15ª/18ª etapas – SARRIA a SANTIAGO DE COMPOSTELA - 119 quilômetros

Todos os nossos sonhos podem tornar-se realidade se tivermos a coragem de persegui-los.

Meu cronograma de viagem previa percorrer 3 etapas pelo Caminho Francês, com pernoites intermediários em Estella, Los Arcos e Logroño.

Ocorre que quando telefonei para dois hostais existentes em Estella, não encontrei acomodações disponíveis, porquanto, todos se encontravam lotados, algo inédito, mormente por estarmos no início do mês de maio.

Resolvi, então, fazer jornada dupla e ir dormir em Los Arcos, mas também lá não logrei êxito em acomodações.

Por sinal, o Hostal Ezequiel, onde sempre pernoitei naquela cidade, por motivos que desconheço, também fechou suas portas.

Diante disso e do excessivo número de peregrinos que havia no Caminho, optei por abortar as etapas sequentes, até porque, já as percorrera em 3 oportunidades.

Em Logroño, no Monumento em homenagem aos Peregrinos.

Assim, na manhã seguinte, tomei um ônibus que, pontualmente, 90 minutos depois, me deixou em Logroño.

Imediatamente, me dirigi à Estação Ferroviária, onde adquiri passagem para Sarria, num trem que partiria à 1 hora da madrugada seguinte.

Igreja matriz de Logroño.

Em seguida, me hospedei num hostal, situado nas imediações do magnífico Paseo del Príncipe Vergara, também conhecido como Paseo del Espolón.

Ele se localiza na praça mais emblemática da urbe e foi durante muitos anos o centro físico da cidade, sendo que, atualmente, é o seu centro financeiro.

Para almoçar, utilizei um dos inúmeros restaurantes existentes na região, depois fui descansar.

15ª etapa – SARRIA a PORTOMARIN – 23 quilômetros

"Pra que ter medo? Deus já está no lugar onde você quer chegar!

O trem que eu tomaria em Logroño à 1 h da madrugada, partiu com 40 minutos de atraso, algo inusitado para mim, em se tratando da Espanha, país que pertence ao Primeiro Mundo.

Porém, durante seu percurso, ele recuperou parcialmente esse retardo e chegou em Sarria, às 9 h 20 min da manhã, debaixo de uma intermitente garoa.

Eu não conseguira dormir durante a viagem e, em meu cronograma original, eu havia reservado esse dia para descanso, porém eu já havia pernoitado nessa graciosa urbe em 3 ocasiões diferentes, portanto, nada havia ali de inédito para mim.

Assim, ficar estático na cidade em nada alegraria meu dia.

Então, depois de fazer um balanço do meu estado físico e mental, resolvi seguir adiante e me hospedar naquele dia em Portomarín, 23 quilômetros à frente.

Antes, contudo, fui até um bar, ingeri um profícuo copo de café, acompanhado de um “bocadillo de jamón”.

Restam 100 quilômetros...

Depois, me paramentei para a etapa, carimbei minha credencial e segui em frente.

Antes, porém, face ao mau tempo reinante, protegi a mochila e vesti a capa de chuva.

Já passava das 10 horas e, acreditem, muitos peregrinos estavam iniciando a sua jornada naquele horário.

Felizmente, para minha alegria, não encontrei pessoas em demasia no roteiro, o que concorreu para que eu mantivesse um ritmo tranquilo mas uniforme em meu périplo.

Ainda assim, eu que adviera de um roteiro solitário e silencioso, tive grandes dificuldades para me adaptar ao Caminho Francês.

Então, como forma de me acalmar, depois de ultrapassar a metade da etapa, liguei meu rádio, coloquei os fones no ouvido e segui em frente, num ritmo constante e sem pausas.

Igreja de San Nicolás, em Portomarín.

Em Portomarín, me hospedei na Hotel Villajardín, onde desembolsei 40 Euros por um quarto individual.

Para almoçar, utilizei os serviços do Mesón Rodrigues, onde paguei 10 Euros pelo “menu del dia”.

16ª etapa – PORTOMARIN a PALAS DE REI - 26 quilômetros

Sonhar alto encolhe os medos.

Eu saí bem cedo, assim que o dia raiou e, nessa etapa, por sorte, não tive contato com os “turisgrinos”.

Aliás, uma parte deles estava hospedada na mesma Hotel em que pernoitei, e a atendente me informou que naquele dia eles conheceriam e caminhariam até a cidade de Lugo.

Foi um trajeto tranquilo, onde tive contato e ultrapassei uns 20 peregrinos, a maior parte deles, de procedência espanhola.

Eram caminhantes que, como eu, também havia partido bem cedo e a maioria deles pernoitaria em Melide.

Restam 78,1 quilômetros até Santiago.

No primeiro trecho fui ultrapassado, em várias oportunidades, por ciclistas que, com certeza, pretendiam chegar a Santiago naquele dia, um sábado.

No albergue de Gonzar, avistei umas 20 pessoas tomando o café da manhã, outras se preparando para seguir em frente.

Mas, estes ficaram à minha retaguarda, porque caminhei num rimo tranquilo, e não fiz nenhuma parada importante no caminho.

Em Palas de Rei, fiquei hospedado na Pensión Curro, onde paguei 30 Euros por um excelente apartamento.

O almoço foi no Restaurante Castro, onde o magnífico “menu del dia” me custou 10 Euros.

17ª etapa – PALAS DE REI a ARZÚA - 30 quilômetros

A falta de coragem causa perda de momentos incríveis!

Outra etapa sem grandes dificuldades altimétricas, já minha velha conhecida, que venci sem maiores problemas.

Saí bastante cedo e não avistei nenhum caminhante até o 10º quilômetro, quando passei, sucessivamente, por 3 peregrinos que caminhavam separados.

O dia amanhece lentamente...

Na cidade de Melide, metade da jornada, fiz uma pausa num bar para carimbar minha credencial e ingerir um café, acompanhado de um croissant.

Prosseguindo, segui sempre em ritmo constante e ultrapassei vários caminhantes.

Pulperia Ezequiel, em Melide, de gratíssima lembrança!

Em Ribadiso de Baixo eu alcancei 2 simpáticos peregrinos portugueses e seguimos conversando animadamente.

Foi uma ótima oportunidade para trocar experiências, já que eles pretendiam pernoitar em Pedrouzo, enquanto eu fiquei em Arzúa.

Na cidade, me hospedei no Hostal Teodora, onde paguei 36 Euros por um quarto individual.

Para almoçar, utilizei no restaurante Furancho, e despendi 10 Euros pelo “menu del dia”.

18ª etapa – ARZÚA a SANTIAGO DE COMPOSTELA – 41 quilômetros

Coragem é arriscar o passo e levar o sonho junto!

Era meu derradeiro dia no Caminho e resolvi, como de praxe, sair bem cedo, para aproveitar ao máximo os momentos de solidão e silêncio no roteiro.

Deixei Arzúa às 4 h 45 min, lanterna na mão, e não tive problemas para encontrar meu rumo.

Doze quilômetros percorridos, com o dia já claro, eu transitei pelo povoado de Salceda, e ali ultrapassei 4 peregrinos italianos que iniciavam sua jornada.

O dia estrava frio e nublado, ideal para caminhar.

Homenagem a uma peregrina falecida em 2015, em Pedrouzo.

Houve um considerável acréscimo de peregrinos na trilha, após minha passagem por Pedrouzo/Arca, mas segui em meu ritmo constante e cheguei sem maiores problemas a zona urbana de Santiago.

E pela décima primeira vez, aportei à Praça do Obradoiro, um dos momentos mais comoventes de minha vida.

Hora de abraçar e agradecer o Santo Apóstolo por mais essa graça conquistada.

Momentos de intensa emoção, defronte à Catedral de Santiago de Compostela.

Depois, fui buscar minha “Compostelana”, outro prêmio que guardo com muito carinho e orgulho.

Na cidade, fiquei hospedado no Hostal Mapoula, onde paguei 37 Euros por um excelente quarto individual.

Para almoçar, como de praxe, utilizei os serviços do Restaurante Manolo, um local que recomendo com efusão, porque ali, além do tratamento diferenciado, feito pelo seu proprietário, o Sr. José Luiz, que conheço desde 2001, se come e se bebe muito bem.

Minha 11ª Compostelana, motivo de muito orgulho e alegria!

No dia seguinte, assisti à solene e imperdível “Missa dos Peregrinos” celebrada, diariamente, às 12 horas.

À tarde, perfazendo as contas, constatei que havia encerrado minha jornada na Espanha com uma antecedência de 4 dias.

Assim, fui até o Aeroporto de Santiago e lá consegui mudar minha passagem para a mesma noite, quando retornei ao Brasil.

E depois de 26 dias longe de casa, nada melhor que reencontrar o nosso “doce lar”.

 EPÍLOGO