6º dia: ESPRAIADO DO GAMARRA à CAXAMBU – 21 quilômetros

6º dia: ESPRAIADO DO GAMARRA à CAXAMBU – 21 quilômetros

Anjo do dia: IERATHEL - Significado do nome: Proteção de Deus, vontade, harmonia e equilíbrio”

O Nadinho nos alertou de que o trecho entre seu bar e a entrada da cidade de Baependi, também, sofrera a ação das máquinas da Prefeitura, assim, continha muita terra solta no piso, o que ocasionava nuvens de poeira quando da passagem de veículos motorizados.

Dessa forma, para fugir desse malefício, combinamos a Célia e eu sair bastante cedo, de forma que marcamos o café da manhã para as 5 h.

E, pontualmente nesse horário, o Nadinho abriu a porta lateral de seu bar, permitindo que adentrássemos em seu interior, para ingerir um espesso café, acompanhado de pão e queijo.

Ainda, nos proveu de frutas, para o lanche que faríamos no caminho.

Despedindo-me do simpático e prestativo Nadinho, proprietário do bar e pousada localizada no Espraiado do Gamarra.

Então, após fotos e despedidas, deixamos o local de pernoite às 5 h 30 min, seguindo por uma estrada silenciosa e vazia.

Ainda estava escuro, mas a minha lanterna de mão iluminava com folga o ambiente, de forma que seguimos sem maiores atropelos.

Com o dia lentamente clareando, pudemos observar muita cerração nas baixadas, sinal certo de que o sol viria forte novamente.

Esse trecho é quase todo plano, fazendo-me inferir que os profundos abismos e as íngremes elevações haviam ficado definitivamente para trás.

Depois de vencermos 6 quilômetros, transitamos pelo vilarejo das Índias, onde avistei um bar, um cruzeiro e uma igrejinha, além de algumas casas esparsas.

O trajeto prosseguiu bucólico, sempre entre grandes fazendas de gado leiteiro, a tônica nesse “tramo” do caminho.

No caminho para Baependi/MG

Alguns carros e motos já circulavam pela estrada, obrigando-nos a estugar os passos, visando fugir da malfadada poeira.

No caminho para Baependi/MG

O sol, já alto, tentava de todas as formas furar um espesso colchão de neblina e ainda não perturbava, vez que o clima se mantinha fresco e propício para a caminhada.

Depois de vencer algumas grandes retas, finalmente, adentramos em piso asfáltico e prosseguimos caminhando pela periferia da cidade de Baependi.

Esse trajeto se mostrou duro e monótono, vez que em alguns momentos precisamos dividir o caminho com veículos, pois em certos trechos não existem calçadas.

Depois de tenso percurso, já que em face do horário o trânsito se fazia intenso, acabamos por sair num trevo, onde entramos à esquerda.

Seguimos, então, pela Avenida Juscelino K de Oliveira, por mais um quilômetro, até adentrar à esquerda novamente e, logo, chegar diante da igreja matriz da cidade.

Ali fizemos uma pausa para fotos e uma visita no interior do templo, que é dedicado à Nossa Senhora de Monteserrat, uma construção datada de 1754.

Contendo um rico acervo, sua mistura de estilos barroco e rococó, é a única do gênero no Brasil, tendo sido considerada Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Igreja Matriz de Baependi/MG

Baependi significa “clareira aberta”, e trata-se de uma cidade remanescente do ciclo do ouro, que se desenvolveu ao longo do caminho da Estrada Real - a primeira grande via de comunicação regular no Brasil -, que ligava a região das minas a Paraty, no Rio de Janeiro, porto de onde saía o ouro em direção à Europa.

Os antigos casarões são testemunhas dessa época e recontam a história da cidade.

Ela foi fundada por Antônio Delgado da Veiga, seu filho João da Veiga, e Manoel Garcia, provindos de Taubaté em busca de ouro, em fins do século XVII.

Atualmente, a economia do município é baseada na agricultura, no comércio, no artesanato, na comercialização de pedras de quartzito e no turismo, já que a beleza natural é o forte da cidade, cercada de montanhas, matas, rios e inúmeras cachoeiras.

Situada na Serra da Mantiqueira, a cidade faz parte do Circuito das Águas, que compreende diversas estâncias hidrominerais, com propriedades medicinais e terapêuticas.

O clima da cidade é agradável e a riqueza natural propicia uma das melhores qualidades de vida, sendo um lugar para encontrar paz, descanso, relaxamento e bem-estar.

É nessa tranquilidade que muitos artesãos fazem seus trabalhos em bambu, palha de milho, cipó e árvore de café, transformando-os em cortinas, bolsas, cachepôs e variadas cestarias que tem grande fama devido à boa qualidade das peças. De todos os tamanhos e formatos, são excelentes para decorar uma bela cesta de café da manhã ou cesta de natal.

A calmaria da cidade só foi perturbada em 1979, quando um agricultor relatou seu encontro com alienígenas.

Isso causou grande repercussão, atraindo muitos ufólogos e jornalistas, que foram à cidade para ver o local de pouso da nave vinda do espaço, mas até hoje é considerado um mistério.

Santuário de Nhá Chica, em Baependi/MG

Depois, de tomarmos informações com um simpático transeunte, rumamos em direção ao Santuário da Nhá Chica, vez que esse templo está um tanto distante do roteiro por onde discorre o Caminho dos Anjos.

Então, quando ali chegamos, fizemos demorada visita em seu interior, podendo orar diante da imagem da Beata e de seu túmulo.

Imagem de "Nhá Chica", localizada dentro de sua igreja, em  Baependi/MG

Atualmente a cidade de Baependi também tem atraído muitos peregrinos ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido como Igreja de Nhá Chica, que é considerada um patrimônio espiritual da cidade.

A religiosidade tem destaque dando foco a Francisca de Paula de Jesus, carinhosamente chamada de NHÁ CHICA, filha de mãe escrava e, supostamente, senhor branco.

Perdeu sua mãe aos dez anos de idade, e teve que enfrentar a vida junto com seu irmão de 12 anos, sob os cuidados de Nossa Senhora.

Era analfabeta, não aprendeu a ler e escrever, e das escrituras sagradas ela só conheceu, porque alguém ia ler para ela e, mesmo assim, ela detinha grande sabedoria.

O túmulo de Nhá Chica, Baependi/MG

Nunca se casou, e dedicou sua vida integralmente aos pobres, dando conselhos a todas as pessoas que a procuravam. Comerciantes e homens de negócios iam conversar com ela e ouvir seus conselhos, sendo que muitos a consideravam uma santa e não tomavam decisões sem antes consultá-la.

Nhá Chica era uma senhora que tinha dons de clarividência, a quem muitos iam pedir orientações, porém ela não se considerava santificada, dizia que apenas rezava com muita fé.

Falecida em 1895, aos 87 anos de idade, sua beatificação aconteceu no dia 4 de maio de 2013, em Baependi, numa cerimônia presidida pelo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, o cardeal Ângelo Amato, representante da Santa Sé, que anunciou a data de 14 de junho como a festa litúrgica em memória de Nhá Chica.

Desta forma, Nhá Chica se tornou a primeira leiga e negra brasileira a ser declarada beata pela Igreja Católica.

Finda nossa visitação ao Santuário, retornarmos ao centro da cidade e ali prosseguimos pela rua Dr. Manoel Joaquim, por onde discorre o roteiro do Caminho dos Anjos.

500 metros depois, num trevo, tomamos à esquerda e logo encontramos os totens da Estrada Real e os marcos do C.R.E.R, pois nesse trecho os 3 caminhos seguem o mesmo itinerário.

No trecho entre Baependi e Caxambu/MG, o Caminho dos Anjo discorre pelo mesmo leito da Estrada Real e do CRER.

A estrada larga e com piso empedrado, apresentava relativo movimento de veículos, porém em muitos “tramos” a mata lateral proporcionava sombra e, consequentemente, um refrigério amigo, pois o sol já crestava sem dó.

A Célia acabou por se distanciar à minha retaguarda, e eu prossegui escoteiro, em bom ritmo, pois esse derradeiro trajeto é integralmente plano.

Trecho do caminho localizado entre Baependi e Caxambu/MG

Em alguns trechos sequentes, a mata se enlaçava sobre a estrada, produzindo verdadeiros túneis de vegetação, um presente ao peregrino já cansado.

Trecho do caminho localizado entre Baependi e Caxambu/MG

Depois de cinco quilômetros vencidos, iniciou-se o asfalto e, sobre ele, prossegui em zona urbana, transitando por bairros periféricos

Seguindo as orientações da planilha que portava, e sem maiores dificuldades, aportei ao Hotel Bragança, uma construção centenária e preservada, estrategicamente situada defronte à entrada do Parque das Águas de Caxambu.

Quarenta minutos mais tarde, a Célia também chegou e combinamos ir almoçar ao redor das 13 horas.

Parque das Águas de Caxambu/MG

As virtudes das águas de Caxambu foram essenciais para o surgimento da cidade.

Em 1674 a bandeira comandada por Lourenço Castanho Tazques alcançou o sopé de um morro de nome "Cachambum", vencendo os índios Cataguases e empurrando-os para o oeste.

Passaram desapercebidos pelas fontes que, embora muito bem escondidas na densa mata, denunciavam sua presença pela fertilidade daquelas terras.

É difícil estabelecer quando elas foram efetivamente descobertas, mas o certo é que foram achadas aos poucos, muitas vezes por acaso.

Parque das Águas de Caxambu/MG

Uma data significativa é 1748, com a construção, por Estácio da Silva, de uma capela homenageando Nossa Senhora dos Remédios, fazendo crer que ele possa ter experimentado as qualidades de alguma fonte.

Seja como for, o pequeno e espalhado povoado, pertencente à freguesia de Baependi, passaria mais tarde a ser chamado de Nossa Senhora dos Remédios de Caxambu.

Duas fazendas (das Palmeiras e Caxambu) existiam nas redondezas em 1814, e provavelmente seus funcionários tenham se deparado com algumas fontes.

Após beberem da água - e constatarem seu sabor estranho - deram origem aos rumores que se espalharam por toda a região.

Em 1841 o lugar já era bastante visitado por pessoas acometidas das mais diversas enfermidades como reumatismo, lepra, cegueira e até mesmo loucura.

Temendo a contaminação, o juiz de Baependi determinou a retirada de todos.

Somente em 1844 surgiram as primeiras construções, quando Felício Germano Mafra desbravou o matagal, descobriu três novas fontes, e executou benfeitorias para que os enfermos pudessem aproveitar melhor as águas.

Mafra foi encarregado desta tarefa por Antônio de Oliveira Arruda, fazendeiro de Barra Mansa, que teve sua esposa curada pelas águas de Caxambu.

Mesmo com as melhorias, o desenvolvimento do lugar era demasiado lento e ainda não se viam casas nos arredores das minas até 1852.

Parque das Águas de Caxambu/MG

Visitas ilustres chegaram em 1868, nada mais que a Família Imperial do Brasil.

Vieram da Corte, sabedores das magníficas qualidades das águas do lugarejo, onde permaneceram por um mês.

Dom Pedro II, dona Leopoldina, o duque de Saxe, a princesa Isabel e seu marido conde D' Eu, batizam algumas fontes do Parque das águas.

Após tratamento, a princesa Isabel, que sofria de anemia, engravidou e, como gratidão, mandou erigir a igreja de Santa Isabel de Hungria.

Contudo, nem os hóspedes imperiais conseguiram motivar o crescimento de Caxambu.

Parque das Águas de Caxambu/MG

A situação só começou a mudar em 1875, com a abertura de concessão para a exploração das minas.

A Companhia das águas Minerais de Caxambu, organizada em 1886, pelo Dr. Policarpo Viotti, realizou importantes obras como captação das águas, drenagem, construção do balneário e casas para aluguel, cuja concessão foi transferida em 1890 para o conselheiro Francisco de Paula Mayrink.

As propriedades medicinais das fontes de Caxambu foram estudadas em 1893 por uma comissão de químicos e médicos da Academia Nacional de Medicina.

Caxambu floresceu no início do século XX, pois possuía estação de trem, hotel, se emancipou de Baependi e, a partir daí, se tornou um dos principais pontos turísticos de Minas Gerais, junto às demais cidades do Circuito das Águas.

Recebeu visitantes influentes, como o jurista e político Rui Barbosa, que declarou: "Caxambu é um jardim de florescência deslumbrante".

O município espalhou a fama milagrosa de suas fontes pelo mundo e, para se ter uma ideia, em 1922 existiam permanentemente na cidade oito orquestras, contratadas exclusivamente para alegrar os hotéis e cassinos.

As águas passaram a ser engarrafadas sem contato manual e exportadas em 1956.

Mais tarde, após um bom cochilo, fomos visitar o Parque das Águas de Caxambu, instalado numa área de 210.000 m2.

Ali encontramos bosques, lagos, quadras esportivas, pista de cooper, pedalinhos, piscina de água mineral corrente e um agradável Balneário Hidroterápico, que oferece banhos carbogasosos e de imersão, sauna, duchas e massagens.

As águas jorram de 12 fontes, cada uma delas com sua indicação terapêutica apropriada.

Placa explicativa, localizada diante de fonte homônima, dentro do Parque das Águas de Caxambu/MG

Nós ingerimos o precioso líquido em todas elas, sendo que uma das mais famosas é a Fonte D. Isabel/Conde D’Eu, de onde jorra água mineral bicarbonatada, alcalina terrosa cálcica, alcalino terrosa magnesiana, ferruginosa, carbogasosa, fluoretada e radioativa.

Que é indicada como tônico geral, com ação antianêmica, bem como para casos de debilidade do organismo e astenia, vez que além de ferruginosa, ela possui radioatividade e outras riquezas como o magnésio, cálcio, flúor, sílica e estrôncio, tornando-se um verdadeiro alimento vivo.

A fonte onde D. Pedro II bebia água diariamente, localizada no interior do Parque das Águas de Caxambu/MG

Outra, também muito procurada, é a Fonte Dom Pedro, a mais antiga e simbólica do Parque das Águas, que possui interessante construção em estilo greco-romano, sendo um dos cartões-postais da cidade.

Sua captação ocorreu em meados do séc. XIX, e o pavilhão atual, de inspiração neoclássica, foi construído no início dos anos 60.

O prédio em que ela se encontra possui cúpula apoiada por pilastras grossas, não tendo paredes, e em seu interior, encontra-se uma réplica da coroa que pertenceu a Dom Pedro.

Atualmente, ela é considerada a mais importante do Parque pelo seu engarrafamento e venda comercial, tratando-se de uma de água mineral carbogasosa, bicarbonatada, alcalina terrosa, fluoretada, radioativa forte e altamente gasosa, sendo apropriada como água de mesa, por sua natureza digestiva.

Por isso mesmo, ela é indicada como estímulo à digestão, para as dispepsias e digestões lentas e insuficientes, estimulante do apetite, e sua forte radioatividade purifica o sistema hepatorrenal, diluindo a bile e a urina, além de facilitar a expulsão de resíduos da vesícula biliar e das vias urinária.

Parque das Águas de Caxambu/MG

Após percorrermos todas as dependências do vastíssimo e muito bem cuidado recinto do Parque, tentamos fazer um passeio de teleférico, porém ele já se encontrava inativo, em face o horário.

Foi um tanto frustrante, pois sabíamos que do alto do Morro de Caxambu, a 1.090 m de altitude, teríamos uma vista privilegiada da cidade e de toda a região ao redor.

Igreja de Santa Isabel da Hungria, em Caxambu/MG

Assim, na sequência, fizemos uma visita à igreja de Santa Isabel de Hungria, cuja construção teve início em novembro de 1868, em cumprimento a uma promessa da princesa Isabel.

Porém, a consagração do templo só aconteceu em 1897, quando o Brasil já era República, e a família real se encontrava no exílio.

A arquitetura da igreja é em estilo neogótico, utilizado a partir da segunda metade do século XIX para a edificação de templos religiosos.

No frontispício estão os elementos característicos do gótico – arcos de ogiva e uma rosácea com vitrais.

Igreja de Santa Isabel da Hungria, em Caxambu/MG

Infelizmente, ela também se encontrava fechada, restando-nos tão somente fotografá-la pelo lado externo.

Vista parcial Caxambu/MG. Ao fundo, a sua igreja matriz, vestida de verde.

Na sequência, fomos até a igreja matriz de Caxambu, cuja padroeira é Nossa Senhora dos Remédios, onde pudemos fazer demorada visita em seu interior.

Igreja Matriz de Caxambu/MG

À noite, atendendo a um gentil convite, fomos jantar com o Alexandre Gaspar, o responsável pelo Caminho dos Anjos, que estava acompanhado de sua esposa Madalena.

Foram momentos gratificantes e de intensa troca de informações, porquanto o Alexandre também é um peregrino de “mão cheia”, tendo percorrido, dentre tantos outros, o Caminho de Santiago por 7 vezes.

Junto com a Célia, jantando com o simpático Alexandre Gaspar e sua esposa Madalena, em Caxambu/MG. Ele é o criador e o responsável pelo Caminho dos Anjos, um roteiro belíssimo!

Ele declinou seus planos futuros para Caminho dos Anjos, depois pediu nosso “feedback” sobre o roteiro que estávamos prestes a concluir.

A refeição estava excelente, a cerveja gelada, a conversa interessante, mas tínhamos uma jornada difícil no dia seguinte bem cedo, de forma que após fraternais despedidas, nos recolhemos.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de pequena extensão e, praticamente, toda plana. O ponto alto e imperdível é a visita ao Santuário de Nhá Chica, em Baependi. Embora o trajeto discorra por muitos trechos urbanos, o percurso final em terra, antes de adentrar na zona urbana de Caxambu, é bastante bucólico e arborizado. A visita ao Parque das Águas é outro passeio imperdível.

7º dia: CAXAMBU à SÃO LOURENÇO – 26 quilômetros