Em Cacabelos conheci um italiano de 60 anos que percorria o Caminho, desde Roma e para comprovar exibia uma enorme Credencial com mais de 300 carimbos dos lugares diferentes por onde tinha passado, fruto dos 150 dias de caminhada gastos para vencer tal distância.
Assim, conforme mencionei, idade não é entrave para se fazer o Caminho, claro, desde que sopesadas as distâncias a serem percorridas diariamente, e o condicionamento físico adequado, poderá o peregrino tranquilamente chegar a Santiago sem percalços.
Sobre as lavouras, uma coisa também curiosa que notei, é que não existem habitações nos campos. Todos moram nas povoações e se deslocam para seu local de trabalho rural, através de tratores, motos, carros, etc. Também não existem cercas separando os terrenos e as plantações. Os limites são estabelecidos por pequenos fossos, por onde correm as águas utilizadas na irrigação.
É interessante, ainda, observar as cegonhas que vi ao longo do Caminho. Elas vivem em lugares frios, situados ao norte da Europa, e no início da primavera procuram países mais próximos do equador, como a Espanha e Portugal, para procriar. Vi-as em quantidade a partir de Burgos (km 300), porém depois de Leon (km 500) encontrava-as em todos os locais. Nidificam em lugares altos e inacessíveis, como postes de iluminação, cumeeiras de casas, árvores centenárias, e, principalmente, nas torres das igrejas. Seus ninhos são enormes e compactos, geralmente construídos em lugares abertos, expostos ao sol, frio e chuva. Em abril/maio quando lá estive, estavam chocando ou ainda se acasalando. Creio que aqueles que passarem pelo Caminho a partir de junho, terão a oportunidade de vê-las já com seus filhotes, pois o período de incubação é de 37 dias.
O espírito de solidariedade dos que moram às margens das trilhas é inexplicável e prossegue imutável. Guy Veloso conta em seu livro que, no início da caminhada, um agricultor de aspecto rude passou por ele dirigindo um trator, em alta velocidade. Alguns minutos depois o homem retrocedeu, e sem nada falar-lhe, entregou-lhe um cajado e amarrou a mochila corretamente em suas costas. Da mesma forma, por distração, em duas oportunidades eu errei o caminho, e imediatamente, fui alertado por pessoas de que não estava no rumo certo.
REFLEXÕES
“Eu consegui! Cheguei hoje em Santiago! Foi uma das experiências mais bonitas da minha vida. Aqui eu encontrei paz é felicidade! Comecei com muitas perguntas, procurando respostas. O caminho não me deu as respostas, porque o caminho não te dá o que você procura, mas te dá o que você precisa!!! O caminho sabe disso! Eu fui solitária. Conheci muita gente, ouvi tantas histórias.... Andei quase sempre sozinha, ouvi o barulho dos meus passos, sempre achei onde dormir...... Em Santiago chegamos em 7.... Novas amizades, novos laços…. Se você sentir que o caminho "te chama", vai! Não tenha medo! É uma experiência maravilhosa!” (Consuelo Pignata)
Adentrar em Santiago de Compostela caminhando, depois de percorrer 800 quilômetros, para mim, foi uma mistura, em partes iguais, de emoção, satisfação pessoal e agradecimentos a São Tiago, vez que não consigo encontrar outra maneira de clarificar melhor aquele momento.
Pois, o CAMINHO é uma experiência única, intensa e inesquecível, além de enormemente enriquecedora, em todos os sentidos, então, 26 dias de caminhada vão longe, especialmente, se todos os cinco sentidos estiveram alertas em cada etapa do Roteiro.