Primeira Etapa: TAMBAÚ (SP) a CASA BRANCA (SP) - 31 quilômetros

No caminho entre Tambaú e Casa Branca - Abril 2005

 Quiosque turístico - Tambaú SP

A MINHA AVENTURA

Nessa época do ano o sol despontava muito cedo e o café da manhã seria servido no Hotel, somente às 6 horas. 

Assim, para fugir do calor que prenunciava, levantei às 4 h 30 min, ingeri um “pingado” gentilmente preparado pelo vigia do Hotel, para que eu não iniciasse a jornada em jejum, e saí às 5 h, caminhando a passos lentos, por ruas pavimentadas.

Segui as flechas amarelas pintadas nos postes de iluminação pública e a certa altura passei em frente ao cemitério da cidade, lugar de intenso fluxo de romeiros, pois o túmulo do Padre Donizetti se encontra fincado naquele campo santo.

Mais adiante, uns dois quilômetros dali, por asfalto, fleti à direita, e pude apreciar um singelo monumento construído em homenagem a todos que buscam espiritualidade: “O Portal do Caminho da Fé”.

Depois de passar pelo pórtico, alcancei um pequeno riacho, que ultrapassei sobre uma pinguela. 

A partir daí, o relevo sofreu uma leve ascensão, por uma trilha traçada em meio a plantações de milho e cana, margeando, pela esquerda, uma movimentada estrada de terra. 

Mais à frente ela muda de lado, já agora atravessando a Fazenda Graminha.

Após chegar próximo a uma solitária, contudo, enorme e frondosa árvore, virei à direita e segui em direção à empinada encosta, repleta de cascalho e pedras em toda sua extensão.

Com grande esforço, atingi seu topo, onde uma placa afixada num poste de madeira anunciava-me que havia vencido o morro da “Vista Panorâmica”, e estava a 800 m de altitude.

A visão que se descortinava ao meu redor compensou, e muito, toda a energia despendida na escalada.

Segui, então, em meio aos cafezais da Fazenda São Caetano e, mais à frente, passei ao lado de uma casa que se achava fechada, provavelmente porque seus moradores se encontravam trabalhando na roça. 

Avistei, então, alguns pés carregados de jabuticaba que me convidavam a uma parada.

Aproveitei aquela oportunidade para saborear algumas frutas colhidas ali da própria árvore, o que com certeza não aborreceria o dono das mesmas. 

Depois, prossegui em frente até desembocar numa cerca que serve de divisa entre os Municípios de Tambaú e Casa Branca, onde fiz uma pausa para fotos, lanche e descanso.

Reiniciei, então, a caminhada por forte descida já dentro da fazenda Santa Maria, até contornar um lago. 

Não muito longe, encontrei uma singela igrejinha pintada de branco, dedicada a Santo Antônio. Em frente à capela havia providencial banco de madeira, sob copada e ramosa árvore.

A ermida, para minha decepção, se encontrava fechada. 

Porém, uma rápida investigação mostrou-me que o fecho não dependia de chave, pois consistia, simplesmente, num grosso arame amarrado entre as duas folhas de portas azuis. 

Cuidadosamente, desatei-o, e pude fazer tranqüilamente minhas orações naquele ambiente sacro. À saída, tive o cuidado de deixar tudo, tal como encontrei.

Mais adiante a trilha atravessa um extenso laranjal. As frutas maduras apinhavam-se uma sobre as outras e, ao fundo, contrastavam com o verde das folhas, o que me fez lembrar as cores do nosso país.

Diante de tanta fartura não pude resistir, e aproveitei para saborear algumas delas, que serviram para abrandar minha sede, vez que o sol escaldante e o calor opressivo, já principiavam a incomodar.

Por volta das 9 h, passei pela Vila de Coronel Correia, que abrigava uma estação de trem, hoje abandonada e em ruínas. 

À direita, visualizei uma placa indicando a Pousada Fazenda Campo Alegre, que está localizada a 18 quilômetros de Tambaú.

A hospedaria está sediada a aproximadamente 1 quilômetro da trilha, num casarão centenário, sede de uma antiga fazenda de café, e é uma boa opção de pernoite para os peregrinos exauridos.

O Caminho segue então beirando a linha férrea por um tempo, até dobrar à direita e atravessar um pasto, onde uma manada de avantajados bois se alimentava sob o sol matutino. 

Observei-os atentamente, com receio infundado, mas senti um intenso pavor quando, em determinado momento, aqueles enormes animais curiosos puseram-se a caminhar em minha direção.

Por sorte, eu não estava longe da cerca divisória e pude transpô-la, a tempo de evitar maiores aborrecimentos. 

Todavia, soube, posteriormente, que outros peregrinos acabaram por ser molestados nesse mesmo local, de forma que atualmente a trilha foi redesenhada, passando por um sítio vizinho.

No trecho seguinte, andei no meio de uma imensa plantação de batatas, onde dezenas de pessoas trabalhavam, pois coincidentemente era época de colheita dos tubérculos, o que me propiciou observá-las na lida com a terra.

Algumas delas me acenaram felizes, como que desejando boa sorte na jornada. 

Tal demonstração de afeto sem nada pedir em troca, reabasteceu meu espírito de alegria, ocasionando-me um clima de forte emotividade.

Logo à frente, num lugar desabrigado, passei por inúmeros ônibus estacionados, o meio de transporte dos “rurais”, ali presentes. 

O local era plano e descampado, favorecendo que o sol abrasador me crestasse por inteiro.

Desse modo, depois de passar pela Fazenda Capim Fino, moderna propriedade rural que se destina à agropecuária, segui finalmente pela sombra, sob um frondente bosque de eucaliptos.

Surgiu uma casa humilde, fronteiriça à trilha, onde pedi água e fui prontamente atendido. 

Continuei andando por uma estrada arenosa ainda uns três quilômetros até, por fim, encontrar o asfalto, adentrando, então, à zona urbana da cidade.

Sem perder de vista as flechas amarelas, caminhei por ruas movimentadas e barulhentas, até a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, onde aportei às 13 h. 

Do lado do templo há uma Pousada que leva o nome da santa, e fica no alto de um morro, em uma ampla construção que acolhia o antigo Seminário Diocesano, hoje desativado. 

Ali, minha credencial foi carimbada pela Dona Vera, a responsável pelo local.

Casa Branca é considerada a Terra da Jabuticaba por ter aproximadamente 36.000 pés desta variedade frutífera, oferecendo, por conta disso, iguarias como geleias, licores, sorvetes, todos produzidos artesanalmente com a fruta “in natura”.

O município possui diversos casarões da época colonial, horto florestal, bosques, boçorocas, centro de compras, bares e restaurantes, prédios históricos, museus, artistas e escritores como Ganymedes José. 

Assim, destaca-se a cidade, que conta atualmente com 27.000 habitantes e está localizada numa altitude de 708 m.

Por uma questão de comodidade fiquei alojado no Hotel Alfonsus IV, que se localiza próximo à rodoviária local. 

Muito embora não esteja incluído na relação dos estabelecimentos credenciados, divulgado pelo Caminho da Fé naquela localidade, disponibilizou-me excelente acomodação, por preço acessível.

AVALIAÇÃO PESSOAL:

Um percurso bastante agradável e plano, ainda que praticamente desprovido de árvores. Também, os 31 quilômetros a serem percorridos, são uma distância razoável, mormente para a jornada inaugural, quando nosso corpo ainda não está afeito à dura rotina peregrina. Imprescindível, levar-se água em quantidade suficiente, vez que somente encontrei esse líquido com fartura, nos derradeiros quilômetros. Da mesma forma, é vital manter atenção redobrada durante essa etapa, porque o trajeto atravessa por imensas culturas rotativas, e os tratores que trabalham na aração e no cultivo, podem, eventualmente, derrubar ou desaparecer com as setas indicativas, induzindo o peregrino a erros irreparáveis.