Pico da Forquilha - Jacutinga/MG

2020 – PICO DA FORQUILHA – JACUTINGA/MG – 19 QUILÔMETROS

A maior riqueza que possuímos é, quando de manhã, abrimos os olhos, e vemos o dia que temos diante de nós.” 

Estando em Jacutinga a passeio/lazer e depois de percorrer a Rota das Malhas nº 9, nominada de “Paredão”, o Vinícius e eu optamos por “escalar” o Pico da Forquilha, um dos maiores atrativos do município jacutinguense e que, com seus 1250 m de altitude, em dias claros, propicia uma das vistas mais espetaculares de toda a região.

Distante, aproximadamente, 8 quilômetros do centro da cidade, essa montanha que tem formato triangular, ao ser observada de uma de suas faces lembra um vulcão extinto.

O lugar, a referendar o que eu havia lido num site de aventuras, destaca-se pela atraente paisagem natural e suas características geográficas, que encantam turistas e amantes da natureza, como em nosso caso. 

Na "Casa do Peregrino", com o especial amigo Polly Ferreira.

À noite, atendendo ao convite do “irmão” caminhante Polly Ferreira, seguimos até a sua residência, onde aconteceu uma animada confraternização.

Nessa oportunidade tive a alegria de reencontrar outra pessoa especial, que não via há algum tempo: o Ely Prado, amigo do coração! 

Com o nosso grande amigo Ely Prado, matando saudades.

A reunião estava animada, contudo, nos recolhemos cedo, vez que o dia seguinte nos reservava intenso esforço físico, pois escalaríamos o mítico pico da Forquilha.

Isto decidido, fomos dormir ávidos e expectantes ante o maiúsculo desafio que enfrentaríamos na manhã sequente.


SOBRE JACUTINGA/PICO DA FORQUILHA

Segundo a história, em 1771, o território que hoje constitui a paróquia e o município de Jacutinga, à época de seu povoamento, pertencia à paróquia de Ouro Fino e era habitada, em sua massiva maioria, pelos índios puris.

Contudo, há indícios que em 1803 já havia moradores na Região do Pico da Forquilha, sendo que dentre os povoadores antigos de Jacutinga, destaca-se Antônio Pessoa de Lemos, natural de Sabará. 

O Pico da Forquilha visto de, aproximadamente, 1 km de distância.

É notório que se estabeleceu com fazenda na barra do Ribeirão de São Paulo, cujas terras abrangiam o local onde hoje se encontra a cidade de Jacutinga.

Por sinal, Jacutinga é um nome de origem indígena atribuído ao jacu branco ((Pipile jacutinga), também conhecido por jacuapeti, jacupará e peru-do-mato, aves pintalgadas, pretas, e com penacho branco, outrora existente em grande quantidade na região, originando-se daí o topônimo do município.

 NOSSA CAMINHADA

"O destino não é uma questão de oportunidade. É uma questão de escolha. Não é algo para se ficar esperando, é algo a ser conquistado." (William J. Bryan) 

Após profícuo café da manhã, deixamos o local de pernoite às 5 h, transitamos ao lado da antiga estação ferroviária, depois, prosseguimos em direção ao bairro Parque das Nações.

O clima estava frio, temperatura na casa dos 16 graus, ótimo para caminhar, quando ultrapassamos a rodovia MG-290 e, já do outro lado, prosseguimos confiantes, ainda sob o conforto da iluminação urbana.

Depois de percorrer 3 quilômetros sobre piso duro, finalmente, adentramos em larga e ascendente estrada de terra, que seguiu na direção leste. 

Em ascenso, caminhando em direção ao Pico.

Sem grandes empecilhos, pois o movimento de veículos ainda era inexpressivo naquele horário, mais acima, percorridos 7 quilômetros, numa bifurcação, onde há uma placa indicando o Pesqueiro Nossa Senhora Aparecida, nós seguimos à direita, em forte ascenso e ladeados por eucaliptais.

Um quilômetro adiante, onde há uma placa sinalizando o itinerário, nós abandonamos a via principal, adentramos à direita e logo ultrapassamos uma porteira. 

Quase chegando lá...

Na sequência, seguimos caminhando pelo interior de um pasto e, diga-se de passagem, esse trecho fora recentemente limpo e terraplenado pelos trabalhadores da Prefeitura Municipal de Jacutinga, o que muito auxiliou nosso deslocamento. 

Quase chegando à base do Pico.

Finalmente, chegamos a um trecho aberto e amplo, utilizado pelos frequentadores do local que ali chegam motorizados, para deixar seus veículos estacionados.

Então, o trajeto se tornou íngreme e seguiu morro acima, pelo interior de uma fresca mata nativa, onde predominam árvores de médio porte. 

Iniciando a escalada...

Há degraus sobrepostos na encosta, quase sempre em linha vertical, onde pedras e raízes servem de apoio os pés.

Confesso que passei por entraves no ascenso, pois em muitos nichos, a distância a ser superada excede a um metro de distância, e como eu vestia bermuda justa, a amplitude de meus passos ficava prejudicada.

Por sorte, nos locais mais íngremes e severos, meu parceiro Vinícius, que seguia à frente, literalmente, ofereceu suas mãos e me “puxou” para cima. 

Trilha ascendente bastante suja e erodida.

Não fosse sua ajuda prestimosa, eu teria grandes dificuldades para superar determinados patamares, pelo expressivo esforço que a escalada exige.

Finalmente, emergimos num local aberto, porém, ainda bastante íngreme, e por ele seguimos até o topo do primeiro morro. 

A trilha, já próximo do topo.

Dali a vista já era espetacular, no entanto, seguindo em frente, caminhamos uns 10 m em leve descenso para, na sequência, enfrentar o derradeiro tope que, em seu final, nos levou ao cume, localizado a 1.250 m de altitude. 

Trata-se de uma pequena área desmatada, que mede em torno de 16 m2, e ali solitários e eufóricos pudemos visualizar a região toda, num ângulo de 360 graus, até aonde nossa vista alcançava. 

O Vinícius no topo do Pico da Forquilha.

Foram momentos maravilhosos, de intensa contemplação, onde aproveitamos para respirar o frígido ar que dali emanava, bem como fotografar as paisagens que se delineavam aos nossos olhos estupefatos ante tamanha beleza.

Estando apenas nós no topo do pico, utilizamos o espaço para admirar toda a topografia circundante, bem ainda para lanchar e promover farta hidratação, pois com o sol em rápido ascenso no firmamento, o calor se fez presente.

A cidade de Jacutinga aparece ao longe, numa depressão.

Permanecemos no local por, aproximadamente, 30 minutos, interregno suficiente para tentar identificar as povoações que nos circundavam, pois o local oferece uma bela vista panorâmica.

Lembrando que Jacutinga faz divisas com as cidades paulistas de Espírito Santo do Pinhal e Itapira, além de Albertina, Monte Sião, Ouro Fino e Andradas pelo lado mineiro.

Além de alguns desses municípios citados, nós também avistamos o “indefectível” Morro Pelado, que pertence à cidade de Águas de Lindoia, bem como identificamos no entorno extensas plantações de café, eucaliptos, cana-de-açúcar e pastagens. 

Vista do outro lado do morro.

É sabido que alguns aventureiros arriscam montar suas barracas e dormir nesse místico enclave, porque em noites estreladas podem desfrutar a imensa beleza da abóboda celeste.

O local também é frequentado, amiúde, por ornitólogos, pois é de lá que surgem as maiores chances de observação de pássaros nativos como o Urubu-rei (Sarcoramphus papa), Bacurau-da-telha (Hidropsalis longirostris), Canário-do-mato (Basileuterus flaveolus), Inhambú-chintã (Crypturellus tataupa), Pula-pula-de-barriga-branca (Basileuterus hypoleucus) e Inhambú-guaçu (Crypturellus obsoletus).

Após a sessão final de fotos, iniciamos a descida, que me pareceu mais perigosa que a escalada.

Assim, o fiz com todo o desvelo e concentração que o brusco declive exigia, pois um simples escorregão poderia redundar numa queda fatídica ou de graves consequências.

Dessa forma, foram envidados contorcionismos, pulos atrevidos, pespegados com rara felicidade, deslizamentos pelas bordas das pedras, arranhões nos joelhos e saltos simiescos pelos rochedos, sempre amparado pelo fiel cajado.

Sem dúvida, a volta foi bastante complicada e meus joelhos reclamaram bastante. 

Sinalização no caminho de acesso.

Como curiosidade, na brusca desescalada, nós cruzamos com um grupo de oito jovens que subia o morro, na intenção de promover um churrasco no topo do rochedo e, para tanto, carregavam a churrasqueira, isopor com bebidas, talheres, material de limpeza/higiene e, inclusive, estavam acompanhados de uma criança com 2 anos de idade.

Nem imagino a energia que dispenderam no ascenso, tanto quanto para descender do pico, após o lauto almoço. 

Em pleno descenso, retornando para Jacutinga..

Nosso retorno ao ponto de partida foi feito sem maiores dificuldades/atropelos e em bom ritmo, visto que o percurso é, praticamente, todo em descenso.

Assim, ao chegar defronte ao Hotel Ghandi nos cumprimentamos entusiasticamente, felizes por vencer mais um desafio, e após um banho refrescante, regressamos às nossas residências. 

Pico da Forquilha: eu também cheguei ao cume!

Sobre a nossa aventura, diria que o Pico da Forquilha é um lugar maravilhoso, mormente para aqueles que respeitam o meio ambiente e vivem em sintonia com o universo.

Contudo, é necessário estar bem preparado fisicamente, porque o ascenso é íngreme e, em alguns pontos, bastante cansativo.

Afinal, o pico está situado a 1.250 metros de altitude e para lá chegar, é preciso superar uma trilha erodida e plena de pequenas armadilhas, que desafia os turistas incautos ou leigos no assunto.

Lembrando que, da base da montanha até o cume, caminha-se, aproximadamente, 600 metros, sempre em dura ascendência.

Porém, após chegar ao topo, pode-se descansar, relaxar, ou apenas apreciar a beleza do entorno.

De lá também, em dia claros, munido de um binóculo, consegue-se avistar várias cidades situadas na região.

Dessa forma, recomendo esse destino, com efusão, aos amantes da natureza, pessoas arrojadas e aos aventureiros de plantão. 

E, como de praxe, quero deixar meu agradecimento a admiração ao meu parceiro de caminhada, o Vinícius que, com sua excelente forma e força física, muito me auxiliou na escalada do mítico Pico da Forquilha.

No topo do Pico da Forquilha. Jacutinga aparece ao longe e ao fundo. Um passeio imperdível e desafiador!

FINAL

Às vezes a felicidade é uma bênção, mas geralmente é uma conquista.” (Paulo Coelho) 

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Não espere terminar a faculdade para se apaixonar, para encontrar trabalho, para se casar, ter filhos, para vê-los se estabelecerem.

Não espere chegar sexta à noite ou domingo de manhã, a primavera, o verão, o outono ou o inverno.

Este é o melhor momento para ser feliz.

A felicidade é uma viagem, não um destino.

Lembre-se que a pele enruga, o cabelo fica branco e os dias se tornam anos, mas a sua força e sua convicção não tem idade.

Enquanto você estiver vivo, sinta-se vivo.

Vá em frente, mesmo quando todos esperam que você fique onde está.” 

(Madre Teresa de Calcutá) 


Bom Caminho da todos! 

Setembro/2020