6º dia: MAJOR GERCINO à NOVA TRENTO - 23 quilômetros

6º dia: MAJOR GERCINO à NOVA TRENTO - 23 quilômetros

Altimetria e distância a ser vencida nessa jornada, capturada pelo peregrino Perdiz no Google Earth.

O percurso não seria tão extenso, mas, ainda assim, como novamente a previsão metereologica indicava calor intenso para aquele domingo, pedimos para que o café da manhã fosse servido às 6 horas.

E, pouco antes desse horário nós já estávamos fazendo nosso desjejum, graças à gentileza do Sr. Francisco, o proprietário do hotel.

Estádio Municipal da cidade de Major Gersino.

Assim, bem alimentado, deixei o local de pernoite às 6 h 20 min, seguindo à direita em direção ao Estádio Municipal da cidade.

Ponte pênsil sobre o rio Tijucas.

Logo adiante, eu ultrapassei o rio Tijucas por uma ponte pênsil e acessei uma larga estrada de terra, totalmente deserta naquele horário.

Então, escoteiro, pois meus amigos iniciariam a jornada minutos mais tarde, dobrei à direita e segui adiante feliz e perfeitamente integrado ao ambiente circundante.

Estrada plana e deserta: quer melhor?

Na verdade, minha alegria vinha de estar em movimento.

E o que era estranho, isso me dava uma sensação de completa realização espiritual, porque o Caminho, integralmente solitário, oportuniza certa proximidade com Deus.

Muitas flores no entorno, a perfumar o caminho.

Certo também que não se sucumbe à ociosidade facilmente, pois, por óbvio, sempre se está fazendo alguma coisa.

O movimento para a frente, sempre nos leva a deparar com o teste da atividade que vale a pena.

Estirões maravilhosos...

Quando estou caminhando ou viajando, nunca acho que eu deveria estar fazendo outra coisa.

Assim, sempre me sinto na iminência!

Por sorte, havia chovido bastante à noite e o clima se apresentava úmido, neblinoso e frio, ideal para a caminhada.

No fundo, a cachoeira existente no morro que frondeia Major Gercino.

Logo à frente, olhando à minha direita, podia ver no morro fronteiriço a cachoeira que desce a serra, num local de difícil acesso, que recebera a visita do intrépido Carminatti na tarde anterior onde, inclusive, ele gravou um vídeo que assistimos deliciados.

O trajeto se apresentou extremamente arborizado, tendo inicialmente imensas pastagens em ambos os lados do caminho.

Caminho fresco e agradável! Mandiocais e milharais, a tônica!

Mais adiante eu atravessei um frondoso bosque de eucaliptos e, na sequência, apareceram grandes áreas cultivadas, sendo que o forte nesse trecho são as plantações de milho e mandioca.

Milharais a me ladear..

Quatro quilômetros percorridos em ritmo uniforme, encontrei com um casal de ciclistas que faziam uma “pedalada domingueira”, e que me cumprimentaram efusivamente.

O verde, em todas suas gradações, dá o tom nesse trecho fantástico!

Eu prossegui caminhando entre imensos mandiocais, produto este vendido para a fabricação de fécula.

O belíssimo rio Tijucas, que me ladeou o percurso todo.

Trechos de mata nativa apareciam nos morros circundantes, enquanto o rio Tijucas corria mansamente à minha direita, durante todo esse percurso.

Sem dúvida, um colírio para meus olhos, uma benção para meus sentidos, pois caminhava integralmente só, e não esquecia de agradecer a Deus pela minha saúde, e pelo poder de contemplar obras tão belas do Criador.

Muito verde no entorno.

Em determinado local, passei diante de uma pereira fincada à beira da estrada, carregada de frutos maduros e, apesar dela estar plantada do lado de fora da propriedade, por uma questão de educação, não me animei a colher nenhuma pera.

Uma pereira carregada de frutos maduros, mas não me animei a ingerir nenhum.

Então, passei por uma área inculta, onde avistei rústicos ranchos de madeira, local de habitação de silvícolas, uma vez que transitava por uma aldeia indígena, pois nessa área habita uma tribo de índios guaranis.

Infelizmente, vi muita pobreza no entorno, como crianças nuas, cães magros, taperas quase caindo, de forma que não me animei a fotografar nada ali, ao revés, estuguei meus passos e segui adiante.

Bosque silencioso e hidratado.

Depois de 7 quilômetros percorridos, eu transitei por um fresco e agradável bosque de eucaliptos, onde fiz uma pausa para hidratação.

O caminho se abre e o verde no entorno persiste!

Na sequência, voltei a caminhar por locais abertos, onde a tônica era a criação de gado em extensas e verdes pastagens.

Pastagens e verde infinito: quer melhor?

Prosseguindo, logo passei diante de um pequeno oratório onde a imagem maior era a de Nossa Senhora Aparecida.

Fiz, então, uma pausa para oração, bem como aproveitei a água que vem de uma bica e é ofertada aos caminhantes graciosamente, assim aproveitei para me hidratar abundantemente, visto que o calor já se fazia presente.

Gruta de Nossa Senhora Aparecida.

Logo o caminho girou para a esquerda e, então, voltou a ser belíssimo, pois retornaram os campos cultivados, novamente com ênfase para as plantações de milho, cana e mandioca.

O verdor persiste imutável...

Na verdade, era um cenário de embebedar as retinas, tamanha a beleza dos arredores.

Mandiocais me ladeiam nesse trecho.

Nesse trecho também notei belas residências, todas com pintura nova e jardins bem cuidados, uma tradição dos descendentes de imigrantes alemães e italianos que habitam essa área.

Nesse trecho, afloram os milharais. Ao fundo, a serra que teríamos que transpor antes de aportar à cidade de Nova Trento.

Percebe-se, ainda, que todos trabalham muito por ali, mas vi também sinais de retorno, como tratores, caminhões, carros novos e motocicletas de última geração.

Caminho plano e fresco, com certeza, essa foi a etapa mais bonita desse Caminho!

Sinal de que o homem do campo está sendo recompensado pelo seu hercúleo esforço em produzir riquezas para o nosso país.

Retão sem fim...

Mais alguns quilômetros percorridos agradavelmente entre a pródiga natureza, transitei pelo bairro Colônia, que pertence à cidade de São João Batista.

Igreja de São José, distrito de Colônia, sede: São João Batista.

Logo passei diante da igreja de São José, onde vi vários fiéis chegando de carro, para assistir a missa das 9 horas que ia começar.

Final dos bloquetes, retorno à terra, meus pés agradeceram!

Nesse trecho eu transitei sobre bloquetes, porém isto findou e retornei a caminhar sobre a terra, e meus pés agradeceram.

Estirões fantásticos!

Então seguiram-se longos estirões, quase sempre retilíneos, localizados em meio a luxuriante vegetação.

Fazendo pequena reflexão, percebia que a caminhada desse dia, feita a passos vigorosos, contudo, pausado para fotos e hidratação, com o ar rico em oxigênio e uma temperatura amena, fora uma das etapas mais agradáveis dessa peregrinação, toda ela transcorrida num cenário inimaginável.

Aqui eu deveria girar à esquerda, mas o Sr. José Trainotti (na foto) não permitiu que o fizesse imediatamente.. 

Finalmente, depois de percorrer exatos 16,5 quilômetros, encontrei uma placa afixada num poste, anunciando o Pesque e Pague do Trainotti, era a senha para eu virar à esquerda, conforme o Carminatti me orientara.

Enquanto fotografava esse letreiro, um senhor que residia em frente se aproximou e começamos a conversar.

Prontos para partir, o Carminatti toma a frente..

Quando soube que eu era peregrino e queria percorrer o famoso “Atalho” pela serra sozinho, tentou me demover da ideia, dizendo que eu deveria aguardar pelos meus companheiros.

Ato contínuo se apresentou como José Trainotti, morador naquele local há 67 anos.

Mostrando para o sr. José Trainotti a distância percorrida até aquele local.

Depois, me intimou a acompanhá-lo até a cozinha onde me ofereceu café e água, benesses que aceitei com prazer.

Logo chegou sua esposa, dona Zenaide, e ficamos ali a conversar sobre peregrinações à Santa Paulina, por um bom tempo, visto que ele é um expectador privilegiado dessas romarias que, quase sempre, englobam caminhantes e cavaleiros.

O Perdiz se arruma para partir conosco.

Mais tarde, chegaram o Perdiz e o Carminatti que também aproveitaram o espaço ali ofertado para descansar e tomar café.

Refeitos, nos despedimos do Sr. José e esposa, almas caridosas comprometidas com a causa peregrina, por quem também orei no Santuário de Santa Paulina.

Pesque e Pague do Trainotti, local belíssimo e bastante movimentado naquele domingo.

Então, dobramos à direita e depois de 200 metros, adentramos ao Pesqueiro do Sr. Dilson Trainotti, que nos recebeu com fidalguia, pois já conhecia o Carminatti de outras passagens por aquele local, já que ele é “figurinha carimbada” nesse Caminho.

No Pesqueiro Trainotti, o Carminatti conversa com o proprietário Sr. Dilson, solicitando autorização para utilizarmos a trilha em direção à Nova Trento.

Na verdade, a “senda” que iríamos adentrar é vital para os caminhantes, pois se ela não existisse ou estivesse interditada pelo seu proprietário, nós teríamos que caminhar mais 8 quilômetros até a cidade de São João Batista e, posteriormente, seguir por asfalto até Nova Trento, o que engordaria em 17 quilômetros o nosso percurso naquele dia.

O Carminatti toma a frente na trilha, que é considerada a "cereja" do bolo desse Caminho, por sua beleza incomensurável.

Assim, com anuência do Sr. Dilson, passamos uma porteira eletrificada, pois existe gado no local, depois prosseguimos por uma trilha matosa que, em seu início, estava terrivelmente enlameada, por conta da chuva ocorrida na noite anterior.

Seguimos no plano algum tempo, porém, depois de transpor pequeno riacho, ela principiou a ascender em ziguezague pelas bordas da montanha.

Vereda fresca e única!

O caminho nesse trecho é esplendoro, pois está envolto por frondosas árvores, onde a vegetação além de intacta, é luxuriante.

A trilha segue em ascenso, em meio a muito verde.

Um clima de calma e paz se assenhoreou de meu coração, e segui na frente tranquilo e enlevado pelo ambiente sereno que compartilhava.

Infelizmente, mais acima, encontrei com um grupo de motociclistas que descia a serra em alta velocidade, utilizando a mesma trilha, então o sossego que vivenciava até aquele local foi para o espaço.

Para qualquer lado que se olhe, muito verde no entorno.

Depois de aproximadamente 1 quilômetro morro acima, emergi num local arejado, de onde tinha larga visão de todo o entorno, até o longínquo horizonte.

Como ali o caminho se bifurcava, aguardei pela chegada de meus companheiros e, com o Carminatti novamente nos capitaneando, prosseguimos em ascensão.

Trilha em ascenso, mas com muito verde no entorno.

Já no topo do morro, passamos a caminhar no plano, agora dentro de frondente bosque de eucaliptos.

Nesse trecho, já no topo da serra, o forte são os eucaliptos.

Posteriormente, principiamos a descender com violência e, mais alguns metros percorridos, atravessamos uma porteira e acessamos uma larga e plana estrada de terra, por onde prosseguimos à esquerda.

Final do Atalho: O Carmo fecha a porteira..

Retroagindo, diria que foram quase 5 quilômetros trilhados em meio a muito verde, por locais amenos e arejados, que foi, sem dúvida, o ponto alto de nossa peregrinação.

Nesse trecho final, o Carminatti e o Perdiz caminham à minha frente.

Mais alguns metros percorridos em bom ritmo, dobramos à direita, caminhamos mais um quilômetro e adentramos em zona urbana.

Transpondo o rio do Braço.

E logo adiante, atravessamos o rio do Braço por uma extensa ponte de concreto, dobramos à esquerda e chegamos à Pousada Cantina Italiana, local onde havíamos feito reserva.

Ali, por R$75,00, pudemos desfrutar de excelentes acomodações, em quartos amplos e individuais, onde estava incluso o café da manhã.

Chegada à Pousada Cantina Italiana.

Depois de um profícuo e refrescante banho, fomos almoçar numa churrascaria próxima.

Seguindo em direção á Recepção da Pousada. Créditos: Gilberto Perdiz

Nova Trento é um município brasileiro do Estado de Santa Catarina, estando a uma altitude de 30 metros e sua população estimada em 2014, era de 13.379 habitantes.

Espalhada pelos bairros, Nova Trento conta ainda com mais de 40 oratórios de capelinhas.

A infraestrutura hoteleira de Nova Trento ainda é tímida, mas está em franco crescimento, especialmente depois da canonização de Santa Paulina, nascida em Vígolo Vattaro com o nome Amabile Visintainer (Wiesenteiner).

Praça central de Nova Trento.

No ano de 1875, período da grande imigração europeia para o Brasil, muitos imigrantes, entre eles italianos, alemães, austríacos e poloneses, desembarcaram no Brasil.

Entre os imigrantes austríacos, saídos do antigo Império Austro-Húngaro, chegaram à região as famílias da região trentina do Tirol.

Os tiroleses de língua italiana (trentinos) encontravam-se em dificuldades na terra de origem, por causa das crises no setor agrário, ocasionadas pelas guerras da unificação italiana que enfraqueceram o comércio local.

Os imigrantes tiroleses entraram no Vale do Itajaí juntamente com os colonos alemães, e também foram incentivados por Dr. Blumenau.

Praça central da cidade, tendo, ao fundo, o imponente prédio da Prefeitura Municipal.

Eram todos trentinos, isto é, de língua italiana.

Em 1892, batizaram a nova colônia como Nova Trento em homenagem à sua região de origem. Ali se formou uma comunidade agrícola e profundamente católica.

A região tirolesa permaneceu unida à Áustria do século XV até 1918 (Primeira Guerra Mundial), quando a porção sul do antigo condado (incluindo o atual Trentino) foi anexada à Itália.

Nova Trento constituía, até aquela data, a maior colônia austríaca do Brasil e, após a guerra, passou a ser uma das maiores colônias italianas de Santa Catarina.

O Império Austro-Húngaro era conhecido por agregar diferentes povos, de diferentes idiomas e culturas.

Igreja matriz de Nova Trento. Nesse dia, um domingo, lotada de fiéis.

A região trentina se caracteriza por ser de língua italiana, mas com históricas influências germânicas.

Atualmente a Província Autônoma de Trento possui um estatuto de autonomia bastante amplo e que garante suas características sociais, econômicas e históricas na Itália atual.

Embora fosse inicialmente uma colônia austríaca (seus fundadores saíram do Império Austro-Húngaro e possuíam passaportes austríacos), seus fundadores trentinos eram todos de língua italiana, porque eram os "italianos do Tirol".

A cidade de Nova Trento cultua até hoje as tradições, costumes e a religiosidade de seus antepassados.

Muitos italianos da Lombardia e do Vêneto também se estabeleceram em Nova Trento, de modo que em 1900 os descendentes de italianos saídos dessas regiões eram quase a metade da população da cidade.

Atualmente, Nova Trento é o segundo maior polo de Turismo Religioso do Brasil em virtude das peregrinações de fiéis que vão visitar a cidade onde morou Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, a primeira santa brasileira, embora nascida na Europa.

A bandeira de Nova Trento traz as cores da bandeira italiana (que são as mesmas do estado de Santa Catarina) e denota uma acentuada intenção de resgate das origens europeias da cidade ocorrida a partir de 1960, embora, como se sabe, a colônia tenha sido fundada quase 30 anos antes do território trentino pertencer à Itália.

Curtindo o jardim da Pousada Cantina Italiana.

Mais tarde, após um necessário descanso, fui até o centro da cidade para conhecer sua igreja matriz, mas não pude adentrar ao templo, pois havia uma concorrida missa em transcurso.

Aproveitando a ocasião, dei um grande giro por suas ruas principais, e fotografei o imponente prédio que alberga a Prefeitura Municipal, situado na praça central dessa típica urbe.

No retorno, passei num supermercado e me provi de mantimentos para o lanche noturno.

RESUMO TÉCNICO DESSA DATA, PRODUZIDO PELO PEREGRINO JOSÉ CARMINATTI

DIA 22-03-15 – MAJOR GERCINO - NOVA TRENTO (24,90 KM)

Saímos às 06:26 h com tempo nublado, mas ao longo do dia foi melhorando.

Atravessamos a ponte pênsil do Rio Tijucas atrás da Prefeitura Municipal e seguimos por uma estrada de terra bem agradável para caminhar.

Neste ínterim, percebi que havia deixado meu cajado no Hotel, mas não retornei para apanhá-lo, visto que só haveria uma pequena “subidita” no Atalho do Pesque e Pague do Trainotti, mas esta subida é uma teta.

Passamos por uma aldeia indígena no Km 6,0.

No Km 14,0 passamos pelo povoado de Colônia São João Batista.

No Km 16,5 viramos a esquerda para alcançar o Pesque e Pague do Trainotti.

Tomamos um delicioso café no Sr. José Trainotti e esposa Zenaide e depois de conversar um pouco com Dilso Trainotti do Pesque e Pague começamos a subida do morro que leva a Nova Trento, onde saímos por um portão no Km 21,5.

No Km 22,0 pegamos a direita e seguimos em frente, inicialmente por estrada de chão e mais tarde alcançamos uma parte calçada.

No Km 24,7 viramos a direita, atravessamos a Ponte do Rio do Braço, viramos a esquerda e já estávamos na Pousada Cantina Italiana, às 12,41 h no Km 24,9.

A Pousada Cantina Italiana (Fone 48. 32760028) possui várias opções de acomodações e possui restaurante anexo.

Chegamos a final desta trajetória com tempo muito bom.

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