Minha Viagem

MINHA VIAGEM

Minha aventura iniciou-se numa quinta-feira à tarde, final de abril/2009, véspera de feriado, quando rumei para São Paulo.

Ali, mais especificamente, no Terminal Rodoviário do Tietê, adentrei em um desgastado ônibus da Viação Gontijo, que partiu, exatamente, às 20 h 55 min e, após paradas intermediárias nas cidades de Camanducaia, Perdões, Betim e Curvelo, todas localizadas no estado de Minas Gerais, aportou em Diamantina, às 12 h do dia seguinte, após quinze horas de estafante viagem.

Ao desembarcar, imediatamente, dirigi-me ao Hotel Santiago, que está estrategicamente localizado ao lado da estação rodoviária da cidade, estabelecimento onde havia feito reserva.

Depois de longo e revigorante banho, saí e caminhei em direção ao centro histórico dessa importante urbe. 

Ali, pude contemplar, embevecido, suas igrejas centenárias e casarios coloniais, integralmente preservados, alguns dos quais já serviram de moradia a importantes personagens da história mineira e do Brasil.

Como ponto de partida, entrei primeiramente na Igreja Metropolitana de Santo Antonio, para conhecê-la e pedir a benção e a proteção do céu. Concentrado, orei com fé: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador...

Em seguida, pude visualizar, também, dentre outros monumentos, o Chafariz do Rosário, o Caminho dos Escravos, e a residência onde nasceu Juscelino Kubitschek, progressista presidente que governou nosso país, no período de 1956 a 1961.

 

Visitei, ainda, a Casa da Glória, um prédio construído no século XVIII que inicialmente serviu de habitação para o primeiro bispo de Diamantina e depois foi transformada no colégio Nossa Senhora das Dores. 

 O “Passadiço das Dores” foi construído para que as meninas estudantes do colégio pudessem percorrer suas dependências, de ambos os lados da rua, sem precisar passar por um lugar – considerado imoral – que ficava na parte inferior do prédio.

Historicamente, é importante relembrar que Diamantina, o antigo Arraial do Tijuco, nasceu ao tempo das atividades bandeirantes e sertanistas, que vasculharam o território das Gerais à procura de ouro e pedras preciosas. 

O descobrimento de riquezas minerais nessa região, denominada pelos indígenas de Ivituruí (montanhas frias) e rebatizada por aventureiros brancos de Serro Frio, verificou-se em 1702, pelos bandeirantes Antônio Soares e Manuel Corrêa Arzão.

O arraial do Tijuco foi fundado em 1713, desenvolvendo-se após o descobrimento de diamantes nas suas proximidades. 

Em 1729, o governo da capitania comunicou à Coroa a descoberta e, a partir daí, a metrópole adotou uma política altamente arbitrária, com monopólio sobre as jazidas, que durou até 1845. 

Em 1831, o arraial do Tijuco tornou-se Vila de Diamantina, elevada em 1835, à categoria de cidade.

Por sinal, Auguste de Saint Hilair descreveu em seu livro “Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil (1816-1822)”:

"Não se dá ao Tijuco outro nome além de arraial, entretanto a população dessa aldeia, já que é assim chamada, eleva-se a cerca de 6.000 almas, e o número de casas é de cerca de 800. Antes mesmo de chegar a essa bonita aldeia, o viajante fica bem impressionado, vendo os caminhos que a ela vão ter. Até a uma certa distância, os caminhos tinham sido reparados pelos cuidados do intendente e por meio de auxílios particulares. Ainda não tinha visto tão belos em nenhuma parte da província”.

À tarde, após saboroso almoço e rápido repouso, fui verificar a localização dos marcos da Estrada Real, já na saída da cidade, posto que pretendia partir cedo, pois, a jornada do dia seguinte seria longa e cansativa.

Aliás, a planilha de distâncias e altimetria que eu portava, nominava esse primeiro trecho como o de maior dificuldade de todo o Caminho. 

E como eu ainda não me encontrava na forma física ideal, estava deveras preocupado, porquanto, necessitaria transpor três grandes elevações antes de alcançar meu destino final.

 Assim, após várias indagações a moradores locais, foi com grande emoção que me deparei com o “tótem” número um da Estrada Real, o primeiro de uma imensa série, que encontraria ao longo de meu roteiro. 

Objetivo concretizado, retornei ao hotel e, posteriormente, rumei até o “Mercado dos Tropeiros”, imponente construção datada de 1.835, onde atualmente se encontra instalado o mercado municipal da cidade.

Ali se realizava uma variada feira de “comes e bebes”, animada por dinâmica banda e, além de fazer novas amizades, aproveitei para degustar alguns pratos da cozinha mineira, acompanhados por uma deliciosa cachaça destilada na região.

Por obra do destino, conheci no ambiente da festa um casal procedente de Divinópolis, que também percorreria a Estrada Real, porém, de táxi. 

E, que no dia imediato, iria pernoitar no rústico e decantado distrito de Milho Verde.

Assim, obrigatoriamente iriam passar por São Gonçalo Rio das Pedras, minha meta para a primeira etapa. 

Animado, propus-lhes racharmos, proporcionalmente, o valor do transporte, contanto que levassem minha mochila, deixando-a na Pousada onde eu fizera reserva.

Tudo combinado, retornei ao local de pernoite bastante aliviado, posto que dessa forma, eu caminharia apenas com uma singela “mochila de ataque”, com capacidade de 18 litros, onde carregaria apenas água e frutas, facilitando, sobremaneira, meu deslocamento pelas Gerais.

 Antes de dormir, como forma de incentivo, rememorei um trecho do poema “A Vida”, do eminente pensador Augusto Branco, que me fez refletir com mais propriedade sobre o motivo de estar ali, prestes a iniciar minha odisseia: 

Mas vivi!

E ainda vivo!

Não passo pela vida.

E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,

abraçar a vida com paixão,

perder com classe

e vencer com ousadia,

porque o mundo pertence a quem se atreve

e a vida é "muito" para ser insignificante.