10º dia: VINÍCOLA COLOMBO (FARROUPILHA) ao SANTUÁRIO DE CARAVAGGIO (FARROUPILHA) – 23 quilômetros
Seria a derradeira jornada e eu pretendia chegar cedo ao meu destino, a tempo de conhecer o local e visitar suas dependências, assim, parti às 6 h no escuro, transitando por uma rodovia vicinal levemente ondulada, mas plena de mata nativa nas laterais.
O clima persistia frio e neblinoso, ideal para caminhar, assim, sem grandes obstáculos, após percorrer 6 quilômetros, obedecendo à sinalização, eu adentrei à esquerda e acessei uma trilha úmida, pedregosa e descendente, por onde segui com extremo cuidado, pois o risco de uma queda ou torção sempre estiveram presentes.
Quando, finalmente, emergi desse trecho peculiar e boscoso, eu gire à esquerda e acessei uma estrada descendente onde, após um longo e contínuo declive, desaguei em outra via que me levou a passar diante da Capela de São José, a primeira construída em Farroupilha pelos imigrantes italianos e a mais antiga da Diocese de Caxias do Sul (1886), agora já em forte ascenso.
Após transitar por locais habitados e caminhar sobre piso duro, no 12º quilômetro eu acessei a perigosíssima ERS-122 onde, obedecendo à sinalização, eu girei à direita e caminhei tensos 1.600 m, por uma movimentadíssima rodovia que não contém acostamento, e este foi para mim o pior trecho de todo o roteiro, pois os caminhões passam “lambendo” nosso corpo e sempre em alta velocidade.
Finalmente, após abandonar essa trágica via eu girei à esquerda e acessei uma abençoada estrada vicinal, plena de árvores e paisagens indescritíveis, onde o forte são os imensos parreirais, e o silêncio e a ermosidade logo se fizeram presentes, deixando meus passos mais leves e alegres.
Sem maiores dificuldades, no 19º quilômetro, eu girei à esquerda e prossegui em forte descenso, contudo, mais 1.000 m teve início um severo aclive que 3 quilômetros adiante, em seu ápice, me levou ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, ponto final de minha vitoriosa epopeia.
Considerado o maior templo religioso do sul do país, o local é uma experiência única de fé, onde a paz é sentida de forma intensa, verdadeira e disponibiliza diversos recantos especiais, como a Fonte de Água Benta, que lembra a aparição de Nossa Senhora em 1432, na Itália.
Ressaltando, ainda, que sua principal celebração é a Romaria de Caravaggio, em 26 de maio, quando milhares de pessoas passam por esse espaço, sendo que esse local recebe mais de 2 milhões de pessoas por ano.
Bem, superada a emoção inicial e após fazer algumas fotos daquele sacro ambiente, adentrei ao templo para agradecer a Nossa Senhora do Caravaggio pela minha bem-sucedida jornada, depois, como havia promessa de chuva iminente e a pessoa responsável por atender os peregrinos só viria mais tarde, embarquei num táxi e retornei ao Di Capri Hotel.
No geral, diria que se trata de uma etapa desafiadora e estressante em seu trecho pela rodovia, contudo de imensa felicidade, pois o aporte final ao Santuário de Caravaggio é um momento especial, em que todo o cansaço do percurso, a poeira da estrada, as vicissitudes enfrentadas e os pés doloridos, fenecem repentinamente.
E no dia sequente, quando me preparava para regressar ao lar, recebi a gratíssima visita do amigo Gilberto José Galafassi, grande incentivador e "voluntário-mor" desse roteiro em Farroupilha, que me entregou o Certificado de Conclusão do Caminho, bem como me obsequiou com outros mimos, a quem agradeço de coração.
No aeroporto, antes de embarcar, me lembrei de uma reflexão atribuída ao célebre filósofo libanês Khalil Gibran, que considero apropriada para descrever meus sentimentos em relação a viajar para esse Caminho e concluí-lo:
“Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa aceitar sua natureza e entrar no oceano. Somente ao entrar no oceano o medo irá se dissipar, porque apenas então, o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de se tornar o oceano.”
Algumas fotos desse dia: