7ª etapa: SÃO ROQUE DA FARTURA à ÁGUAS DA PRATA – 16 quilômetros
Por conta de meu cronograma de viagem, eu iria encerrar a primeira parte de minha peregrinação naquele dia.
Assim, tinha a intenção de chegar ao meu destino o mais cedo possível, a tempo de tomar um ônibus para retornar ao meu lar.
Dessa forma, pois a etapa seria bastante curta, como forma de despreocupar meus hospedeiros, eu resolvi dispensá-los de levantar para preparar meu café da manhã.
Assim, pedi-lhes, no dia anterior, para levar apenas 2 bananas e um pedaço de torrada.
Depois de uma ótima noite de sono, levantei às 5 h e, meia hora depois, sob forte escuridão, eu deixei a pousada Cachoeira e segui à direita, com a lanterna na mão.
Trezentos metros depois, o caminho de terra batida me levou até a rodovia que liga São Roque a Poços de Caldas, seguindo à esquerda, em leve ascenso.
Quinhentos metros acima, e obedecendo à sinalização, eu adentrei à direita e prossegui por uma larga estrada de terra, integralmente vazia e silenciosa naquele horário matutino, pois o dia ainda não havia clareado.
Superando as distâncias, passei, sucessivamente, pelo bairro das Areias e o Pesk Trutas.
Visualizei, nesse trecho, grandes plantações de hortaliças e girassóis.
Logo à frente, a partir do Mirante da Lajinha, o Caminho entra em rápido e contínuo descenso.
Assim, prossegui em frente, e observei enormes plantações de pés de café, sem dúvida alguma, a de maior cultivo naquela zona, possivelmente, pela sua fácil adaptação ao clima ali reinante.
Mais à frente, conversei com alguns trabalhadores rurais que demandavam a um bananal.
Já em franco descenso, passei pelo sítio Maravilhoso, onde havia uma frondosa paineira.
Em uma outra ocasião, pude fotografá-la integralmente florida.
Assim, quedei-me pensativo e decepcionado ao constatar que ela havia fenecido, restando apenas seu imponente tronco seco.
Foi uma pena, possivelmente a copada árvore fora atingida por um raio em alguma tempestade, porém como não encontrei ninguém no local, não pude confirmar a razão de sua morte.
Mais abaixo, eu atravessei uma porteira e passei a caminhar em meio a um pasto, tendo um frondoso bosque de eucaliptos a me ladear pela direita.
Enquanto isso, do lado oposto, eu podia visualizar no horizonte os primeiros contrafortes da maviosa serra da Mantiqueira, com a qual teria contato na próxima jornada, quando seguisse em direção à cidade de Andradas.
Às 8 h, eu parei diante de um grandioso Jequitibá-Rosa, aproveitei para admirá-lo e fotografá-lo.
A árvore, de porte magnificente, faz parte de uma mata nativa a qual se atravessa após trilhar ao lado de duas grandes estufas utilizadas para cultivo de flores ornamentais, especialmente as orquídeas.
Em face do calor reinante e pela sombra ali ofertada, fiz uma providencial pausa para ingestão de uma fruta e me hidratar.
Depois prossegui adiante, e na sequência ladeei uma enorme fazenda de criação de gado.
No final de uma trilha que seguiu em meio a um pasto, eu atravessei outra porteira e, já em franca descensão, caminhei bastante tempo dentro de um vasto cafezal.
Para resumir o percurso até esse ponto, diria que desfrutei de belas paisagens, observei fazendas de café e de criação de gado de leite bem cuidadas, bosques, nascentes, riachos e ótimos locais para descanso e contemplação da natureza.
Quase chegando ao término de um grande carreadouro, após um pequeno bosque, avistei ao longe a cidade de Águas da Prata, fincada num bonito vale cercado de montanhas.
A cidade surgiu a partir de um povoado, mais ou menos em 1876, quando Rufino da Costa Gavião, descobriu a primeira fonte de água mineral de Águas da Prata, hoje denominada “Fonte Antiga”.
Por influência de forasteiros, vindo à região, em busca de cura e descanso, resultou o desenvolvimento e o progresso dessa terra.
Conta ela atualmente com 7.250 habitantes, e tornou-se oficialmente Estância Hidromineral em dezembro de 1926.
Nela nasceu o Caminho da Fé, cuja inauguração oficial deu-se em 11/02/2003.
Mais 30 minutos de íngremes e escorregadias ladeiras, e pude, finalmente, adentrar à Pousada do Peregrino, quando meu relógio marcava exatamente 9 horas.
Ali funciona, também, a Sede da Associação dos Amigos do Caminho da Fé, cuja Presidenta atual é a abnegada Sra. Odete Loro Boscariol.
Que conta com o imprescindível auxílio do “Supervisor de Caminhos”, o simpático e prestativo Sr. Mário Boscariol, que é, por sinal, seu marido.
A Tina, funcionária da Associação há longo tempo, minha velha amiga, foi quem me atendeu à porta.
Prontamente ela me disponibilizou uma toalha para que eu pudesse tomar banho, depois me serviu água e café.
Ainda fiquei ali conversando um bom tempo, matando as saudades, porém, no horário aprazado, tomei minha mochila e segui em direção à estação rodoviária.
Ali adentrei num ônibus e retornei ao meu lar, com a promessa de regressar dentro de um mês, para prosseguir minha jornada.
Com a Presidenta Sra. Odete, e o Sr. Mário
IMPRESSÃO PESSOAL – Sem dúvida nenhuma, a etapa mais tranquila e de menor quilometragem entre todas que fiz. Trata-se de um percurso fácil e agradável, quase sempre em descenso, que oferece belas paisagens, um colírio para os olhos, conjugado com muito verde em praticamente toda a sua extensão.