05º dia - SEGÓVIA a SANTA MARIA EL REAL DE NIEVA - 35 quilômetros “O Caminho nos mostra a melhor maneira de chegar e nos enriquece à medida que passamos por ele.” A partir daquele local, por estreitas e silenciosas ruas, passei a descender e, quatro quilômetros à frente, depois de transitar pela vila de Zamarramala, adentrei numa larga estrada de terra, situada entre imensos trigais, onde segui em frente confiante. O dia finalmente clareou e prossegui sempre em excelente ritmo, pois, praticamente, não há acidentes altimétricos no percurso. Assim, sem maiores dificuldades transitei pelos pequenos “pueblos” de Valseca e Los Huertos, onde fiz uma pausa para hidratação e ingestão de uma banana. Na sequência, caminhei um bom tempo sobre a “Via Verde do Vale do rio Eresma”, um caminho integralmente plano, que utiliza o traçado de uma antiga ferrovia desativada, que ligava Segóvia e Medina del Campo. Nesse trecho, tive a companhia, pelo lado esquerdo, de um imenso bosque de pinheiros. Posteriormente, transitei mais de hora em meio a imensas pastagens, por uma trilha gramada, um bálsamo para os meus pés cansados. Mais adiante, sempre entre trigais, transitei por Añe, um dos menores povoados que o caminho atravessa. A povoação seguinte foi Pinilla-Ambroz, onde também não vi comércio aberto ou pessoas nas ruas. Por sorte, dentro da vila encontrei, sequencialmente, 3 fontes de água potável, o que me permitiu matar a sede e repor o conteúdo de minha garrafinha plástica, que já estava se findando. No trecho derradeiro, também, nada mudou, pois prossegui caminhando solitário, em grandes retões, a perder de vista, entre imensos trigais, algo um tanto monótono. Mas, eu estava com meu radinho ligado, fone nos ouvidos, assim, segui animado, ouvindo música espanhola. E sem maiores intercorrências, cheguei a Santa Maria, mas ainda precisei caminhar mais 2 quilômetros pelo acostamento de uma rodovia, para aportar ao excelente Hostal Avanto, onde me hospedei nesse dia. Algumas fotos da jornada desse dia: Em Segóvia, a sinalização está no solo. Adentrando ao campo, entre trigais. Adentrando ao povoado de Valseca. Campos desertos e silenciosos... Não avistei vivalma nesse dia, pelas estradas rurais. Quase chegando em Los Huertos. Caminhando em direção a um bosque. Trânsito pela Via Verde de Eresma. Tudo reto e plano. Local para descanso... Homenagem a um peregrino inglês que morreu nesse local em janeiro/2013. Piso matoso, excelente para os pés. Adentrando à pequena vila de Ane. De volta à solidão dos campos.. Uma interessante sinalização.. Quase chegando... retões a perder de vista.. Santa Maria já aparece no horizonte. Caminhando em zona urbana. A vila de Santa Maria El Real de Nieve foi fundada por Dona Catalina de Lancaster, em virtude da milagrosa aparição da Virgem de la Soterraña que, segundo a lenda, foi localizada por um pastor, no ano de 1392. A atividade principal da povoação, desde o século XV, foi a fabricação de tecidos, que se consolidou pelos incentivos que o reino ofertava, até seu declínio no século XIX. A igreja matriz de Santa Maria. O antigo conjunto conventual alberga a igreja de Nuestra Señora de la Soterraña, cujas obras se iniciaram em 1393, prolongando-se até 1399. Um ano depois teve início a construção do monastério, do qual só se conserva o magnífico claustro. Seu famoso claustro. Declarado Monumento Nacional, seu estilo reflete a transição do românico para o gótico. Trata-se de uma coleção de 87 capitéis, que encimam as colunas do claustro e permitem um detalhado estudo da vida cotidiana durante a Idade Média. O famoso claustro, de outro ângulo. No interior da igreja matriz está o túmulo da rainha Blanca I, de Navarra, que faleceu nessa cidade em 1441. População: 1.013 habitantes Um peregrino esloveno, o primeiro que encontrei no Caminho. Mas estava bebendo e andando de ônibus. Caminhar, nem pensar... Em Santa Maria El Real de Nieva fiquei hospedado no Hostal Avanto, de excelente qualidade, mas localizado a 2 quilômetros do centro urbano. Para almoçar, utilizei os serviços do restaurante instalado no andar térreo do hostal, onde despendi apenas 9 Euros, por um delicioso “menú del dia”. IMPRESSÃO PESSOAL – Nessa jornada eu caminhei pelas austeras paisagens de Castilla, atravessando pequenos povoados, quase todos, sem comércio. Foi um largo trajeto por paisagens solitárias e escassas de sombras. Por sorte, no final dessa etapa eu adentrei em Santa Maria la Real de Nieva, que oferta o magnífico claustro de seu monastério aos viajantes e eu não podia deixar de visitá-lo. Os 87 capitéis do claustro refletem como era a vida cotidiana na longínqua Idade Média: trabalho no campo, caçadas, torneios, monges, músicos, animais fantásticos, tudo esculpido com um realismo surpreendente, a nos transladar para o ano 1400. No global, uma etapa de grande extensão e, praticamente, sem sombras, mas o clima ameno auxiliou, em muito, a minha caminhada. Foi apenas nessa jornada que avistei o primeiro peregrino no roteiro, bebendo num bar em Santa Maria; um esloveno, de nome Sebástian, com quem conversei rapidamente, embora, pelo que depreendi, ele estava percorrendo o caminho de ônibus. |
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