26ª Jornada

26ª Jornada - Xunqueira de Ambia a Orense – 22 quilômetros – “Só Asfalto!”:

A previsão metereológica indicava tempo bom para aquele dia. 

Acordei às 6 h e observei que todo espaço ao redor do albergue se encontrava envolto por forte neblina. 

Seria um percurso bastante curto, se comparado com os outros já sobrepujados, de maneira que, sem pressa, ingeri algumas frutas, aguardei o dia clarear e parti, às 7 h 50 min, sob intenso frio.

    

Atravessei Xunqueira de Ambia em sentido longitudinal, acessei uma estradinha asfaltada e por ela segui até Outerelo, pequeníssimo vilarejo.

Ali as flechas me direcionaram para a direita, no entanto, logo a sinalização desapareceu e me perdi. 

Depois de muitas voltas sem encontrar as “benditas” setas, resolvi retornar ao asfalto e por ele segui até A Pousa.

Nesta vila encontrei um grupo de três hórreos, muito bem conservados, que me chamaram a atenção, pois, guardavam perfeita e singela harmonia com o ambiente ao seu redor.

Esclarecendo, que se tratam de construções típicas da Galícia utilizadas, ainda hoje, para a guarda de grãos, em locais altos e bem protegidos, à salvo dos pássaros e de roedores.

Pouco depois adentrava à Salgueiros, um “pueblo” de razoável porte.

A partir desse povoado, até o final da jornada, todo o percurso é feito obrigatoriamente pela “carretera”, num trajeto insípido e duro, porém, muito bem sinalizado.

    

Sempre descendo, atravessei inúmeras vilas, e em alguns lugares encontrei bares abertos. 

Num deles fiz uma pausa para o café e lanche.

Nesse ritmo, ultrapassei Gaspar, Castellada, Ousende, A Neta, Venda do Rio e Pereiras, este último, um pequeno vilarejo onde avistei abundantes plantações de uvas do tipo “Ribeiro”, famosíssimas na Espanha pelo especial vinho extraído da fruta.

Em seguida, passei por Castellada e, depois, por Reboredo, a povoação mais importante que cruzei desde o início desta jornada. 

Nela está localizado o polígono industrial de Orense.

Ali o intenso tráfego de veículos, aliado ao ensurdecer barulho dos maquinários em ação, além da intensa poluição expelida pelas chaminés das fábricas provocam um choque nos peregrinos acostumados ao silêncio e o ar puro das trilhas rurais.

Uns 5 quilômetros depois, atravessei a pequena vila de Seixalbo, um “pueblo” diferente, com inúmeras  casas de ardósia e dois bonitos cruzeiros feitos de pedra maciça. 

Na parte mais alta da urbe, destaca-se a igreja de San Breixo, construída no século XII.

    

Adentrei à zona urbana, quase sem notar, e quando as flechas misteriosamente desapareceram, aproveitei e conversei com passantes. 

Assim, às 12 h  30 min, cheguei à Plaza Mayor de Ourense, simpática cidade, capital de Província de mesmo nome.

Sua origem data o século VI, quando os reis Teodoro e Mirón estabeleceram ali sua corte. E seu nome deriva de um topônimo, de origem germânica.

No caso, “Wrum sae”, significa “lago quente”. 

Tomando-se como referência a Avenida de Zamora, chega-se à “As Burgas”, um manancial termal com um caudal de 300 litros por minuto, onde a água sai a 67º C.

Subindo por algumas escadarias, no topo de uma elevação, encontrei o convento de São Francisco, uma faustosa construção datada do ano de 1.305. 

Lá existe um albergue particular, no entanto, só abriria às 14 h para receber os peregrinos.

Como havia principiado a chover e me encontrava exausto, optei por me hospedar no Hostal Cândido (22 Euros), situado na Avenida del Progresso.

Orense é uma bela, rica e progressista cidade. 

No seu centro histórico, além de interessantes monumentos, existem inúmeros e sofisticados restaurantes.

Após, reconfortante banho, num deles, almocei soberbamente, por 8 Euros.

Retornando ao local de pernoite, encontrei em uma rua Francisco, o português, que informou estar alojado juntamente com Miquelle e Olaf, no “refúgio” onde eu havia desistido de dormir.

Mais tarde fui conhecer a grandiosa Catedral de San Martin, do século XII.

Uma surpresa agradável, pude assistir a uma missa e participar da comunhão, posto que havia iniciada a celebração em uma de sua inúmeras capelas internas.

Depois, me detive por largo tempo ante o Pórtico do Paraíso, construção policromática realizada por um discípulo, cuja entalhadura foi inspirada no Pórtico da Glória, excepcional obra do mestre Mateo, situada no átrio da Catedral Compostelana.

À noite, fiz apenas um lanche no quarto do Hostal e deitei cedo, já me preparando para a difícil e extensa jornada que enfrentaria no dia seguinte.

 

Resumo: Tempo gasto: 6 h – Sinalização: Boa, contudo, aconselho que o percurso seja feito desde Xunqueira, integralmente pelo asfalto, evitando-se, assim, desencontros, como me ocorreu - Clima: Tempo nublado, temperatura variando entre 4 e 12 graus.

 

Impressão pessoal: Uma etapa sem maiores dificuldades, talvez, a mais fácil e insossa de todas que fiz, porquanto, sempre em pronunciado descenso, muito embora, a lamentar, seja ela toda feita por asfalto.