Na derradeira etapa do Caminho do Norte eu parti de Pedrouzo/Arca e aportei antes das 10 h em Santiago, a tempo de tomar banho e assistir à Missa dos Peregrinos, que é realizada, diariamente, às 12 horas.
Após um lauto almoço, eu perambulava eufórico e meio sem rumo pela imensa Praça do Obradoiro, quando ali chegou um peregrino espanhol, forte e atarracado, que depois verter algumas lágrimas de alegria, solicitou-me que o fotografasse, com as torres da Catedral ao fundo, pois queria perpetuar aquele momento solene e único.
Antes, contudo, enquanto me estendia a máquina fotográfica, contou com grande alvoroço que estava encerrando o Caminho Primitivo depois de, “apenas”, treze etapas.
Treze etapas! Enfatizou ele outras duas vezes.
Eu sabia da existência desse roteiro, porém desconhecia sua extensão, portanto, não poderia opinar no quesito tempo; mesmo assim, o parabenizei pelo feito.
Após a sessão de fotos ele ainda fez questão de lembrar que percorrera esse milenar caminho em 13 dias e, prosseguiu, um tempo escasso e difícil de ser bisado.
Depois, em tom misterioso e até tristonho, me confessou que no dia seguinte iniciaria mais um Caminho, este muito mais áspero e difícil.
Confesso que levei um grande susto, já que aquele exaurido peregrino nem acabara de chegar e já estava pensando noutro grande desafio.
Curioso, lhe perquiri sobre o assunto.
Ele, então, me confidenciou que naquela noite retornaria de trem para a sua residência na Extremadura e, no dia sequente, além de reencontrar sua esposa, filhos, cães e agregados, voltaria a trabalhar logo cedo.
Chama-se o “Caminho da Vida”, disse-me tristemente; ato contínuo, ambos explodimos em estrondosas gargalhadas.