2º dia: DELFIM MOREIRA/MG a PIQUETE/SP – 43 QUILÔMETROS
“O perdão é gota divina, porque é o único caminho para a cura interior.” (Padre Léo)
A jornada seria longa e acidentada, assim, deixamos o local de pernoite às 5 h, após ingerir o substancial café da manhã que, gentilmente, nos foi disponibilizado pelo simpático Jean, o proprietário do estabelecimento.
Deixando a área urbana, ligamos nossas lanternas manuais e acessamos uma estrada de terra larga e plana que, após 2 quilômetros, nos levou a desaguar na perigosa rodovia MG-350, por não conter acostamento, onde seguimos no sentido contrário ao tráfego de veículos, que se mostrou intenso naquele horário, mormente, de caminhões.
Porém, como todo mal tem seu fim, após percorrermos tensos 5 quilômetros e com o dia clareando, adentramos à esquerda em larga e plana estrada de terra que, em seu princípio, nos levou a caminhar entre belas chácaras e fazendas de criação de gado.
Depois, o trajeto se tornou desabitado e silencioso, por onde seguimos ouvindo o pio das aves, caminhando sobre um piso compactado pelas chuvas recentes, num trajeto espetacularmente agreste, onde nós,
a alguns metros de distância, pudemos, particularmente, colocar nossas orações em dia.
O caminho seguiu sempre em leve ascenso, silencioso, ermo e, quase sempre, entre eucaliptais e mata nativa, porém, a partir do 16º quilômetro o itinerário principiou a empinar e percorridos mais 2 quilômetros, no topo do morro, situado a 1.701 m de altitude, atingimos o ponto de maior altimetria dessa etapa, exatamente, onde há uma placa sinalizando a divisa dos municípios de Delfim Moreira e Marmelópolis.
Já em descenso, passamos diante da sede da Fazenda Saiqui, situada num bucólico e fantástico vale, banhado pelo ribeirão Saiqui e pelo córrego Amarelo, cuja principal atividade é a carvoaria.
Ainda descendendo, numa bifurcação, onde à esquerda a estrada segue em direção à base do Pico Marins, nós prosseguimos à direita e logo enfrentamos o derradeiro ascenso, situado entre vastos eucaliptais, que nos levou a transitar a 1.560 m, exatamente, onde se localiza a divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
Olhando à nossa retaguarda, deveríamos avistar o imponente pico dos Marins, um grande maciço rochoso com paredões íngremes, o 26º cume mais alto do país, cujo cimo atinge 2.421 m, porém, uma densa cerração obstaculizou nossa visão impedindo, inclusive, fotos.
Então, a partir desse marco, passamos a descender com impetuosidade, magoando, sensivelmente, pés e joelhos, que se desdobraram para frear nosso corpo e mochila, por estradas largas, desertas e situadas entre locais de inesquecíveis belezas, realçados por paisagens surreais, de ambos os lados.
Ainda em descenso, no 27º quilômetro, passamos pelo bairro dos Marins, cuja sede é Piquete, uma vila com ar europeu, onde há massivo comércio, além do Museu dos Marins, e a partir desse lugar, o piso passou a ser asfáltico e perdurou até o final da jornada.
Sempre transitando entre fazendas, onde o forte era a pecuária leiteira, enfrentamos ainda alguns descensos rudes, contudo, o desafio maior se afigurou quando, inesperadamente, o sol apareceu e, concomitantemente, precisamos enfrentar o derradeiro aclive, que se prolongou por intermináveis 2 quilômetros.
Finalmente, em descenso, adentramos à zona urbana e precisamos atravessar toda a cidade para aportar ao local de pernoite.
À tarde, após merecido descanso, ainda tive ânimo para visitar a igreja matriz da cidade, construída em estilo modernista, cujo padroeiro é São Miguel Arcanjo.
Algumas fotos do percurso desse dia: