FINAL

FINAL

Somos, todos nós, frutos dos livros que lemos, das pessoas que amamos e das viagens que fazemos.” (Airton Ortiz)

PEQUENO RESUMO DO CAMINHO DO EBRO

Introdução:

O Caminho do Ebro passa por quatro comunidades autônomas e quatro províncias: Catalunha (Tarragona), Aragón (Zaragoza), Navarra (Navarra) e La Rioja (La Rioja).

Povoações, Distâncias e Serviços:

O Caminho do Ebro, de Deltebre a Logroño, tem aproximadamente 440 quilômetros e passa por 45 povoações com serviços.

Assim, pois, resulta numa média de uma povoação com serviços a cada 9,8 km.

Com dados do ano de 2010, dessas povoações, 33 dispõem de algum tipo de alojamento e somente 13 de algum aposento apropriado para peregrinos (albergues, residências...).

As distâncias mais largas, sem possibilidade de provisões são: de Xerta a Gandesa (25,6 km), (na metade do recorrido há o bar-restaurante de La Fontcalda, porém só fica aberto no verão e nos finais de semana); de Gallur a Ribaforada (24,0 km), pelo Canal Imperial; de Chiprana a Escatrón (21,4 km) e, por último, de Fabara a Caspe (21,3 km). Contudo, existem outros vários trajetos que superam 15 km sem possibilidade de provisões.

Ademais, depois das capitais (Zaragoza e Logroño), as cidades mais povoadas desse caminho são: Tudela, com 40 mil habitantes, Tortosa, com 35 mil habitantes, Calahorra, com 25 mil habitantes e, finalmente, Amposta, com 20 mil habitantes.

Albergues:

No final de 2010, o Caminho do Ebro dispunha de 13 albergues ou espaços de acolhida para os peregrinos: 6 albergues municipais (Batea, Torres de Berrellén, Tudela, Alfaro, Calahorra y Alcanadre); 2 albergues privados (Xerta e Zaragoza); 2 albergues juvenis (Deltebre e Zaragoza); o seminário de Tortosa; o Patronato Hogar Nazaret, em Amposta e, finalmente, a residência de estudantes de Caspe.

Na maior parte destes albergues, o espaço de acolhida apresenta boas instalações e excelentes condições de higiene.

Como é habitual nos caminhos pouco frequentados, também nessa rota deveremos fazer uso de alojamentos convencionais, dado que há largos tramos sem albergues, sobretudo desde o Delta do Ebro até Zaragoza.

O caso mais evidente se situa entre Caspe e Zaragoza, com mais de 100 quilômetros sem nenhum tipo de refúgios peregrinos.

Por sorte, a oferta de alojamentos convencionais é suficiente para realizar esse caminho sem maiores problemas em termos de continuidade.

Desníveis:

É difícil, senão impossível, encontrar um Caminho com desníveis altimétricos mais moderados que o Caminho Jacobeu do Ebro.

Os primeiros 80 quilômetros, até La Fontcalda, são absolutamente planos, assim como os derradeiros 270 quilômetros, situados entre Velilla de Ebro e Logroño.

Ou seja, o interesse se reduz a aproximadamente 100 quilômetros, que estão compreendidos entre La Fontcalda e Velilla de Ebro, a maior parte dos quais apresenta alguns ascensos e descensos moderados e que nem mereceria a pena mencionar.

Porém, há uma exceção: o ascenso ao “collado” de En Torner, situado na Serra de Pándols.

A subida pelo solitário vale del Frare transcorre em um entorno bucólico, terrível cenário da Batalha do Ebro, ocorrido em 1938, estando a Serra de Pàndols situada do lado direito da trilha.

A adversidade maior nesse aclive é o trecho final, que é realizado por uma estrada de terra bastante pedregosa.

La Fontcalda se situa a 160 m de altura, enquanto que o “collado” de En Torner está a 475 de altitude.

Portanto, numa distância de 5 quilômetros, o desnível total de ascensão é de 315 metros.

UM RELATO RESUMIDO DO CAMINHO DO EBRO

(Peregrino David Grau - Como: A pé - Quando: Março de 2015)

Experiência: A experiência geral foi muito positiva. Um caminho muito introspectivo e solitário, ainda que bonito e de paisagens variadas.

Dificuldade: Esse caminho me pareceu bem menos duro, se comparado com o Caminho Francês.

As primeiras etapas desde “El Muntell de les Verges” até Xerta são muito monótonas, principalmente por asfalto e caminhos paralelos a algum canal do rio Ebro. Entre Xerta e Batea, em minha opinião, se situam as etapas mais bonitas, sobretudo a via verde entre Xerta e Gandesa, para desembocar em La Fontcalda, junto as paisagens montanhosas, onde ocorreu a batalha del Ebro. A parte aragonesa foi mais dura, pela escassez de povoações e albergues, obrigando-me a fazer etapas muito largas, e, sobretudo, porque coincidiu com a cheia do Ebro, que não me deixou seguir pelo Caminho oficial, tendo que fazer largos rodeios e marchas forçadas, que resultaram desmoralizantes.

Sinalização: Se queres partir de “el Muntell de les Verges”, início oficial do roteiro, onde há uma escultura dedicada aos peregrinos e ao Caminho, tens que ir de táxi desde Deltebre, pois não há outra forma de lá chegar. A sinalização no delta do Ebro é praticamente inexistente. Se faz necessário ir com GPS para evitar se perder. Sobretudo, ao adentrar nas povoações como Deltebre, Sant Carles de la Rápita, Amposta e Tortosa. As etapas de Xerta, Gandesa e Batéa estão bem sinalizadas, porque coincidem com outras rotas. A parte aragonesa está muito melhor sinalizada, tanto com flechas amarelas, como com postes de madeira, marcados com a inscrição "Camiño Jacobeo del Ebro", embora a sinalização nas cidades e povoados (Caspe, Escatrón, Velilla de Ebro, Fuentes de Ebro, Quinto, etc) seja inexistente. É impossível não se perder em alguns tramos, sem antes não haver estudado o recorrido a fundo ou não esteja levando Guias.

Albergues: Os albergues são praticamente inexistentes. Em Deltebre há um albergue, porém não o utilizei porque comecei a caminhar assim que lá cheguei. Os únicos que encontrei em meu trajeto foram em Tortosa, onde há um seminário que faz as vezes de albergue, em Xerta, onde há um bonito e bem equipado albergue, e em Batea onde há um albergue bastante simples, que também serve para acolher os empregados temporários que trabalham nas lavouras da região.

Sugestão aos futuros peregrinos: Primordialmente, que se preparem em relação ao roteiro, sob pena de se perder no Caminho. Que tenham consciência de que estão só, já que não encontrei nenhum outro peregrino em todo o trajeto. Falei com o presidente da Associação do Caminho de Tortosa e ele comentou que apenas no verão, partem, em média, uns 25 peregrinos por semana. Também aconselho que não iniciem o Caminho na época das cheias do Ebro porque, ser impraticável, visto que terão que fazer um par de etapas de uns 40 quilômetros (entre Batea e Caspe ou entre Escatrón e Quinto), devido à ausência de albergues, pensões e hotéis.

EPÍLOGO

'Um Universo chamado Caminho de Santiago'

“Enquanto o mundo gira, peregrinos caminham, sempre respirando a intimidade e a beleza da pura e intocável natureza, cruzando comunidades, vilas, vilarejos, pequenas e médias cidades, cuja lembrança nos toca o coração, pela simplicidade do acolhimento. Colocamos na mochila do aprendizado a história, a cultura e a gastronomia local. Seguimos colecionando amigos, somando irmãos, multiplicando conhecimentos, dividindo experiências, contando e ouvindo contos e causos. Assim, viemos caminhando e com o coração pleno de emoção, talvez com os olhos em lágrimas, até a casa do filho de Zebedeu e Salomé, em Santiago de Compostela.”

Praça de Los Fueros, em Tudela.

Muitas pessoas já me questionaram a razão de eu percorrer Caminhos, quase sempre, de forma solitária.

Infelizmente, nem sempre encontramos a companhia adequada, e os amigos que eventualmente poderiam me acompanhar nas caminhadas, ainda estão na ativa, trabalhando duro, e não posso postergar meus planos.

Mas, minha opção de caminhar escoteiro têm também outros fundamentos.

Nessa situação, você necessita se comunicar com as pessoas à sua volta, interagir, até pela simples vontade de conversar.

Além do que, estando em lugares novos e desconhecidos, muitas vezes, não sabemos ao certo o que fazer ou aonde ir.

Um brinde ao Caminho do Ebro, em Quinto.

Desta forma, sempre conhecemos pessoas e fazemos amigos.

Outro motivo é que, sozinho, decidimos tudo sem ter de consultar mais ninguém.

Assim, não há atritos ou divergências, pois não necessitamos convencer nem brigar com nós mesmos.

Creio que é muito difícil conciliar decisões e vontades por um longo período, convivendo 24 horas do dia com outra pessoa.

Porém, o mais importante é que seu sonho pode não ser o mesmo do amigo que está ao seu lado, sendo assim, as renúncias que você faria para conquistá-lo poderiam não ser feitas pela outra.

Já li e ouvi relatos de grandes amigos que saíram em viagem e menos de um semana depois se separaram, para um não assassinar o outro.

Estar só, onde não se conhece ninguém, longe de seu país e da língua, é também uma oportunidade de autoconhecimento, de superação, de enfrentar desafios e ter que encontrar solução para eles.

A grande desvantagem é quando algo dá errado, você não tem com quem compartilhar os dissabores.

No Caminho, solidão e silêncio, como eu gosto...

Quando planejamos uma viagem, não contamos, obviamente, com ajuda externa.

Nem pensamos que no caso de ocorrer algum problema, alguém aparecerá para nos ajudar.

A ideia é que tenhamos sempre a solução para o imbróglio e as ferramentas para tal.

Contudo, muita gente tem prazer em auxiliar os peregrinos estrangeiros, dentro de óbvios limites.

E, graças a Deus, sempre consegui ajuda e solidariedade ao longo dos Caminhos, nas mais diversas situações.

Bom Caminho a Todos!

Junho/2016

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