15ª Etapa – SÃO PEDRO DE RATES à BARCELOS – 17 QUILÔMETROS

15ª Etapa – SÃO PEDRO DE RATES à BARCELOS – 17 QUILÔMETROS – “A LENDA DO GALO

“Depois do sufoco vivenciado ontem, esta etapa curta e tranquila cai muito bem e, ademais, oferece durante em seus primeiros quilômetros um agradável passeio, num ascenso suave e quase imperceptível. Passada a cidade de Pedra Furada, a rota jacobeia começa a descender em busca do vale do rio Cávado, onde se assenta Barcelos, uma das vilas monumentais do norte de Portugal. A cidade é um excelente final de etapa: plena de monumentos, de pequeno porte, e muito acessível para o caminhante, além de oferecer bons serviços. Lastima-se, porém, que tenha fechado seu albergue de peregrinos, sendo que até o momento, não há previsão da abertura de um novo. Aqueles que iniciaram seu caminho em Lisboa, devem ter notado que conforme avançamos em direção ao norte, a presença das pegadas santiaguinas é maior. Esta evidência se manifesta em Barcelos, cujo emblema de galo, convertido também em símbolo de Portugal, deriva de uma lenda Compostelana que, para quem já fez o Caminho Francês, vai se parecer muito com a de Santo Domingo de la Calzada: aqui também teve um galináceo que cantou depois de assado.” (Traduzido/transcrito do Guia El País Aguilar, edição do ano de 2007, que utilizei na viagem)

 

A jornada seria fácil e curta, mas, conforme soubemos, estavam ocorrendo festas na cidade de Barcelos e, por ser um sábado, mesmo tendo providenciado a reserva do hotel, também, resolvemos sair bem cedo, como forma de aproveitar melhor o dia.

Assim, levantamos às 6 h, tomamos o café da manhã com o Sr. Pedro e esposa, e, pontualmente, às 7 h, depois de fraternais despedidas do simpático casal, demos início ao nosso percurso diário.

Logo passamos defronte ao albergue de peregrinos, depois, da capela de Santo Antônio e, na sequência, acessamos uma preciosa estrada rural situada em meio a imensos vinhedos, milharais, pastagens e abundantes bosques de eucaliptos.

Nesse trecho, passamos por pequenas vilas como Lameiro, Reguengo e Vilar, sendo que depois de 5 quilômetros caminhados, através de uma paisagem campestre extremamente verde, saímos numa rodovia vicinal asfaltada.

Logo depois, uma flecha mandou-nos girar bruscamente na direção oeste, porém 300 metros depois indicou outro giro na direção sul, o que nos deixou a impressão de que estávamos retornando ao ponto de partida.

No entanto, mais 300 metros e retomamos a direção norte, seguindo por uma senda de terra em direção de Ferrado para, alguns minutos depois, sairmos na nossa velha conhecida rodovia N-306.

Em seguida, passamos próximo de uma igreja, localizada junto à Quinta Santa Leocádia que hoje, na verdade, se transformou em um alojamento de turismo rural.

Mais um quilômetro vencido, atravessamos as minúsculas vilas de Real de Cima e Real de Baixo, onde havia uma capela com uma cruz de Santiago, cuja imagem me recordava que eu estava pisando por um roteiro antigo e tradicional.

Uma hora caminhando, acabamos por adentrar em Pedra Furada, esta sim, uma povoação de razoável tamanho que se confunde com Goios, porque ambas, praticamente, dividem o mesmo núcleo urbano.

Até aquele local, o caminho se manteve agradável e bucólico, com muito verde no entorno, caminhos em terra e pouco trânsito de veículos.

Porém, já deixando a cidade, acessamos a temível N-306, novamente, e por ela, depois de 3 quilômetros, adentramos em Pereira, uma pequena vila que atravessamos por sua avenida central.

No final da cidade, viramos à esquerda, para acessar a rodovia M-555, e por ela atravessamos pequenos vilarejos como: Pontegaos, Monte de Cima, Fuloes, Pereiró (Carvalhal), Vila Cha, Porto Carreiro, Santa Cruz e Mercedes.

Todas minúsculas vilas, que estão praticamente grudadas, com casas disseminadas ao longo dos dois lados da “carretera”.

Nesse trecho específico, encontramos bastante comércio, como bares, padarias e mercearias, mas como estávamos bem alimentados, seguimos adiante sem dificuldade, vez que o Caminho a partir da cidade do Porto, está muito bem sinalizado.

Nesse passo, ao final de uma longa reta, nós cruzamos um polígono industrial, atravessamos sob a Autopista Nacional por um túnel, e logo adentramos em avenidas largas e movimentadas, já na cidade de Barcelinhos, onde existe um albergue de peregrinos.

No final de uma grande baixada, passamos ao lado da capela de Nossa Senhora da Ponte, uma ermida construída em 1328, onde existia uma bica d’água e bancos, para que os peregrinos pudessem se lavar e descansar, antes de atravessarem as muralhas da cidade.

Prosseguindo adiante, transpusemos o impetuoso rio Cávado, sobre uma ponte gótica medieval, construída no século XIV, constituída de 6 arcos de ampla luz.

Já do outro lado, ascendemos por uma pequena ladeira, saímos diante da igreja matriz da cidade e, num largo em frente, pudemos admirar a estátua de um galo, símbolo não só de Barcelos, como de Portugal, e significa: serenidade, fé, confiança e honra.

Seguimos adiante por ruas impecavelmente limpas e com expressivo movimento, e fomos sair defronte à igreja do Bom Jesus da Cruz, construída em 1504, localizada numa extensa praça, onde existe um chafariz ornamental.

Ali tomamos informações com passantes e logo adentrávamos ao Residencial Arantes, local onde ficaríamos hospedados.

O relógio marcava 11 h, bastante cedo para pensarmos em comida.

Então, aproveitei meu tempo livre para lavar roupas e reorganizar todos os pertences contidos em minha mochila.

Depois, saímos amigo e eu dar uma volta pela urbe, para conhecer e fazer uma visita ao mercado municipal e ao supermercado.

Em seguida, fomos almoçar e, para tanto, utilizamos os serviços da Churrascaria Furna, onde a especialidade da casa é o bacalhau assado, de excelente qualidade. 

Barcelos é uma das vilas históricas de Portugal, foi fundada em 1166, por Afonso I, de Portugal, e na época em que Confalonieri passou por ela, no século XVI, era uma cidadela gótica, cercada por poderosas muralhas.

À direita da igreja matriz, estão os restos do que sobrou do imponente Paço Ducal, que foi um esplêndido palácio do 8º duque de Barcelos, porquanto, o edifício sofreu grandes danos no terremoto de 1755, o mesmo que devastou Lisboa e, infelizmente, nunca mais foi reconstruído, ainda que sua estrutura principal se mantenha em pé.

Hoje, a cidade alberga o Museu Arqueológico, situado ao ar livre, e entre suas peças, a mais interessante é o Cruzeiro Padrão do Galo (século XIV), testemunha do célebre milagre do “enforcado”.

Diz a lenda, que há muito tempo, os habitantes de Barcelos se sobressaltaram, porque no povoado, normalmente calmo, tinha ocorrido um crime vergonhoso e, ainda mais, apesar dos esforços das autoridades, o assassino não havia sido preso.

Um dia apareceu um forasteiro galego na cidade, e os moradores não tardaram em suspeitar dele.

As autoridades resolveram detê-lo, e apesar dele jurar inocência, dizendo mais de mil vezes, que era um peregrino se dirigindo à Santiago de Compostela, foi preso e condenado à forca.

Seu último desejo antes de ser executado, foi que o levassem novamente até o Juiz que havia prolatado sua sentença, que naquele momento participava de um banquete com os amigos.

Ante a insistência do réu, o magistrado disse: “É tão certo que és inocente, como que este galo assado que nos vamos comer, cantará quando te enforcarem.”

Para surpresa de todos, assim se sucedeu, pois o galo cantou e a execução foi suspensa a tempo.

Anos depois, o galego retornou para levantar em Barcelos um monumento à Santiago e à Virgem Maria.

Os peregrinos que já percorreram o Caminho Francês, irão recordar desse milagre, pois aconteceu o mesmo com uma galinha em Santo Domingo de la Calzada, onde ela também cantou depois de assada. 

À tarde, depois de merecido descanso, saímos conhecer a cidade mais detalhadamente, e pudemos visitar sua igreja matriz, o Paço Ducal, bem como fotografar atrás do templo, o magnífico Paço do Concelho, onde atualmente funciona a Câmara Municipal.

No retorno, fomos visitar o Campo da Feira, tradicional parque da cidade, onde ocorria uma animada festa, com desfile de estudantes e confrarias devidamente paramentados.

O detalhe interessante é que toda movimentação barulhenta e alegre, era acompanhada por vários trios elétricos que, pasmem, tocava música, popular e sertaneja, brasileira.

Na sequência, eu segui as flechas amarelas por um bom tempo, como forma de minimizar tal trabalho na jornada seguinte, que seria bastante longa.

E, logo me recolhi, pois a temperatura havia baixado e fazia muito frio nas ruas.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa curta e bastante agradável até o sexto quilômetro, pois integralmente trilhada em terra. O restante foi em piso asfáltico, porém, quase sempre por rodovias vicinais, que apresentavam escasso tráfego de veículos, além de transitar por inúmeros, porém minúsculos centros urbanos. O ponto alto, sem dúvida, foi a cidade de Barcelos, uma urbe belíssima e muito bem conservada. No geral, um trajeto praticamente plano e que não apresenta nenhuma dificuldade ao peregrino em termos físicos.

16ª Etapa – BARCELOS à PONTE DE LIMA – 34 QUILÔMETROS