FINAL

FINAL

"Será que o caminhante escolhe o caminho, ou o caminho escolhe o caminhante?" (Garth Nix) 

ANTES SÓ, DO QUE DORMINDO EM CASA... 

(Autora: Sérvula Soares

A autora clicada às margens do rio Beija Flor, um afluente do rio Amazonas - (Créditos: Sérvula Soares)

De vez em quando me aventuro por aí conhecendo novas paisagens. Fiz isso, acompanhada, durante muitos anos da minha vida. Conheci muitos lugares nesse nosso Brasil e alguns no exterior. Experiências incríveis, cada uma com suas peculiaridades.

Trago na memória lembranças dessas viagens, na grande maioria boas. Alguns infortúnios, é bem verdade, como a ida a Buenos Aires, onde encontrei uma classe desonesta e malandra, que não quero nem citar... melhor esquecer... mas enfim, os bons momentos que vivi, ao longo da minha vida, em outras terras, superam em muito esses ruins. Não deixarei de viajar por conta disso. Faz parte!

Porém, por algumas vezes, por opção, resolvi enfrentar sozinha um avião, para lugares que nunca havia posto os pés. Gosto desses momentos que passo comigo mesma, com meus pensamentos. Não é fácil. É bem desafiador e, por incrível que pareça, não me incomodo com essa solidão. Mas o que vejo, com as pessoas que converso, é que parece estranho para elas uma mulher sair por aí sozinha. As pessoas se incomodam!!! Talvez por puro preconceito, por ainda terem aquela visão de mulher indefesa.

Tem suas vantagens: acordo a hora que quero, monto meus roteiros ou não, como aonde quero, faço tudo que tenho direito, dentro de minhas possibilidades. Claro que não me arrisco, saindo, por exemplo, à noite sozinha.... esse é o único lado ruim. Mas durante o dia me divirto bastante e chegando ao hotel estou exausta. Durmo a hora que quero, sem ninguém roncando do meu lado.....srsrsrrsrs. E ainda arrumo um tempo para ler, sem incomodar, com minha luz acesa, ninguém.

Sou feliz assim. Não deixarei de viajar, coisa que amo, por falta de companhia. São esses momentos que levarei dessa vida. Enfrento meus medos me divertindo e conquistando experiências, que me farão, com certeza, uma pessoa melhor e mais feliz.

Claro que é legal ter com quem dividir esses dias, conversar num barzinho, aproveitando as noites nos lugares, dançar, enfim, coisas que só dá pra fazer acompanhado. Mas ainda assim, vale a pena ir em busca de novas aventuras, em lugares diferentes, mesmo estando só.

Agora mesmo, estou em um lugarzinho onde a natureza não economizou em beleza. O melhor banho de rio que já tomei em minha vida. Praias lindíssimas, águas cristalinas e temperatura ideal para o banho. Um paraíso chamado Alter do Chão. Uma vila pacata. Pessoas amigáveis e solícitas.

Um sonho antigo, que agora se tornou real. Voltarei aqui, certamente. Levarei boas lembranças desse lugar.

E não doeu nadinha, por estar sozinha. Amo minha companhia.

Nessas horas aprendo, cada vez mais, um pouco de mim, e, de quebra, um pouco do mundo. Supero meus medos e acumulo momentos. 

Por do sol em Alter do Chão - Santarém/PA. (Créditos: Sérvula Soares)

Momentos eternizados, que ninguém jamais tirará de mim, como esse lindo por do sol...

(Sérvula Soares – viajante, peregrina e cronista, ou melhor, como ela mesmo se define: "..apenas alguém que coloca pra fora seus sentimentos em forma de textos".)

EPÍLOGO

Já dizia o poeta Fernando Pessoa: “Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Por isso é bom o dizer, o contar, o falar. Há o Caminho andado, o Caminho sentido, o Caminho vivido – o mover-se. Há o Caminho dito, falado – o dizer-se o Caminho.” 

Minha Mãe Aparecida, vossa benção e proteção em minhas jornadas peregrinas!

O termo peregrinar tem vários significados: “Viajar por terras estranhas" ou "Viagem que se faz a um santuário por devoção ou por voto", ou mesmo, "Tempo desta vida, em que se está de passagem para a eterna.”

De um ponto de vista geral histórico religioso, peregrinar é a viagem empreendida individual ou coletivamente, para visitar um lugar santo, onde se manifesta de um modo particular a presença de um poder sobrenatural.

O fenômeno das peregrinações é natural ao gênero humano e em todas as culturas, antes mesmo do cristianismo.

Por exemplo, os muçulmanos têm obrigação de peregrinar ao menos uma vez a Meca, os gregos antigos faziam a Delfos e Olímpia, os chineses ao sepulcro de Confúcio, e os celtas acreditavam que Finisterre servia como porto de embarque das almas para outro mundo. 

A Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças!

O cristianismo assumiu e absorveu as peregrinações pagãs desde o primeiro momento, adequando-as a tradição cristã.

As peregrinações cristãs tiveram duas origens muito distintas: uma, a veneração aos Santos Lugares, aqueles onde Cristo havia santificado com sua presença mortal e à cidade de Roma (Vaticano); e a outra, o culto aos santos e suas relíquias.

Trasportando tais digressões para o roteiro que percorri nessa oportunidade, o Caminho que nominei de “3 Marias”, foi, para mim, uma jornada prazenteira e abençoada. 

Em Bom Repouso/MG, revisitando o Santuário de Nossa Senhora das Graças.

Pois nele pude visitar e orar em 4 templos distintos, cujas patronas são Nossa Senhora das Graças (Bom Repouso), Nossa Senhora Aparecida (Estiva e Tocos do Moji) e Borda da Mata (Nossa Senhora do Carmo), sem sofrer qualquer problema ou desgaste físico ou mental.

Ao revés, desfrutei de paisagens lindas, respirei o ar puro das montanhas, visitei amigos, conheci outros peregrinos, enfim, retornei ao meu lar renovado tanto no espírito quanto no coração.

Para finalizar, gostaria de reproduzir um pequeno depoimento publicado, há tempos, no “Portal Peregrino”: 

Virgílio da Silva Ribeiro, "in memorian"

O Caminho das Linhas Paralelas” 

Nós tínhamos parado em uma pequena praça para descansar, éramos eu, um senhor que junto com um menino se juntara a nós naquele dia, Federico e um jovem casal, Juan e Begônia com o casal e eu caminhara mais tempo.

Estávamos sentados descansando, quando se aproximou de nós um senhor que nos convidou para irmos com ele a uma cantina que ficava ali perto. Na cantina o quintal era grande e cheio de mesas, a moça da cantina nos serviu uma torta acompanhada de muito vinho, tudo de graça, é assim que o povo espanhol recebe o peregrino no Caminho de Santiago. Do lado oposto à cantina havia um restaurante muito bem montado.

Nós nos acomodamos nas mesas, nos livramos das mochilas e o parreiral que cobria todo o quintal nos impedia de ver o azul do céu.

A conversa girou sobre diversos assuntos, até que o homem que caminhava com o menino me perguntou o que me levou a fazer a peregrinação, pois disse-me ele, nem sempre conseguimos realizar o nosso intento. Eu respondi que além de ser um caminhante eu era um sonhador e o sonho não tem limites, e dei-lhe um exemplo: se nós estivermos entre duas linhas paralelas e olharmos o horizonte, veremos o encontro das linhas, aquela junção nós jamais a encontraremos, mas vamos caminhando até alcançar o nosso objetivo. Haverá na vida sempre o desafio de encontrarmos a junção das linhas. Esse é o sonho e o sonho é o sentido da vida. Toda realidade começa com um sonho.

(Obs: o homem que me fez a pergunta era um padre católico. Não sei qual o julgamento que ele fez da minha filosofia).

Autor: Virgílio da Silva Ribeiro fez o Caminho de Santiago com 80 anos de idade e hoje está com 83 anos plenos de saúde.

Fonte: www.caminhodesantiago.com.br 

Virgílio da Silva Ribeiro, "in memorian"

Tal qual relatou nosso preclaro Virgílio, o ex-peregrino mais idoso do Brasil, falecido em 15/05/2013, aos 91 anos, eu também busco encontrar o local imaginário onde ocorrerá a junção das linhas paralelas, por isso minha disposição de prosseguir em frente, ansiando por desvendar novos Roteiros!

Bom Caminho a todos!

Outubro/2017

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