6º dia: PRADOS a SÃO JOÃO DEL REI – 34 quilômetros

6º dia: PRADOS a SÃO JOÃO DEL REI – 34 quilômetros

Acho que a gente tem que vencer. Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer. Se mexer. Odeio autodestruição.” (Caio Fernando Abreu)

Saída às 5 h, depois de ingerir o café da manhã que fora preparado pelos proprietários do hotel, os simpaticíssimos Renato e Teresa.

Nessa etapa os totens da Estrada Real e os marcos do CRER seguem o mesmo roteiro.

1ª parte: Prados a Bichinho: 11 quilômetros, em aproximadamente 2 h 15 min.

Os primeiros 4 quilômetros são feitos sobre piso asfáltico e o restante por uma larga estrada de terra, que se encontrava bastante empoeirada, face à longa estiagem que a região vivenciava.

O percurso é plano e, quase sempre, beirando a serra de São José.

No trajeto, existem trechos que são trilhados sob densa mata nativa, um alento para o ânimo do caminhante.

E sem maiores dificuldades, adentrei em Bichinho que, face ao horário extemporâneo se encontrava vazio e silencioso.

Ali, em meio a alguns casarões antigos, encontrei belas pousadas, bares, casas de aluguel, lojas de artesanatos, ateliês, oficinas e deliciosos doces caseiros, mas, infelizmente, todos fechados, já que o comércio somente abriria suas portas a partir das 8 horas.

O bucólico povoado impressiona não só por sua simplicidade, mas, principalmente, pela paz, beleza e tranquilidade do lugar, bem ainda pelo contato direto que se tem com a luxuriante natureza observada em seu derredor.

Dentre outras atrações do local, pude apreciar também, a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, uma construção iniciada por volta de 1.732, cuja conclusão ocorreu somente em 1.771.

As torres foram acrescentadas no início do século XX e sua fachada simples não evidencia a riqueza de seu interior, dominado por belíssimas pinturas em estilo rococó.

A ornamentação pictórica é atribuída a Manoel Victor de Jesus, que soube valorizar, sobretudo, os forros e púlpitos da igreja.

Algumas fotos desse trecho:

Longos retões no início, mas com nebulosidade.

Infelizmente, nesse trecho, aspirei muita poeira.

Mas, atravessei locais belíssimos, como este...

Pequenos ascensos, outros descensos, nada longo...

O sol saiu, deixando tudo iluminado..

Igreja de Bichinho.

A história do distrito de Prados/MG.

2ª parte: Bichinho a Tiradentes: 9 quilômetros, em aproximadamente 2 h.

Um trajeto curto e quase sempre beirando a maravilhosa serra de São José.

Contudo, depois do distrito de Bichinho, o piso de pedra em assentamento “pé de moleque” magoa e dificulta sobremaneira os passos do caminhante, tornando o roteiro desenxabido e perigoso, em face das inevitáveis torções e topadas.

Por ser uma sexta-feira, também encontrei intenso tráfego de veículos nesse intermeio.

Porém, o aporte à cidade de Tiradentes, com seu variadíssimo comércio e infinidade de monumentos históricos preservados, compensa todo o esforço despendido.

Assim, às 9 h 15 min, chegava ao Largo das Forras, que significa mais do que a principal praça de Tiradentes.

Para os habitantes da cidade, trata-se de um ponto de encontro, onde é possível jogar cartas, passear, ver apresentações culturais ou simplesmente conversar.

Para os visitantes, é um local que concentra grande quantidade de pousadas, restaurantes, lojas de artesanato e serviços de informação aos turistas.

A praça também tem a presença da Capela do Bom Jesus da Pobreza, datada do século XVIII, além de uma pequena Capela dos Passos, em atividade principalmente na Semana Santa.

Já ouviu falar dos famosos passeios nas charretes coloridas de Tiradentes?

Ali é um dos pontos em que elas podem ser encontradas.

Na verdade, a pequena Tiradentes possui um charme inversamente proporcional ao seu tamanho.

Uma das menores, e atualmente a mais visitada cidade histórica de Minas, é difícil encontrar quem não se encante por ela.

Um dos motivos é a combinação perfeita entre patrimônio histórico e natureza exuberante.

Com o seu casario e a arquitetura de suas igrejas, a cidade possui um dos perfis coloniais mais autênticos do Brasil e um dos mais expressivos acervos da arte barroca (chafarizes, sobrados, museus, igrejas, capelas etc).

Como destino turístico, ela se destaca, também, pelos equipamentos turísticos de hospedagem.

São mais de 120 pousadas e quase 100 restaurantes, estes com uma variedade de ofertas gastronômicas.

Algumas fotos desse trecho:

Na saída de Bichinho....

Piso "pé de moleque", terrível para o caminhante...

A Serra de São José acompanha o peregrino, sempre pelo lado direito.

Praça das Forras, em Tiradentes/MG.

Praça das Forras, em Tiradentes/MG.

Praça das Forras, em Tiradentes/MG.

Ainda, a Praça das Forras, em Tiradentes/MG.

3ª parte: Tiradentes a São João del Rei: 14 quilômetros, em aproximadamente 3 h 45 min.

Um trajeto fácil e plano, porém todo percorrido em zona urbana, sobre pedras aguçadas e de assentamento assimétrico, que dificultam, sobremodo, o caminhar do peregrino.

Na metade do percurso, há a passagem pela cidade de Santa Cruz de Minas, um ex-distrito de Tiradentes, recentemente emancipado.

Uma curiosidade sobre esse enclave é que por ocupar uma área de apenas 2,8 km², ele possui a menor área total entre os municípios do Brasil, e sua população para 2017 está estimada em 8 547 habitantes.

Em boa parte do trajeto há um calçadão lateral, mas em alguns trechos eles não existem.

Assim, é necessário tomar muito cuidado em termos de segurança, pois, face ao horário, encontrei um intenso tráfego de veículos.

Uma boa opção para esse trecho seria tomar o trem que faz o trajeto entre Tiradentes e São João, utilizando uma locomotiva americana, movida a vapor.

O passeio inicia-se na antiga Estação Rodoviária, inaugurada em 1.881, por D. Pedro II, e percorre os 13 quilômetros que separam as duas cidades pela via-férrea, por cerca de meia hora, margeando o rio das Mortes e descortinando a serra de São José.

Contudo, é bom ficar atento, pois a “Maria Fumaça” funciona somente nos finais de semana.

Algumas fotos desse trecho:

O primeiro marco da ER, que foi inaugurado em 19/04/2003, quando do lançamento oficial do Programa Estrada Real.

CRER, trecho entre Tiradentes e São João del Rei.

CRER, trecho entre Tiradentes e São João del Rei.

Igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei/MG.

Final:

Num cruzamento, acessei a Avenida Tiradentes e, mais acima, encontrei minha meta para aquele dia, a Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais marcos da arquitetura colonial mineira.

O templo, uma edificação do ano de 1.774, é um dos mais belos representantes do barroco mineiro.

Na construção e acabamento trabalharam inúmeros e afamados mestres, inclusive, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, autor da portada principal.

Ali, defronte esse venerado Santuário, fiz uma pausa para oração e agradecimento e, ao final desta, dei por encerrada minha aventura.

Interior da Igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei/MG.

O Arraial Novo do Rio das Mortes, que deu origem à urbe, foi fundado entre 1.704 e 1.705. 

Ainda, o interior da Igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei/MG.

Porém, a região já era ocupada desde 1.701, quando Tomé Portes del-Rei se estabeleceu na região.

O Solar dos Neves, em São João del Rei/MG.

Entre 1.707 e 1.709, o local se tornou palco da Guerra dos Emboabas, um conflito armado que também alcançou vastas regiões de Minas Gerais, mas, principalmente, as do rio das Velhas (Sabará), rio das Mortes (São João de Rei) e Vila Rica (Ouro Preto).

Segundo os historiadores, nas proximidades de São João del Rei, durante essa guerra, pode ter ocorrido um episódio obscuro conhecido como Capão da Traição. 

Locais famosos, em São João del Rei/MG.

Na verdade, um trágico e emblemático incidente representado pelo massacre de 300 paulistas, capturados pós feroz batalha, por determinação do chefe emboaba, Bento do Amaral Coutinho.

O ouro, a pecuária e a agricultura permitiram o desenvolvimento e progresso da vila, elevada à categoria de cidade em 8 de dezembro de 1.838. 

A igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João del Rei/MG.

Sua população atual soma 91.000 almas.

O interior da igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João del Rei/MG, um dos mais belos que já vi.

Altitude: 900 m.

História da Matriz de São João del Rei/MG

RESUMO DO DIA:

Tempo gasto, computado desde o Apart Hotel Água Limpa, em Prados/MG, até igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei/MG: Aproximadamente, 8 horas.

Pernoite na Hotel Pai e Filhos - Apartamento excelente! Sua localização é estratégica, pois o estabelecimento se situa ao lado do Terminal Rodoviário da cidade, onde à noite tomei o ônibus de regresso ao meu lar.

Almoço no restaurante Sabor de Minas - Ótimo! – Preço: R$32,90 o kg, no sistema self-service.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de grande extensão, mas sem maiores dificuldades altimétricas. Depois da passagem pelo povoado de Bichinho, o piso no estilo “pé de moleque” molesta bastante os membros inferiores do caminhante. A partir de Tiradentes, praticamente, caminha-se sempre em zona urbana e o silêncio desaparece para dar lugar ao caótico trânsito de veículos. No global, uma jornada dura e desassossegada, pela dificuldade de locomoção que o peregrino enfrenta a partir de Bichinho.

EPÍLOGO