7º dia: CAMANDUCAIA/MG a POUSADA DO JETINHO (CAMANDUCAIA/MG) - 19 quilômetros

7º dia: CAMANDUCAIA/MG a POUSADA DO ZETINHO (CAMANDUCAIA/MG) - 19 quilômetros


Ó Maria, que sem mácula entrastes neste mundo, alcançai-me de Deus que eu dele saia sem culpa.


A jornada seria curta, embora prometesse fortes entraves altimétricos.

Estávamos em plena segunda-feira e deixamos o local de pernoite, após ingerir farto café da manhã.

O roteiro descende pela rua central da cidade, depois, mais abaixo, gira à direita, passa diante do portão do cemitério e prossegue em fortíssimo ascenso.

Já no topo do morro, passamos a caminhar sobre terra, em meio a frondosas árvores e tudo ficou melhor.

Infelizmente, a estrada por onde seguíamos, nominada Rodovia das Nascentes, dá acesso a inúmeros bairros periféricos, assim, encontramos expressivo tráfego de veículos transitando em ambos os sentidos.

Estivemos, praticamente, o tempo todo rodeados por exuberante mata nativa composta, principalmente, de araucárias.

O ascenso foi perene e depois de caminhar 13 quilômetros, chegamos a 1.629 m, o ponto de maior altimetria nessa etapa.

Então, sempre entre frondosas árvores e imensas pastagens, passamos a descender e logo acessamos a estrada que nos levou ao bairro de Jaguari do Meio.

Durante esse trajeto, eu podia avistar do meu lado esquerdo a belíssima serra do Paiol, com o pico do Campestre, seu ponto culminante, sempre em evidência.

Mais abaixo, num cruzamento, fletimos à esquerda, acessamos a Estrada da Fé e, em seu 20º quilômetro, situado no bairro do Jaguary de Cima, sem maiores intercorrência, chegamos ao nosso destino do dia.

A Pousada do Zetinho está situada num local de rara beleza, rodeada por imensas plantações de pinheiros e várias nascentes, que propiciam um clima saudável e vistas maravilhosas aos peregrinos e romeiros que ali se hospedam.

Seu proprietário, o Zetinho, é uma pessoa jovem extremamente simples e simpática, um trabalhador que não mede esforços para agradar quem ali se alberga.

Tanto o almoço como o jantar, que ele preparou, juntamente com sua esposa Vânia, estavam maravilhosos.

Fazia frio, pois estávamos a 1.300 m de altitude, assim, nos recolhemos cedo, não sem antes passar gratos momentos em franca e calorosa conversa com o simpático casal.

Como eu estava em dúvida em qual horário deveria sair na manhã seguinte, perguntei ao Zetinho sobre uma lenda propagada entre os romeiros, de que não se deveria acessar a “Trilha dos Pinheiros” à noite, face ao perigo representado pelas onças que habitam aquele santuário preservado.

Nativo da região e residindo há 18 anos naquele local, meu interlocutor afirmou, enfaticamente, que nunca houve relato de que peregrinos tivessem sido atacados naquele trecho, embora eles transitem por ali, às centenas, anualmente.

Disse, ainda, que tais felinos existem, mas estão reclusos nas profundezas daquela mata, que se estende por quase 50 quilômetros, na direção do distrito de Monte Verde, muito longe dos locais de passagem dos romeiros, pelo receio que têm dos humanos.

Citou, como exemplo, o caso ocorrido em 2016, de uma senhora que caminhava à noite, se perdeu na trilha, e acabou por adentrar à mata fechada, sendo que seus restos mortais só foram encontrados uma semana mais tarde, já em franca decomposição.

Fato interessante foi que a autópsia constatou que ela falecera de inanição e nenhum animal selvagem tocara em seu corpo.

Confiantes, diante de tal afirmação, resolvemos sair bem cedo na manhã sequente.

Algumas fotos dessa etapa:

Com o Zetinho e sua esposa Vânia. 

Dia de ócio e descanso. A jornada seguinte seria de grande desgaste físico. 

Milhares de romeiros visitam o Santuário Nacional de Aparecida todo ano, muitos trazem consigo angústias, outros tantos, esperança. Esperança de cura, de conseguir emprego, de melhores dias, de paz


Eles chegam de ônibus, de carro, de trem (em tempo passado), de moto, de bicicleta, a cavalo e a pé. São pobres e ricos, cultos e ignorantes, homens públicos e cidadãos comuns.


Lá estiveram Papas, príncipes, presidentes, poetas, padres, bispos, patrões e empregados. Muitos cumprem um ritual que começou com seus avós e persiste até hoje. Outros vão pela primeira vez. Ficam perplexos ou deslumbrados diante do tamanho do Santuário e de sua beleza.


A fé leva o romeiro a Aparecida e o conduz a comportamentos de pincéis famosos, câmaras e versos imortais. Olhos que buscam, vasculham ou se fecham para ler as mensagens secretas que trazem na alma. Lábios que balbuciam ave-marias, atropeladas pela pressa das muitas intenções.


Mãos que seguram as contas do rosário, a vela, o retrato, as flores, o chapéu. Joelhos que se dobram e se arrastam, em atitude de total despojamento. Pés cansados pela procura de suas certezas.


Coração nas mãos em forma de oferenda. Na alma, profundo senso do sagrado. O chão que pisam, a porta que transpõem, as pessoas que lá encontram, tudo tem para eles significado transcendente.


Este é o romeiro de Nossa Senhora Aparecida. Alma pura, simples, do devoto que acredita, que se entrega à proteção dos céus, sem dúvidas ou restrições.


Autor: Chicão Pedreira (SP) - Fonte: http://www.zetinho.com.br


RESUMO DO DIA - Tempo gasto, computado desde o Hotel Central de Camanducaia, em Camanducaia/MG, até a Pousada do Zetinho, em Camanducaia/MG: 4 h 50 min.


Clima: Ensolarado, mas fresco, variando a temperatura entre 13 e 23 graus.


Pernoite: Pousada do Zetinho: Excelente: extremamente simples, mas limpa! – Apartamento, com café da manhã, almoço e jantar - Preço: R$90,00.


Almoço: Restaurante do Zetinho: Excelente! – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no sistema self-service.


Para visualizar essa trilha, gravada no aplicativo Wikiloc, acesse: https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/camanducaia-a-pousada-do-zetinho-26074974


AVALIAÇÃO PESSOAL: Uma etapa curta, de belas paisagens, em que se necessita sobrelevar forte ascenso em seus quilômetros iniciais. Mas, sempre em meio a extensos e frescos bosques de mata nativa. No geral, uma etapa de rara beleza. No global, um trajeto de alguma dificuldade altimétrica, mas para quem já havia superado 7 jornadas, essa foi “mamão com açúcar”, um mero antepasto para o que enfrentaríamos no dia seguinte.