Peregrinar, em seu significado ancestral, denota partir, sair, deixar.
Vez que, não é possível caminhar sem se ausentar do cotidiano, sem desapegar das coisas e da própria casa.
Mas, caminhar pode significar, também, buscar algo novo, talvez, meditar, procurando respostas para dúvidas existentes em nosso âmago.
Nesse sentido, diria que o percurso do Caminho Brasileiro de Compostela me encantou pelo seu silêncio e ermosidade, em boa parte do trajeto, onde pude me introspectar e comungar com o universo à minha volta.
Posto que, a natureza presente em seu roteiro enche os olhos, faz suspirar e enternece o nosso coração.
Contudo, gera, também, obstáculos físicos de considerável porte.
Como conselho amigo, recomendaria aos caminhantes menos experientes, não intentarem tal travessia solitário, tal qual eu fiz.
Porquanto, peregrino de muitos caminhos, diria, com sinceridade, que achei o trecho brasileiro um dos mais difíceis que já percorri, devido à instabilidade do percurso, que oscila entre ascensos íngremes, decliveis abruptos, areia, asfalto, rochas, trilhas erodidas e matas umbrosas.
Inobstante tais entraves físicos, quando atravessei a porta do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, ponto final desse Caminho, encontrei o prêmio que tanto ansiava.
Em relação à minha convicção religiosa, experienciei a iluminação interior.
Já, concernente ao meu ardor peregrino, o autoconhecimento.
Recompensas abstratas, sem dúvida, mas, para mim, de valor inestimável.