5º dia: CACHOEIRAS DOS GARCIA à ESPRAIADO DO GAMARRA – 25 quilômetros

5º dia: CACHOEIRA DOS GARCIAS à ESPRAIADO DO GAMARRA – 25 quilômetros

Anjo do dia: HAAIAH - Significado do nome: Deus que ouve em segredo”

No dia anterior eu contatara o Nadinho, proprietário do local onde iríamos nos hospedar nesse dia, fazendo reservas de pernoite e refeições.

Porém, ele me garantiu que, por compromissos já agendados em Baependi, só poderia nos servir o jantar.

Assim, conforme indicação da planilha do Caminho, optamos por almoçar na “Casa Rosa”, e liguei para a Lúcia, confirmando o horário que lá aportaríamos.

Um novo dia amanhece.

Depois, confabulando com a Célia, de comum acordo, entendemos de que estava fora de cogitação, caminharmos mais 10 quilômetros, logo após a refeição.

Por isso, combinei com o Nadinho, de ir lá nos resgatar, às 13 horas, medida que se comprovou acertada, como mais à frente explicarei.

Assim, como só caminharíamos 16 quilômetros nesse dia, e quase sempre em declive, levantamos tarde, calmamente ingerimos o café da manhã, fotografamos o entorno e, sem pressa, deixamos o local de pernoite às 7 horas.

Com o eficiente Juninho, que dirige a Pousada onde pernoitei, localizada a poucos metros da extasiante Cachoeira dos Garcias.

Nossas mochilas seriam transportadas até o Gamarra pelo simpático Juninho.

Primeiramente, caminhamos aproximadamente 1.500 metros para retornar ao roteiro sinalizado.

Reinício do Caminho, em frente.

Então, quando acessamos a estrada do parque, giramos à esquerda e prosseguimos em ascenso.

O trajeto foi se empinando e, num trecho mais acima, passamos a caminhar sobre calçamento feito com aquelas pedras “pé de moleque”, pontudas, afiadas e dispostas aleatoriamente, depois soldadas com saibro e pó de cimento.

Ruim para pneus finos, adequadas para dias de chuva, mas péssimas para os pés do peregrino.

Nesse lugar, a 1900 metros de altura, localiza-se o ponto de maior altimetria do Caminho dos Anjos.

No ápice final, a 1900 metros de altura, passamos pelo ponto de maior altimetria de todo o Caminho.

Nesse lugar, a 1900 metros de altura, localiza-se o ponto de maior altimetria do Caminho dos Anjos.

Logo acessamos o “Mirante por do Sol”, local de onde tínhamos uma esplendorosa visão do horizonte sem fim, pontilhado de morros e pleno de muito verde.

Então, encontramos um marco indicando Baependi, giramos à direita e, principiamos a descender, lentamente, nos primeiros quilômetros.

Esse primeiro trecho foi feito integralmente dentro de mata fechada, por um trajeto fresco e extramente arborizado.

Como aparentemente há muito tempo não se faz manutenção nessa trilha, em muitos locais a erosão proporcionada pelas chuvas abriu valas e levou pedras, sendo que, no momento, veículos não conseguem transitar nesse trecho.

Com 6 quilômetros vencidos, passamos pelo “Vale da Cura”, um local de onde se avista um horizonte sem fim.

".... passamos pelo "Vale da Cura"..."

O descenso prosseguiu perigoso e com muitas pedras soltas de um de calçamento em péssimas condições, o que nos incentivou a tomar cuidados extremos para não tropeçar e levar um tombo, o que seria desastroso.

O trajeto, nesse trecho, foi feito olhando-se para baixo em 99% do percurso, mais, precisamente, para o solo sob nossos pés, pois qualquer descuido e adeus projetos!

Descendendo pelo lado oposto da Serra do Papagaio, por um caminho áspero e perigoso.

Uma pisada não muito firme, uma torção, um tropeço mais forte, um erro de cálculos na passada ou um simples escorregão bastariam para atrapalhar consideravelmente nossos planos.

Nesses momentos, o uso do cajado é fundamental.

Perdi a conta do número de vezes em que ele me salvou, principalmente nos declives, pois, além de servir de apoio, e diminuir o impacto, serve para o equilíbrio – e, acreditem, sob tais circunstâncias, manter o equilíbrio é prioridade.

Por sorte, a maior parte dessa declividade se deu dentro de mata nativa, o que nos protegeu do sol, que já tostava agressivo.

Depois de muitos escorregões, mas, sob as graças divinas, sem cair, acabou-se o calçamento do parque, ultrapassamos um córrego por uma ponte e, então, a estrada se nivelou.

Nesse ponto, faltando ainda 6 quilômetros para chegar, me despedi da Célia e prossegui no meu ritmo, como forma de agilizar o preparo do almoço.

Mais adiante, numa bifurcação, eu segui à direita, e enfrentei terrível ascenso que, por sorte, foi em meio à exuberante mata, o que colaborou para minimizar o efeito dos raios solares.

Nesse acenso a calçada foi feita com enormes pedras, para favorecer o trânsito de veículos.

Porém, em muito locais, elas estão soltas e enormes crateras se formaram, de maneira que em dias de chuva, tenho dúvidas se algum veículo motorizado, por mais tração que possua, consiga passar por ali.

Quase no topo do morro, passei diante de uma vaca morta, estirada quase no meio da estrada, onde um bando de urubus se banqueteava do tétrico repasto.

Um odor nauseante se desprendia do animal que, conforme fiquei sabendo posteriormente, morrera envenenado, por ingerir folhas de uma planta tóxica e, na sequência, beber água.

Depois de 600 metros, o caminho se nivelou, mas logo encontrei uma porteira e, depois dela, outro cabuloso declive.

No topo, ainda fiz algumas fotos, pois visualizava um extenso e verdejante vale, bem defronte a um enorme maciço montanhoso.

O descenso foi lento e cuidadoso, pois existiam pedrinhas soltas no chão, e que deslizavam quando pisadas, portanto, o risco de uma estrondosa queda era quase iminente.

Que, por sorte, e apesar de inúmeros escorregões, não se concretizou.

Já no plano, segui à esquerda e, depois de mais 500 metros, extremamente estafado, cheguei na ansiada “Casa Rosa”.

Quase chegando à Casa Rosa, local de almoço nesse dia.

Ali fui muito bem atendido pela Lúcia e sua mãe Helena, que me avisaram estar o almoço, quase pronto.

Meu relógio marcava 11 h 30 min e, preocupado, ainda aguardei por 30 minutos pela chegada da Célia.

Ficamos um tempo conversando sobre as dificuldades do trajeto recém-superado, até que fomos convidados a nos sentar à mesa, onde pudemos ingerir uma saudável refeição.

Com a Lúcia e sua mãe Helena, que dirigem a Casa Rosa, local obrigatório de parada para almoço na jornada desse dia.

Mais tarde, após os acertos monetários e fraternas despedidas, principiamos a subir um empinado morro, pois o encontro com o Nadinho seria lá, vez que seu carro não tem forças para sobrelevar essa elevação.

E, no horário aprazado, eis que ele apareceu com sua indefectível Brasília, um veículo de cor incerta, e nos conduziu até o Espraiado do Gamarra, onde ele possui um bar.

No andar de cima fica o albergue, onde logo nos alojamos, doidos por um banho e lavar roupas, que se encontravam integralmente empoeiradas.

Na verdade, notamos que esse trecho final, a partir da “Casa Rosa”, é pleno de elevações e teríamos imensas dificuldades para superá-lo, mormente após o repasto degustado.

Além disso, o sol estava ardente e o caminho não oferecia sombras.

Para piorar, as máquinas da Prefeitura haviam feito a manutenção da estrada nesse trecho, deixando muita terra solta no piso, o que concorria para levantar nuvens de poeira, quando da passagem de algum veículo, como pudemos testemunhar do interior do veículo que nos levou.

Bar do Nadinho, no Espraiado do Gamarra.

Assim, a decisão de não caminhar nesse trecho se mostrou integralmente válida, afinal, ninguém estava pagando promessas ou amortizando pecados.

Depois de um necessário descanso, fui conhecer o belo rio Gamarra, um riacho de águas frias e corredeiras com pedras, que nasce no alto de uma serra e possui 25 quilômetros de extensão.

Mais abaixo, ao se unir ao rio São Pedro, ele dá origem ao rio Baependi, famoso por comportar inúmeras cachoeiras.

O belo e frio rio Gamarra.

Defronte à propriedade do Nadinho, o rio Gamarra se esparrama em ampla lagoa, que possui areia nas margens, propiciando um local de lazer bastante frequentado pelos turistas nos finais de semana.

Mais tarde, enquanto o Nadinho preparava o jantar, fiquei um bom tempo conversando com ele e rindo de suas hilariantes histórias.

Às 19 horas ele serviu a refeição e, finda esta, eu subi ao meu quarto para arrumar meus pertences e escrever o diário.

Sobre o local de pernoite, embora as roupas estivessem limpas e as camas fossem confortáveis, esse não foi, de longe, o melhor lugar em que me hospedei em todo o roteiro.

Para se fazer um resumo rápido, diria que o banheiro é desconfortável, está bastante desgastado e necessita de urgente reforma.

No Espraiado do Gamarra, local que pertence à Baependi/MG

Assim como o piso da cozinha, que está solto em boa parte desse ambiente, e se torna uma perigosa armadilha à noite, quando há pouca iluminação.

Ademais, existem inúmeros vidros quebrados nos quatro quartos existentes na habitação, propiciando a estrada de poeira, vento e, o pior, de todo tipo de insetos como aranhas, pernilongos, mosquitos, etc...

Como o Caminho dos Anjos está sendo muito divulgado, inclusive, no exterior, e aguarda-se para breve a presença de peregrinos estrangeiros nesse roteiro, uma manutenção nesse local vital, é de extrema urgência.

O Espraiado do rio Gamarra, que nesse trecho vira local de banho e passeio nos finais de semana, para os moradores de Baependi/MG.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de pequena extensão, pois caminhamos apenas 16 quilômetros. Mas ela foi bastante cansativa, mormente pelo esforço envidado no descenso do Parque, vez que as pedras e o piso em terra se encontram em péssimo estado de conservação. Esse trecho demanda muito cuidado, pois um tombo seria traumático e poderia colocar em risco o restante do percurso do Caminho. Embora o trecho a partir da “Casa Rosa” até o “Espraiado do Gamarra” seja também bastante acidentado, seria possível percorrê-lo, não fosse o sol abrasador e a quantidade de poeira que existia nesse trecho, fatores que contribuíam decisivamente para que tomássemos a decisão de seguir no veículo do Nadinho.

6º dia: ESPRAIADO DO GAMARRA à CAXAMBU – 21 quilômetros