04º dia: VIANA DO CASTELO a A GUARDA – 33 quilômetros

04º dia: VIANA DO CASTELO a A GUARDA – 33 quilômetros

Um pensamento positivo no começo da manhã pode mudar todo o seu dia.

Seria uma jornada de superação, onde eu deixaria Portugal, em definitivo, para adentrar em solo espanhol, além do que, estávamos num domingo.

Garoou a noite toda e, às 6 h, quando deixei o local de pernoite, encontrei o clima frio, ventoso, e as ruas integralmente molhadas e vazias.

Por uma passarela metálica eu ultrapassei as vias férreas, localizei a primeira flecha amarela pintada num poste, depois, debaixo de fina garoa, segui em frente, intimorato.

Nesse trecho inicial, ainda em Areosa, eu passei diante da Quinta da Boa Viagem, uma espetacular mansão medieval, atualmente, convertida em hotel rural.

O primeiro tramo do trajeto alterna trânsito por rodovias vicinais asfaltadas e passagem por pequenos bairros/povoados esparsos, àquela hora, todos silenciosos.

Assim, percorridos 9 quilômetros em ritmo constante, transitei por Carreço, cuja igreja matriz se encontra dentro de um cemitério, e onde também há um excelente albergue de peregrinos.

Um quilômetro à frente, sempre caminhando por zonas urbanizadas, eu adentrei num agradável bosque de eucaliptos que, mil metros adiante, me devolveu a rodovias pavimentadas, por onde adentrei ao bairro de Armada, que já pertence à cidade de Afife.

Depois de caminhar 12 quilômetros, eu passei diante da Quinta das Cabanas e, logo depois, defronte ao Convento de São João de Cabanas, do século XII, um antigo claustro beneditino, localizado num cenário idílico, com um riacho, árvores, azulejos portugueses e um cruzeiro.

A partir desse marco, iniciou-se severa aclividade, por uma trilha pedregosa e extremamente lisa, fruto das chuvas recentes.

Foram, aproximadamente, 1.400 m em franco ascenso, que me levaram ao topo de um morro, de onde eu pude avistar o mar.

O perigoso descenso, pelo lado oposto, foi feito sobre uma senda extremamente escorregadia e plena de pedras soltas, em meio a bucólica mata: um perigo para os joelhos e tornozelos, mas que superei sem problemas.

Já, no plano, transitei por Barreiros e, 3 quilômetros adiante, passei a caminhar à beira mar, já, em Vila Praia de Âncora, onde ultrapassei 4 peregrinas, que caminhavam moderadamente, carregando avantajadas mochilas.

Durante a jornada, até esse local, passei diante de numerosas “alminhas” ou “capelinhas”, situadas ao nível da rua, geralmente, dentro de nichos, com imagens e velas acesas: uma amostra da profunda religiosidade popular que perdura nas zonas rurais de Portugal.

A chuva ia e voltava, obrigando-me a vestir e a retirar minha capa de chuva, um trabalho exaustivo e demorado, porque precisava, antes de qualquer providência, me livrar da mochila.

Depois de caminhar pela belíssima orla marítima por 3 quilômetros, adentrei na cidade de Moledo, onde acessei uma rotatória e após caminhar mais 4 quilômetros por uma ciclovia, num percurso plano mas de extrema dureza pelo cansaço acumulado na viagem, acabei por adentrar na cidade de Caminha, situada no estuário do rio Minho.

Como a grande balsa que transporta veículos e pessoas só funcionaria às 16 h, tomei um barco de 2 lugares, pelo preço de 5 Euros cada passageiro, que fez a travessia desse autêntico braço de mar, de 1.600 m de extensão, em apenas 12 minutos.

Já do outro lado, mais especificamente, em A Passaxe, de pronto, localizei o primeiro "monjón" jacobeu em solo espanhol, então, animado, eu prossegui em frente, agora, já sob sol ameno.

O percurso restante foi realizado, primeiramente, pelo interior de belíssimo bosque de eucaliptos, que rodeia o monte Tecla, depois, pelo acostamento de uma rodovia, até aportar ao centro de A Guarda, cidade onde me hospedei nesse dia.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Transitando por Carreço, ainda sobre piso duro.

Uma fonte, situada do lado esquerdo do caminho.

Caminhando por um belíssimo bosque.

Piso molhado e escorregadio.

O Convento de São João de Cabanas.

Placa explicativa.

Em forte ascenso. Piso molhado e escorregadio.

Vista do mar, desde o topo do morro.

No topo do morro, um solitário cruzeiro.

Transitando pela Vila Praia de Âncora, sob forte garoa.

Atravessando a foz do rio Minho, num pequeno barco, com o simpático marinheiro João, na direção.

O primeiro "monjón" que encontrei em solo espanhol.

O sol finalmente deu as caras. Mas por pouco tempo...

Quase chegando, trânsito por um agradável e fresco bosque de pinheiros.

A orla da vila marinheira de A Guarda.

Banhada pelo Atlântico, a foz do rio Minho e o Monte de Santa Tecla, a vila de A Guarda é famosa por suas lagostas, sendo considerada um dos mais típicos povoados marinheiros da Galícia.

Ela foi conquista por vândalos, piratas normandos, sarracenos, portugueses e franceses.

Além do Museu do Mar, situado perto do molhe, ainda possui o Castelo de Santa Cruz, uma fortaleza que foi construída no contexto das Guerras da Restauração.

Aproximadamente, um ano depois desta fortaleza estar terminada, os portugueses ocuparam-na, uma vez que o governador Jorge de Madureira não possuía meios para a defender.

Um monumento, em A Guarda.

A fortaleza esteve em mãos dos Portugueses até 1668, quando, pelo Tratado de Lisboa, se deram por terminadas as guerras da restauração.

Em 1809 a fortaleza foi ocupadas por tropas francesas, ainda que por breve período, uma vez que milicianos locais, com a ajuda de tropas portuguesas, a recuperaram passado cerca de um mês.

Em A Guarda está situado o Castro de Santa Trega, de grandes dimensões e muito romanizado, datado entre o século I a.C e o I d.C.

Situa-se no monte de Santa Tecla, a 341 m de altitude, no extremo mais a Sudoeste da Galícia, num lugar privilegiado posto que domina a desembocadura do rio Minho.

Belíssima vista dessa maravilhosa vila pesqueira.

Sobre o morro foi encontrado e escavado uma grande fortaleza, cuja origem data do século IV a.C.

O povoado que ali existia era amuralhado e com casas de planta circular, e em seu apogeu, possuía 5.000 habitantes e ocupava uma extensão similar a 20 campos de futebol.

O monte tem ladeiras muito pronunciadas, com um domínio visual do contorno que fez dele, possivelmente, um lugar estratégico, destacado desde muito antes do levantamento do castro.

Embora a população da Guarda devesse ter conhecimento da existência de vestígios de antigas edificações no monte, desde muito tempo, em 1745, quando o Padre Sarmiento visitou a cidade, não fez menção delas, mas, pelo contrário, fê-lo do monte, sua ermida e a romaria.

População: 10.200 habitantes.

Brindando minha chegada à Espanha.

RESUMO DO DIA - Tempo gasto, computado desde o Enjoy Guest House, em Viana do Castelo, até o Hotel Bruselas, em A Guarda: 7 h.

Clima: chuvoso, nublado, frio, depois, chuvoso novamente, variando a temperatura entre 12 e 18 graus.

Pernoite no Hotel Bruselas: Excelente!

Almoço no Restaurante Reveiriña: Excelente! - Preço: 12 Euros.

IMPRESSÃO PESSOAL: Trata-se de uma etapa de grande extensão, agravada pela chuva, que me acompanhou em boa parte do trajeto, deixando o piso liso e perigoso em alguns locais. Na metade do percurso, há um íngreme ascenso a ser superado, mas, por sorte, em meio a mata e ao silêncio dos campos, com belas vistas do mar, que me escoltava pelo lado esquerdo. No global, uma jornada difícil e cansativa, onde, para variar, o piso duro imperou em, pelo menos, 2/3 dessa etapa.