Quinta Etapa: ÁGUAS DA PRATA (SP) a ANDRADAS (MG) – 32 quilômetros

Igrejinha de São Jorge - Bairro Bom Retiro

Quase chegando, com Andradas ao fundo e abaixo.

Pico do Gavião - Águas da Prata/SP

A forte chuva que caíra na madrugada, deixou o tempo nublado e frio, propício para caminhar. 

Assim, levantei às 5 h, e meia hora depois, de lanterna na mão, dei início a mais uma etapa de minha romaria.

Segui por ruas iluminadas e desertas até o término do asfalto urbano. 

A partir dali, inicia-se forte subida por veredas ásperas e pedregosas e, na época, com mato alto invadindo a senda.

Lentamente, e com atenção redobrada para não me perder, fui galgando os aclives até desaguar num platô, seguindo, então, em meio a uma pastagem interminável de gado, desviando-me, a todo instante, dos excrementos bovinos depositados ao longo da trilha.

Com o dia amanhecendo, uma vista que se descortinava lá de cima, era de enxergar os olhos. 

Subindo sempre, cada vez que me virava, através de uma cidade de Águas da Prata ir desaparecendo, aos poucos, no horizonte, lá embaixo, numa visão rara e inesquecível.

Mais à frente passei ao lado de uma grande fazenda que se dedica à criação de avestruzes. 

Prossegui, em seguida, por uma estrada de chão deserta, silenciosa e desprovida de árvores.

Meia hora depois, chegava à sede da Fazenda Retiro e, logo à frente, passava defronte à famosa igrejinha amarela dedicada a São Jorge, que ali existe.

Sobre essa capela existe uma história interessante que me foi contada por Iracema: Um casal de médicos peregrinos, ao passar naquele local, tempos atrás, fotografou, de vários ângulos, o templo em ruínas.

Depois, ao revelar o filme, constataram, com enorme surpresa, que a pequena igreja aparecia nas fotos reconstruída e, ainda, com belos desenhos em seus vitrais. 

Impressionados, entenderam ser aquilo uma mensagem celeste.

Por isso, solicitaram ao proprietário da fazenda permissão para reformá-la. 

E, assim, com recursos próprios, deixaram-na conforme aparecia nas fotografias.

O resultado final foi aquilo que contemplei embevecido, infelizmente, apenas externamente, porque, lamentavelmente, por razões de segurança, o local sacro permanece, quase sempre, inacessível à visitação. 

Em razão disso, minhas preces foram proclamadas do lado de fora, ao ar livre.

A partir dali segui por uma estrada vicinal de terra, larga e arborizada, tendo um riacho encachoeirado pelo lado esquerdo. 

À distância, ouvi, em toda a extensão da trilha, a melodiosa e agradável “Sinfonia das Águas”, ao tempo que progredia sempre em continuada ascensão.

A mata úmida, o clima ameno, a vegetação deslumbrante, o trinar dos pássaros, mais a profusão de borboletas que avistei, das mais variadas tonalidades e cores, propiciaram-me uma caminhada contemplativa e extremamente prazerosa.

Às 9 h 30 min, transpus a famosa “Ponte de Pedra”, e mais à frente, passei defronte a estrada que dá acesso ao Pico do Gavião que, com seus 1.663 metros de altura é considerado no “ranking” mundial, o 4º melhor colocado para a prática de vôo livre.

Logo depois, atravessei um riacho, por uma minúscula ponte, e deixei o Estado de São Paulo para adentrar ao de Minas Gerais. 

Naquele local, estava ao nível de 1.143 m, acima do mar.

O Caminho seguiu, então, por uma via larga e movimentada, em ininterrupto aclive, até atingir, após a Fazenda Pinheirinho, a 1.375 m de altitude, o seu ponto mais alto nessa etapa.

Uma placa, colocada num local estratégico, sinalizava que a partir dali restavam, ainda, 8 quilômetros até o final da jornada. 

Daquele local eu podia avistar a Pousada Pico do Gavião, 800 m à frente, à beira da estrada, bem como a cidade de Andradas, ao longe, esparramada sobre um planalto.

Porém, guiando-me por meio das flechas indicativas, defleti bruscamente à direita e passei, primeiro por um pasto, depois por bosques nativos com inúmeras nascentes d’água a cortar a trilha. 

Nesse trecho, praticamente desabei, verticalmente, em direção à minha meta final.

A senda úmida forçou-me a extremos cuidados, para não incorrer em algum escorregão desastroso e, conseqüentemente, numa queda fatídica. 

Ali, naquele lugar, um bando de bugios, confortavelmente instalado nos galhos superiores das árvores, produzia um barulho infernal, certamente, para avisar sobre minha presença na área.

Uma hora depois, sempre descendo, caminhei em meio a imensos cafezais. 

O sol finalmente irrompera por sobre as nuvens, e o calor era afligente. 

Com a garrafa de água vazia, parei numa casa simples, à beira da estrada, e pedi permissão para enchê-la.

Carlos, o garoto que me atendeu, explicou que seus pais se encontravam colhendo café, próximo dali. 

Muito atencioso, forneceu-me o precioso líquido gelado e ofertou-me, gentilmente, algumas laranjas, que agradeci e, vorazmente sorvi, face o adiantado da hora.

Venci mais uma pedregosa ladeira e, já no plano, às 13 h, atingi a zona urbana da cidade. 

Gastei, ainda, meia hora caminhando por calçadas entre os transeuntes, disputando espaço, para, finalmente, às 13 h 30 min, alcançar o Palace Hotel, onde me hospedei.

Andradas, atualmente, com 35.000 habitantes, oferece muitas belezas naturais, muito verde e um agradável clima de montanha. 

Vinho, café, doces, laticínios, confecções, cerâmicas e móveis são produzidos de acordo com os mais altos padrões de qualidade, diversificando o comércio local. 

Sua altitude média é de 898 metros.

Por sugestão do gerente do hotel, fiz minhas refeições no Restaurante União, um local bastante rústico que, todavia, serve comida farta e de qualidade, a preço convidativo.

AVALIAÇÃO PESSOAL:

Um percurso de excelsa beleza, entretanto, de expressiva dificuldade, mormente, para aqueles que iniciam o Caminho, por ser uma jornada relativamente longa e acidentada. Para os que não se sentirem confiantes ou preparados para ir até o final, uma boa alternativa é pernoitar na Pousada Pico do Gavião, que dista 24 milhas de Águas da Prata.