9ª Etapa: ITAJUBÁ à WENCESLAU BRAZ – 20 quilômetros

9ª Etapa: ITAJUBÁ à WENCESLAU BRAZ – 20 quilômetros

"Poderosa Novena à Nossa Senhora Aparecida: 9° DIA - Ó Maria, Virgem sempre amável e por Deus sempre amada, íris formoso de paz, templo augusto, consagrado desde o primeiro instante pela real presença do Espírito Santo e com a plenitude de todos os Seus dons, eia, alcançai-nos vivermos de tal modo que mereçamos um dia ver-vos no Templo celeste da glória."

A etapa seria de curta extensão novamente, porém, curiosamente, mesmo no final do mês de junho, estávamos vivenciando um estranho “veranico”.

Assim, apesar da época, o sol se tornava abrasador depois das 10 horas, deixando minha caminhada desgastante e opressiva.

Nesse sentido, combinamos sair o mais cedo possível, assim, deixamos o local de pernoite, quando meu relógio marcava 6 h.

O café da manhã somente seria servido após as 6 h 30 min, então, para minimizar o problema, eu ingeri frutas e chocolates que havia adquirido no dia anterior, e parti alimentado e bem disposto.

Assim, após tomar novas informações com o porteiro da noite, nós acessamos a Avenida Dr. Henriqueto Cardinali, que, embora trocasse de nome, seguiu sempre na direção sul, tendo o rio Sapucaí fluindo, ao nosso lado direito.

Nesse pique, mais abaixo nós passamos diante de uma área pertencente ao exército brasileiro, num amplo espaço, onde está sediado o 4º Batalhão de Engenharia e Combate de Itajubá/MG.

Prosseguindo, mais à frente, transitamos diante da igreja de Nossa Senhora de Lourdes, onde pudemos fotografar uma pequena gruta alusiva à sua aparição, construída no seu lado esquerdo.

Logo depois, passamos diante da fábrica da Imbel – Indústria de Material Bélico do Brasil.

E depois de transitar pelo bairro Santa Rosa, sempre em piso duro, finalmente, depois de 8 quilômetros vencidos, eu adentrei em terra, seguindo em direção ao bairro Santo Antônio.

O percurso prosseguiu em meio a residências e pequenas chácaras, ainda urbano, e com expressivo tráfego de carros, motocicletas e bicicletas, o que, com certeza, acabou por polarizar minha atenção e, concomitantemente, abstrair todo o encanto da caminhada.

Finalmente, 12 quilômetros percorridos, observando a sinalização, eu girei à direita, atravessei o Ribeirão Santo Antônio por uma ponte, transitei por uma praça, onde há um pequeno coreto e, depois de vencer pequena aclividade, acabei saindo na rodovia MG-350, que segue em direção à Piquete/SP.

Então, aguardei pela chegada da Célia.

Depois, verificando cuidadosamente as setas-peixe, giramos à direita, caminhamos uns 300 metros e, antes de atravessar a ponte sobre o rio Sapucaí, adentramos à esquerda, numa larga e úmida estrada de terra.

Em seguida, passado o sufoco e o estresse causados pela civilização, o caminho voltou a ser campestre, permitindo-nos transitar em meio à exuberante natureza.

Fizemos, então, uma pausa restauradora para descanso, retirada do agasalho, hidratação e ingestão de bananas.

Animado, prosseguimos caminhando em meio a inúmeras chácaras, até que, mais acima, obedecendo a sinalização, nós deixamos a estrada principal, atravessamos uma porteira, e acessamos uma trilha campestre, situada no meio de um pasto.

Lentamente, a senda foi se empinando, e o grau de dificuldade foi crescendo, mormente, porque esse trecho se encontrava bastante liso e embarreado, em face das chuvas recentes.

A cada novo patamar vencido, minha vista das imediações ia se dilatando, até que, finalmente, alcancei o topo da elevação, e de lá pude ter minha visão ampliada em todas as direções.

Em face do esforço dispendido na dura escalada, fiz outra pausa ali para bater algumas fotos e me hidratar, enquanto aguardava a chegada da Célia, que vinha num ritmo mais pausado.

Prosseguindo, atravessamos outra porteira, e principiamos a descer pelo lado oposto.

Ocorre que a trilha se encontrava bastante lisa e com muitas pedras soltas, de modo que fomos descendendo com muito cuidado, pois o mais leve deslize nos causaria um tombo de proporções catastróficas, visto que o terreno era terrivelmente inclinado.

Baseado em minha experiência, entendo que se estiver chovendo, essa trilha deverá ser evitada a todo custo, devendo o percurso ser feito por asfalto, através da rodovia BR-459, que segue em direção à cidade de Wenceslau Braz.

E, nesse caso, embora o trajeto seja acrescido em mais 3 quilômetros, ainda é sensato agir dessa forma, do que correr o risco de sofrer um acidente e, eventualmente, precisar interromper a peregrinação.

Já no plano, abrimos e fechamos uma porteira, depois seguimos à direita, pela Fazenda Juroforte, onde pude observar várias pessoas trabalhando dentro de um imenso curral, na ordenha de grande rebanho de vacas.

E por uma larga estrada de terra, nós deixamos a propriedade, giramos à esquerda e, por uma ponte, transpusemos o rio Bicas, já no bairro de Santana, que pertence à cidade de Wenceslau.

Então, mais acima, nós acessemos a BR-459, giramos à esquerda e seguimos pelo acostamento, no sentido contrário ao fluxo de veículos.

O sol logo deu o ar da graça, num céu azul e sem nuvens, porém depois de mais 6 quilômetros caminhados em bom ritmo, adentramos em Wenceslau Braz, nossa meta para aquele dia, quando meu relógio marcava 11 h.

Na cidade ficamos hospedados na Pousada Castelinho, de propriedade de dona Maria da Penha, um amplo espaço, com vários quartos, alguns banheiros, onde é possível se albergar 12 pessoas, com tranquilidade.

Degustando em enorme "PF", no restaurante de dona Lourdes, em Wenceslau Braz

Para almoçar, nós utilizamos os serviços oferecidos pela casa de dona Lourdes onde, por módico preço, pudemos ingerir uma enorme “PF”, preparado com muito capricho e carinho.

 

Célia e dona Lourdes, um amor de pessoa, em Wenceslau Braz 

Havia na região três cachoeiras denominadas: Bicas de Cima e Bicas de Baixo, no atual município de Delfim Moreira, e Bicas do Meio, no atual município de Wenceslau Braz.

O nome Bicas do Meio foi dado pelo bandeirante Lourenço Castanho ao povoado que então se formou.

Na verdade, a cidade originou-se de uma usina hidrelétrica.

Em setembro de 1922, chegou à região uma comissão para estudar o melhor local de cachoeiras, com o intuito de construir a usina.

Depois de visitar várias quedas de água, optaram pela cachoeira dos Negros, pertencente em sociedade aos senhores Joaquim Francisco da Costa, Manoel Rodrigues e negros descendentes de escravos.

Através de desapropriações feitas pela comissão citada, que pertencia ao Ministério do Exército, iniciou-se a construção da barragem, casa de máquinas, casas para os funcionários, estações transformadoras.

No dia 08 de dezembro de 1923, foi inaugurada oficialmente a Usina Hidrelétrica de Bicas do Meio, sendo o primeiro diretor o Major Sílvio Lisboa da Cunha.

Diretor dinâmico e amigo incentivou obras que levassem ao crescimento da cidade como Posto de Saúde e Escola, que mais tarde o colocou como patrono, em homenagem agradecida do povo ao homem que morreu lutando pela usina e sua gente.

Em 1934 visitou Wenceslau Braz, que na época se chamava Bicas do Meio, o Presidente da República Dr. Getúlio Vargas.

No dia 05 de fevereiro de 1941 a Usina recebeu a denominação de REPI – Rede Elétrica Piquete Itajubá, pois fornecia energia elétrica para a região de Piquete (Estado de São Paulo) e Itajubá (sul de Minas Gerais).

Em 1943, Bicas do Meio foi elevada à categoria de distrito de Itajubá, sendo emancipado em 1962.

Igreja matriz de Wenceslau Braz/MG

A mudança da denominação para Wenceslau Braz veio a ocorrer em 1964.

Seu nome é uma homenagem à Venceslau Brás Pereira Gomes, que nasceu em 26 de fevereiro de 1868, na cidade de São Caetano da Vargem Grande, no interior de Minas Gerais, que mudou sua denominação para Brasópolis.

Venceslau Brás foi para São Paulo, onde se formou em Direito na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1890.

Depois, retornou à Minas Gerais, e iniciou sua carreira como promotor público em Jacuí e Monte Santo.

Nesta última cidade, ele debutou na carreira política, sendo eleito vereador e presidente da Câmara Municipal, passando por diversos outros cargos, até se envolver, finalmente, com uma eleição para Presidente do Brasil.

Em 1910, Venceslau Brás formou a chapa presidencial em parceria com Hermes da Fonseca, candidatando-se ao cargo de vice-presidente do Brasil.

A campanha pela eleição do presidente Hermes da Fonseca foi bem sucedida e Venceslau Brás desempenhou o segundo cargo político mais importante do país no período entre 1910 e 1914.

Sustentado pelo apoio dos dois principais estados na política brasileira, Minas Gerais e São Paulo, e amparado pelo acordo entre as elites oligárquicas, Venceslau Brás foi eleito Presidente do Brasil, tomando posse no dia 15 de novembro de 1914.

Seu governo enfrentou conflitos de âmbito interno, com a “Guerra do Contestado”, e externo, com a deflagração da 1ª Grande Guerra Mundial.

Como medida política e social, promulgou em 1916, o primeiro Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor no ano seguinte.

Nos últimos anos de seu governo, o Brasil foi atingido por uma epidemia de “Gripe Espanhola”, provocando a morte de aproximadamente 15 mil pessoas, sendo ele sucedido na presidência por Delfim Moreira, em 1918.

Após completar o mandato presidencial, Venceslau Brás foi morar em Itajubá, Minas Gerais, se tornou presidente vitalício de um grupo de empresas regionais, e foi o ex-presidente que mais tempo viveu até agora.

Porquanto, faleceu aos 98 anos de idade, no dia 15 de maio de 1966.

Como homenagem, três cidades receberam o nome do político mineiro: Wenceslau Braz, uma no Paraná e outra em Minas Gerais, e Presidente Venceslau, no estado de São Paulo.

 

Pousada Castelinho, onde ficamos hospedados em Wenceslau Braz/MG

À tarde, fui acordado pelo alarido de buzinas, rojões, gritos de ordem, isso tudo numa pacata cidade que abriga em torno de 1.300 pessoas em sua área urbana.

Por incrível que pudesse parecer, estava ocorrendo uma manifestação nos moldes daquelas que se alastraram pelo país, mormente nas grandes metrópoles, da qual participavam umas 200 almas, utilizando apitos e portando faixas e cartazes.

O tema ali também era o mesmo, como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e indignação com a corrupção política em geral.

Outra vista da Pousada Castelinho, um construção emblemática e surpreendente

Devidamente acordado pelo buzinaço, dei um giro pela minúscula povoação, depois eu aproveitei para ir conferir o local, na rodovia, por onde eu adentraria rumo à Delfim Moreira/MG, na jornada imediata.

E teria um grande percurso pela frente, aliado ao fato de que os primeiros 15 quilômetros seriam sempre em continua ascendência.

Assim, de comum acordo, e utilizando o conhecimento do marido da Dona Betinha, nós contratamos o Toinho, um excelente motorista, para levar minha mochila e a Célia até o bairro do Charco, no dia seguinte.

No retorno, comprei alimentos e água numa mercearia, depois me recolhi, pois a cidade está situada a 1.000 metros de altitude, ao pé da serra da Mantiqueira, e as noites ali, principalmente no inverno, são extremamente geladas.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de pequena extensão, e, praticamente, com nenhuma dificuldade em termos de altimetria. Salvo, é claro, a trilha que necessita ser vencida, após a passagem pelo bairro Santo Antônio. Conforme já explanado, eu não recomendo a passagem por essa senda em dias chuvosos, face o perigo de algum acidente, pela agudeza do trajeto. Nesse caso, o percurso deverá ser feito pelo asfalto da rodovia BR-459, que segue em direção à Wenceslau Braz. No geral, os primeiros 12 quilômetros do percurso são urbanos e insossos, mas, depois do bairro Santo Antônio, o reencontro com a natureza bruta é agradável e gratificante.

10ª Etapa: WENCESLAU BRAZ à PEDRINHAS (GUARATINGUETÁ) – 44 quilômetros