4º dia – PADRÓN a SANTIAGO DE COMPOSTELA – 25 quilômetros

Enquanto você se move em direção a um sonho, o sonho se move em sua direção.

Seria a derradeira jornada e eu pretendia aportar cedo a Santiago, com tempo para abraçar o Apóstolo, receber a “Compostela”, me hospedar numa pensão e, se tempo houvesse, assistir à missa dos peregrinos, às 12 horas.

Dessa forma, resolvi sair bem cedo, como forma de agilizar minha chegada ao destino, assim, levantei às 5 h e, exatamente, às 6 h, deixei o local de pernoite, seguindo por uma calçada à beira da N-550.

A rodovia nesse trecho é bastante movimentada e, a janela do meu quarto ficava defronte para ela, então, meu sono foi algo fragmentado e improdutivo.

Mesmo assim, eu estava bastante animado, afinal, iria rever, abraçar e agradecer Santiago novamente, e mesmo sendo a 15ª vez que lá aportaria a pé, a emoção e a gratidão eram as mesmas no caminho inicial, em 2001.

Depois de um quilômetro percorrido, passei diante da Colegiata de Iria Flávia onde, conforme esperava, estava tudo silencioso e às escuras.

Logo as flechas me remeteram à esquerda, para passar pelos povoados de Rueiro, Cambelas, Anteportas, Tarrío e Vilar, porém como o dia ainda demoraria a raiar, optei, como, praticamente, todos os peregrinos que partem nesse horário matutino, em seguir diretamente pela N-550.

E, após 6 quilômetros vencidos em um bom ritmo, passei pelo Santuário de Esclavitude, um grande edifício em estilo barroco tardio, cuja construção demorou quase 3 séculos, e só se encerrou em 1886.

Nove quilômetros superados, observando as flechas amarelas, finalmente, eu deixei a Rodovia Nacional, para adentrar à esquerda, numa “carretera” vicinal.

Ali tomei a direção do povoado de Teo, localizado na divisa de Pazo de “O Faramello”, onde os italianos Piombino y Gambino montaram uma fábrica de papel em 1710.

Quando fui adentrar à terra, finalmente, 7 peregrinos que haviam dormido no albergue de peregrinos situado em Teo também estavam acessando a trilha e eu conheci uma brasileira, a Maura, que reside em Curitiba e iniciara seu Caminho na cidade do Porto.

Seguimos conversando animadamente e, a partir desse marco, nós alternamos percursos em terra com outros em asfalto, e como tudo estava muito bem sinalizado, não tivemos dúvidas em encontrar o rumo a seguir.

Ao suplantar pequeno outeiro, passamos diante da pequena ermida de São Martinho e do famoso Cruzeiro de Francos, do século XIV, um dos mais antigos da Galícia, onde se acha entalhado um cristo gótico.

Na sequência, voltamos a caminhar por sendas e rodovias vicinais asfaltadas para, depois, adentrar em Miladoiro, um bairro afastado de Compostela, onde passei diante da Capela de Maria Magdalena, situada em pleno centro urbano.

Num bar ali situado, entramos para tomar um café e carimbar a credencial.

Prosseguindo, quinze quilômetros vencidos, quando o dia finalmente clareou, nós deixamos a civilização, adentramos num bosque, depois, mais abaixo, fizemos vários giros intermediários para fugir da Autovia Nacional e das linhas férreas para, em seguida, em leve ascenso, adentrar aos bairros periféricos de Santiago.

Nessa sequência, passei por Santomil e Amañecida, e sempre em aclive, ultrapassamos uma grande rotatória, transitei diante do Hospital Clínico, depois giramos à esquerda e, sempre em leve ascendência, seguimos pela Avenida Rosália de Castro.

Mais acima, transitamos pela rua Alameda e a antiga Porta Faxeira, que nos deixou na Rua de Franco.

E, por ela, finalmente, aportamos à Praça do Obradoiro.

Chegamos!

Momento jubiloso e alegre, sem palavras para descrever, assim, depois das fotos, fomos receber as nossas Compostelas.

Na sequência, me hospedei numa Pensão, tomei banho, depois, fui almoçar no restaurante Manolo, a autêntica “Casa do Peregrino” nessa milenar cidade.

No dia seguinte, às 12 h, assisti à Missa dos Peregrinos que, atualmente, face à interdição do interior da Catedral Compostela para reformas, se realiza na Igreja de São Francisco de Assis, onde é permitido adentrar ao recinto com bolsas e mochilas.

Depois da cerimônia dei por encerrada minha peregrinação e, ato contínuo, embarquei de volta ao meu querido Brasil.

Algumas fotos do percurso desse dia:

O milenar cruzeiro de Francos, século XIV.

Caminhos hidratados..

A Maura, minha companheira na parte final, consulta seu aparelho celular...

Muitas flores para alegrar o dia.

Em descenso após o bairro Miladoiro.. quase lá!

Pouco antes de acessar a parte urbana, um fresco bosque galego...

Chegamos, novamente! Obrigado meu bom Deus! Santiago, gratidão eterna!

Com a Catedral de Santiago em reformas interiores, os novos locais das missas diárias.

IMPRESSÃO PESSOAL - Uma etapa tranquila, plena de emoções e com muito verde no caminho. No geral, um trajeto com pequenas mudanças altimétricas na qual, a partir da metade da jornada, caminhei em companhia da Maura, uma brava peregrina brasileira, que comigo aportou à Praça do Obradoiro, ponto final desta longa e recompensadora viagem. De se ressaltar que os derradeiros 10 milhas discorrem sobre asfalto, porém a alegria do aporte final nos faz esquecer qualquer dor, ao revés, o prazer da chegada e o abraço no Santo compensam todo o esforço despendido.