2021 – CAMINHO "PASSOS DE PADRE LÉO" – ITAJUBÁ/MG a LORENA/SP - 137 QUILÔMETROS


Um dos lindos segredos de cura interior é viver intensamente cada momento do dia e da própria vida. Existe uma beleza escondida em cada fase de nossa jornada. Não podemos comparar fases: adolescência, juventude, infância, maturidade. Tudo está revestido com uma beleza própria. Há um tempo para tudo, diz a Sagrada Escritura. É preciso aprender a saborear o que há de melhor em cada fase.” (Padre Léo)

Esse interessante roteiro fora inaugurado no início de março e, instantaneamente, despertou meu ardor peregrino pelos noveis itinerários brasileiros, contudo, ele permanecia inacessível, face à pandemia da Covid-19.

Porém, assim que tive notícias de sua reabertura, não titubeei e, na sequência, convidei a peregrina Shirley para me acompanhar em mais essa aventura de fé, então, nos encontramos no Hotel Oriente em Itajubá/MG, onde pudemos rever o amigo Carlos Eduardo “Cadu”, voluntário desse Caminho.

E, no dia seguinte iniciamos a nossa caminhada em direção à cidade de Lorena/SP, ponto final de mais essa inédita peregrinação.

No Hotel Oriente, em Itajubá/MG, ao lado do grande amigo Carlos Eduardo, voluntário desse Caminho.

A HISTÓRIA DE PADRE LÉO, SCJ.


As feridas do coração são alimentadas pela inveja, pelo rancor, pelo julgamento e pela atitude crítica. Em geral, o que publicamente criticamos nos outros acabamos fazendo também. A vida é sábia. Jesus ensinou, com uma clareza estupenda, que devemos fazer aos outros aquilo que desejamos para nós. Logo, não devemos fazer para ninguém o que não queremos para nós mesmos.” (Padre Léo)


Léo Tarcísio Gonçalves Pereira, mais conhecido como Padre Léo, nasceu em 9 de outubro de 1961. Veio de uma família humilde de Delfim Moreira, Sul de Minas Gerais, no vilarejo conhecido por Biguá, o nono filho de Joaquim Mendes Pereira (seu Quinzinho) e Maria Nazaré Guimarães (dona Nazaré).

​Antes de ingressar no seminário foi torneiro mecânico e também trabalhou em uma fábrica de armas em Itajubá/MG. Somente em 1982 entrou no Seminário Dehonista na cidade de Lavras/MG, pertencente à Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Padre Léo foi ordenado Sacerdote em 1990, atuou na formação de novos religiosos e sacerdotes, também na área da educação e, em 1995 fundou a Comunidade Bethânia.

Seu carisma tornou-se amplamente conhecido no Brasil por meio de grande atuação na Renovação Carismática Católica. Foi pregador de multidões desde o tempo de formação presbiteral. Participou de Cenáculos e vários outros encontros. Com seu jeito alegre e irreverente de ser, apaixonado pela Sagrada Escritura, utilizava-se de exemplos concretos e simples do dia-a-dia para chegar aos corações mais endurecidos. Empregava linguagem coloquial, que prendia a atenção do ouvinte e ao mesmo tempo o convidava a uma experiência íntima com a pessoa de Jesus, não somente racional, mas de forma afetiva.

​Agiu como verdadeiro profeta do Coração de Jesus em vários meios de comunicação. Publicou 27 livros, atuou em programas católicos de televisão na Associação do Senhor Jesus em Valinhos/SP e, posteriormente no Sistema de Comunicação Canção Nova, em Cachoeira Paulista/SP, onde ganhou fama nacional e internacional.

Após 16 anos de sacerdócio, vivendo integralmente o seguimento de Cristo, Padre Léo faleceu em 4 de janeiro de 2007, aos 45 anos, vítima de infecção generalizada, causada por um câncer no sistema linfático. Sua obra e memória continuam vivas nos corações de quem o ama e daqueles que fazem parte da família Bethânia.

Fonte: https://passospadreleo.wixsite.com/padreleo

No Memorial do Padre Léo, em Lorena/SP.

A HISTÓRIA DESSE CAMINHO


Em abril de 2014, o idealizador do CAMINHO DE APARECIDA (www.caminhodeaparecida.com.br), Rodrigo de Paula Costa (Rodriguinho), da cidade de Alfenas/MG, junto com sua esposa Rose estiveram em Delfim Moreira/MG, para uma reunião com Zé Mucinho, proprietário da pousada La Luna, visando à abertura de um ramal do CAMINHO DE APARECIDA.

Além da visita à localidade, Rodrigo ouviu um pouco mais da história da cidade, da cultura, das personalidades (ele já sabia que Padre Léo era Delfinense) e da importância de Delfim Moreira como preparação para travessia da Serra da Mantiqueira.

Após coletar todas informações, ele deixou um lote de plaquinhas do CAMINHO DE APARECIDA para serem afixadas na área urbana e rural do município.

Contudo, no final do encontro Rodrigo, que já pensava nas possibilidades de um roteiro novo, sugeriu um percurso exclusivo para Delfim Moreira e cidades vizinhas.

Um itinerário que seria chamado de “CAMINHO PASSOS DE PADRE LÉO”, pois Padre Léo que residiu, trabalhou e estava sepultado em Itajubá/MG, viveu sua infância no bairro rural do Biguá em Delfim Moreira e do outro lado da serra da Mantiqueira, no lado paulista, ele celebrou por anos na CANÇÃO NOVA, em Cachoeira Paulista/SP, e pelo seu trabalho na fundação da Comunidade Bethânia, em Lorena/SP.

Assim, com a intenção de levar o peregrino aos locais onde padre Léo viveu, caminhou e deu seus PASSOS na missão de evangelizar.

Em maio de 2014, o Rodrigo entregou a logomarca com o nome do CAMINHO e um simulado de um mapa, partindo de Itajubá/MG, prosseguindo pelo Bairro de Água Limpa, Biguá, Barreirinho, Delfim Moreira, Alto dos Marins, Bairro dos Marins, Piquete/SP, Cachoeira Paulista/SP, Canas/SP e, finalmente, Lorena/SP (Comunidade Bethânia).

Devido ao Caminho de Aparecida estar em plena atividade e ainda necessitando de ajustes, Rodrigo pediu para não participar das atividades seguintes, por não dispor de tempo e nem de recursos para auxiliar nos dois CAMINHOS, simultaneamente.

Em março de 2018, a Prefeitura Municipal de Delfim Moreira/MG, juntamente com Consultor e Turismólogo Rafael de Araújo, lançou o Projeto Passos de Padre Léo: um material muito bem elaborado, com o percurso e a segmentação por trechos, sinalização, identidade visual, pontos de apoio e credenciamento, além de atrativos naturais, culturais e religiosos.

Em 2019 a iniciativa ganhou força, quando os voluntários do Caminho de Aparecida se juntaram ao esboço, colocando o projeto na prática.

Deu início a um grupo de voluntários, pessoas que estivam dispostas a colocar a "mão na massa" para que este planejamento saísse do papel.

​Em dezembro de 2019, iniciou-se a primeira fase da sinalização do Caminho Passos de Padre Léo e seu marco inicial se situa junto ao Caminho de Aparecida, no bairro Ponte Santo Antônio, depois, segue até o Bairro Biguá, prosseguindo pelo percurso da antiga linha de trem até Delfim Moreira.

Em fevereiro de 2021, com algumas doações, foi possível efetivar integralmente a sinalização do Caminho Passos de Padre Léo, seguindo de Delfim Moreira, atravessando a serra da Mantiqueira, até o Vale do Paraíba, e finalizando na Comunidade Bethânia, em Lorena/SP.

Fonte: https://passospadreleo.wixsite.com/padreleo

1º dia: ITAJUBÁ/MG a DELFIM MOREIRA/MG – 39 QUILÔMETROS


Uma grande caminhada se faz com pequenos passos, observe o mecanismo de andar. Para você andar mais depressa, é só mudar a perna de trás, esqueça a outra, só mude a que ficou para trás.” (Padre Léo)


A jornada seria longa e antes de partir eu busquei lenitivo na providência divina e pedi bênçãos ao Beato Padre Léo.


A primeira parte do percurso é integralmente urbana, minha velha conhecida, pois eu já a percorrera em 4 oportunidades, vez que seu traçado acompanha à sinalização do Caminho de Aparecida.


Assim, 12 quilômetros à frente, numa bifurcação, quando o Caminho de Aparecida segue à direita, nós giramos à esquerda e prosseguimos paralelos à rodovia MG-350, que vai na direção de Delfim Moreira.


A partir desse local o trajeto se tornou agradável, arborizado, plano e mais 3 quilômetros percorridos, nós passamos pelo bairro Água Limpa onde, face ao horário matutino, tudo ainda estava fechado.


Havia chovido muito na noite anterior, assim, encontramos a estrada com o piso liso, clima ameno e neblinoso, extremamente agradável para caminhar, pois o sol ainda não dera as caras.


Seguimos em frente, agora já em perene e forte ascenso, que perdurou pelos próximos 5 quilômetros, até uma bifurcação, onde tomamos à esquerda e fomos visitar o bairro Biguá, local de nascimento do Padre Léo, onde também existia uma antiga Estação Ferroviária, desativada há muitos anos.


Infelizmente, por conta da pandemia, encontramos o comércio fechado, inclusive, a igrejinha, cujo padroeiro é São Benedito, local onde o Padre Léo foi batizado e fez sua primeira comunhão.


Assim, só nos restou fotografar o singelo templo e retornar sobre nossos passos até a bifurcação abaixo, onde prosseguimos à direita, ainda sobre o leito da antiga linha ferroviária que ligava Itajubá a Delfim Moreira.


Foi um percurso ermo e silencioso, cavalgando a encosta do morro, de onde detínhamos vistas preciosas de todo o maravilhoso entorno.


No 26º quilômetro, já no bairro Barreirinho, fizemos uma pausa num bar ali existente para tomar café e carimbar nossa credencial peregrina.


Reanimados, prosseguimos sempre em leve ascenso, agora, em meio à frondosa mata nativa e eucaliptais, a tônica nesse trecho final.


Percorridos 36 quilômetros, nós desaguamos na MG-350, depois, prosseguimos em ascenso por mais 3 quilômetros, pelo acostamento da rodovia, até aportarmos ao centro da cidade de Delfim Moreira, local de pernoite nesse dia.


À noite, após passarmos a tarde descansando, fizemos uma visita ao famoso bar do Boi, um dos “points” da cidade, onde o Sr. Antônio atende muito bem à sua seleta freguesia.


Algumas fotos desse percurso:

A primeira placa do Caminho Passos de Padre Léo.

A igrejinha do bairro Biguá, onde Padre Léo foi batizado.

Trecho neblinoso, situado no alto da serra.

A Shirley, feliz na trilha, como de costume.

A igreja matriz de Delfim Moreira/MG.

Como a maioria dos municípios da região, a origem de Delfim Moreira está ligada à chegada dos bandeirantes paulistas (em especial à bandeira de Borba Gato), que vinham à procura de ouro. Historicamente, a região de Delfim Moreira foi muito conhecida pela intensa produção agrícola, especialmente do marmelo, nos idos de 1940 a 1970 e, posteriormente, pela cultura da batata e pela produção de leite. Ela está incrustada na região conhecida como Terras Altas da Mantiqueira, onde até mesmo no verão os termômetros não ultrapassam os 25 graus e à noite faz um delicioso friozinho. Durante a estação quente, aliás, acontece a colheita de frutas como pêssego, pera e morango, além de marmelo, usado para fazer uma tradicional sopa perfeita para repor as energias. Atualmente, a cidade conta com diversos criatórios de trutas e, pela privilegiada condição climática, de topografia e de cobertura vegetal, vem desenvolvendo o turismo rural e ecológico. Destaca-se a partir de 2011 o surgimento da cultura cervejeira artesanal no município, advinda pela chegada da Microcervejaria Kraemerfass, que também atua no cultivo de olivas para a produção de azeites do estilo gourmet. População: 8 mil pessoas – Altitude: 1.210 m


RESUMO DO DIA - Clima: nublado de manhã, depois ensolarado, com temperatura variando entre 13 e 22 graus.


Pernoite na Pousada Solar da Mantiqueira – Apartamento individual excelente! – Preço: R$90,00.


Almoço no Restaurante e Pizzaria Country’s Bar: Excelente! – Preço: R$17,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão e muita beleza, porém, os primeiros 12 quilômetros são integralmente urbanizados. Contudo, quando se adentra às estradas de terra, tudo muda e o percurso se torna bucólico e aprazível. Até o 15º quilômetro caminha-se no plano, depois, inicia-se uma perene ascensão, que culmina com a chegada ao objetivo do dia. No geral, após o 12º quilômetro, uma etapa agradabilíssima, plena de verde e trechos ermos e silenciosos. No global, tirante a parte inicial, um trajeto de grande plasticidade e pleno de paisagens serranas.

2º dia: DELFIM MOREIRA/MG a PIQUETE/SP – 43 QUILÔMETROS


O perdão é gota divina, porque é o único caminho para a cura interior.” (Padre Léo)


A jornada seria longa e acidentada, assim, deixamos o local de pernoite às 5 h, após ingerir o substancial café da manhã que, gentilmente, nos foi disponibilizado pelo simpático Jean, o proprietário do estabelecimento.

Deixando a área urbana, ligamos nossas lanternas manuais e acessamos uma estrada de terra larga e plana que, após 2 quilômetros, nos levou a desaguar na perigosa rodovia MG-350, por não conter acostamento, onde seguimos no sentido contrário ao tráfego de veículos, que se mostrou intenso naquele horário, mormente, de caminhões.

Porém, como todo mal tem seu fim, após percorrermos tensos 5 quilômetros e com o dia clareando, adentramos à esquerda em larga e plana estrada de terra que, em seu princípio, nos levou a caminhar entre belas chácaras e fazendas de criação de gado.

Depois, o trajeto se tornou desabitado e silencioso, por onde seguimos ouvindo o pio das aves, caminhando sobre um piso compactado pelas chuvas recentes, num trajeto espetacularmente agreste, onde nós,

a alguns metros de distância, pudemos, particularmente, colocar nossas orações em dia.

O caminho seguiu sempre em leve ascenso, silencioso, ermo e, quase sempre, entre eucaliptais e mata nativa, porém, a partir do 16º quilômetro o itinerário principiou a empinar e percorridos mais 2 quilômetros, no topo do morro, situado a 1.701 m de altitude, atingimos o ponto de maior altimetria dessa etapa, exatamente, onde há uma placa sinalizando a divisa dos municípios de Delfim Moreira e Marmelópolis.

Já em descenso, passamos diante da sede da Fazenda Saiqui, situada num bucólico e fantástico vale, banhado pelo ribeirão Saiqui e pelo córrego Amarelo, cuja principal atividade é a carvoaria.

Ainda descendendo, numa bifurcação, onde à esquerda a estrada segue em direção à base do Pico Marins, nós prosseguimos à direita e logo enfrentamos o derradeiro ascenso, situado entre vastos eucaliptais, que nos levou a transitar a 1.560 m, exatamente, onde se localiza a divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.

Olhando à nossa retaguarda, deveríamos avistar o imponente pico dos Marins, um grande maciço rochoso com paredões íngremes, o 26º cume mais alto do país, cujo cimo atinge 2.421 m, porém, uma densa cerração obstaculizou nossa visão impedindo, inclusive, fotos.

Então, a partir desse marco, passamos a descender com impetuosidade, magoando, sensivelmente, pés e joelhos, que se desdobraram para frear nosso corpo e mochila, por estradas largas, desertas e situadas entre locais de inesquecíveis belezas, realçados por paisagens surreais, de ambos os lados.

Ainda em descenso, no 27º quilômetro, passamos pelo bairro dos Marins, cuja sede é Piquete, uma vila com ar europeu, onde há massivo comércio, além do Museu dos Marins, e a partir desse lugar, o piso passou a ser asfáltico e perdurou até o final da jornada.

Sempre transitando entre fazendas, onde o forte era a pecuária leiteira, enfrentamos ainda alguns descensos rudes, contudo, o desafio maior se afigurou quando, inesperadamente, o sol apareceu e, concomitantemente, precisamos enfrentar o derradeiro aclive, que se prolongou por intermináveis 2 quilômetros.

Finalmente, em descenso, adentramos à zona urbana e precisamos atravessar toda a cidade para aportar ao local de pernoite.

À tarde, após merecido descanso, ainda tive ânimo para visitar a igreja matriz da cidade, construída em estilo modernista, cujo padroeiro é São Miguel Arcanjo.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Em leve ascenso, natureza soberba...

No topo do morro, a 1.701 m de altitude.

A entrada para o Pico dos Maris. Muita neblina na serra...

Natureza exuberante!!

Uma cachoeira localizada à beira do Caminho.

A igrejinha existente no bairro dos Maris / Piquete-SP

Município turístico situado entre a serra da Mantiqueira e a do Mar, Piquete é conhecido como Cidade Paisagem. Os desníveis compreendidos entre a serra e as planícies do Vale tornam seu relevo o mais abrupto do Estado de São Paulo. Grande parte de seu território está dentro da Área de Preservação Ambiental e possui mais de 70 cachoeiras cadastradas na Prefeitura. A cidade oferece variadas atrações naturais que, além de propiciar, aos que gostam, tranquilidade e sossego, é muito procurada por praticantes de esportes radicais, como salto de asa delta, rapel, montanhismo, bicicross e motocross. Porém, ainda está carente em infraestrutura para atender os turistas. População: 13.575 pessoas – Altitude: 645 m


RESUMO DO DIA: Clima: frio e neblinoso, no início, ensolarado, no final, com temperatura variando entre 11 e 22 graus.


Pernoite no Hotel Cidade Paisagem: Apartamento individual – Preço: R$70,00 - OBSERVAÇÃO: Embora os proprietários desse estabelecimento sejam trabalhadores e simpáticos, o local de pernoite deixou muito a desejar, pois os acessórios ofertados não funcionam e o asseio não corresponde ao necessário encontrado comumente em outras hospedagens.


Almoço no Restaurante do próprio hotel: Excelente – Preço: R$13,00, por um estupendo “Prato Feito”.


AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de razoável dificuldade, a começar pela distância percorrida. Depois, o ascenso até a 1.700 m localizado no 18º quilômetro da jornada é, realmente, um obstáculo nada fácil de superar, bem como a forte descida até o bairro dos Marins, que magoa sensivelmente pés e joelhos, pela impetuosa declividade que se enfrenta nos quilômetros derradeiros. O restante do percurso, afora a extenuante e inesperado aclive final, é praticamente todo plano, porém a quantidade de asfalto que enfrentamos nesse final de etapa, concorreram para que a jornada se transformasse na mais difícil e desafiadora que sobrepujamos em toda essa peregrinação. Recomendo, se o caso, o fracionamento desse trajeto, com pernoite num chalé existente na base do Pico dos Marins ou outra pousada situada no bairro dos Marins.

3º dia: PIQUETE/SP a CACHOEIRA PAULISTA/SP – 32 QUILÔMETROS


Você pode treinar todas as suas AÇÕES, mas as suas REAÇÕES é que revelam quem você é.” (Padre Léo)


Partimos às 5 h, sem ingerir ao menos um simples copo de café puro, já que o local de pernoite não o oferece em face do horário extemporâneo.


Foi decepcionante, porém me consolei na máxima, que afirma: “Num caminho de fé, a frugalidade e a penitência devem ser a tônica, para se alcançar patamares maiores em termos de religiosidade e sacrifício.”


Sob clima frio e neblinoso, sempre em agradável descenso, atravessamos toda a cidade e, mais abaixo, percorridos 2.500 m, adentramos à direita em uma larga e plana estrada de terra, por onde seguimos com nossas lanternas manuais ligadas.


Depois de atravessar locais de expressiva beleza e já com dia claro, percorridos 8 quilômetros, acabamos por desaguar na rodovia BR-459, que provém de Lorena/SP, então, seguimos caminhando sobre um largo acostamento e nesse trecho cruzamos com vários grupos de ciclistas que faziam seu “pedal matinal”.


Percorridos mais 6 quilômetros, finalmente, fletimos à esquerda e seguimos pela Estrada Real, ainda sobre piso asfáltico, por uma rodovia vicinal bastante movimentada e plena de curvas.


Porém, 2 quilômetros adiante, assim que ultrapassamos o bairro do Campinho, o piso passou a ser terra e prosseguimos ladeados, primeiramente, por muitas bem-cuidadas chácaras, depois, por grandes fazendas de gado leiteiro.


Infelizmente, nesse trecho há uma propriedade que explora a extração de areia, então, encontramos um massivo trânsito de caminhões basculantes, contudo, para a nossa sorte, havia chovido na madrugada e o piso se encontrava úmido e socado, assim, não aspiramos poeira nesse dia.


E sem maiores problemas, pois esse intermeio é integralmente plano, sob clima frio e sol ameno, percorridos 29 quilômetros, nós adentramos em zona urbana e seguimos caminhando em direção às enormes instalações da Canção Nova, que é uma comunidade católica brasileira fundada no ano de 1978, seguindo as linhas da Renovação Carismática Católica.


Com sede na cidade de Cachoeira Paulista (SP), ocupa uma área de 372 mil m2 e conta com sistema de rádio e televisão de longo alcance, estendendo-se a outros países como Portugal, Itália, Israel, França e Paraguai.


Contudo, para nosso desapontamento, sua portaria principal se encontrava fechada, face à pandemia da Covid-19, então, contornamos por fora parte da monumental edificação e pudemos visitar a Capela da Sagrada Família, onde externamos nossas orações.


À tarde, após lauto almoço e o necessário descanso, retornamos até o Santuário do Pai das Misericórdias, onde assistimos à celebração da santa missa e, assim, encerramos nossa passagem pelo lugar onde o Beato Padre Léo pregou a palavra de Deus por muitos anos.


Algumas fotos do percurso desse dia:

A totem da Estrada Real, nesse trecho em que ambos os roteiros coincidem.

Uma enorme seringueira marca essa bifurcação.

Trecho plano e extremamente arborizado...

No interior da Canção Nova.

Assistindo à Santa Missa no interior do Santuário do Pai das Misericórdias, na Canção Nova.

O município de Cachoeira Paulista está localizado no fundo do Vale do Paraíba, aos pés da serra da Mantiqueira. A partir da área central da cidade é possível visualizar diversos cumes dessa formação, dentre os quais destacam-se o Pico dos Marins (com altitude de 2.420 metros) e a Pedra da Mina (altitude de 2.798). A proximidade com a serra faz com que o clima do município seja bastante instável, com temperaturas podendo cair rapidamente em algumas noites durante o outono e inverno em função das brisas de montanha que ali atuam, carregando o ar gelado dos topos mais elevados até a porção mais baixa do vale. População: 33.581 pessoas – Altitude: 521 m


RESUMO DO DIA: Clima: frio de manhã, depois sol e calor, variando a temperatura entre 13 e 22 graus.


Pernoite no Videiras Palace Hotel: Excelente! Apartamento individual – Preço: R$115,00


Almoço no Renato Restaurante Pizzaria e Choperia: Ótimo! – Refeição por peso no Self-Service: R$27,90 o quilo.


AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de razoável extensão, que não apresenta obstáculos altimétricos de qualquer espécie. Afora o tenso percurso de 6 quilômetros vivenciado à beira da rodovia BR-459, o restante do trajeto apresentou vários trechos desertos e sombreados. No geral, uma jornada tranquila, com direito a visitar, no final, as estupendas instalações da Canção Nova, onde Padre Léo pregou.

4º dia: CACHOEIRA PAULISTA/SP a LORENA/SP – 23 QUILÔMETROS


É preciso deixar marcas de eterno por onde passamos e com quem convivemos.” (Padre Léo)


Seria nossa derradeira jornada e embora ela se afigurasse fácil e de pequena extensão, resolvemos sair bem cedo, porque retornaríamos às nossas residências naquele mesmo dia.

Chovera a noite toda e quando partimos, às 5 h, caía uma fina garoa que, para a nossa sorte, logo cessou.

Por ruas desertas e molhadas nós deixamos a cidade e quando acessamos uma rodovia vicinal, passamos a caminhar sobre uma ciclovia, num percurso integralmente plano e urbano, que nos levou, depois de percorrer 8 quilômetros, a transitar pela pequena e simpática cidade de Canas (5 mil habitantes), onde encontramos farto comércio.

Prosseguindo, acessamos outra ciclovia e, depois de mais 6 quilômetros, chegamos à cidade de Lorena, porém, não adentramos em sua parte central, posto que a bordejamos, depois, passamos sob a Rodovia Presidente Dutra e logo transitamos diante do Shopping Eco Valle, onde se encontra edificado o Centro Cultural Memorial Padre Léo.

Seguindo adiante, logo chegamos à Comunidade Bethânia, ponto final de nossa peregrinação.

Ali fomos muito bem recebidos pelo Elvis, o atual responsável pelo local, além de conhecer a simpática Maurielle, a Embaixadora do Caminho Passos de Padre Léo em Cachoeira Paulista.

Depois de ingerirmos um lauto café que nos foi gentilmente oferecido, recebemos nosso Diploma de participação e, em seguida, fizemos uma breve visita ao Memorial Padre Léo, para orações e fotos.

Na sequência, rumamos para a cidade de Aparecida, onde visitamos a Basílica de Nossa Senhora Aparecida e, à tarde, após um merecido almoço e com o coração em festas, cada um seguiu em direção à sua respectiva residência.

Necessário consignar meu agradecimento sincero ao Rodrigo, de Alfenas, que mapeou e ajudou a sinalizar esse itinerário, bem como aos voluntários Carlos Eduardo “Cadu” e Leandro Reis, que tão bem nos receberam e instruíram sobre as peculiaridades desse novel Caminho.

Ainda, um obrigado especial à Embaixadora Maurielle, pelo desvelo e carinho relativamente às nossas pessoas, simples peregrinos.

Por derradeiro, minha gratidão à amiga e parceira Shirley que me acompanhou nessa linda “travessia”, e que com sua fé, persistência e alegria concorreu, decisivamente, para que nossa “viagem” se tornasse mais suave e abençoada.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Com o Elvis, o atual responsável pela Comunidade Bethânia.

Com a simpática Maurielle, a Embaixadora desse Caminho em Cachoeira Paulista/SP.

Diploma do Caminho "Passos de Padre Léo".

COMUNIDADE BETHÂNIA


A partir de experiências pessoais enquanto sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Padre Léo sentiu no coração a inspiração para fundar a Comunidade Bethânia. Dentre tantos trabalhos que exerceu, foi diretor no Colégio São Luiz, em Brusque/SC, onde também prestou atendimento espiritual às famílias e jovens da região.

​Durante os acolhimentos, Padre Léo notou que o problema das drogas era a urgência a ser combatida. Assim, sentiu a necessidade de proporcionar a essas pessoas um lugar e um ambiente que revelasse um jeito novo de viver, saudável e pleno.

Inspirada na Bethânia bíblica, olhando para os irmãos, Marta, Maria e Lázaro, a Comunidade nasceu como casa de acolhida dos diversos marginalizados da sociedade que procuram um novo jeito de viver.

​Nesta perspectiva, a Comunidade Bethânia não é um centro de recuperação e nem uma clínica onde se internam pessoas para tratamento. Bethânia é um recanto que procura acolher a cada um que chega como o próprio Cristo. Em resposta ao apelo do Espírito Santo ao coração de Padre Léo, muitas pessoas abraçaram esse mesmo ideal. Em São João Batista/SC, Padre Léo foi presenteado com um terreno onde a Comunidade Bethânia concretamente iniciou os trabalhos de acolhimento em 12 de outubro de 1995.

Fonte: https://passospadreleo.wixsite.com/padreleo


AVALIAÇÃO PESSOAL – Sem dúvida, a etapa mais fácil e de menor extensão em todo o trajeto, que não apresenta grandes dificuldades, a não ser pelo fato de transcorrer integralmente por locais de massiva urbanização e sobre piso duro. Contudo e em compensação, fomos premiados com um dia nublado e fresco, o que amenizou nossa locomoção. No geral, um percurso tranquilo e belo, em seu trecho derradeiro, quase chegando à Comunidade Bethânia.

Nossa Senhora Aparecida, a Vossa Bênção e Proteção!

FINAL


Talvez eu morra hoje, amanhã, daqui a um ano, daqui a dez, isso pouco importa! O que interessa é que por onde eu passar eu tenho que deixar um rastro de Deus, para que quem vier atrás ache esse caminho. É isso que dá sentido à vida!” (Padre Léo)

Novamente, no Santuário da Mãe Aparecida!

Peregrinar é caminhar numa única direção: o Deus que vive dentro de cada um de nós.

Foi com esse objetivo e muitos outros que parti de Itajubá em direção à Comunidade Bethânia, em Lorena/SP, e no percurso, ao lado da amiga e peregrina Shirley, não faltaram empolgação, superação, alegria, gratidão, convivência e fé, algumas palavras que sintetizam essa bela experiência que realizamos nesse inédito caminho.

Foram dias de profunda sintonia junto à natureza que nos envolveu durante todo o percurso, com Deus que conosco caminhou, nos sustentou e se revelou a nós das mais diferentes formas, seja nos cenários que nos encantaram, ou pela comunhão com as pessoas que, respeitosamente, nos cumprimentaram e incentivaram ao longo no itinerário.

Tudo fluiu tranquilamente no trajeto, seja pela brisa suave que sempre nos acariciou, revelando a beleza da paisagem circundante, as nascentes de água, os frescos bosques por onde transitamos, nos animais que avistamos, diariamente, como corujas, gaviões, garças, tucanos, gatos, cães, aves domésticas, gado bovino, cavalos, dentre outros.

Assim, com certeza, nossos âmagos se dilataram ao realizar esta experiência de profunda sintonia com a vida, que pulsa em cada um de nós e no universo, pois, como bem disse o Beato Padre Léo:

Devemos buscar sempre as coisas do Alto. Não podemos ter medo de sonhar com grandes ideais. Triste de quem se acomoda e se apequena com reduzidos propósitos. A vida é feita de grandes projetos. O ser humano é chamado para grandes ideais. Os grandes sonhos nos dão força para superarmos os pequenos e grandes obstáculos.

Por tudo o vivenciado nesse roteiro, dou graças a Deus!

Padre Léo, a vossa bênção, luz e proteção sempre!


Bom Caminho a todos!

Junho/2021