histórico, iniciou-se recentemente os trâmites para que a cidade seja reconhecida como Patrimônio da Humanidade.
A catedral nova de Vitória foi construída em estilo neogótico, sendo consagrada em pleno século XX.
Monumento que lembra a vitórias sobre os franceses.
O chamado Portalón constitui um dos edifícios simbólicos da cidade.
Do século XV, refere-se ao portão que permaneceu aberto desde sua fundação, para abrigar as carruagens e proteger, do roubo e da deterioração, as mercadorias que levavam.
Hoje em dia, alberga um restaurante de alto nível, que combina perfeitamente história e gastronomia.
Desde o “Passeo da Florida”, uma agradável zona ajardinada, caminhando, descobrimos um local repleto de palácios e casas históricas.
A Plaza Mayor da cidade.
Na sequência, há o Museu de Belas Artes, sediado num palácio de origem renascentista.
Um pouco além, a Basílica de São Prudêncio de Armentia é uma das joias do Românico Vasco. Erguida nas últimas décadas do séc. XII, coincidindo com a fundação da cidade, foi levantada no local de nascimento do santo (séc. VI), muito venerado não só em Álava, como também em terras riojanas e aragonesas.
Seu trabalho evangelizador transformou a localidade de Armentia no centro espiritual mais importante da província.
População atual: 245 mil habitantes.
Passeando descontraidamente pela cidade...
Em Vitória, fiquei hospedado Hotel Dato 2, localização central, de ótima qualidade. Recomendo!
O almoço foi feito num dos inúmeros restaurantes situados na parte velha da cidade, onde degustei um “menú del dia” especial por salgados 15 Euros, porque estávamos num domingo.
IMPRESSÃO PESSOAL: A jornada transcorreu pela comarca natural da “Llanada Alavesa”, que abriga enormes extensões agrícolas e que, tal como seu nome indica, é quase que integralmente plana. Nesse dia, em âmbito cultural, sobressai o respeito pelos outros, praticado pelos habitantes locais. Merece destaque o monastério românico de Nossa Senhora de Estíbaliz, localizado a uns 900 m do caminho. Contudo, o máximo interesse da jornada se centra em Vitória, capital da província de Álava, interessante cidade, que abriga um magnífico “casco antigo”, onde se destaca, em sua parte mais alta, a catedral de Santa Maria.
Em termos globais, trata-se de um percurso integralmente plano, deserto e silencioso, com pouco trânsito sobre piso asfáltico. Vitória, capital do País Vasco, me impressionou favoravelmente por sua limpeza e a beleza de seus monumentos, na verdade, uma das cidades mais expressivas e agradáveis que já conheci, em todos os caminhos que já percorri.