Segundo havia lido, enfrentaria nesse dia, provavelmente, a etapa mais "selvagem" desse caminho, porquanto, além de ausência de povoações intermediárias, me aguardavam alguns vadeios, a pé, de córregos e rios, como o Yeltes, quase no final da jornada.
Por isso, será necessário tomar as devidas precauções em épocas de chuvas abundantes e buscar alternativas, fazendo pequenos rodeios.
Esses vadeios eram habituais nos traçados das “cañadas”, já que facilitavam o gado a beber água.
Em alguns trechos da Cañada, a falta de passagem de animais e veículos deixa apenas um pequeno trilho entre arbustos, contudo, em troca desses pequenos inconvenientes, o entorno me proporcionou um passeio muito belo, com vistas inolvidáveis dos campos ao redor.
Assim, deixei a cidade de San Muñoz ainda no escuro, às 6 h 15 min, pela rodovia que vai em direção à cidade de Boadilla e, logo de saída, transpus o rio Huebra por uma ponte.
Depois de percorrer 4 quilômetros sobre piso asfáltico, com o dia amanhecendo, adentrei à esquerda, numa estrada de terra larga e bem definida, que me permitiu caminhar em meio a pastagens, transitando por locais com topônimos pastoris como: Mostrencos, Valdemerina e Las Majaditas.
Então, percorridos 10 quilômetros eu deixei o caminho e derivei uns 300 m à direita, para ultrapassar o rio de Cabrillas, utilizando uma ponte, pois tudo ali se encontrava em zona pantanosa.
No entanto, para minha tranquilidade, três quilômetros adiante, voltei a confluir com o caminho, lembrando que esse desvio está muito bem sinalizado.
No trecho sequente, de 10 quilômetros pela cañada, encontrei-a extremamente matosa e utilizei uma trilha estreita para prosseguir em frente e numa pronunciada baixada, num local belíssimo, atravessei, sem grandes problemas, o Arroy de la Fresneda.
Mais adiante, eu cruzei uma rodovia vicinal asfaltada e, quase em seguida, do alto de um outeiro, observando à minha frente, eu detinha uma vista espetacular do vale do rio Yeltes.
Então, com extremo cuidado, descendi por uma trilha íngreme, situada em um terreno nu, depois, atravessei porteiras e prossegui caminhando entre encinas, até alcançar o rio Yeltes, que em épocas de estiagem se atravessa sem problemas, como ocorreu nesse dia.
Porém, em épocas chuvosas, recomenda-se fazer um giro, utilizando uma senda localizada à esquerda do rio, que um quilômetro abaixo, propiciará ultrapassá-lo por uma ponte.
Resolvida a passagem por esse obstáculo natural, prossegui entre encinas, ultrapassei nova porteira, até que tomei o caminho de Robleda, depois, prossegui à direita, abandonando o traçado da cañada e, 2 quilômetros adiante, adentrei em Alba de Yeltes.
Antes, no entanto, levei um grande susto ao passar junto a um enorme rebanho de ovelhas, guardadas por dois atentos mastins, que partiram em minha direção.
Por sorte, apenas para lamber as minhas mãos, enquanto eu apavorado tentava localizar o pastor ou o dono dos animais, sem conseguir o meu intento.
Foi um susto e tanto, mas, como em outras ocasiões, Santiago me protegeu e, na sequência, me conduziu sem problemas até a minha meta desse dia.
Algumas fotos do percurso desse dia: