18ª Jornada - GIJÓN a AVILÉS

18ª Jornada – Gijón a Avilés - 24 quilômetros: “No coração industrial das Astúrias!”  

Aparentemente, o percurso não apresentava maiores dificuldades, salvo pela escalada no monte Areo, e também porque transitaria por um roteiro decorado por chaminés, fábricas, armazéns, caminhões, indústrias e ferrovias.

Assim, ao revés dos percursos anteriores, me aguardavam muito barulho, fumaça, asfalto e, para piorar, com intenso tráfego de veículos pesados.

Bem, como de praxe, levantei às 5 h, e deixei o local de pernoite às 6 h, ainda no escuro, posto que os primeiros quilômetros seriam percorridos em solo urbano, qual seja, sob a iluminação artificial.

A saída da cidade estava muito bem sinalizada, de maneira que não tive problemas nesse primeiro trecho, porquanto, depois de passar pela imponente “Plaza Mayor”, segui pela Avenida Juan Carlos I, tendo a praia de Poniente à minha direita.

Mais abaixo, adentrei na Avenida da Galícia, já próximo da famosa praia “del Arbeyal”, e por ela segui até uma grande rotatória.

Na sequência, prossegui em direção à “La Campa de las Torres”, onde encontrei o primeiro “mojón” da jornada.

Sentindo-me seguro, confiante e bem disposto, prossegui adiante e, mais à frente, eu ultrapassei a linha férrea, e continuei, ainda por asfalto até a fábrica de Talleres Garcia, onde girei à direita e acessei a rodovia que une Gijón a Poago/Montiana.

Depois de 8 quilômetros percorridos, às 7 h 20 min, principiei a subir e, ao atingir o cume de uma pequena elevação, pude ter uma visão bastante ampla do horizonte ao derredor, onde observei inúmeras fábricas, em pleno funcionamento, com suas chaminés expelindo fumaça à todo vapor, deixando o céu pardacento e nebuloso, em face da poluição ali reinante.

Essa área industrial se encontra bastante degradada em termos de meio ambiente, e apresenta um contraste difuso e constrangedor em relação à bela paisagem, que vinha me circundando até aquele local.

Mais acima, junto a uma casa simples, encontrei, surpreso, uma pequena prateleira fixada num muro e, em suas gavetas, biscoitos e outros acepipes.

Também havia um garrafão com água, para servir exclusivamente aos peregrinos, deixados e abastecidos, certamente, por algum benfeitor do Caminho.

Abstive-me de ingerir alimento e água, porquanto estava bem alimentado, contudo, fiz breve pausa para assinar o “Livro de Registro” e tecer algumas palavras de agradecimento por tão louvável e desprendido gesto.

Na sequência, principiei a escalar uma elevação, primeiramente por uma rodovia vicinal asfaltada e com inexpressivo trânsito de veículos.

Logo acima, o caminho se transformou numa agradável estrada rural, situada em meio a muito verde, o que me proporcionou um percurso deveras agradável.

O clima continuava frio e ventoso, propício à caminhada, e eu me sentia bem e animado.

Finalmente, depois de um quilômetro em lenta ascensão, alcancei o topo do monte Areo que, nesse local, mais que um ressalto, se transforma numa altiplanice, onde, segundo a história, se assentaram os primeiros gijonenses.

As escavações empreendidas nessa zona localizaram mais de 30 “dólmens”, a maior concentração do norte peninsular destas construções funerárias, todas elas da Idade da Pedra.

O roteiro prosseguiu sempre entre bosques de eucaliptos, alguns ainda em formação, alternando com imensas plantações de feno, por ambos os lados.

Finalmente, cheguei numa grande bifurcação e ali a sinalização estava extremamente confusa, posto que nesse trecho eu observei flechas em branco e vermelho, pertencentes ao roteiro GR-100, que encaminha os turistas até o “”Dolmen de San Pedro”, um monumento megalítico semidestruído, que se conserva a “mamoa” e vestígios da câmara.

Confuso, parei para verificar meus mapas, contudo não logrei êxito em localizar por qual dos braços deveria prosseguir.

Assim, tentei me localizar através do sol, porquanto me encontrava num local deserto e não havia a quem perguntar: qual deles era o itinerário que me conduziria à Santiago?

Novamente, depois de muito estudar minhas planilhas, resolvi escolher pela intuição, assim, prossegui à direita e, logo adiante, encontrei uma estrada asfaltada, em grande descenso.

Por ela segui aproximadamente uns 800 m, quando adentrei num povoado, composto de algumas casas esparsas, porém ninguém à vista, para me dar informação.

Por sorte, um carro vinha ao meu encontro e, ao sinalizar com as mãos, o condutor do veículo, gentilmente parou e pude, então, indagar se eu estava, efetivamente, no rumo certo.

O Sr. Luís, assim se chamava o motorista, disse-me que na bifurcação retro, eu deveria ter seguido à esquerda, se desculpando antecipadamente pelo meu erro, pois concordava que a sinalização estava bastante deficiente naquele fatídico local.

No entanto, me orientou a respeito de outra opção: seguir em frente, pois mais abaixo eu acessaria a rodovia que segue em direção à Santiago de Ambás, onde eu recuperaria o roteiro oficial do Caminho, porém isto iria acrescer 4 quilômetros em minha jornada.

Desanimado, me detive a olhar para trás, observando que eu necessitaria vencer uma grande elevação, para retornar ao local onde me havia perdido.

Creio que o Sr. Luís captou meus sentimentos de revolta e indignação, e isto deve ter tocado seu coração, porquanto ele me disse que, providencialmente estava indo naquela direção e poderia me dar uma carona.

Antes que ele terminasse a frase, eu já estava aboletado no assento dianteiro do seu modesto veículo, ainda com a mochila às costas e, alguns minutos depois, nós estávamos de volta ao local em que eu me perdera.

Ali, saltei e agradeci-lhe efusivamente o prestimoso auxílio, enquanto notava ser aquele mais um “anjo” que, providencialmente, Santiago colocava em meu caminho.

Depois de uma breve pausa para me hidratar, segui adiante, ainda em meio a muito verde e, depois de um quilômetro, noutra grande bifurcação, prossegui à direita, em descenso, e logo adentrava em El Valle, na verdade, uma modesta vila, composta de casas dispersas num amplo vale.

Na sequência, passei diante da igreja de Santa Eulália, citada em documentos datados do século X e, junto dela, acessei a rodovia que segue em direção a Prendes.

Quinhentos metros depois, eu adentrei à esquerda, em agradável estrada rural, ainda que asfaltada, e caminhei por 3 quilômetros, em leve ascensão, através do “vale de Carreño”, em meio a muitas fazendas de criação de gado, num trajeto amplo, ventilado e extremamente agradável.

Porém, depois de transpor a via férrea através de um túnel, meu idílico passeio pela natureza teve fim.

Já próximo à igreja de Tamón, outra pequena vila, onde acessei a rodovia AS-326, com seu pesado tráfego de caminhões e todo barulho e poluição, disto decorrente, voltar à realidade moderna.                      

Prossegui, então, pelo acostamento e logo passei defronte à refinaria de Aceralia, a primeira das muitas que me escoltaram até a cidade de Trasona, outro povoado extremamente industrializado, situado à beira da “carretera”, que oferece alguns serviços ao caminhante, porém eu estava cansado, com pressa de chegar e prossegui adiante.

O sol já queimava, quando acessei uma calçada lateral que me levou pelos 3 derradeiros quilômetros, em meio a muito barulho e fumaça, até uma grande rotatória, situada em meio à  concentração urbana.

Naquele local, obedecendo às flechas, acessei a Avenida de Gijón, depois a Avenida Marques de Suances, até aportar, finalmente, na Plaza de Espanha, já no coração de Avilés, minha meta para aquele dia.

A cidade, cuja fundação data o ano de 905, foi durante muitos anos o principal porto da região e um dos mais importantes núcleos de recepção de caminhantes provenientes das peregrinações marítimas, que vinham pela costa, em barcos ou navios.

Seu casco antigo, declarado Conjunto Histórico, Artístico e Monumental, guarda importantes joias de arquitetura civil e religiosa, com um impressionante conjunto de edifícios, palácios, ruas e pórticos, onde se destaca a igreja de San Nicolás de Bari, construída entre os séculos XII e XIII.

Ali, fiquei hospedado na Pensão La Fruta e depois de um relaxante banho, fui verificar meus pés e tive um grande susto, pois a bolha que havia debaixo do solado esquerdo, crescera em tamanho, obrigando-me a caminhar com dificuldade, depois do desaquecimento.

Como o comércio ainda estava aberto, eu fui até uma farmácia, onde solicitei uma pomada cicatrizante e que, se possível, fosse também anestésica, pois o local atingido se encontrava bastante sensível.

A atendente examinou a parte inferior do meu pé com atenção e cuidado, depois me receitou um creme específico para aquele tipo de lesão, garantindo-me rápida recuperação, desde que eu me resguardasse por alguns dias de me movimentar.

Confesso que quase tive um ataque de riso, pois, como iria interromper minha “viagem” por tanto tempo, ao revés, solicitei a proteção do Santo, fiz curativos no local e toquei a vida em frente.

Na sequência, saí para almoçar e, para tal mister, utilizei um dos inúmeros restaurantes que se encontram estabelecidos ao longo do centro comercial da urbe.

À tardezinha, após um bom descanso e assim que o sol amainou, saí para dar uma volta pelas movimentadas ruas centrais desse gracioso povoado, aproveitando, ainda, para ir até a Oficina de Turismo, onde pude carimbar minha credencial.

Na sequência, fui conhecer o local por onde seguiria no dia seguinte e, no retorno, aproveitei para acessar a internet e enviar notícias à família, num “ciber-café” que encontrei numa movimentada avenida.

À noite, deixei para descansar e estudar o longo roteiro que necessitaria cumprir no dia seguinte.

E logo depois fui dormir, pois meu pé estava terrivelmente dolorido e incomodando bastante.           

IMPRESSÃO PESSOAL – Um   percurso com pouca oscilação altimétrica, contudo, com algumas falhas na sinalização, mormente quando da passagem pelo cume do monte Areo. No geral, uma etapa com bosques e muito verde, porém, em seu final, extremamente cansativa e desgastante, pelo barulho, poluição e perigo quando se enfrenta o derradeiro “tramo”. Que, infelizmente, é todo cumprido em asfalto.

 19ª Jornada - AVILÉS a CUDILLERO