2023 – CAMINHO DA AGONIA – CRISTINA/MG a ITAJUBÁ/MG - 57 QUILÔMETROS

 

 Para os espíritos pobres a natureza é cinza. Para os espíritos curiosos, o mundo inteiro arde e brilha com uma luz intensa. (Ralph Waldo Emerson)

 

Com aproximadamente 57 quilômetros de extensão, o Caminho da Agonia faz referência a Nossa Senhora da Agonia, “Padroeira dos Pescadores”, cujo Santuário está localizado na cidade de Itajubá, ponto final deste belíssimo itinerário de peregrinação, que perpassa por quatro municípios do Sul de Minas: Cristina, Maria da Fé, Pedralva e Itajubá.

Essas cidades têm forte tradição religiosa, evidenciada pelas igrejas, capelas e oratórios encontrados por todo o percurso. Destaque também para as belezas naturais da Serra da Mantiqueira, o que faz desse novel roteiro uma excelente opção para você se conectar com a natureza, porquanto, trata-se de um caminho de fé, de vontade e busca interior.

Expectante em devassar esse recém-inaugurado percurso, tomei um ônibus, apeei em Cristina/MG, me hospedei no Hotel Casarão, reencontrei a peregrina Shirley, que seria minha parceira nessa aventura, e, no dia sequente, demos início à nossa aventura de fé.

Diante da igreja matriz de Cristina/MG, marco "Zero" do Caminho da Agonia.

À noite, em Cristina/MG, na Cafeteria Vendinha Gastrobar, confraternizando com os amigos (da esquerda para a direita): Flávio Calado, Diretor de Turismo de Cristina/MG, eu, Dr. Célio (Muquém), Shirley e Rafael Rezek, preclaro "irmão" e proprietário deste fantástico estabelecimento.

1º dia: CRISTINA/MG a MARIA DA FÉ/MG – 24 QUILÔMETROS

 

A gerente do hotel, a nosso pedido, agendou o café da manhã para 5 h e, assim, quando partimos 30 min mais tarde, a Shirley e eu, estávamos dispostos e bem alimentados, temperatura ao redor de 13ºC.

Após um breve percurso urbano, nós ultrapassamos a rodovia MG-383, depois, já do outro lado, acessamos uma estrada de terra ascendente e bastante úmida, face às chuvas recentes.

O percurso seguiu deserto e extremamente aclivoso, em meio a imensas fazendas onde, além de canaviais e milharais, a tônica era a criação de gado leiteiro.

Percorridos 6 quilômetros, sempre ladeados por extasiantes paisagens, atingimos o topo do morro do Alemão, situado a 1.355 m de altitude, depois, giramos à esquerda e passamos a descender, em bom trecho dele, sob a fronde de fresca mata nativa.

Já no plano, caminhamos um tempo ao lado de pastagens e fazendas até que, no 12º quilômetro, fizemos uma pausa para hidratação.

Na sequência, fletimos radicalmente à esquerda e prosseguimos em contínuo ascenso pela estrada nominada 7 de Abril, ladeada por eucaliptais, que amenizavam a força do sol, já crestante naquele horário.

Foi um percurso silencioso e agradável até o 17º quilômetro, quando atingimos o cume da elevação, situado a 1.400 m, então, giramos à esquerda e passamos a transitar pela borda da montanha, com amplas vistas de um estupendo cenário, localizado do lado direito da estrada, onde o verde se mostrava presente nas mais variadas tonalidades.

Nesse trecho intermediário nós cruzamos com alguns veículos automotores, porém, no geral, transitamos por locais ermos, silenciosos e arborizados.

Mais 3 quilômetros de agradável caminhada e atingimos o ponto de maior altimetria dessa jornada, situado a 1.415 m de altitude, de onde detínhamos amplas vistas do longínquo horizonte.

O percurso final, sempre em descenso, nos levou ao local de pernoite, situado na área central da cidade.

À tarde, pudemos visitar, fotografar e carimbar nossa credencial peregrina na estupenda igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Nossa Senhora de Lourdes.

Algumas fotos desse percurso:

Um Caminho maravilhoso e pleno de muito verde.

Paisagens surreais...

A Shirley, diante de uma capelinha.

Em todo entorno, o verde se sobressai nas mais diferentes tonalidades...

Maria da Fé é destino turístico para usufruir o bom da vida, com uma simplicidade envolvente. Localizada ao sul de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, ela é popularmente conhecida por ser a cidade mais fria do estado, devido à sua altitude de 1.200 m. A Fazenda Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) cultiva a produção de oliveiras (uma das maiores do Brasil) e ervas medicinais, além de possuir um maravilhoso santuário de bromélias. A Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes possui pintura semelhante à da capela do seminário maior da cidade de Mariana. O Centro Cultural, localizado na antiga estação, conserva registros fotográficos e documentais da história do município, além de uma locomotiva Raldwin 225 de 1918, que está desativada. Maria da Fé ainda conta com um exuberante cenário natural, recheado de maravilhosas cachoeiras e propício a quem busca tranquilidade. O Pico da Bandeira, mirante natural da cidade, proporciona uma contemplação única através de sua vista panorâmica. O município ainda se orgulha de apresentar a Oficina Gente de Fibra, que é um projeto artesanal local que produz os famosos artigos à base da fibra da banana. População: 15 mil pessoas - Altitude: 1.258 m

 

RESUMO DO DIA - Clima: fresco no início, depois ensolarado, com temperatura variando entre 13 e 23 graus.

Pernoite no Hotel Colonial Gold – Apartamento individual excelente! – Preço: R$100,00

Almoço no Restaurante Fogão e Lenha Dois Irmãos: Excelente! – Preço: R$30,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

 

IMPRESSÃO PESSOALUma jornada de média extensão e muita plasticidade, onde se necessita sobrelevar 3 elevações, a primeira delas, de razoável dificuldade. Porém, o trajeto seguiu sempre em meio a locais de maviosas belezas, onde o silêncio e a ermosidade imperaram em quase todo o percurso. No geral, uma etapa agradabilíssima, plena de verde e imensas pastagens. No global, tirante a rudeza das serras a serem vencidas, um trajeto recheado de deslumbrantes cenários.

A majestosa igreja matriz de Maria da Fé, dedicada a Nossa Senhora de Lourdes.

2º dia: MARIA DA FÉ/MG a ITAJUBÁ/MG – 34 QUILÔMETROS

 

A jornada seria longa, assim, partimos às 5 h, após tomar o café da manhã que o hotel nos disponibilizou com antecedência.
Depois de atravessar alguns bairros periféricos, acessamos uma larga estrada de terra levemente ascendente e bastante úmida, em alguns trechos, que nos levou a transitar entre cafezais e fazendas de criação de gado.

Sem grandes dificuldades, no 6º quilômetro atingimos 1.410 m de altura, o ponto de maior altimetria nessa jornada.

Então, já em declive, no 8º quilômetro, fletimos à esquerda, em direção ao bairro Lagoa, que pertence ao município de Pedralva/MG, e logo chegamos ao Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante, um lugar bastante famoso na região, onde ELA apareceu há 30 anos, e um pouco de sua história poderá ser conhecida neste link: https://www.youtube.com/watch?v=0IviqakgazI

Ali, após profícua visita ao templo, que disponibiliza água benta em torneiras existentes em seu interior, fizemos uma pausa numa padaria para ingerir um copo de café, bem como para carimbar nossa credencial peregrina.

O trecho sequente extremamente deserto e agradável, nos levou, depois de caminharmos mais 6 quilômetros entre propriedades rurais, ladeados por paisagens de rara plasticidade e já em leve descenso, até a estação ferroviária do Pedrão, hoje em ruínas.

Nos arredores há um bem cuidado bairro onde, num bar, fizemos uma pausa para hidratação, ingestão de frutas e descanso.

Seguindo adiante, logo fletimos, radicalmente, à direita e passamos a descender com forte intensidade, até que a estrada se aplainou e prosseguimos adiante, por locais situados entre grandes fazendas de criação de gado.

No 24º quilômetro, numa bifurcação, giramos à esquerda e caminhamos por mais 5 km, até nos enlaçarmos com a rodovia BR-383, que provém de Maria da Fé, por onde seguimos no sentido contrário ao fluxo de veículos.

Então, restando 2 km para chegar ao destino, nós fletimos à direita, prosseguimos sobre piso duro e, após vencer o duro ascenso final, aportamos ao Santuário de Nossa Senhora da Agonia, situado no topo de um monte, onde encerramos nossa jornada.

Após cumprimentos mútuos pela conclusão a bom termo de nossa peregrinação, adentramos ao belíssimo templo para orações, agradecimentos e fotos.

Depois, gratificados, coração em júbilo, tomamos um táxi e seguimos para o local de pernoite.

 

RESUMO DO DIA - Clima: fresco no início, depois ensolarado, com temperatura variando entre 13 e 25 graus.

Pernoite no Hotel Oriente – Apartamento individual excelente! – Preço: R$90,00

Almoço no Restaurante Carvão e Lenha: Excelente! – Preço: R$30,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

 

IMPRESSÃO PESSOALUma jornada de grande extensão, porém, de muita plasticidade, ermosidade e silêncio, em seus primeiros 20 quilômetros. Infelizmente, a parte final situada nos arredores da grande cidade de Itajubá se mostrou agitada e barulhenta, porém, a alegria auferida por concluir a etapa no belíssimo Santuário da Agonia compensou qualquer desconforto. Uma sugestão aos peregrinos refratários a caminhar longas distâncias seria a divisão desse percurso, pois existe a possibilidade de pernoite no bairro São João, situado no 20º quilômetro do itinerário desse dia.

No Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante.

Restam "apenas" 25 km para o final da jornada...

O famoso  "Pèdrão" de Predalva/MG, à esquerda.

A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DA AGONIA

 

Nas cidade de Viana do Castelo, em Portugal, há um Santuário que foi construído em 1700 para veneração de Nossa Senhora da Agonia e desde aquela data se iniciaram peregrinações a esse lugar sacro, porquanto os pescadores do norte de Portugal se dirigem a esse local santo para pedir proteção e agradecer as graças recebidas; sua data é comemorada em 20 de agosto.

A palavra agonia tem sua origem na apreensiva luta entre os gladiadores na Roma antiga. Por isso, a Virgem Maria passou a ser invocada por pescadores de Viana do Castelo em Portugal, como nossa Senhora da Agonia. Eles usavam o título “da Agonia” pelo fato de enfrentarem sempre a grande pugna contra os perigos do naufrágio. O mar da região era muito bravio e, com a ajuda de tufões, jogava os barcos em direção a uma falésia chamada de “Penedo Ladrão”. As famílias dos corajosos pescadores assistiam a tudo do cais, desesperadas ante o combate que aqueles homens travavam pela vida. Ajoelhadas, elas clamavam fervorosamente por Nossa Senhora da Agonia. 

Entre as cerimonias realizadas em louvor a Santa, pode-se citar uma procissão de barcos, um espetáculo encantador e emocionante. Na verdade, a celebração marítima foi que deu início às grandes festividades em louvor a Senhora da Agonia e essa solenidade ficou tão famosa que pessoas de diversas nações da Europa viajam à cidade de Viana do Castelo, não apenas para ofertar pleitos a Senhora, mas também para, como turistas, assistir aos fogos e shows pirotécnicos do evento.

Já a Igreja de Nossa Senhora da Agonia de Itajubá, sul de Minas Gerais, teve sua construção encetada em 1998, no cimo de um outeiro, em terreno doado pelo português Antônio de Lima Costa, radicado no Brasil.

Em 2005 se iniciaram as celebrações no imponente Santuário revestido de vidro em toda a sua estrutura, com uma enorme cúpula chamada de “Coroa de Nossa Senhora”.

A imagem de Nossa Senhora da Agonia, também doada pelo português, foi entalhada em Portugal e ocupa o altar principal, sendo que no porão do Santuário está a Capela de São José.

Único no Brasil e segundo no mundo, desde sua inauguração, o Santuário, de rara beleza, atrai centenas de devotos e fiéis de Itajubá, região e de vários outros lugares do Brasil e exterior.

Finalmente, diante do fabuloso Santuário de Nossa Senhora da Agonia, em Itajubá/MG.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA AGONIA:

 

Maria conhece todas as nossas necessidades, mágoas, tristezas, misérias e esperanças. Interessa-se por cada um de seus filhos, roga por cada um com tanto ardor como se não tivera outro. (Serva de Deus, Madre Maria José de Jesus)

Ó Maria, Rainha dos Mártires, Senhora da Agonia, vós que permaneceste de pé junto à Cruz de Vosso Divino Filho Jesus e, às suas palavras: Mulher, eis o teu Filho; filho, eis a tua Mãe, vos tornaste nossa Mãe; acolhei, com bondade, nossa prece filial. Ó Senhora da Agonia, assim como o discípulo acolheu-Vos em sua casa, também nós queremos abrir-Vos as portas de nossos corações, de nossos lares, consagrando-vos toda a nossa vida passada, presente e futura. Exercei, pois, Vossa função de Mãe, ensinando-nos a viver, em todos os momentos e vontade de Deus, levando-nos assim a imitar o Vosso sim de Nazaré, que culminou com o sim do Calvário. Vinde, ó Mãe, em socorro de nossas angústias, não permitindo que nos desviemos do caminho do bem, da verdade e do amor. Conduzi nossas vidas ao porto seguro da salvação que é Jesus. Ousando somar nossas agonias às vossas, diante desta dificuldade pedir a graça desejada, recorremos à vossa maternal proteção, com a confiança de que não ficaremos decepcionados em nossas súplicas. Amém.

Nossa Senhora, rogai por nós. Amém!

Final de mais um Caminho...

Nossa Senhora da Agonia, rogai por nós!

FINAL

 

De todos os caminhos que você tomar na vida, tenha certeza de que alguns sejam caminhos de terra.” (John Muir)

 

Inaugurado no dia 25 de março de 2023, o Caminho da Agonia é uma rota de peregrinação que oportuniza uma linda jornada através da serra da Mantiqueira, oferecendo uma experiência única para quem deseja se conectar com a natureza e mergulhar na beleza da paisagem.

Com 57 quilômetros de extensão, ele pode ser percorrido em duas jornadas, sendo 24 km no 1º dia e 33 km no 2°.

Idealizado em 2020, o roteiro tem seu início na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo de Cristina/MG e segue para Maria da Fé MG, a cidade mais fria de Minas Gerais, com sua belíssima Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes.

O próximo destino é o Santuário de Nossa Senhora Mãe Navegante, situado no simpático bairro Lagoa, município de Pedralva/MG, onde há registros de aparições de Nossa Senhora desde 04/11/1993.

O Caminho se encerra em Itajubá/MG, no Santuário de Nossa Senhora da Agonia, que batiza essa linda jornada de fé, reflexão e aventura.

Está impecavelmente sinalizado e oferece em seu percurso inúmeros atrativos como mirantes, templos, portais, capelas, oratórios, além de exuberantes cenários rurais.

Suas setas azuis, a guiar andarilhos e ciclistas para atravessar montanhas e sobrepujar dificuldades, encoraja o peregrino a introjetar na beleza circundante e se livrar das “Agonias” do mundo.

De minha parte, como caminheiro contumaz, diria que vivi dias intensos e agradabilíssimos nesse esplêndido itinerário, onde desfrutei do ar puro, silêncio dos campos e da extraordinária hospitalidade mineira.

Nesse sentido, deixo consignado um agradecimento especial ao ex-Secretário Municipal de Turismo de Cristina, o amigo Rafael Rezek, pela feliz inspiração quando do projeto e implementação desse magnífico roteiro.

E, ainda, uma sublime gratulação a amiga e peregrina Shirley, com quem dividi a trilha, pois, sua coragem, auxílio e convicção na vitória foram fatores decisivos para o aporte, sem maiores intercorrências, ao Santuário da Agonia, em Itajubá/MG, nosso objetivo final.

 

Bom Caminho a todos!

 

Maio/2023

Meu CERTIFICADO, que guardarei com muito orgulho e carinho!