MINHA VIAGEM

MINHA VIAGEM

“Cada sonho que você deixa pra trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”. (Steve Jobs)

Minha peregrinação se iniciou numa quarta-feira à tarde, quando embarquei rumo à Espanha.

No dia seguinte, após breve translado pelo aeroporto de Madri, desembarquei na cidade do Porto, em Portugal.

Ali tomei um táxi, que me deixou defronte à Estação de Autocarros (Rodoviária), localizada na Rua Alexandre Herculano, atrás da estação do trem de São Bento.

Ainda era bem cedo e, sem dificuldades, tomei o ônibus da Rede Expressos, que partiu às 8 h 30 min e me deixou na rodoviária da cidade de Viseu, início do CPI, exatamente, às 10 horas.

Painel de Azulejos do Rossio e, ao fundo, a Pensão onde fiquei hospedado.

Numa rua acima, tomei informações com um gentil transeunte, depois segui ascendendo por uma larga avenida, até aportar à Pensão Rossio Parque, onde havia feito reserva.

Ali, por 25 Euros, pude desfrutar de um confortável quarto individual, onde estava incluso o café da manhã.

Eu me encontrava cansado e com sono após 18 horas de viagem, além de estar 4 horas à frente do Brasil, por conta do fuso horário.

Mas, um retemperador banho me animou e, já com trajes de peregrino, saí para conhecer a cidade.

Igreja da Misericórdia de Viseu.

Então, caminhei na direção da Catedral da Sé, onde pude visitar seu interior, bem como externar minhas orações.

Marco inicial do CPI.

Ali, próximo de sua lateral, encontrei o marco inicial do Caminho, bem como a primeira seta sinalizadora, estilizada em amarelo, sobre um fundo azul.

Placa dos 387 quilômetros restantes até Santiago.

Segundo dados publicados no site desse Caminho (www.cpisantiago.pt), dali, eu estava distante 387 quilômetros de Santiago de Compostela, minha meta e sonho, onde eu pretendia aportar, conforme meu cronograma de viagem, depois de 14 jornadas.

No entanto, cabe uma explicação, pois, pelo que pude apurar no GPS, que utilizei em todas as etapas do Caminho, eu caminhei exatamente 405.630 metros, embora nesse total estejam englobados os erros que cometi no trajeto, por conta da má sinalização em alguns trechos.

Na sequência, segui as flechas por um bom tempo, como forma de me inteirar do percurso que enfrentaria na manhã seguinte.

Restaurante onde almocei em Viseu.

Satisfeito, por verificar que sua disposição estava perfeita, fui almoçar no restaurante Capuchinha do Rossio onde, por 8 euros, pude ingerir um supimpa “menu do dia”.

Depois, retornei ao hotel e dormi por algum tempo, como forma de me recuperar fisicamente.

Escultura localizada numa das praças da cidade.

Viseu é uma cidade pertencente à região centro, mas que fica na zona norte de Portugal, contando atualmente com cerca de 100.000 habitantes.

As origens da cidade de Viseu remontam à época Castreja e, com a Romanização, ganhou grande importância, quiçá, devido ao entroncamento de estradas romanas de cuja prova restam apenas os miliários (passíveis de validação pelas inscrições) que se encontram: dois em Reigoso (Oliveira de Frades), outros dois em Benfeitas (Oliveira de Frades), um em Vouzela, dois em Moselos (Campo), um em São Martinho (Orgens), um na cidade (na Rua do Arco), outro em Alcafache (Mangualde), e mais dois em Abrunhosa (Mangualde); outros mais existem, mas devido à ausência de inscrições, a origem é duvidosa.

Estes miliários alinham-se num eixo correspondente à estrada de Mérida (Espanha), que se intersectaria com a ligação Olissipo-Cale-Bracara, outros dois pólos bastante influentes.

Rua Direita, localizada no centro histórico de Viseu.

Talvez por esse motivo se possa justificar a edificação da estrutura defensiva octogonal, de dois quilômetros de perímetro.

Viseu está associada à figura de Viriato, já que se pensa que este herói lusitano tenha talvez nascido nesta região.

Depois da ocupação romana na península, seguiu-se a elevação da cidade a sede de diocese, já em domínio visigótico, no século VI.

Jardim das Mães, uma das belas praças existentes no bairro do Rossio.

No século VIII, foi ocupada pelos muçulmanos, como a maioria das povoações ibéricas e, durante a Reconquista da península, foi alvo de ataques e contra-ataques alternados entre cristãos e muçulmanos.

Já no século XIV, durante a crise de 1383-1385, Viseu foi atacada, saqueada, e incendiada pelas tropas de Castela, e D. João I mandou erigir um cerco muralhado defensivo — do qual resta pouco mais que a Porta dos Cavaleiros e a Porta do Soar, além de escassos trechos de muralha — que seriam concluídos apenas no reinado de D. Afonso V — motivo pelo qual a estrutura é conhecida pelo nome de muralha afonsina — já com a cidade a crescer para além do perímetro da estrutura defensiva.

No século XV, Viseu é doada ao Infante D. Henrique, na sequência da concessão do título de Duque de Viseu, cuja estátua, construída em 1960, se encontra na rotunda que dá acesso à rua do mesmo nome.

Seu irmão D. Duarte, (rei) nasceu em Viseu, em 31 de Outubro de 1391.

Escultura localizada em uma das praças de Viseu, no bairro do Rossio.

No século XVI, em 1513, D. Manuel I renova o foral de Viseu, e assiste-se a uma expansão para atual zona central, o Rossio que, em pouco tempo, se tornaria o ponto de encontro da sociedade, e cuja primeira referência data de 1534.

É neste século que vive Vasco Fernandes, um importante pintor português cuja obra se encontra espalhada por várias igrejas da região e no Museu Grão Vasco, perto da Sé.

Outra bela praça existente no bairro do Rossio.

No século XIX é construído o edifício da Câmara Municipal, no Rossio, transladando consigo o centro da cidade, anteriormente na parte alta.

Daí ao cume da colina, segue a Rua Direita, onde se encontra uma grande parte de comércio e construções medievais.

Impossível não admirar o capricho das praças de Viseu.

Importante ressair que, segundo um estudo da DECO de 2007, Viseu é a 17.ª melhor cidade europeia com mais qualidade de vida entre as 76 do estudo, sendo ainda a primeira nesse quesito das 18 cidades capitais de distrito portuguesas.

Em 2012 foi considerada, mais uma vez, a cidade portuguesa com melhor qualidade de vida.

Fonte: Wikipédia.

Flores localizadas defronte à Sé de Viseu.

Mais tarde, fui até a Oficina de Turismo onde, além de carimbar minha credencial, tomei informações sobre o roteiro que intentaria na manhã seguinte.

Depois, aproveitei o tempo livre para conhecer algumas das principais atrações turísticas de Viseu.

Então, visitei novamente a Catedral da Sé, uma edificação que remonta aos séculos XIII-XIV, e apresenta um estilo românico gótico, ainda que a sua construção se tenha arrastado por diversos anos, absorvendo as diversas correntes artísticas, fruto das sucessivas intervenções.

Ladeada por duas torres, a fachada é encimada por Nossa Senhora da Assunção, encontrando-se ao centro São Teotônio (padroeiro da cidade e da diocese), ladeado pelos quatro Evangelistas.

No seu interior, merece destaque a abóbada de nós das três naves, bem como a capela-mor preenchida por um magnífico retábulo joanino.

Contíguo à face sul da catedral, destaca-se o claustro renascentista, composto por um portal românico gótico, painéis de azulejos e várias capelas.

Igreja da Sé de Viseu. Ao seu lado está o Museu Grão Vasco.

Defronte à Sé, está a monumental Igreja da Misericórdia de Viseu, cujas obras tiveram início no ano de 1775, marcada por uma linguagem arquitetônica rocaille.

A Misericórdia viseense foi erguida sobre as fundações do primeiro templo desta irmandade, construção primitiva que tinha sido mandado edificar durante o reinado de D. Manuel I.

Ocupando um amplo largo murado, ao qual se acede por uma pequena escadaria, a Igreja da Misericórdia é marcada por uma soberba e monumental fachada de estilo rocaille de cinco corpos, com o pano central mais comprido e mais elevado, rasgado por um portal contra curvado e moldurado por pilastras reentrantes, sobre o qual se desenvolve a varanda balaustrada do coro alto, com as suas três janelas de sacada e de moldura contra curvada.

Do lado esquerdo, a Igreja da Misericórdia; ao fundo, a Sé de Viseu.

Superiormente, o corpo central da fachada é terminado por empena ondeada, de linhas mistilíneas, e encimada por cruz latina.

Em seguida, ainda que de forma rápida, fui visitar o Museu Grão Vasco, cujo nome homenageia um dos maiores pintores quinhentistas portugueses, Vasco Fernandes, o Grão Vasco, sendo a sua principal coleção constituída por um conjunto notável de pinturas de retábulo, provenientes da Catedral e de igrejas da região.

Além desse magnífico acervo, o Museu acolhe obras de conceituados artistas portugueses como Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Alfredo Keil, Soares dos Reis, Antônio Carneiro, Silva Porto, Antônio Ramalho, Sousa Lopes, entre outros, e artistas estrangeiros como Madrazo e Mariano Benlliure.

Paralelamente à pintura, o Museu Grão Vasco apresenta ainda esculturas, ourivesaria, mobiliário, entre outros.

Porta do Soar.

Na sequência, fui até a Porta do Soar de Cima, que é um dos acessos à cidade, inserta na muralha afonsina, datada do século XV.

Construída com o intuito defensivo, a muralha apresentava na sua totalidade sete portas, tendo sido destruídos em 1814, os arcos que ameaçavam apresentar ruína, restando apenas duas portas da antiga muralha, sendo esta uma delas, encontrando-se em bom estado de conservação, classificada como Monumento Nacional.

Porta dos Cavaleiros.

Nesse giro, pude também visitar a Porta dos Cavaleiros, que também fazia parte da muralha afonsina.

Chafariz de São Francisco ou do Arco.

Já retornando ao local de pernoite, passei diante do Chafariz de São Francisco ou do Arco, uma construção de 1741, cuja edificação evidencia a associação entre a água e a componente religiosa, através da imagem de São Francisco e da cruz.

Finalmente, fui visitar o Painel de Azulejos do Rossio, considerado como um dos ex-libris de Viseu, posto que ele é constituído por elementos das tradições rurais beirãs, um desenho encomendado ao Mestre Joaquim Lopes, representando mais um dos cartões de visita da cidade.

Pequeno painel de azulejos do Rossio, com o escritor Tomás Ribeiro.

Produzido pela Fábrica do Agueiro, em Vila Nova de Gaia, o monumento foi inaugurado a 13 de Dezembro de 1931.

Então, passei numa mercearia e me provi de mantimentos e água para o lanche noturno, bem como para a jornada que iniciaria na manhã seguinte.

Já no quarto, antes de dormir, volvi meus pensamentos a Santiago e rezei a Oração dos Peregrinos, pedindo proteção, nos seguintes termos:

Monumento existente no "casco viejo" da cidade.

Para os montes levanto os olhos:

De onde me virá o socorro?

O meu socorro virá do Senhor, Criador do céu e da terra

Ele fará com que meus pés sejam firmes;

Há de zelar e vigiar-me.

Não dormirá aquele que me guarda.

O Senhor é meu abrigo, sempre a meu lado.

De dia, o sol me fará bem,

À noite o sono me reconfortará.

O Senhor me resguardará de todo o mal.

Ele velará sobre minha alma,

Guardará meus passos

Agora e sempre.

Amém!

Antes de apagar completamente, minha mão deslizou por instinto até o pequeno objeto retangular que eu sentia junto à minha pele, debaixo da blusa do pijama: a minúscula imagem de Nossa Senhora Aparecida, presa ao meu pescoço por um cordão.

Minha mão ainda estava na mesma posição, envolvendo o precioso objeto, quando acordei 7 horas depois.

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