6ª etapa – TAMARITE DE LITERA a MONZÓN- 23 quilômetros

Não tenha medo, tenha fé.

Há alguns dias as predições meteorológicas davam conta que o clima mudaria nesse dia, com chuvas torrenciais e queda brusca de temperatura.

Por sorte, a jornada seria tranquila em termos de extensão, assim, deixei o local de pernoite às 6 h 30 min, quando o dia já estava clareando.

Imediatamente, eu retrocedi até a Praça Espanha e ali acessei uma grande escadaria que me levou, já no topo, a transitar pela parte velha da cidade, local onde não tive pernas para visitar no dia anterior.

Caminhei sobre asfalto por algum tempo, porém, logo as flechas me direcionaram para uma larga e fresca estrada de terra que seguiu entre trigais.

O dia lentamente clareava, o clima se apresentava frio, pássaros cantavam no entorno, enfim, eu estava no paraíso.

O sol surgiu à minha retaguarda, no entanto logo ele foi engolfado por nuvens, deixando tudo nublado, excelente para caminhar.

Caminho plano ao lado do Canal de Catalunha e Aragón.

Dois quilômetros adiante, por uma ponte, eu cruzei o Canal de Catalunha e Aragón e, oitocentos metros à frente, voltei a ultrapassá-lo novamente.

Sempre caminhando por silenciosas e ermas paragens, mais um quilômetro percorrido, ultrapassei pela terceira e derradeira vez o canal de água, depois segui por uma estrada de terra, localizada ao seu lado.

Tudo ali era excepcionalmente plano e eu detinha extensa visão do horizonte que me circundava.

Nada como caminhar ao lado de água corrente. Água é vida!

Um trajeto fresco e extremamente agradável.

Dois quilômetros adiante, numa bifurcação, observei a sinalização e segui à esquerda, e o canal de água prosseguiu pelo lado oposto.

Encontrei, na sequência, como de praxe nos dias anteriores, plantações de pessegueiros e imensos trigais.

Em alguns locais a terra estava arada, em largas faixas de terreno, aguardando para ser semeada.

Local ermo e silencioso. As plantações estão em todo o lugar.

Trata-se de uma zona próspera e fértil, por conta da abundante irrigação.

Uma interessante sinalização que encontrei num galpão abandonado. Tem até uma chave pendurada...

Depois de vencer uma larga planície, eu enfrentei a única elevação do dia.

No seu topo, eu detinha ampla visão dos locais por onde eu viera caminhando.

Flores lindas! Ainda em ascenso, quase no topo do morro.

Ali fiz uma pausa restauradora, enquanto esquadrinhava vivamente o horizonte na esperança de visualizar alguém se movimentando na paisagem.

Que poderia ser, eventualmente, o meu amigo Tony.

Porém, debalde todos os esforços, não avistei vivalma.

Do outro lado da colina, enfrentei um ríspido e acidentado descenso onde, se não tomasse extremo cuidado, poderia sofrer uma queda.

Caminho plano, piso agradável. Veja a sinalização, à direita.

Já no plano, voltei a transitar por longos estirões retilíneos, localizados em meio a infinitos trigais.

O roteiro prosseguiu interessante, arejado e fresco, porque o céu permanecia nublado.

Interessante que nesse dia, afora dois automóveis com quem cruzei na estrada, não avistei um único ser humano.

Apenas, em determinada ocasião, visualizei um senhor, ao longe, se movimentando com trator.

Esse foi, com certeza, um dos percursos mais belos e tranquilos que enfrentei no Caminho Catalão.

Como o roteiro seguiu sempre muito bem sinalizado, tive tempo para me conectar com o infinito, enquanto observava o entorno e agradecia a Deus pelo dom da vida.

As amapolas novamente dão o tom nesse intermeio.

Em alguns locais, encontrei grande quantidade da flor amapola que concorreu, em muito, para alegrar o meu caminho.

Aproximadamente 13 quilômetros percorridos, adentrei à Comarca del Cinca Medio, e ali a sinalização ganhou um reforço, com postes de madeira, onde estavam afixadas setas indicativas de direção.

Quase no final da jornada, por uma ponte, eu ultrapassei o Canal de Zaídin, depois prossegui à esquerda.

À frente, por uma ponte, vou ultrapassar o Canal de Zaídin.

O caminho seguiu espetacular, com grandes e intermináveis retas, localizado entre culturas de trigo e cevada.

Quando restavam 3 quilômetros para adentrar em zona urbana, pude avistar, ao longe, no cume de um morro, o famoso Castelo de Monzón.

Ao longe, o Castelo de Monzón, no topo de um morro.

A partir desse marco, passei a transitar sobre asfalto e logo os meus pés reclamaram.

Teve início, então, uma intermitente garoa, que me seguiu até o aporte em Monzón.

Nessa cidade fiquei hospedado no Hotel Vianetto, de excelente qualidade, onde paguei 32 Euros por um quarto individual.

Ainda não era meio dia, de forma que tive tempo para lavar algumas roupas sujas que levava guardadas na mochila, na certeza de que estariam secas na manhã seguinte, porque o sol logo apareceu, deixou tudo mais claro e aqueceu o ambiente.

Para almoçar, utilizei as dependências do restaurante instalado no piso térreo do hotel, onde despendi 12 Euros pelo excelente “menú del dia”.

Os primeiros sinais de ocupação humana na região onde se situa Monzón provém do Neolítico, uma vez que foram encontrados restos arqueológicos dessa época em seu município.

A maioria dos vestígios de civilização, no entanto, provém da Idade do Bronze.

Na época da dominação muçulmana ela pertencia aos Banu Hud e foi tomada por El Cid em 1083.

Aos cristãos era importante o controle dessa cidade, para cortar as comunicações entre os reinos de Zaragoza e Lérida.

Em 1143 ela passou a pertencer aos templários.

Ela foi sede em numerosas ocasiões das Cortes da Coroa de Aragón, entre os séculos XIII e XVII.

Igreja matriz de Monzón. Uma preciosidade!

Sua catedral de Santa Maria do Romeral, de planta românica, e o castelo, são do século IX (Torre de Homenaje)

A cidade se encontra abaixo da ladeira de um morro, onde está um imponente castelo de origem árabe, numa zona situada entre diversos outeiros, que oferecem espetaculares panorâmicas da cidade.

Pelo seu território transcorrem o rio Sosa e o rio Cinca, o afluente mais caudaloso do rio Ebro.

Atualmente, é uma cidade moderna e industrial.

O Castelo de Monzón, muito próximo...

Desde o período neolítico até os dias atuais, existe ocupação nessa zona que fora de economia principalmente agrícola e que deste a metade do século XIX, com a construção da estrada de ferro, tem sofrido um importante crescimento do setor de indústrias químicas.

O castelo de Monzón está situado sobre uma colina de 370 m de altitude e foi construído pelos árabes no século IX.

Hoje em dia está parcialmente restaurado e desde a catedral, dista 10 minutos a pé.

População atual da cidade: 17.300 habitantes.

Mais tarde, após breve soneca, dei uma grande volta pela cidade e aproveitei para visitar e fotografar sua igreja matriz, a Catedral de Santa Maria do Romeral.

O Castelo ainda conserva seu piso original de acesso.

Em seguida, utilizando uma passarela ascendente, pude visitar o Castelo de Monzón, situado no cume de uma colina, a 370 m de altitude.

De lá, detinha ampla e encantadora visão da cidade e de seus arredores, a perder de vista.

Vista da cidade e arredores, desde o Castelo de Monzón.

Infelizmente, o tempo estava se fechando e quando descendia em direção à povoação, encontrei meu amigo Tony, que subia em direção ao Castelo.

Cumprimentamo-nos rapidamente, pois ele estava resolvendo problemas de trabalho pelo telefone.

Resolvi não aguardar, pois precisava adquirir víveres num supermercado para garantir a minha janta.

E fiz bem, porque assim que adentrei em meu quarto, teve inicio forte temporal, que seguiu noite adentro.

E o som da chuva tamborilando na cobertura do hotel me proporcionou um sono profundo e reparador.

Finalizando mais um dia neste maravilhoso no Caminho.

CONCLUSÃO PESSOAL: Uma jornada de pequena extensão, feita quase integralmente sobre terra, por locais ermos e silenciosos. O dia permaneceu nublado, o terreno era plano, então, foi uma das etapas mais fáceis e agradáveis que venci no Caminho Catalão. De se ressaltar a beleza do entorno, em toda a dimensão dessa jornada inesquecível. Como prêmio, ainda, pude visitar a Catedral e o Castelo de Monzón, ambos com mais de mil anos de existência.

07ª etapa - MONZÓN a PERTUSA- 33 quilômetros