20 - CAMINHO DA FÉ/2019 - UMA SURPRESA EM POTIM/SP

Não se deixe derrotar em situação alguma. A derrota depende de nós, tanto quanto a vitória. Entretanto, a pior derrota é a de quem desanima. Perder, nem sempre é ser derrotado. Mas o desânimo estraga totalmente a vida. Não desanime jamais. Siga em frente, porque a vitória sorri somente àqueles que não param no meio da estrada.” (Carlos T. Pastorino)

No penúltimo dia de peregrinação, me hospedei aos pés da serra da Mantiqueira, na Pousada do Sr. Agenor, distante do Santuário de Aparecida, apenas, 21 quilômetros.

No entanto, em razão de boatos que eu ouvira nas etapas anteriores sobre novas ocorrências de assaltos a peregrinos na região abrangida pela cidade de Potim, eu tinha a intenção de partir bem cedo no dia sequente, mas me encontrava temeroso, já que caminhava solitário.

Na manhã seguinte, tomei café da manhã e participei das orações com o grupo da “Seta Amarela”, capitaneado pelo meu preclaro amigo Luiz Henrique que, gentilmente, se prontificou a levar minha equipagem no carro de apoio, podendo eu seguir com o grupo, nessa etapa, por conta da segurança.

Ocorre que eu retornaria para o meu lar naquele mesmo dia e pretendia envidar inúmeras atividades no Santuário Mariano, como assistir à missa, comungar, acender velas votivas, adquirir lembranças para meus entes queridos, dentre outras atribuições, portanto, meu tempo era escasso.

Então, assim que me despedi da Dona Maria, do Sr. Agenor e da Elen, parti escoteiro, como nas jornadas pretéritas, confiando, integralmente, na providência divina. 

Despedindo-me do Grupo da Seta Amarela, do Luiz Henrique, do Sr. Agenor, da Dona Maria e da Elen.

Os 10 primeiros quilômetros, trilhados em meio a locais desertos, me deixaram tenso cada vez que eu ouvia o ruído produzido pelo escapamento de uma motocicleta, pois os meliantes, quando atacaram os incautos caminhantes, utilizavam desse meio de transporte.

Finalmente, acessei uma estrada asfaltada e fleti à esquerda, transitando por bairros periféricos, exatamente, segundo eu soube, os locais mais utilizados pelos ladrões nas abordagens.

Em determinado trecho deserto, distante de habitações, passei a caminhar sobre um piso asfáltico deteriorado e ali minhas preocupações aumentaram, pois me sentia inquieto, exposto e extremamente vulnerável.

E, quase de imediato, uma mão silenciosa principiou a comprimir meu coração.

Nesses momentos turbulentos eu me recorro à oração silenciosa e foi o que fiz, clamando proteção aos “espíritos benfazejos”.

Trinta segundos depois, acreditem, para minha aterrorizada surpresa, um automóvel freou bruscamente no acostamento do lado contrário, uma moça apeou, atravessou rapidamente a rodovia e veio me cumprimentar.

Ação que fazia, espontaneamente, segundo ela, sempre que avistava algum peregrino caminhando em direção à Casa da Mãe Maior, por quem nutria um infinito respeito. 

Depois, pediu-me que aceitasse uma singela lembrança e, ato contínuo, colocou um pequeno chaveiro no interior de minha mão direita. 

O chaveirinho que ganhei nesse dia..!

Quando observei com mais atenção o delicado objeto, vi que se tratava de uma imagem estilizada de Nossa Senhora Aparecida.

Imediatamente, minhas pernas vacilaram, a pulsação acelerou e meus olhos marejaram, pois, comovido, tal qual uma epifania divina, uma voz me sussurrava, internamente, que eu caminhava ungido pelo Manto de Nossa Senhora. 

A igreja matriz de Potim/SP.

Uma paz beatífica me invadiu e, como por encanto, a mão imaginária que oprimia meu peito principiou a relaxar.

Da mesma forma lépida com que me abordara, a jovem mulher adentrou em seu veículo e quando volvi meus olhos lagrimejantes para lhe agradecer, coração contrito pela emoção, seu carro desaparecia numa curva ao longe.

Então, me dei conta de que havia esquecido de perguntar como se chamava essa piedosa benfeitora.

Conformei-me com a falha, posto que não importava seu nome, alguém sempre cruzará nosso caminho, deixando-nos um pouco de si, através de uma mensagem, e levando também um pouco de nossa essência.

Aliás, anjos não precisam ser nominados, vez que todos eles têm o mesmo rosto e nunca nos lembramos de perguntar-lhes o nome.

Novamente em movimento, quase “levitando” de alegria, senti que era a hora certa para agradecer meus pés pela bondade de carregar meu corpo com tanto cuidado, sem doer, sem reclamar, durante toda a minha vida e também nesta aventura de fé.

Na verdade, sentia uma intensa comoção, contudo, a nostalgia pelo final da jornada maravilhosa era ainda maior.

Porquanto, os longos caminhos produzem essa estranha sensação.

Depreendo que, a essa altura, já nos encontramos internamente, e isso é tão gratificante que passamos a desejar que o roteiro não termine nunca. 

Gratidão, Mãe Aparecida, pela vossa proteção!

Assim, quando aportei ao Santuário de Aparecida, me postei diante da imagem sagrada da Virgem Maria e salmodiei preces em agradecimento por todas as benesses que auferira no percurso, seja de ordem física quanto de iluminação espiritual.

Nesse sentido, o Caminho da Fé persiste em mim, como um acepipe que sigo a degustar diariamente, nas imorredouras lembranças que muito me marcaram, por isso mesmo, em meu íntimo, ele jamais terá fim.

Bom Caminho a todos! 

Setembro/2019