3ª dia – PRAIA GRANDE à SANTOS

3ª dia – PRAIA GRANDE à SANTOS – 29 quilômetros

 

“A meta do caminho é transformar sua consciência da separação, na unidade. Na unidade percebemos apenas o amor, expressamos apenas o amor, somos apenas o amor”. (Deepak Chopra)

 

A chuva finalmente se fora, deixando muita umidade, além de um vento frio e incessante, que varria toda a avenida, quando saí do Hotel, às 5 h 45 min.

Estava ainda bastante escuro, de forma solicitei informações ao porteiro do estabelecimento, para saber como me comportar, porquanto tinha notícias que seria perigoso transitar à beira mar naquele horário.

Ele, nativo daquela região, ratificou minhas explanações, aconselhando-me a prosseguir pela Avenida Presidente Kennedy, e somente acessar o calçadão na orla, quando o dia clareasse, pois à beira mar, durante a madrugada, marginais costumam agir com frequência.

Dessa forma, segui caminhando por calçadas, ao lado de belas construções, por uns 3 quilômetros e, assim que se fez dia, eu fleti à direita, cheguei na Avenida Presidente Castelo Branco,  e logo estava seguindo rumo ao norte, tendo o mar e uma longa faixa de areia pelo meu lado direito.

O clima frígido, poucas pessoas na rua, alegria interior, bem estar físico, enfim, uma série de razões me motivavam a prosseguir num ritmo tranquilo, mas constante, enquanto lentamente a incipiente claridade do dia ia avançando.

Assim, uma hora depois, passei por uma praça onde estão fincadas as estátuas de Iemanjá e de Netuno.

9/7/2012 07:19:56 - Portico: 11 - 6º Pórtico Eletrônico: Centro Cultural Vivencia Ocian (Praia Grande)

Trinta minutos depois, junto ao Centro Cultural Vivência Ocian, eu encontrei o 6º pórtico do roteiro, e ali fiz uma pausa para fotografias, registrar minha passagem e me hidratar.

Um carro da guarda civil do município estava estacionado defronte ao estabelecimento, de forma que, ainda que rapidamente, conversei os policiais que estavam de plantão, depois segui adiante.

E, logo à frente, principiou a tão decantada “Rua dos Sindicatos”, trecho em que se aglomeram inúmeras Colônias de Férias, associações de indivíduos da mesma classe ou profissão, que se aglutinam para a defesa de interesses classistas, profissionais ou econômicos.

A partir desse ponto, resolvi prosseguir caminhando pela areia, vez que por conta de segurança pessoal, estava usando um tênis velho e desgastado, e meus pés estavam reclamando da dureza do piso cimentado.

Foi um percurso agradável e sossegado, onde pude desfrutar do ar puro que a brisa marítima imprimia naquele espaço, bem como admirar os inúmeros prédios de apartamentos fronteiriços a orla, um diferente do outro em sua fachada, seja pelo aspecto arquitetônico ou cor de sua pintura exterior.

Finalmente, mais 5 quilômetros vencidos, eu retornei ao calçadão e logo fleti à esquerda, como indicava a sinalização.

E, logo acessei a Rua São Paulo que, mais acima, desembocou na famosa Praça da Paz.Também nominada de Praça das Cabeças, pois nela se encontram sete esculturas de personagens cujos feitos pela paz foram reconhecidos no mundo: Sérgio Vieira de Melo, Jesus Cristo, Maria Mãe de Jesus, Papa João Paulo II, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi e Nélson Mandela.

Os impressionantes trabalhos são de autoria do escultor Gilmar Pinna, pesam até 30 toneladas e atingem 10 metros de altura.

Após uma visita rápida ao local, eu acessei a Avenida Brasil e, na sequência a Avenida Costa e Silva.

9/7/2012 09:12:53 - Portico: 12 - 7º Pórtico Eletrônico: Portinho

Quando esta findou, eu atravessei a rodovia Ayrton Senna da Silva, segui por algumas ruas secundárias e logo cheguei ao Portinho, defronte ao qual está instalado o 7º pórtico do caminho.

Segundo o guia que eu portava, ele é uma das mais belas e ainda desconhecidas áreas de lazer do litoral sul do Estado de São Paulo, estando estrategicamente localizado entre Praia Grande e São Vicente, e a 20 minutos de carro, a partir de Santos.

Ali são disponibilizadas aos visitantes inúmeras atrações, para todos os tipos de gostos.

Para quem prefere esporte, existe amplo campo de futebol.

Se der vontade de navegar, poderá optar entre barcos a vela, remo e até embarcações de pesca profissional, que contratam passeios mais longos em mar aberto.

Além disso, dispõe de 23 quiosques onde pode ser assado um bom churrasco, e um restaurante.

A natureza é atração a parte, pois se trata de um ecossistema protegido pela legislação ambiental, por ser área de procriação de diversas espécies de animais, podendo-se observar caranguejos, garças e muito mais.

O local é bastante arborizado, estava com visitação intensa e era um convite para uma pausa mais demorada, mas eu ainda tinha muito a caminhar, de modo que após registrar minha passagem e ingerir uma fruta, prossegui em frente.

Seguindo as marcações, logo retornei à rodovia Ayrton Senna da Silva, passei para o seu lado direito, ultrapassei a divisa e adentrei no município de São Vicente.

 

Quando a expedição portuguesa comandada por Gaspar de Lemos chegou ao Brasil, em 22 de janeiro de 1502, deu, à ilha, o nome de São Vicente, em homenagem a Vicente de Saragoça, um dos padroeiros de Portugal, posto que o local era conhecido pelos indígenas como Ilha de Gohayó.

Outro fidalgo português, Martim Afonso de Sousa, nomeado pelo rei de Portugal Dom João III donatário de duas capitanias hereditárias que incluíam a ilha, foi enviado pela coroa portuguesa para explorar a nova colônia e colocar marcos territoriais no litoral Atlântico e no rio da Prata.

Fundou então a vila de São Vicente em 22 de janeiro de 1532, não sem oposição dos nativos. "Sustentou por espaço de três anos contínuas guerras com os bárbaros índios da nação Carijós, Guaianases e Tamoios, que os conquistou apesar da oposição que neles achou, sendo-lhe necessário valer de todo o seu esforço contra a contumácia com que lhe resistiu; porque na posse da liberdade natural reputavam em menos as vidas que a sujeição do poder estranho; mas vencidos em vários encontros, cedeu a rebeldia para que com maior merecimento e glória fundasse Martim Afonso a vila de S. Vicente"

Martim Afonso instalou então em sua nova vila os símbolos do poder organizado, construindo um pelourinho, uma igreja e uma câmara, realizando em 22 de agosto de 1532 as primeiras eleições em todo o continente americano.

Como atividade econômica, iniciou a cultura da cana e a instalação de engenhos para a manufatura do açúcar, principal produto do período colonial.

Mas a implantação deste esquema exigiu atividades complementares, consideradas secundárias, porém fundamentais para a produção açucareira.

Estas eram a pecuária e a agricultura de subsistência.

As primeiras cabeças de gado a chegarem ao Brasil, vieram do arquipélago de Cabo Verde, em 1534, para a capitania de São Vicente.

Sua população atual, conta com 335 mil habitantes.

Prossegui em frente, e logo chegava à Ponte Pênsil.

Ela é considerada o cartão-postal número um de São Vicente, e foi a primeira do gênero construída no Brasil.

Tombada como patrimônio histórico, a ponte foi inaugurada em 21 de maio de 1914, revelando-se fundamental no desenvolvimento da região.

Ela ainda mantém parte do material original utilizado na obra, vindos da Alemanha, como seus cabos de aço.

Eu prossegui em frente, agora em leve descenso, até cheguar à Praça da Biquinha de José de Anchieta, onde se encontra instalado o 8º pórtico do caminho.

9/7/2012 09:48:53 - Portico: 13 - 8º Pórtico Eletrônico: Biquinha de Anchieta (São Vicente)

 Os primeiros registros de sua existência dentro da história de São Vicente datam de 1553.

Naquele tempo, o Morro dos Barbosas possuía 3 nascentes.

Uma delas, a Fonte do Povoado, era a bica d'água mais buscada pelos moradores, a qual é conservada até hoje.

Pegou fama por ser cenário das meditações e aulas de catecismo do padre José de Anchieta. Próximo ao local, os jesuítas edificaram o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente.

Seus formosos azulejos azuis feitos à mão são relíquias históricas que se converteram em marca registrada do local.

A praça é muito conhecida dos turistas, pela diversidade e farta Feira dos Doces.

Ela também possui uma estátua em tamanho natural do padre José de Anchieta, edificada pelo artista plástico Francisco Telles Barreto.

Com 1,80m e 80 quilos, a obra foi criada em fibra e descreve a figura do padre em movimento, como se ele tivesse escrevendo nas areias da praia e apanhando uma leve brisa nos cabelos e na tradicional roupa utilizada pelos jesuítas naquela época.

 

Após uma breve pausa no local para fotos, registro, ingestão de uma barra de cereal e hidratação, prossegui adiante, agora pelo calçadão que segue contornando a orla da praia do Gonzaguinha e, na sequência, pela praia dos Milionários, até sair na praia do Itararé, onde fica a famosa ilha Porchat.

9/7/2012 10:11:34 - Portico: 14 - 9º Pórtico Eletrônico: Posto de Informações Turísticas da Praia do Itararé(São Vicente)

Ali, junto ao posto de Informações Turísticas, está instalado o 9º pórtico do caminho, local onde fiz outra breve parada, objetivando repor líquidos.

Registrada minha passagem pelo local, prossegui caminhando pelo calçadão e logo adentrei ao município de Santos, mais especificamente, na praia de José Menino.

 

“Santos é uma das cidades mais antigas do Brasil, portanto, histórica, mas, também, cosmopolita, portuária e ecológica.

Seu povoamento começou por volta de 1540 e o passado deixou legados preciosos em casarões, museus e igrejas, sendo que a data oficial de sua fundação é 26 de janeiro de 1546 e Brás Cubas, oficialmente, seu fundador.

Do povoado partiram muitas bandeiras, que penetraram no interior do território brasileiro, em busca de riquezas.

Em seu porto também desembarcaram, no início deste século, novos colonizadores: os imigrantes, oriundos de diversas partes do mundo.

É berço de figuras de renome, como os irmãos Bartolomeu e Alexandre de Gusmão e os irmãos Andradas, dentre os quais se projetou José Bonifácio de Andrada e Silva, personagem maior da Proclamação da Independência.

Graças a seus filhos ilustres e ao espírito comunitário, sempre se destacou na história nacional, ora envolvida na libertação dos escravos, ora lutando pela independência do País.

Ela abriga o maior complexo portuário da América Latina, construído no início do século XX, fase de grande progresso como escoadouro de café.

Suas praias são limpas, com jardins coloridos, entremeados de amendoeiras e palmeiras.

Santos possui o maior jardim à beira-mar do mundo, com sete quilômetros de extensão, onde foram construídas diversas fontes, esculturas e monumentos homenageando imigrantes, surfistas, pensadores e religiosos, dentre outros.

Possui, ainda, vários museus, igrejas, parques ecológicos, orquidário, a famosa Vila Belmiro, o Centro Histórico, a Bolsa do Café, o Píer do Pescador, o Aquário, e outras inúmeras atrações.

Atualmente, com 430 mil habitantes, oferece uma vida cultural intensa, um centro comercial dinâmico, bares movimentados, restaurantes requintados e todo o conforto de um moderno centro turístico.

Assim é Santos, localizada em uma ilha, onde a riqueza cultural, histórica e ecológica, faz da cidade em um destino único, que encanta e apaixona.

Bela e esportiva, é ainda uma das principais rotas de cruzeiros marítimos, e se destaca no turismo de negócios, com um dos mais completos complexos de eventos do Brasil.”

 

A partir desse ponto, voltei a caminhar na areia, pois o clima mostrava-se fresco, com sol fraco e pouco vento.

Apesar do horário tardio, 12 horas, muitas pessoas ainda se movimentam pela praia, de forma que minha caminhada foi contemplativa e agradável, pois a orla santista é extremamente bela.

Na sequência, passei pelas praias do Gonzaga, Boqueirão, Embaré e Aparecida, onde me hospedei num hotel.

9/7/2012 13:17:13 - Portico: 15 - 10º Pórtico Eletrônico: Aquário Municipal (Santos)

Depois de um merecido banho, antes de ir ao restaurante almoçar, e aproveitando a ocasião, passei pelo Aquário de Santos, local em que está instalado o 10º pórtico do caminho, onde registrei minha passagem, via cartão identificador.

Após proveitosa refeição, adentrei numa merecida e reparadora soneca.

Mais tarde, ao me levantar, constatei que o clima persistia ventoso, nublado e frígido, propício para caminhar.

9/7/2012 16:54:17 - Portico: 24 - 22º Pórtico Eletrônico: Outeiro de Santa Catarina (Santos)

Assim, calmamente, por ruas urbanas desertas e silenciosas, me dirigi ao Outeiro de Santa Catarina, localizado na parte velha da cidade, e onde está instalado o 22º pórtico do roteiro.

Além de registrar minha passagem por aquele local, aproveitei para revisitar as dependências daquele edifício, que já conhecia de longa data.

Sem dúvida, local de suma importância para Santos, pois se trata do marco inicial dessa bela cidade, conforme conta a história:

 

“Com as primeiras escrituras de doação e divisão de terras, a área que inclui o Outeiro passou a pertencer, no ano de 1532, ao casal Luiz de Góes e Catarina de Aguillar, que construiu, ao pé desse pequeno monte de pedra, uma capela dedicada à Santa Catarina de Alexandria.

Daí o nome Outeiro de Santa Catarina.

Junto ao lugar, Brás Cubas e o próprio Luiz de Góes ergueram suas moradias.

Próximo dali surgiu, logo depois, a primeira Santa Casa do Brasil e o Colégio São Miguel, dos padres jesuítas.

Assim, a região foi sendo ocupada e começou a estender-se a ‘Nova Povoação’, que mais tarde seria “Vila de Santos” e, por fim, Santos.

Em 1591, piratas ingleses, liderados por Thomas Cavendish, atacaram e saquearam a vila, destruindo a capela e lançando a imagem da santa ao mar.

Após 72 anos, escravos dos jesuítas, enquanto pescavam, resgataram-na da água com uma rede, casualmente.

O então reitor do Colégio de Santos, padre Alexandre de Gusmão, levantou com a ajuda da população outra capela para a santa, desta vez, no alto do Outeiro onde permaneceu por quase dois séculos.

O pequeno monte de Santa Catarina foi desaparecendo aos poucos: no começo do século XIX, começaram a retirar terra e extrair pedras do local e, em 1869, a Câmara Municipal autorizou o desmanche do que ainda restava do Outeiro, para demarcação de ruas e quadras.

Porém, permaneceram duas grandes pedras, sobre as quais o médico e abolicionista João Éboli, construiu uma bela casa acastelada.”

 

À noite, jantei próximo do local de pernoite e, no dia seguinte, por força de compromissos profissionais e familiares, regressei ao meu lar, com previsão de lá voltar em breve, para a conclusão de minha caminhada.

Isto efetivamente ocorreu, porquanto eu retornei à baixada santista no final do mês de julho, percorrendo, então, as outras duas e derradeiras etapas do roteiro.

 

AVALIAÇÃO PESSOAL – Percurso razoavelmente extenso, porém por orlas extremamente bem cuidadas como, por exemplo, a de Praia Grande. A caminhada também se faz interessante, mormente o trânsito pelo Portinho, Ponte Pênsil e Praça da Biquinha, locais de grande valor histórico. No global, um trajeto bastante agradável, em face do bom tempo reinante nessa etapa.

4ª dia – SANTOS à GUARUJÁ (PEREQUÊ)