9ª Jornada - Alcuéscar – Cáceres – 40 quilômetros – “La Ciudad Monumental!”:
No albergue existe 1 máquina para venda de refrigerantes e cerveja, a preço de custo, mediante a inserção de moedas. Há outra que serve café, de formas variadas.
Ali tomei 2 “capuccinos” antes de partir, exatamente às 7 h e, como sempre, sozinho.
Pois os demais peregrinos ainda estavam dormindo, porque, por certo, fariam um percurso de menor extensão.
O dia apresentava-se extremamente frio, com forte cerração.
Porém, a saída da cidade está muito bem sinalizada de forma que não encontrei dificuldade em localizar o itinerário.
Inicialmente, trilhei por um senda situada entre várias chácaras.
Em quase todas as casas encontrei cão a ladrar com fúria à minha passagem, o que me impressionou devido à penumbra do amanhecer, quando ainda não se está de todo desperto e qualquer barulho nos causa apreensão e sobressaltos.
À propósito, li numa revista especializada que a “paixão canina” na Espanha começou no início dos anos 90 e expandiu-se rapidamente, como um raio.
Hoje, em toda a Península Ibérica é raro encontrar alguma habitação em que não exista um ou mais “perros”.
Aliás, segundo as estatísticas, a Galícia é a região com maior densidade de cães em todo o território espanhol.
Prosseguindo, mais à frente, acessei uma estrada plana e bastante arborizada que me conduziu, após monótonos 10 quilômetros, até Casas de Don Antônio.
A entrada neste pequeno povoado se faz sobre o rio Ayela, por uma bela “puente medieval” de origem romana.
Porém, o traçado do caminho apenas bordeja esse pequeno vilarejo.
Mesmo assim, é possível visualizar, à distância, sua belíssima igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, uma portentosa edificação do século XV.
O trajeto seguiu plano, beirando grandes fazendas de gado pelo lado direito da rodovia, passando, em diversos locais, junto a alguns “miliários” da época romana e, também, sobre uma pequena e graciosa ponte medieval pela qual se transpõe o riacho Santiago.
Mais à frente atravessei a “N-630” e avistei, distante uns 600 m do roteiro, a cidade de Aldea del Cano.
A partir dali, a trilha estreita-se e torna-se bastante acidentada, porém o percurso permanece plano e bem sinalizado e, em muitos trechos, as setas estão pintadas nos troncos das árvores que ladeiam a trilha.
Além de grandes rebanhos bovinos, o gado ovelhum é uma constante nesse trecho, sempre acompanhados por pastores e seus fiéis cães guardadores.
Logo depois de atravessar uma pista de vôo, na verdade, o aeroporto de Cáceres, pude avistar Valdesalor, onde cheguei, exatamente às 12 h, após transpor o rio Salor sobre uma grande e belíssima ponte romana, ainda bem preservada.Esta cidade foi fundada em 1963, aliás, uma criação do Instituto de Colonização durante a implementação do célebre “Plano Badajoz”, sendo uma das grandes empresas do Generalíssimo Franco.
Em seus arredores plantavam algodão, tabaco e maiz, porém, posteriormente entrou em decadência em face às disposições européias que regulamentam tais culturas. Atualmente, em declínio, conta com apenas 620 habitantes e é uma povoação integralmente dependente de Cáceres.
Um fato interessante a respeito dessa localidade revela que ao término de sua construção, num dos locais cavados, foram encontrados 160 denários, antiga moeda romana de prata, datados do ano 81 a.C.
O caminho neste trecho apenas ladeia a cidade e por lá não vi estabelecimento de comércio.
No entanto, logo à frente, à beira da rodovia, encontrei um posto de combustível com bar e restaurante, onde tomei café, fiz um lanche e pude renovar as forças, pois, ainda me restavam 11 quilômetros a percorrer.
A partir dali a sinalização se encontra bastante deficiente.
É preciso ultrapassar a Autovia Nacional sobre uma passarela, porém, ao descer do outro lado, não encontrei flechas, apenas, um largo caminho de terra que segue paralelo à “N-630”.
Embora, um tanto inseguro, pude observar no solo marcas de botas, certamente, de outros peregrinos que me antecederam.
Assim, mais confiante, prossegui em frente e, após uns 3 quilômetros, avistei novamente as abençoadas setas amarelas pintadas num mourão de pedra, fincado junto a enormes cercas alambradas que delimitam uma zona militar.
Depois de vencer íngreme e pedregosa ladeira, já no topo da elevação denominada “Puerto de las Camélias”, pude divisar Cáceres, minha meta naquele dia.
E, logo depois, adentrava à sua zona urbana.
O acesso à cidade se faz por larga e movimentada avenida.
Nesse ponto, as flechas desapareceram e sem direção, me perdi.
Então, fui pedindo informações aos transeuntes, até chegar, às 15 h, ao centro histórico da cidade.
Hospedei-me, próximo dali, no Hostal Qazeres, onde só havia apartamentos duplos, ao preço de 37 Euros.
Após banho e almoço, fui visitar a “Ciudad Monumental”, que está concentrada no alto de uma elevação e é famosa por seus castelos, edifícios religiosos, igrejas e monumentos da era medieval.
Com destaque para o Palácio Episcopal, o Palácio dos Golfines e a Catedral de Santa Maria, em estilo gótico, todos do século XV.
Fundada por Lúcio Cornélio Barbo, no século I a. C., era uma colônia romana nominada de “Norba Cesarina” e desde o ano de 1.986, seu “casco antigo” é Patrimônio da Humanidade declarado pela UNESCO.
Neste dia, mais uma vez, não vi nem encontrei nenhum outro peregrino, nem mesmo aqueles com os quais havia pernoitado na noite anterior.
Resumo: Tempo gasto: 8 h - Sinalização: Boa até Valdesalor, depois um tanto deficiente - Clima: Ensolarado com temperatura variando entre 3 e 15 graus.
Impressão pessoal: Trajeto agreste e plano, todo feito em chão de terra por excelentes estradas rurais. Apenas os derradeiros 5 quilômetros foram feitos em uma trilha bastante pedregosa. A entrada em Cáceres é longa e um tanto opressiva. Há que se considerar, também, a distância percorrida de razoável amplitude.