2022 – CAMINHO DAS ÁGUAS – PIRAJU/SP a ITAPORANGA/SP - 109 QUILÔMETROS


"Peregrino é todo aquele que tem um espírito livre, uma bagagem leve, uma alma solidária e segue espontaneamente o caminho de seus sonhos, colocando amor em cada passo..."

Em outubro de 2020 eu tomei conhecimento da existência desse Caminho através de um amigo que reside na região onde ele foi projetado e, imediatamente, fiquei animado em percorrê-lo, posto que ainda não conhecia o “Sudoeste Paulista” e, também, nenhuma das cidades por onde ele discorre.


Porém, o ano de 2021 passou em “branco” face à grassante pandemia, então, agora, com meu cronograma vacinal completo e o mês de janeiro se iniciando, fui caminhar nesse novel roteiro, e um pouco do que vi e vivenciei em mais essa aventura de fé, relato abaixo:



A VIAGEM


Viaje, deixe os seus medos de lado e vá conhecer o que tem lá fora, diferente do que você já viu, dos seus costumes e crenças. Se dê a oportunidade de ver a variedade de povos, culturas e como cada um deles têm um jeito de ser feliz.


Para iniciar nossa aventura, embarquei num ônibus da Empresa Princesa do Norte que, 6 horas mais tarde, me deixou em Piraju/SP, ponto inicial do roteiro.


Quando ali cheguei, rapidamente, me registrei no Hotel Internacional onde, por R$70,00, me disponibilizaram um quarto individual limpo e espaçoso.


Bem acomodado, segui em direção ao Departamento de Turismo da cidade, onde adquiri minha Credencial Peregrina ao preço de R$20,00, e, mais tarde, fui visitar a igreja matriz da cidade, cuja padroeiro é São Sebastião.


Tive tempo ainda para conhecer e fotografar o “Marco Zero” do Caminho das Águas situado próximo ao Restaurante Pirabar, às margens do Paranapanema, o rio que banha a cidade onde, inclusive, pude apreciar a bela represa nele existente.

Diante do "Marco Zero" do Caminho das Águas, em Piraju/SP

O PROJETO CAMINHO DAS ÁGUAS


Com o objetivo de explorar o turismo regional e a religiosidade, o CAMINHO DAS ÁGUAS é um percurso realizado entre os municípios de Piraju, Sarutaiá, Fartura, Taguaí, Coronel Macedo e Itaporanga, e poderá ser realizado da maneira que o esportista ou peregrino idealizar. Seu traçado abarca 107 quilômetros e transcorre por cenários incríveis como rios, lagos, ribeirões e toda beleza dos diferentes tipos de paisagens que podem ser apreciadas ao longo do caminho, além de propiciar ao peregrino momentos de reflexão e introspecção. Com início da cidade de Piraju, seu destino final é a Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz, templo histórico e religioso que atrai visitantes de todos os cantos em busca de religiosidade, fé, devoção e história viva através dos monges cistercienses. Além da religiosidade proposta no Caminho, o projeto visa a promoção do turismo regional, valorização dos estabelecimentos de hospedagem, comercio local e regional, além da divulgação dos artistas e trabalhos artesanais da cidade, gastronomia típica e caseira. Seu traçado foi inspirado no milenar Caminho de Santigo da Compostela na Espanha, contemplando 5 lindas cidades do nosso interior, cada qual com suas características e belezas regionais, com trajeto e acesso por estradas rurais. Itaporanga entra para o mapa dos circuitos turísticos e religiosos, e em breve estará oferecendo novos itinerários e rotas turísticas aos peregrinos e amantes da natureza e esporte. Desde o início do projeto, o roteiro vem recebendo vários grupos de ciclistas e peregrinos desbravadores do percurso e seus encantos pitorescos. Prepare-se e viva essa linda e emocionante aventura! (Fonte: Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Itaporanga/SP)

1º dia: PIRAJU/SP a SARUTAIÁ/SP – 20 QUILÔMETROS


"Que comece agora. E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera.” (Caio Fernando Abreu)

O percurso seria de pequena extensão, então, como não havia pressa na partida, ingeri o café da manhã calmamente, depois, me dirigi ao “Marco Zero” desse roteiro, situado junto ao rio Paranapanema, onde externei preces rogando proteção na jornada.


Na sequência, parti em direção ao objetivo do dia, primeiramente, caminhando em zona urbana, porém, 2 quilômetros à frente, eu acessei larga e ascendente estrada de terra, por onde segui aspirando o fresco ar matutino emanado pela mata que me ladeava.


Então, 500 m adiante, eu desaguei numa rodovia vicinal asfaltada, exatamente, a antiga estrada que unia Piraju a Sarutaiá, onde eu girei à esquerda e prossegui caminhando em sentido contrário ao tráfego de veículos que, por sorte, mostrou-se escasso nesse dia.


Então, segui ladeado por imensas culturas de soja, a perder de vista, uma tônica na região, que me acompanharia, também, nas etapas sequentes.


Percorridos 7 quilômetros sob um clima frio e nublado, finalmente, o asfalto se findou e passei a caminhar por estradas rurais ermas e silenciosas, e logo atravessei um agradável trecho de mata nativa.


O trajeto prosseguiu agradabilíssimo e arejado, por locais extremamente ermos, sempre em perene ascenso, que no 12º quilômetro me levou a transitar a 812 m de altitude, o ponto de maior altimetria dessa etapa, de onde eu podia devassar o horizonte, pleno de muito verde, em todas as direções.


Logo adiante, eu fui ultrapassado por um ciclista que, gentilmente, diminuiu sua pedalada e seguimos um bom tempo conversando, antes dele se despedir e seguir adiante.


Prosseguindo, o caminho permaneceu em leve descenso e, na sequência, atravessei um grande eucaliptal, depois segui entre pastagens e logo cheguei à zona urbana, então, sem maiores problemas, segui caminhando em direção ao local de pernoite, onde fui muito bem recebido por dona Dulce, uma pessoa extremamente simpática e hospitaleira.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Trecho inicial pelo asfalto. À beira da estrada, cultivo de soja.

Trecho integralmente ermo e silencioso...

Um ciclista segue longe, à minha dianteira...

Trecho final, todo plano e vazio..

A igreja matriz de Sarutaiá.

Com dona Dulce, a proprietária do Restaurante/Pousada: uma pessoa espetacular!!

Segundo a história, há cerca de um século surgia a cidade, originando-se com as comitivas que vinham de Piraju para Fartura, em direção ao sul. Nas terras da Fazenda Nossa Senhora da Boa Vista ergueu-se uma capela de pau-a-pique e barro na pequena jurisdição do Bispado de Sant'Ana de Botucatu. No início do século, construiu-se uma capela maior de alvenaria no centro do vilarejo, sob a invocação da Senhora da Imaculada Conceição. Em 20 de dezembro de 1906 passou a categoria de Distrito de Piraju, com o nome de Sarutaiá. Finalmente, em 18 de fevereiro de 1959 tornou-se município. População: 4.100 habitantes. Altitude: 756 m.


RESUMO DO DIA – Pernoite na Pousada Dona Dulce – Apartamento individual bom! – Preço: R$70,00


Almoço no Restaurante da própria Pousada: Excelente! – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa de pequena extensão, mas de excelsa beleza, mormente após o 7º quilômetro quando o piso asfáltico se findou e passei a caminhar em terra. O trecho sequente se mostrou silencioso e deserto, pois não há residências edificadas à beira da estrada. No trajeto, encontrei plantações de soja a perder no horizonte, mas também avistei cafezais e milharais, além de atravessar uma extensa área reflorestada por eucaliptos. No global, uma jornada fácil, tranquila e extremamente bem sinalizada.



2º dia: SARUTAIÁ/SP a FARTURA/SP – 20 QUILÔMETROS


A única maneira de não cometer nenhum erro é não fazer nada. Este, no entanto, é certamente um dos maiores erros que se poderia cometer em toda uma existência.” (Confúcio)


Durante a madrugada o céu verteu água em abundância e quando me levantei ainda garoava levemente.


A etapa seria de média extensão mas com acidentes altimétricos importantes, assim, parti às 6 h, depois de ingerir o gostoso café da manhã que dona Dulce me preparou e logo após findar a zona urbana, eu acessei um larga estrada de terra, que prosseguiu em leve mas constante ascenso, pois, na verdade, eu estava escalando a mítica serra de Fartura.


A me ladear nesse trecho inaugural, imensos campos agriculturados de soja e verdes pastagens.


O aclive não é íngreme, porém é constante e extenso, assim, após transitar por locais belíssimos, de onde eu divisava imorredouras paisagens, finalmente, no 6º quilômetro percorrido, eu atingi o cume da elevação, situado a 923 m de altitude, o ponto de maior altimetria do Caminho das Águas.


Então, na sequência passei a caminhar pelo alto da montanha, num trajeto arejado e silencioso, tendo a me ladear plantações de café e um grande bosque de eucaliptos.


No 8º quilômetro, já principiando a descender, do cimo do morro, eu detinha uma visão magnífica do horizonte, podendo, inclusive, avistar ao longe a cidade de Fartura e no meu lado direito, um braço da maviosa represa de Xavantes, que divide o os Estados de São Paulo e Paraná.


O declive se faz por uma estrada perigosa e boscosa, onde todo o cuidado é pouco, pois o risco de uma torção no tornozelo é iminente em todo o trajeto, que se faz sobre o leito da estrada velha Piraju a Fartura, onde, em tempos de outrora, transitavam, dentre outros meios de locomoção, os veículos automotores que ligavam essas duas localidades.


No 12º quilômetro, eu parei para fotografar uma singela capelinha erigida em homenagem a José Romano da Silva (1922-1955), o “Motorista Herói”, que ao passar mal durante uma viagem, conseguiu desligar o ônibus que dirigia e, assim, salvar inúmeras vidas, vindo a falecer nesse local.


Ainda em descenso, logo passei diante da “árvore que chora”, uma interessante estrutura vegetal e, mais abaixo, já no plano, transitei diante da entrada da Chácara Santa Maria, um ponto de apoio importante para o peregrino, pois além de disponibilizar carimbo na credencial, também oferta água potável.


O restante o trajeto foi por uma estrada plana e ladeada por pastagens que, mais à frente, me levou a adentrar em zona urbana, por onde segui caminhando, curioso e sem pressa, até o local de pernoite.


À tarde, após merecido descanso, pude visitar e fotografar a bela igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Nossa Senhora das Dores.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Trecho inicial arejado, seguindo em direção à serra de Fartura.

Caminhando pelo alto da serra, por locais integralmente desertos..

Capelinha que homenageia o "Motorista Herói".

Vista desde o topo da serra, podendo-se ver a Represa de Xavantes ao longe.

A famosa "Arvore que chora"...

A bela igreja matriz de Fartura/SP.

Historicamente habitadas pelos índios caiovás da macrofamília guarani as férteis terras farturenses começaram a atrair colonos no fim do século XIX, época em que grandes aldeamentos foram realizados sob a liderança do Frei Pacífico de Montefalco e financiamento de João da Silva Machado, o Barão de Antonina. A forte religiosidade dos primeiros farturenses é representada pela cruz em vermelho vivo presente no brasão do município, símbolo de elevada fé cristã, segundo a heráldica tradicional. Aos 31 de março de 1891, ano da primeira Constituição republicana, após enfrentar muita resistência política, Américo Brasiliense de Almeida Melo edita o decreto n. 145/1891 do Estado de São Paulo, elevando a recém-formada freguesia de Fartura à condição de município. Curiosamente, a divergência sobre o nome do município já estava presente entre os antigos habitantes, mas a versão mais aceita é que Fartura se deve às terras roxas da região e à abundância de peixes do ribeirão que banha a cidade. População: 16 mil habitantes – Altitude: 516 m


RESUMO DO DIA - Pernoite no Hotel Fartura Plaza: Sensacional!! – Apartamento individual espetacular! – Preço: R$90,00


Almoço no Big Bar Restaurante e Pizzaria: Excelente! – Preço: R$65,90, o quilo no sistema Self-Service.


IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de média extensão, mas de excelsa beleza, mormente pela escalada e o descenso da maviosa serra de Fartura, de onde se descortinam longínquas e imorredouras paisagens, mormente da represa de Xavantes. Trata-se de uma etapa erma e extremamente silenciosa, onde se comunga intensamente com a natureza verdejante que baliza esse trajeto. O descenso pelo lado oposto exige cuidados e atenção, pois há pedras soltas no piso, que representam um forte risco para uma queda ou lesões. No global, em minha opinião, a etapa mais bela e deserta de todo o caminho, pois eu não avistei vivalma até o 15º quilômetro, quando fui ultrapassado por um solitário ciclista que, face à velocidade que desenvolvia, quase me atropelou.



3º dia: FARTURA/SP a TAGUAÍ/SP – 17 QUILÔMETROS


A única maneira de não cometer nenhum erro é não fazer nada. Este, no entanto, é certamente um dos maiores erros que se poderia cometer em toda uma existência.” (Confúcio)

O trajeto seria de pequena extensão, assim parti às 6 h 30 min, após ingerir o saudável café da manhã e segui sob fria e renitente garoa que foi aos poucos se intensificando, obrigando-me a parar sob um alpendre para vestir a capa protetora.


Após abandonar a zona urbana, eu acessei uma estrada de terra pedregosa e descendente que, face às chuvas recentes se encontrava extremamente lisa e embarreada, levando-me a fazer malabarismos para não sofrer torções ou quedas.


A me ladear nessa etapa, extensos cafezais e muitos milharais, embora a cultura da soja tenha também se evidenciado com constância e relevo no trecho final.


O trajeto muito bem sinalizado me levou a transitar por caminhos planos e bem definidos e nesse pique, passei diante de inúmeras residências e pequenas chácaras, o que transformou esse percurso no mais urbanizado que percorri em todo o Caminho e, em consonância, o menos ermo e silencioso dentre todos.


Esse trajeto corresponde em quase toda a sua extensão à antiga estrada vicinal Fartura/Taguaí por onde hoje passam, anualmente, os romeiros de Santa Rita em sua peregrinação.


Sem grandes atropelos eu fui vencendo as distâncias e quando restavam, apenas, 5 quilômetros para eu chegar ao destino, a chuva finalmente cessou e pude seguir mais tranquilo, observando o verde horizonte que se descortinava em todas as direções.


Assim, sem maiores novidades, acessei a zona urbana e segui caminhando até o local de pernoite.


À tarde, após uma breve soneca, fui visitar a famosa e venerada igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Santa Rita, mas a encontrei fechada, por estar atualmente em reformas, visando transformá-la num grande santuário.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Debaixo de chuva leve... 

Entorno belíssimo e verde.

Trecho plano e ermo..

Chuvas no horizonte.. chegando... soja, a perder de vista. Do lado esquerdo, cafezais.

A igreja matriz de Taguaí, cuja padroeira é Santa Rita, em reformas para se tornar um grande Santuário.

O nome do município é de origem indígena, "Tagua", barro de tijolo e "i", água, riquezas abundantes em todo o território municipal e região até hoje. Em 1890, inicia-se a ocupação territorial de Taguaí com a abertura da Fazenda Santa Rita pela família Ribeiro, de Santa Rita do Passa Quatro, quando então inúmeras famílias da primeira imigração italiana se transferiram da chamada zona do café para o sertão do Alto da Fartura. A única via de ligação com Fartura, era uma rústica estrada aberta em plena mata, por onde escoavam a pequena produção agrícola e pecuária, à procura de centros consumidores, alcançando até as cidades de Taubaté e Cruzeiro. Com o fracionamento da Fazenda Corrêas, que possuía aproximadamente 12.000 alqueires, em pequenas propriedades, o comércio e a produção tomaram vulto. A primitiva capela já não mais comportava a crescente população, levando à edificação, em 1906, de uma nova igreja, desta feita em tijolos e coberta com telhas, onde hoje é a paróquia de Santa Rita. Em 18 de fevereiro de 1959 foi criado o município de Taguaí e instalado em 1º de janeiro de 1960. Atualmente e em franco progresso, a cidade foi cognominada como a “Capital das Confecções” e o município é considerado um dos maiores polos de confecção de calça jeans do país. População: 12.600 pessoas – Altitude: 575 m


RESUMO DO DIA: Pernoite no Hotel Corona: Excelente! – Preço: R$80,00


Almoço no Lanchódromo Municipal: “Prato Feito” – Preço: R$10,00


AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de pequena extensão e que não apresenta obstáculos altimétricos importantes. O trajeto abarca trechos pedregosos e perpassa diante de muitas residências e pequenas chácaras, sendo que a cultura do café e milho é a que predomina no campo. No geral, um percurso bastante urbanizado, o mais tranquilo que enfrentei no Caminho e, também, pleno de belezas naturais e que, em seu final, também, é orlado por imensas plantações de soja, a perder de vista.



4º dia: TAGUAÍ/SP a CORONEL MACEDO/SP – 26 QUILÔMETROS


"Situações difíceis constroem pessoas fortes. Mantenha a fé, as coisas vão melhorar."

O trajeto seria de média a grande extensão, então, parti às 5 h 15 min debaixo de renitente garoa, que não me deu trégua em toda a jornada.


Infelizmente, o trecho inicial dessa etapa foi percorrido sobre uma rodovia vicinal asfaltada, situada em meio a imensas culturas de milho e soja, e que, por sorte, apresentou escasso tráfego de veículos.


Percorridos 11 quilômetros, cheguei ao bairro da China onde, finalmente, deixei o piso duro e adentrei em larga estrada de terra que logo me levou a caminhar entre vastas pastagens, num percurso arejado e marcado pela expressiva beleza da paisagem circundante.


O piso liso obrigou-me a deslocar com muito cuidado e, mais adiante, após vencer leve ascenso prossegui entre infindáveis cafezais, até que no 15º quilômetro eu fiz uma pausa diante de uma bela capelinha homenageando a Nossa Senhora Aparecida, erigida pela família Cimatti em agradecimento pelas inúmeras graças alcançadas.


No 19º quilômetro eu passei diante do um posto de captação de águas da Sabesp e a partir desse local passei a transitar em meio a imensa área reflorestada por pinheiros, onde observei a colheita de sua resina, matéria prima de grande utilidade para a produção de terebintina e breu pelas indústrias, que depois são destinados a fabricação de cosméticos, pneus, tintas, goma de mascar e muitos outros produtos.


Foi um percurso ermo e silencioso, onde caminhei aproximadamente 6 quilômetros integralmente solitário, pois não encontrei vivalma em todo o trajeto, e quando emergi desse longo trecho boscoso, surpreendentemente, eu já avistei a cidade de Coronel Macedo, onde aportei depois de vencer pequena elevação.


Na povoação fiquei muito mal alojado na única Pousada ali existente.


Os proprietários Luiz e Cleide são pessoas boníssimas, contudo as instalações ofertadas deixam muito a desejar, pois só existe um banheiro para ser usado por mais de 15 pessoas que ali se hospedam, diariamente.


É certo que o Caminho das Águas ainda está debutando, mas ajustes precisam ser feitos urgentemente nessa localidade, vez que o peregrino necessita de um local adequado para repousar depois de sua estafante jornada diária.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Finalmente, no bairro da China, saindo do asfalto e adentrando em terra, à direita.

Descenso longo, entre pastagens.. tudo deserto, um bálsamo para os sentidos do peregrino.

Capelinha de Nossa Senhora Aparecida.

Trecho entre pinheirais.. integralmente deserto.

Como de praxe em todo o Caminho das Águas: Sinalização excelente!

A igreja matriz de Coronel Macedo/SP.

Coronel Macedo, originou-se como Patrimônio de Nossa Senhora do Rio Verde, em torno de um cruzeiro, onde em 1891, se construiu a capela que recebeu a denominação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do lugar. Seus primeiros povoadores vieram de Minas Gerais em busca de terras férteis para a agricultura, destacando-se entre eles o que se tornou o chefe político na região e que emprestou seu nome à localidade: o “Coronel Macedo”. Foi elevado à categoria de município com a denominação de Coronel Macedo, em 28 de fevereiro de 1964, desmembrando-se de Itaporanga e Taquarituba. População atual: Aproximadamente, 5.000 habitantes. Altitude: 624 m


RESUMO DO DIA: Pernoite na Pousada e Restaurante Sossego: Por certo, o alojamento é pouco adequado para receber peregrinos, pois o quarto disponibilizado não tinha ventilação e o banheiro externo era compartilhado por todos os hóspedes – Preço: R$50,00


Almoço no Restaurante da própria pousada: “Prato Feito” – Preço: R$20,00


AVALIAÇÃO PESSOAL – Tirante os 11 quilômetros iniciais vencidos sobre piso asfáltico, o restante da jornada se mostrou belíssimo, pleno de ermosidade e silêncio. Além das vastas culturas de soja, também observei plantações de café, milho, pecuária leiteira e, quase no final da etapa, eu perpassei pelo interior de um imenso reflorestamento de pinheiros, num trajeto ermo, silencioso e místico. No global, excetuando-se a parte vencida sobre piso duro, outra jornada de grande beleza paisagística e que está muito bem sinalizada.



5º dia: CORONEL MACEDO/SP a ITAPORANGA/SP – 26 QUILÔMETROS


Não espere que as coisas aconteçam, faça acontecer.” (Albert Schweitzer)

Finalmente, chegava à derradeira jornada e como o clima se apresentava bom, parti às 5 h, mesmo sem ingerir o café da manhã, pois ele somente seria servido após às 6 h 30 min.


Eu descendi por uma rodovia vicinal asfaltada e percorridos 2.700 m, obedecendo à sinalização, eu adentrei à direita e passei a caminhar entre imensas lavouras de soja e grandes pastagens, novamente, a tônica nessa etapa.


O caminho com muitas pedras soltas em seu leito me levou a tomar cuidados extremos nos locais onde eu pisava, pelo risco de uma torção.


Prosseguindo animado, fui vencendo as distâncias sem maiores dificuldades e no 11º quilômetro eu transitei pelo bairro São Francisco onde, após trocar breves palavras com um simpático morador, que tangia seu gado em direção a um pasto próximo, pude fotografar a bela igrejinha ali existente.


Seguindo em leve ascenso, no 16º quilômetro eu passei pelo bairro Cruzeirinho, onde há comércio e uma igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, que pude eternizar numa foto.


O trecho sequente, situado numa grande planície, me propiciou caminhar, novamente, entre imensos campos agriculturados, num trajeto arejado, ermo e de onde eu detinha uma visão periférica de todo o horizonte, podendo avistar ao longe e no cimo de um morro, a cidade de Itaporanga.


Sem maiores problemas, depois, eu caminhei por um trecho de pastagens e, na sequência, acessei uma estrada vicinal asfaltada que acabou por desaguar na rodovia SP-255, por onde prossegui pelo acostamento até a meta programada para esse dia.


O percurso final, todo urbano, me propiciou momentos de grande alegria e intenso fervor, por superar mais um gratificante desafio, desta vez, integralmente solitário.


Posto que Itaporanga é o destino final desse Roteiro, na imponente Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz, onde todos os peregrinos são recepcionados e acolhidos pela equipe da Associação de Desenvolvimento Humano São João Batista, recebendo os certificados de conclusão do caminho.


Algumas fotos do percurso desse dia:

Caminho plano e deserto.. tudo o que o peregrino precisa para refletir.

Trânsito pelo bairro São Francisco.

Que pena.. só restam 13 quilômetros... vide a placa.

Trânsito pelo bairro Cruzeirinho, onde há comércio.

Quase chegando, caminho arejado e silencioso...

Trecho final.. belíssimo. A cidade de Itaporanga já aparece na foto, à esquerda e no cimo de um morro.

A história de Itaporanga está ligada à figura do Barão de Antonina, João da Silva Machado, senhor de extensas sesmarias no norte do Paraná e sul de São Paulo. A ocupação de suas terras foi marcada pelo trabalho de catequização dos índios caingangues que as habitavam. Para esta tarefa, solicitou a presença de padres capuchinhos vindos da Itália com a intervenção de dom Pedro II, em 1843. Ao frei Pacífico de Montefalco, coube a zona do Rio Verde, área demarcada pela confluência dos rios Verde e Itararé. Em 21 de agosto de 1845, o frei fundou o núcleo populacional do qual nasceria o município de Itaporanga, erguendo uma capela e uma casa rústica no meio da mata. Em 21 de junho de 1899, o nome do município foi alterado de "São João Batista do Rio Verde" para "Itaporanga". O topônimo, de origem indígena, significa “pedra bela,” e foi escolhido devido à existência de muitas pedras ao longo do Rio Verde, que banha o Município. População: 15.200 habitantes – Altitude: 589 m


RESUMO DO DIA - Pernoite: Hotel Ipiranga – Apartamento individual excelente – Preço R$80,00.


Almoço: Jardim Bar e Restaurante: Excelente! – Preço: R$25,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


AVALIAÇÃO PESSOAL – Outra jornada de média extensão e que não apresenta entraves altimétricos de relevo em seu trajeto. Como nas etapas anteriores, fui premiado com um entorno fascinante, pleno de muito verde em todas as suas nuances. A me ladear, como de praxe, imensas plantações de soja, milho e grandes pastagens. No 16º quilômetro, bairro Cruzeirinho, há comércio, um facilitador na vida do peregrino. Enfim, a chegada ao Mosteiro de Itaporanga, marco final desse belo Caminho, emociona, gratifica e nos estimula a intentar novos desafios.

A linda Abadia de Itaporanga/SP

ABADIA DE NOSSA SENHORA DA SANTA CRUZ


O Mosteiro de Itaporanga foi fundado em 05 de agosto de 1936 por Dom Atanásio Merkle, vindo com alguns membros do Mosteiro de Himmerod, da Alemanha. A construção foi executada em grande parte pelos próprios monges, que também fabricaram os tijolos na olaria do Bairro Mosteirinho, sendo que a ala frontal do Mosteiro foi inaugurada em 20 de agosto de 1943. Referente à construção da Igreja Abacial e Paroquial de São João Batista, a pedra fundamental foi lançada em 29 de novembro de 1959, com a presença do Bispo Diocesano D. José Carlos de Aguirre. Atualmente, a comunidade está sob a direção de seu terceiro abade, Abade Dom Celso Lourenço de Oliveira, e conta com 26 membros, que se ocupam do ritmo litúrgico da vida monástica, das atividades internas de manutenção da casa e também atendendo a trabalhos pastorais, como direção espiritual, confissão, retiros, etc. e assumem quatro paróquias da Diocese, vinculadas ao Mosteiro.

Meu Diploma do CAMINHO DAS ÁGUAS.

FINAL


"A maioria das pessoas passam a primeira metade de suas vidas dizendo: "Eu sou muito jovem" e a segunda metade de suas vidas dizendo: "Eu sou muito velho". Não seja esta a sua desculpa. Agora é sua vez de começar, seja o que for que você se sinta chamado a fazer, qualquer que seja o sonho que Deus colocou em seu coração, comece hoje. Seu momento é agora!" (Matthew Kelly)


A peregrinação é, antes de tudo, uma viagem a um lugar sagrado, quer para um local próximo ou distante.


Porém é mais do que isso, vez que como peregrinos, os caminhantes se deparam com rituais, objetos e arquitetura sacra.


Andejando sozinhos ou em grupo, a experiência da viagem pode ser tão importante quanto alcançar um objetivo específico.


Em consonância, frequentes vezes se lê que no Antigo Testamento o povo, anualmente, marchava para Jerusalém.


Trata-se de um sinal cristão a ter em conta, posto que na Idade Média esta antiga tradição concretizou-se em vastas e famosas peregrinações às cidades santas de Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela.


Além de sinal de penitência, elas são também um modo de libertação de maus pensamentos, dispondo-se deste modo o homem a aproximar-se de Deus.


Hoje em dia, assistimos a um renascimento deste costume milenar, pois os cristãos querem dizer através deste sinal que procuram a paz e que o poder da graça de Deus os seduz.

Final de minha peregrinação: Chegada diante da Abadia de Itaporanga/SP

Pois bem, foi com o intuito de desvendar mais um roteiro inédito e avivar, ainda mais, a chama de minha fé cristã, que fui conhecer esse novel Caminho e, confesso, em nenhum momento me decepcionei com o que observei e vivenciei no percurso.


Pois nele escalei serras belíssimas, “ouvi” o som do silêncio e das águas, comunguei com a exuberante natureza que o cerca e transitei por locais/comunidades, onde, salvo raras exceções, a hospitalidade para com os peregrinos emociona e nos dá forças extras para seguir em frente.


Embora tenha sido apenas 5 dias de caminhada, voltei renovado no espírito e imensamente agradecido ao Criador pela beleza das paisagens que circundaram o meu deslocamento pelas terras do “Sudoeste Paulista”, região inédita para mim.


Ainda, um especial agradecimento a “AMVAPA (Associação dos Municípios do Vale do Paranapanema)”, na pessoa de seus Diretores, que mapeou e sinalizou esse traçado.


Também, à simpática Patrícia Miura, da Associação São João Batista, uma das voluntárias desse novel roteiro, que me disponibilizou o Diploma do Caminho das Águas, galardão que guardarei com muito carinho e ótimas lembranças.


De se consignar, ainda, que o percurso se encontra estupendamente bem sinalizado, sendo quase impossível se perder no trajeto.


Finalizando, nada como recordar as palavras do Papa São João Paulo II:


Quem peregrina “reza” com os pés e experimenta com todos os sentidos que a sua vida é um grande caminho para Deus.


Bom Caminho a todos!


Janeiro/2022