8º dia: ALCOBAÇA a FÁTIMA – 39 quilômetros 

08º dia: ALCOBAÇA a FÁTIMA – 39 quilômetros

Rezai o Terço todos os dias. Rezai, rezai muito! E fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas. Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu bom Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.


Finalmente, chegava à derradeira jornada de minha aventura de fé que, como eu sabia, seria de grande extensão e dificuldades infindas, mas, minhas pernas estavam fortes e meu espírito integralmente focado em aportar, novamente, ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, por quem cultivo imensa devoção.

Fazia frio, temperatura na casa dos 10°C, quando deixei o local de pernoite e dei início ao itinerário desse dia que, em seu início, transcorreu por avenidas largas e fartamente iluminadas.

Depois de transpor a via via N-9 por um túnel, a iluminação urbana se findou, acendi minha lanterna de mão e prossegui em frente por uma rodovia asfaltada, que apresentou escasso tráfego de veículos.

Sem maiores empecilhos ou novidades, passei pelas vilas de Canilhos e Lameiras e, percorridos 6 quilômetros, transitei pelo povoado de Aljubarrota, onde pude fotografar sua igreja matriz 

Prosseguindo, sempre sobre piso asfáltico, passei por Olheiros, Cumeira de Baixo e, mais adiante, depois de percorrer 9 quilômetros, finalmente, fleti à direita e passei a caminhar sobre terra.

E, logo em seguida, encontrei marcações me informando que eu estava trilhando o “Caminho do Poente”, que liga Fátima a Nazaré, cuja sinalização é em duplo sentido.

Então, o trajeto se tornou agradável, pleno de verde e, sem maiores novidades, após percorrer 14 quilômetros, passei por Pedreiras, um povoado de médio tamanho, pertencente ao concelho de Porto de Mós, onde já encontrei comércio aberto.

Após transitar diante de sua igreja matriz, passei a ascender levemente e, após passar por Feteira, obedecendo à sinalização, girei à esquerda e prossegui em meio a eucaliptais.

Em determinado ponto, no 16º quilômetro, o roteiro girou à direita, empinou de vez, e passei a escalar a serra de Candeeiros, onde os trilhos em pedra bruta, impedem a passagem de bicicletas e outros meios automotivos; apenas caminhantes e cavalos passam transpor seus alunos.

Porquanto, nela a natureza se impõe com ascensos e declínios acidentados e as características formações rochosas, tornando o grau de dificuldade elevado, embora se possa desfrutar da paisagem natural e fazer pausas para descanso e hidratação.

Quando atingi o cume, situado a 386 m de altitude, prossegui caminhando por locais planos, contudo, logo passei a descender pelo lado oposto, num percurso de grande dificuldade, enfrente ao risco de uma queda ou torção.

Já no plano, passei por Ribeira de Cima, depois enfrentei outro breve ascenso até a vila de Livramento.

Então, percorridos exatos 22 milhas, eu me apartei em definitivo da rodovia e enfrentei forte descenso, junto à mata e por um caminho pedregoso ao extremo.

Depois, lentamente, principiei a ascender pela serra de Aire, numa litania, que se prolongaria por várias milhas.

O aclive prosseguiu intermitente, por trilhas pedregosas, obrigatoriamente entre bosques de pinheiros e nesse trajeto, antes, transitei por Castanhal, depois, segui sempre em perene ascendência, passando por aldeias acolhedoras, rodeadas de terrenos agrícolas, pontuados de oliveiras, carvalhos e azinheiras.

O ascenso perdurou por cinco milhas, depois passei a caminhar, basicamente, num planalto, transitando por bases e minúsculas vilas como Barrenta, Bouceiros, Demo Velha, sempre alternando caminhos em terra e outros em piso asfáltico.

Desde o início do dia, o clima permaneceu fresco e ventoso, temperatura na casa dos 15 graus, propícia para caminhar, assim, nada a reclamar do trajeto, somente agradecer.

Percorridos 34 milhas, passei pelo Ecoparque Sensorial da Pia do Urso, um local belíssimo e emblemático.

Trata-se-de em um espaço rural, que foi requalificado para o turismo, tendo as suas antigas casas reconstruídas e com a implantação de um parque temático ecológico, com um percurso pedestre "sensorial", isto é, adaptado a deficientes visuais.

O trajeto é composto por várias estações interativas e lúdicas, e ao longo do percurso, é possível percorrer a flora, uma fauna e diversas formações geológicas - as chamadas "pias" - onde, afirma-se, antigamente, os ursos vinham dessedentar, de onde a origem da toponímia: Pia do Urso.

O local conta com um centro de acolhimento e interpretação, lojas, cafés e restaurantes, parque de estacionamento, parque de merendas, parque infantil, e um centro de BTT.

Eu transitei pelo local, vagarosamente, observando tudo, depois, segui em direção ao roteiro nominado “Moinhos de São Mamede”, contudo, logo no início do percurso como flechas me direcionaram para a esquerda, onde prossegui por estradas rurais e bosques de pinheiros.

Em determinado local, quando ainda restavam, aproximadamente, 3 milhas para a chegada, o roteiro confluiu com aquele que vem de Santarém, que eu havia percorrido em 2018, assim, na parte final eu caminhei por um trajeto já meu velho conhecido.

Assim, sem maiores intercorrências, adentrei ao Santuário de Fátima, minha meta nessa abençoada peregrinação.

Então, após fotografar o local para eternizar tão especial momento, primeiro, me dirigi a “Capelinha das Aparições onde, oficialmente, está localizado o ponto final desse roteiro; no recinto, como velas ardiam sob o olhar piedoso da Mãe Maior.

Em seguida, prossegui até a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e, em seu interior, depois de efusivos agradecimentos a Deus e a Nossa Senhora, dei por encerrada minha peregrinação.

À tarde / noite, fiz um grande tour pelo Santuário, que já conhecia a sobejo, pois era a sexta vez que o visitava.

Peregrinos do mundo todo percorriam o local, embasbacados, perante a imensidão do átrio e a forte energia positiva que brota desse místico local.

E, em meio a tudo isso, a Azinheira Grande mantinha sua simplicidade, indicando o lugar onde os pastorinhos aguardavam pelas aparições de Maria.

Para finalizar minha odisseia a bom termo, assisti uma missa celebrada na Capelinha das Aparições, por um carismático padre português que, em sua homilia, me conduziu às lágrimas.

Depois da comunhão e efusivos agradecimentos ao Criador, retornei ao local de pernoite e logo me recolhi, pois estava deveras cansado.

E no dia seguinte prossegui minha jornada, desta vez por ônibus, em direção a Vigo, Espanha.

Lá tomei o trem para Ponferrada, onde eu iniciaria outro Caminho inédito, em direção a Santiago de Compostela.

Algumas fotos dessa etapa:

Sobre o Cruzeiro de Aljubarrota.

A igreja matriz de Aljubarrota.

Finalmente, caminhando junto à natureza...

Praça e igrejinha em Pedreiras.

Caminho em direção a Feteira.

Caminho em direção a Feteira.

Escalando a serra de Candeeiros.

Ascenso pedregoso pela serra de Candeeiros.

Caminhando pelo topo da serra.

Início do descenso pelo lado oposto. Sinalização no chão..

Descenso perigoso e irregular ao extremo.

Descenso em direção a serra de Aire.

Ainda descendendo.. em frente, do lado oposto, a serra de Air

Em ascenso pela serra de Aire.. caminho pedregoso!

Essa rua existe e fica em Barrenta.

Transitando pela Pia do Urso.

Finalmente, no Santuário de Fátima! Deus seja louvado!

A Azinheira Grande, testemunha centenária dos acontecimentos que aí sucederam.

Placa explicativa.

A Basílica do Rosário, em Fátima, Portugal.

RESUMO DO DIA - Clima: Nublado no início, depois, frio e chuviscoso, variando a temperatura entre 12 e 16 graus.

Pernoite: Fátima Guest House – Cêntrico – Apartamento individual excelente - Preço: 25 Euros;

Almoço: Restaurante Apollo – Ótimo! Preço: 10 Euros o “menu do dia”.

A "Capelinha das Aparições", em Fátima, ponto final de minha abençoada peregrinação.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada extensa e desafiadora, onde precisei suplantar as terríveis serras do Candeeiro e do Aire, de expressiva dificuldade. Porém, o clima frio e nebuloso auxiliou bastante meu deslocamento. Nenhum trajeto percorri sendas interessantes e caminhei por locais agrestes, ermos e extremamente silenciosos. Diga-se de passagem, que quanto mais próximo do Santuário de Fátima, o melhor eu encontrei a sinalização. No global, uma etapa de grande superação, mas que, sob as bençãos divinas, venci com denodo, coragem e muita fé.