A etapa dessa jornada, em princípio, seria de 29 quilômetros, com pernoite em Sernancelhe, a famosa “Terra da Castanha”, uma vila das mais antigas não só da Beira, mas de Portugal, e que exerceu no passado alguma influência social e política na região.
Poucas descrições teriam o condão de resumir, de forma tão definitiva, o patamar histórico a que chegou a Vila de Sernancelhe.
O Abade Vasco Moreira, o sernancelhense que assinou a primeira monografia do Concelho, em 1929, descreve Sernancelhe de forma apaixonada, revelando que, para além do primeiro foral obtido em 1124 (18 anos antes da Fundação da Nacionalidade Portuguesa), esta terra “vem de épocas mais remotas (…) julgo não me afastar da verdade, afirmando que as suas raízes mergulham na seiva lusitana”.
Pois bem, apesar de todos esses predicados, que aguçavam minha curiosidade por conhecê-la, infelizmente, ela não conta com estabelecimentos apropriados para o pernoite de turistas ou peregrinos já há bastante tempo.
Dessa forma, baseado na experiência de caminhantes pretéritos, resolvi me abrigar em Ponte do Abade, 7 quilômetros antes do local proposto pelo guia desse roteiro.
Assim, como a jornada seria de pequena extensão, deixei o local de pernoite às 7 h, com o dia claro, e segui por uma rodovia asfaltada, por algumas centenas de metros, depois eu descendi, primeiramente, em direção a Fraga Acavalada, com suas grandes barrocas, até transpor a Ribeira do Vale Azedo, já em Sintrão.
Depois de ultrapassar esse riacho por uma ponte, passei a acender fortemente, entre pinheiros da Mata da Caldeira.
Próximo ao topo do morro a sinalização desapareceu mas, como pude constatar em “in loco”, por conta de recente incêndio que devastou aquela serra, deixando a paisagem triste e esturricada.
Porém, mãos generosas que me precederam, sinalizaram a trilha com fitas amarelas, que foram amarradas nos arbustos que margeiam a senda.
Depois de enfrentar grande descenso e ultrapassar uma rodovia, passei a caminhar junto às margens do rio Távora.
Nas proximidades de Vila Novinha, onde o caminho não chega a acessar, cruzei o Ribeira de Rio de Mel, por uma ponte de pedra e, depois, em Ponte Nova, voltei a caminhar junto ao rio Távora.
Essa foi a única ponte que restou das outras cinco antigas que existiam e que permitiam cruzar esse fabuloso curso d'água em pontos distintos.
Os terrenos situados próximo da Quinta do Ferro impedem o prosseguimento junto às suas águas, assim, foi necessário fazer um desvio pela rodovia, depois, por trilhas, até a povoação de Benvende.
Mais adiante, voltei a caminhar junto ao rio Távora e passei, sucessivamente, pelas aldeias de Peroferreiro e Lezírias, alternando trechos em terra e asfalto, até chegar em Ponte do Abade.
Nesse trajeto final, eu atravessei um extenso e silencioso bosque de pinheiros, onde pude, novamente, me conectar com a exuberante natureza que me rodeava.
Então, eu tomei informações num bar, abandonei o roteiro do caminho, depois, segui à esquerda por, aproximadamente, 1.500 metros, e logo cheguei ao Residencial Santo Estevão, local de pernoite nesse dia, situado junto à rodovia N-229, que vai em direção à cidade de Moimenta da Beira, minha meta para o dia sequente.
Algumas fotos do percurso desse dia: