WENCESLAU BRAZ ao BAIRRO dos PILÕES

4º dia - Wenceslau Bráz ao Bairro dos Pilões - 25 quilômetros 

A jornada seria longa, tensa e cansativa, de maneira que minha noite foi um tanto conturbada e, por consequência, meu sono pouco produtivo.

Assim, às 4 h 30 min eu me levantei, e depois das abluções matinas, ingeri o lanche e as frutas que recebera do proprietário da pousada na noite anterior, o Sr. Vitor, pois o café da manhã somente seria servido após as 8 h.

Então, após o desjejum e breve alongamento, deixei o local de pernoite às 5 h 15 min, debaixo de um céu claro, iluminado por milhares de estrelas e uma belíssima lua.

Já no asfalto, prossegui à direita, em leve ascenso, em meio a muitas árvores, que não permitiam a passagem da luz e, consequentemente, deixando bastante escuro o meu roteiro.

Porém, eu portava minha eficiente lanterna de mão e não tive problemas para seguir com segurança.

O trânsito naquele horário era praticamente nulo e o clima se apresentava bastante fresco, de maneira que pude caminhar tranquilo e num ritmo bastante agradável.

Três quilômetros depois, eu alcancei o bar “Ponte de Zinco”, e ali as flechas me direcionaram para a direita, onde acessei uma estrada de terra, e prossegui adiante, ainda em contínua aclividade.

O dia lentamente amanhece.

Estava muito escura a trilha, como quase sempre ocorre naquele momento da noite que precede imediatamente, em que as trevas parecem se retesar num último combate antes de serem varridas.

Consultando o mapa que portava, eu sabia que logo eu iria adentrar numa fazenda à direita, por isso fui seguindo com muita atenção, porém, desgraçadamente, não encontrei o local dessa passagem, que iria encurtar meu percurso em aproximadamente 2 quilômetros.

Na verdade, em determinado local eu percebi uma trilha que subia em meio a um pasto, depois se embrenhava num bosque de eucaliptos, já no topo do morro.

Contudo, eu caminhava solitário, não visualizei flechas indicativas nesse lugar, e não encontrei ninguém para confirmar se deveria seguir por ali, pois se trata de uma senda utilizada pelos romeiros da região, que demandam à Aparecida.

No entanto, como o trânsito de caminhantes tem seu maior fluxo no meses de inverno, e por conta das recentes chuvas, provavelmente esse roteiro perdeu a sinalização.

Nesse local não encontrei a sinalização.

Dessa maneira, prossegui adiante e depois de 6 quilômetros percorridos, eu desaguei perpendicularmente numa estrada de terra larga e plana.

Por sorte, num imenso tronco de árvore que avistei à minha frente, observei uma flecha me direcionando para o lado direito.

Ocorre que naquela parte do bosque havia derrubada de árvores e intensa movimentação de veículos que transportavam toras.

Logo adiante a estrada se abriu em três ramais.

E agora, pensei, qual deles eu devo seguir?

Caminho ermo e silencioso.

Por sorte, enquanto eu sondava as imediações, um trabalhador rural passou montado numa motocicleta e me indicou o rumo correto.

Uma bela cachoeira do lado esquerdo do caminho.

A partir daquele marco eu prossegui por uma estrada de terra, com um leito muito bem conservado, sempre em contínuo, mas leve ascenso, que serpenteava por dentro de grandes plantações de eucaliptos.

Foi uma caminhada tranquila e fresca, porque o sol ainda não havia nascido integralmente, de maneira que pude seguir sem pressa, enquanto a natureza lentamente despertava ao meu redor.

Mais acima, eu passei defronte uma belíssima cachoeira e logo girei à esquerda.

Na sequência, eu adentrei a Fazenda Boa Esperança, um recanto paradisíaco, que abriga um grande parque campestre, situado a 1.450 metros de altitude.

Na verdade, trata-se de um complexo turístico encravado dentro de uma área de 211 hectares, onde a temperatura média anual é de 16ºC, e que conta com proteção ambiental (Apa da Mantiqueira).

Ali, bromélias e orquídeas dividem com as aves nativas seu habitat natural em meio às mais de 7 cachoeiras da propriedade, com quedas d'água de 3 a 70 metros de altura, as quais podem ser visitadas através das trilhas que margeiam os três rios da região (Boa Vista, Cambau e Onça).

       

Cachoeira situada no interior da Fazenda Boa Esperança.

Para os pernoites, são oferecidos aos hóspedes aconchegantes chalés, com decoração rústica e uma poderosa ducha de água quente. 

E para garantir uma boa noite de sono, em todos os chalés existem lareira, travesseiros de penas, roupa de cama 100% algodão, além de um espesso edredom.

Enfim, o local é de uma beleza exuberante, porém estava totalmente vazio, porquanto os visitantes deveriam ter deixado o local no dia anterior, um domingo

Assim, transitei calmamente por aquele ambiente fresco e silencioso, já que ainda era muito cedo e provavelmente a maioria dos funcionários se encontrava de folga.

O caminho prossegue por essa ponte.

E, os que iriam trabalhar naquele dia, certamente iniciariam a labuta mais tarde.

Mais acima, eu pude observar e fotografar uma belíssima cachoeira situada em meio a inúmeras araucárias.

O lugar como um todo me passava um sossego, uma imensa paz interior, por sua exótica e fulgurante beleza, porém eu precisava seguir minha vida peregrina.

Assim, após uma certa indecisão, localizei as flechas azuis me encaminhando para uma ponte de madeira, por onde eu transpus um encorpado e barulhento riacho.

Na sequência, ultrapassei uma porteira, passei ao lado de uma casa e acessei uma trilha úmida e lisa, localizada em meio a um grande bosque, tudo em forte ascensão.

Trilha com bastante erosão.

Num cruzamento que encontrei mais acima, a sinalização me direcionou para uma senda matosa que, mais adiante, foi convergindo em meio a muito mato, num local ermo e silencioso, onde apenas ouvia o canto dos pássaros.

Depois de aproximadamente 1.000 metros, sempre subindo, encontrei um riacho, virei à esquerda e segui margeando-o, em sentido contrário ao seu fluxo, tendo-o pelo meu lado direito, correndo por uma funda grota.

Nesse trecho, em alguns locais específicos, eu utilizei rústicas pinguelas para vencer alguns afluentes que desaguavam no ribeirão principal

Caminhei, então, por um terreno irregular e bastante sujo, com muitas subidas e pequenos descensos, cortado por vários córregos.

Locais ermos e silenciosos.

Mais adiante, num local bastante úmido, passei diante de alguns frontões de cimento, de construção emblemática, pois está situada em meio a nada.

Contudo, informações obtidas posteriormente, me deu conta de que se trata de trincheiras militares, edificadas durante a Revolução Constitucionalista de 1.932.

Prossegui adiante, ainda por uma trilha úmida, barrenta e com mato invadindo a vereda, que me forçavam em alguns locais, a fazer malabarismos para não me atolar na lama.

Finalmente, depois de 2.500 metros de caminhada solitária e em meio a uma mata fechada e neblinosa, transpus um ribeirão por uma pequena ponte de cimento, sob o qual está inserido um grande cano, que serve para captação de água.

Uma perigosa pinguela, que o peregrino precisa atravessar.[

Já do outro lado, segui à esquerda e logo acessei uma larga estrada de terra.

Bastante cansado, fiz ali uma pausa restauradora para descansar, hidratar e ingerir uma barra de chocolate, pois todo o trajeto é feito em ascendência, embora de forma paulatina.

Revigorado, prossegui à esquerda em meio a um espesso bosque de araucárias e, depois de ultrapassar um encorpado ribeirão, através de uma ponte feita de tábuas, adentrei a um imenso pátio e áreas adjacentes do antigo “Hotel do Barão”, atualmente, denominado de Hotel Vista da Mata.

Caminho em direção ao Hotel Vista da Mata.

O local é de singular beleza e contém construções imponentes, além de possuir uma excelente infraestrutura para lazer, esportes radicais, trilhas, cachoeiras, etc.

A história do lugar é deveras interessante e merece ser rememorada:

“Borba Gato foi o primeiro visitante conhecido destas terras, já que ele passava por elas em busca das Minas.

Na segunda metade do século XIX, toda a região do Alto da Mantiqueira era conhecida como Campos do Jordão, em função do Brigadeiro Jordão que detinha grande parte das terras.

A fazenda São Francisco dos Campos de Jordão foi fundada em 1.881, quando o Comendador da Ordem Imperial da Rosa - Francisco de Paula Vicente de Azevedo, adquiriu as terras da fazenda e das propriedades ao lado.

Francisco tornou-se Barão da Bocaina em 1.887.

Na fazenda então vizinha, Alegria, plantou em escala produtiva o marmelo bem como, em menor escala, outras árvores frutíferas de clima temperado como: pera, cereja, maçã, caqui, ameixa, pêssego. 

Interior do Hotel Vista da Mata. Hoje o caminho não passa mais por esse local.

A fazenda São Francisco foi modelo internacional na criação de gado no fim do Século XIX e foi escolhida pelo Barão para instalar sua casa de campo e, no entorno, o peiral centenário que até hoje ainda floresce no mês de setembro.

Em 1.894, o Barão montou na fazenda a primeira estância climática do Brasil, a Vila São Francisco dos Campos de Jordão, onde viveu por alguns anos com esposa e filhos.

A Vila foi um projeto de Teodoro da Fonseca e contava com correio, escola, clínica, hotel, igreja, mercado.

O correio funcionou na Vila até meados do Século XX.

Pela Fazenda e pela Vila passaram muitas visitas convidadas pelo Barão para conhecer, pesquisar ou aproveitar a região, destacando-se os Presidentes Marechal Teodoro da Fonseca e Marechal Hermes da Fonseca, o Visconde de Carandiru, o Conde d´Eu, seu primo Arnolpho de Azevedo, seu irmão Conde José de Azevedo, além de cientistas franceses e alemães.

No mesmo lugar da Vila São Francisco, em 1.969, o filho mais velho do Barão, Francisco, construiu, em homenagem ao pai, o Hotel Pousada do Barão.

Que, atualmente, se denomina Hotel Vista da Mata.

Restam da antiga Vila São Francisco a capela (1.894), disponível para visitas, a casa do Barão, em reforma e o peiral que fica lindo no mês de setembro.

Há também um memorial (em criação) com informações históricas, obtidas nos arquivos do Barão e de seu filho Francisco.”

Enquanto me hidratava e fotografava o local, conversei com um funcionário do estabelecimento, o Sr. Fidélis, que trabalha na manutenção da enorme propriedade.

Ao indagar sobre a “Trilha da Santa”, meu principal ponto de interesse, ele foi enfático em me afirmar que ela necessitava de uma urgente manutenção, mas não sabia dizer como ela se encontrava em seu leito, porque há muito tempo não transitava naquela direção.

Ademais, me informou que no dia anterior um caboclo que residia no bairro Pilões, havia subido a serra, trazendo sua mudança distribuída no lombo de 8 mulas e havia seguido em direção à Itajubá.

Portanto, ele inferia que eu iria ter sucesso na descida, porém deveria fazê-lo com extremo cuidado, porque, notícia que eu não sabia, na tarde do dia anterior, havia chovido bastante naquela região, de maneira que ela deveria estar bastante lisa e enlameada.

Bem, aquele lugar e suas imediações ensejavam uma visita demorada, mas, eu ainda tinha muitos desafios a superar, assim, após as despedidas, prossegui adiante.

Depois do hotel, novamente na trilha.

Na sequência eu acessei uma estrada de terra larga e bastante pedregosa e prossegui em frente, sempre em ascensão, ladeado por um autêntico “mar verde”, constituído pela exuberante Mata Atlântica, que nesse trecho está muito bem conservada.

Mais acima, eu avistei à direita uma graciosa cachoeira e, na sequência, transpus por arriscadas pinguelas quatro pequenos riachos todos com nascente no alto da serra, que correm em meio a uma extensa campina, pintalgada, aqui e acolá, por escassos grupos de arbustos.

Normalmente, não pensaria duas vezes para transpor um daqueles regatos, mas ali eu era forçado a reconhecer uma nova realidade.

Uma graciosa cachoeira no meio do nada...

Pois, se escorregasse e quebrasse a perna, ou mesmo torcesse o tornozelo ao tentar atravessar um córrego que fosse, passaria por maus lençóis, posto que meu celular permanecia mudo e poucas pessoas sabiam de minha aventura.

Portanto, diante da necessidade de atravessar um singelo curso d’água, eu me sentia fortemente pressionado a evitar qualquer tipo de intercorrência, que afetasse minha integridade física.

Prosseguindo, em alguns trechos percebi que o caminho se encontrava bastante matoso, enquanto noutros se mostrava terrivelmente erodido, certamente fruto das intempéries que ali se abatera recentemente.

Verde por todos os lados, no topo da serra.

Nesse pique, caminhei por dezenas de metros, tenso e concentrado, contudo, apreciando a paisagem, sentindo o coração pulsar forte e perdendo-me em pensamentos.

Porquanto, as longas caminhadas são verdadeiras viagens internas, quando se cogita em muitas coisas, porém há instantes em que a mente fica absolutamente vazia.

Oratórios existentes no local mais alto do caminho.

Finalmente, às 9 h 30 min, depois de percorrer 20 quilômetros, eu aportei num local crucial, exatamente o topo do morro, onde tem início a “Trilha da Santa”.

Por ali passam anualmente, segundo as estatísticas, aproximadamente 10.000 romeiros, quase sempre nos meses de frio.

A grande maioria vem a pé, porém existem alguns se arriscam de bicicleta, a cavalo ou de moto, e descem essa perigosa ribanceira.

Enquanto repensava meu périplo, um bando de maritacas sobrevoou em algazarra por cima de minha cabeça, o que entendi como um sinal de boas-vindas, sentimento extremamente útil nas circunstâncias em que eu me encontrava, na verdade, um misto de medo e êxtase.

Vez que eu me encontrava integralmente sozinho naquele místico local, apenas com o calor da própria respiração e uma esperança pueril no coração.

Por sinal, ali existem dois pequenos oratórios, em madeira e cimento, pintados de azul, construídos à margem da trilha, contendo imagens de Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio e Frei Galvão, além de pedidos, orações, bilhetes, terços e agradecimentos por graças alcançadas.

Naquele local eu estava a 1.718 metros, o local de maior altimetria de todo o Caminho.

A partir daquele marco eu principiaria a descer, primeiramente de maneira lenta até adentrar a mata.

Na verdade, pelas descrições que havia lido, o caminho se resume a um valetão fundo, escuro e que oferece grande risco no período chuvoso, por servir como calha escoadora para as enxurradas.

Além disso, ele não deveria ser acessado após as 16 horas, por conta de sua espessa cobertura vegetal, que não permite a passagem da luz, o que também concorre para elastecer o período de evaporação e secagem da trilha, após chuvas intensas.

Descendendo em direção à "Trilha da Santa".

Com toda essa informação pulsando em meu cérebro, entendi que a coisa iria se tornar difícil e, porque não, dramática, daquele patamar em diante.

Apesar de minha fé, eu estava me sentindo um tanto exposto ao perigo e vulnerável ao acaso, já que eu enfrentaria algo que naquele momento pertencia a uma realidade situada além de minha imaginação.

No fundo, por falta de alternativa, entendia que tomara a decisão correta de descer a “trilha” sozinho.

Por conseguinte, em meu pensamento não havia a menor dúvida de que eu estava onde deveria estar, o que me fazia sentir útil perante meu ser, e merecedor de vivenciar intensamente cada minuto desta vida que Deus me doou.

Em consonância, minha determinação, confiança, serenidade, autocontrole, físico e emocional eram as únicas armas de que dispunha para sobrepujar o obstáculo que tinha pela frente.

Sabia que havia chegado até aquele lugar deliberadamente, movido pela fé e curiosidade, esse vício comum ao ser humano, buscando experiências que me trouxessem novas sensações, embora estive me expondo a uma situação adversa.

E não tendo controle sobre aquilo que me aguardava, poderia desvendar novas emoções, sentimentos fortes, alguns nobres, outros nem tanto.

Entendia que desafios, enfrentamentos como esse, poderiam me abrir um mundo novo e maravilhoso ou, em caso de acidente, me colocar nas profundezas do inferno, porquanto praticamente ninguém sabia de minha estada naquele local.

No entanto, a virtude só é alcançada depois de purgarmos os nossos medos, esse era o jogo e eu estava disposto a pagar para ver se daria conta de vencer aquilo que me aguardava.

Interior da "Trilha da Santa".

Assim, mais calmo, fiz uma oração, pedi proteção ao meu Anjo da Guarda e, resoluto, segui adiante, primeiramente, por uma senda matosa e extremamente lisa, que logo adentrou em uma mata escura e alta.

Ali se situa o verdadeiro início da “Trilha da Santa”, mais conhecida como “Trilha para Pilões” ou “Trilha dos Romeiros”, uma senda histórica utilizada desde o ciclo do ouro, que desce a escarpa da Serra da Mantiqueira, sob a densa vegetação.

A descida íngreme pelo meio do mato exige extremo cuidado, ainda que no princípio o terreno se eleve em degraus de rocha, como numa escalada, diminuindo a pressão dos dedos dos meus pés contra o bico das botas.

O cajado tornou-se indispensável para auxiliar a “segurar” meu corpo e, tamanha a declividade, que era difícil imaginar como um equino, por exemplo, conseguiria descer aquela trilha sem tropeçar e cair. 

Interior da "Trilha da Santa".

As árvores ao meu redor normalmente eram finas e altas, com alguns troncos mais robustos no meio delas, e o solo praticamente desnudo, coberto por pedras e folhas, que o deixavam úmido e escorregadio.

Imediatamente, principiei a baixar pela encosta íngreme, onde, no primeiro passo, escorreguei, tropecei e quase rolei pela vereda lamacenta da floresta.

Depois passei a ziguezaguear por canaletas altamente erodidas, e em vários trechos as “paredes laterais” atingem mais 3 metros de altura, sendo que a lama e as pedras soltas eram uma constante.

Para complicar, encontrei galhos quebrados, barro, terra fofa, degraus na rocha, de amplitude imensa, enfim, o risco de uma torção era iminente e o socorro, praticamente impossível, de forma que fui descendo com extremo cuidado.

Interior da "Trilha da Santa". Locais com grande erosão.

Assim, fui me aguentado, me equilibrando precariamente pelos barrancos, porém, em determinado trecho não houve jeito de me aprumar e fui ao chão em várias oportunidades.

Por sorte, quase sempre eu caí de costas, então minha mochila serviu de anteparo, porém meus braços foram os que mais sofreram com o impacto, ao atingir a laje que havia abaixo.

A adrenalina espalhava-se pelos meus órgãos e minha respiração tornou-se ofegante.

E, após o primeiro, outros tantos tombos se sucederam, tamanha a umidade que encontrei no percurso, porque na verdade, estava enfrentando um imenso desnível, em que eu descendi 800 metros em pouco mais de 4 quilômetros.

Quase no final da descida, com o barro agregado às minhas botas, meus pés pareciam pesar toneladas. 

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Depois da "Trilha da Santa", um manso riacho para atravessar.

Uma hora exata eu passei nesse “inferno” até que, finalmente a trilha nivelou e transpus um riacho, utilizando as pedras alocadas em seu leito.

Depois, sob as bênçãos divinas, prossegui bordejando a imensa serra, porém, agora, sob céu aberto.

Foi como se estivesse adentrado ao paraíso, pois diante de mim se estendia um terreno gramado e plano, pertencente a um sítio.

Olhando para trás, vi a escarpa que eu havia vencido, e me chamava a atenção a forma como aquele paredão rochoso e verde de mata, morria de todo ao encontrar a planície.

Trilha agradável e em descenso.

Logo à frente eu cheguei à Fazenda São Rafael e pós transpor 2 porteiras, desemboquei numa estradinha de terra, em franco descenso.

Um riacho me acompanha pelo lado esquerdo.

Ao meu lado seguia um riacho encorpado e murmurante, de águas límpidas e plena de pequenas quedas, o ribeirão Pilões, que é produto final da reunião de várias nascentes que vertem da Serra da Mantiqueira.

Chegando à Pousada, finalmente. Estado periclitante...

Mais abaixo eu passei defronte ao bar do Sr. Geraldo e logo aportei ao bairro São Sebastião, mais especificamente na pousada de Dona Sueli, lugar onde fiquei hospedado. 

Resultado dos tombos.

A proprietária, uma pessoa simpática e hospitaleira, possui um grande barracão onde disponibiliza inúmeras camas aos caminhantes, pois há muitos anos oferece pouso e alimentação a inúmeras romarias que se dirigem à Aparecida.

Embora seja bastante simples e exista um único banheiro disponível, por sinal, localizado no lado externo da construção, o local é extremamente aconchegante.

Linda capelinha.

E o carinho e respeito que me foi dispensado pela minha hospedeira, fez toda a diferença.

Após um lauto almoço e uma necessária soneca para me recuperar das quedas sofridas, dei uma volta pelas redondezas e fiz uma visita à capela que empresta o nome ao bairro.

Depois, retornei uns 1.000 metros, até o bar do Sr. Geraldo, que comercializa de bananas e, por coincidência, é pai da Dona Sueli.

Com o Senhor Geraldo, Bairro Pilões

Ali passei momentos memoráveis, pois meu anfitrião é uma pessoa extremamente agradável e alegre, além de ser, de forma gratuita e espontânea, o coordenador e responsável pela limpeza e manutenção da “Trilha da Santa”, que é feita anualmente, sempre na Semana Santa.

Mais tarde, retornei ao local de pernoite onde fui muito bem acolhido com um jantar supimpa.

Afinal, existe coisa melhor que uma autêntica comida mineira, preparada num fogão à lenha, com todo capricho?

Antes de dormir pude apreciar um céu límpido, cravejado de estrelas, fato corriqueiro para quem vive junto à natureza, mas inesquecível e de beleza infinita, para quem reside em metrópoles.

Assim, depois de aspirar o puríssimo ar noturno, fui dormir beatificamente feliz, na certeza de que o pior já havia passado.

      

Com Dona Sueli e seu filho

IMPRESSÃO PESSOALUma jornada de razoável dificuldade e contínua ascensão, porém, sempre em meio a uma exuberante natureza. A dificuldade maior fica por conta da descida da mística “Trilha da Santa”, um desafio ao equilíbrio e condicionamento físico do peregrino, mormente se houver chovido em dias próximos. No geral, uma etapa plena de emoções e muito verde, com direito a hospedagem, no final, num local de expressiva paz e beleza.

 Obs: para saber mais sobre a “Trilha da Santa”, assista o vídeo:  http://www.youtube.com/watch?v=ZQiGGNiyBrs

05 - BAIRRO dos PILÕES a GUARATINGUETÁ