3º dia: ALAGOA à AIURUOCA – 30 quilômetros

3º dia: ALAGOA à AIURUOCA – 30 quilômetros

Anjo do dia: HAHEUIAH - Significado do nome: Deus, o bem dentro da alma”

Seria outra jornada de razoável extensão, assim, acordei com a Célia de sairmos bem cedo, para fugir do sol escaldante do meio dia.

No dia anterior, havíamos combinado com a simpática hospedeira o horário de nosso café da manhã e, pontualmente às 5 h 30 min, pudemos degustar frutas e ingerir um gostoso café cheiroso e forte, que fora preparado pela Guela.

À nosso pedido, ela contratou um taxista de sua confiança para transportar as mochilas até Aiuruoca, assim poderíamos caminhar livres, levando apenas o imprescindível para uso e consumo na trilha.

Assim, bem alimentados, deixamos o local de pernoite às 6 h, seguindo por ruas escuras e silenciosas.

Logo encontramos a primeira flecha do dia e, por uma via pavimentada de bloquetes, deixamos a zona urbana e nos internamos numa estrada ascendente.

Dois quilômetros depois, com o dia já claro, adentramos à direita, ultrapassamos o rio Dourado por uma ponte e logo passamos diante da cachoeira do Ouro Fala, que, segundo li, possui três quedas d'água, todas ótimas para banho, e situada no bairro homônimo.

O portão marrom que guarda aquele ambiente estava fechado, de forma que não pude aferir a beleza do local.

O caminho seguiu dentro de espessa e úmida mata, porém, mais à frente, passei a caminhar entre grandes pastagens.

Uma espessa cerração cobria o entorno, sinal de que o sol viria com todo vigor, mais tarde.

O trajeto seguiu alternando matas fechadas com campos arejados, onde encontrei muitos pés de araucária.

A Célia, caminhava à minha retaguarda, mas mantinha contato visual, resolveu seguir num ritmo mais suave, para poder fotografar com mais acuidade a paisagem circundante.

De forma que, após cinco quilômetros vencidos, eu prossegui em meu ritmo e integralmente solitário.

À frente: à esquerda e a fundo, o Pico do Rincão, e à direita, a Serra do Charco.

Observando adiante, notei que eu caminhava de encontro a dois grandes morros, que mais tarde vim a saber o nome.

Os campos que margeavam a estrada estavam cobertos de orvalho e, com o dia raiando, cintilavam ao mais leve sopro da brisa.

O roteiro seguiu sempre pelo lado direito do rio, mas eu podia ver a estrada municipal, que liga Alagoa a Aiuruoca, discorrendo pelo outro lado, e com intenso tráfego de veículos.

Mais adiante, ao passar por um capão de bosque, o canto das aves, o aroma campestre e a formosura da paisagem, quase etérea, invadiu totalmente meus sentidos.

Ouso afirmar, que esse trecho foi o mais belo e bucólico que percorri no Caminho dos Anjos, e durante os 20 quilômetros que caminhei até atravessar novamente o rio Dourado, não encontrei nem fui ultrapassado por nenhum veículo motorizado.

Mais adiante, cruzei o bairro dos Nogueiras, localizado à sobra de serra homônima, que fui deixando à minha direita.

Casa sede da Fazenda dos Nogueiras, e ao fundo, Pico do Rincão (esquerda) e Serra do Charco.

Nesse local, conversei com um Senhor que consertava a estrada, e ele me afirmou que os picos que eu avistava à minha retaguarda, era a serra do Rincão, e o outro, um pouco menor, o morro do Charco.

Trocamos mais algumas informações, depois segui adiante, após fraternais despedidas.

O cenário desse dia foi deveras maravilhoso, e eu prossegui transitando entre grandes capões de mata, entremeados com fazendas de gado leiteiro, atividade forte e preponderante na região.

Mais adiante, já no bairro Fonseca, encontrei quatro pessoas a cavalo, que faziam um “tour” pela região, e paramos para conversar um pouco.

Prosseguindo, em determinado local, o caminho por onde eu seguia cruzou com outra estrada larga e, confuso quanto à direção a seguir, prossegui pelo ramal que me pareceu mais óbvio.

Vista do Pico do Rincão (o maior) e da Serra do Charco, que ficaram à minha retaguarda, no Caminho para Aiuruoca/MG.

Logo adiante, um senhor empunhando uma enxada, carpia uma horta à beira da estrada e, ao pedir informações, ele me confirmou que eu estava no rumo certo.

Primeira visão do Pico do Papagaio, no Caminho para Aiuruoca/MG.

Observando à minha esquerda, avistei um grande morro e, ao indagar seu nome, fiquei surpreso, pois se tratava do famoso Pico do Papagaio.

Logo transitei ao lado de grande milharal, a única plantação, além de cana-de-açúcar, que visualizei no percurso todo.

Ao fundo, o Pico do Papagaio, no Caminho para Aiuruoca/MG.

Enfrentei, mais à frente, duas grandes aclividades, que venci devagar, observando atentamente o entorno, que se mostrava exuberante e pleno de muito verde, em todas as suas gradações.

O verde intenso, em todas as tonalidades, sempre presente no Caminho para Aiuruoca/MG.

Depois de transitar bastante tempo por um frondoso e fresco bosque de eucaliptos, eu acabei por desaguar verticalmente em outra estrada.

Ali, obedecendo à sinalização, segui à esquerda, transpus pequeno córrego por uma ponte, e logo passei diante da Fazenda Guapiara, onde se localizam as nascentes do decantado rio Aiuruoca.

Ali funciona uma RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural, que é uma categoria de Unidade de Conservação particular criada em área privada, por ato voluntário do proprietário, em caráter perpétuo, instituída pelo poder público.

Como depende da vontade do dono das terras, então, é ele quem define o tamanho da área a ser instituída como RPPN.

Minas Gerais é o estado com maior número de RPPNs, posto que até dezembro de 2012, foram criadas 187 reservas particulares por meio de Portarias do IEF.

Os principais benefícios outorgados ao proprietário de RPPN são:

- Direito de propriedade preservado;

- Isenção de Imposto Territorial Rural – ITR, referente à área reconhecida como RPPN;

- Prioridade de análise dos projetos pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA;

- Preferência na análise de pedidos de crédito agrícola junto a instituições de crédito em propriedades que contiverem RPPN em seus perímetros;

Nova visão do Pico do Papagaio, agora bem mais próximo, no Caminho para Aiuruoca/MG.

- Maiores possibilidades de apoio dos órgãos governamentais para fiscalização e proteção da área, por ser uma Unidade de Conservação;

- Possibilidade de cooperação com entidades privadas e públicas na proteção, gestão e manejo da RPPN;

- Participação na Associação de Proprietários de Reservas Particulares de Minas Gerais (Arpemg) e na Confederação Nacional de RPPN.

Prosseguindo, ainda transitei mais 2.300 metros, dentro de agradável e sombreado bosque, tendo agora novamente à minha esquerda o rio Dourado que, nesse trecho, já se mostrava bastante encorpado.

Finalmente, depois 20 quilômetros percorridos, eu transpus novamente o curso d'água por uma ponte, e saí na rodovia municipal, prosseguindo à direita.

Ponte sobre o rio Dourado.

Então, quando ainda restavam 9 quilômetros para finalizar minha jornada, o Caminho se tornou tormentoso.

Infelizmente, a Prefeitura de Aiuruoca ordenara que as máquinas fizessem a conservação do leito da estrada e havia muita terra solta no piso.

Como não chovia há muito na região, havia uma espessa camada de pó decantada no local por onde eu transitava.

À frente, novamente o Pico do Papagaio, no Caminho para Aiuruoca/MG.

Naquele horário, ainda era intenso o tráfego de veículos, e a combinação de sol, calor e poeira, subtraíram todo o encanto de minha trajetória.

A cada passo que eu dava, eu me aproximava cada vez mais do majestoso Pico do Papagaio, porém minha preocupação com o trânsito e o pó, sugavam todo o brilho de meu périplo.

Após vencer empinada rampa, eu passei diante da Estalagem Mirante, local indicado para pernoite na planilha do Caminho dos Anjos.

Porém, eu tinha curiosidade de conhecer a cidade, assim fizera reserva numa Pousada lá situada.

Os derradeiros 5 quilômetros foram realmente tétricos e estafantes, pois o sol forte minava minha resistência, e Aiuruoca está situada no topo de um morro, obrigando-me a fazer um esforço extra para ali aportar.

Depois de vencer o derradeiro aclive, extremamente desgastado, eu passei a caminhar em zona urbana, e logo adentrava à Pousada 2 Irmãos, local onde me hospedei nesse dia.

Ciente das dificuldades que a Célia encontraria no derradeiro trecho, fiz contato telefônico e soube que ela ainda se encontrava a 6 quilômetros da urbe, debaixo de espessa nuvem de pó, levantada por caminhões e automóveis que trafegavam pelo local.

Então, convenci-a de que deveria tentar uma carona, posto que não valeria a pena seu denodo em prosseguir caminhando, em face das dificuldades que ela vivenciaria.

Ela acedeu, conseguiu condução e, depois de 15 minutos, chegou à Pousada e seguiu para seu quarto.

Adentrando em zona urbana, em Aiuruoca/MG.

Após um revigorante banho e a imprescindível lavagem das roupas, desci ao piso térreo e pude ingerir faustoso almoço, de excelente qualidade, no restaurante que ali funciona.

Aiuruoca quer dizer “casa de papagaio” em tupi.

Seu nome surgiu pela primeira vez na sua forma primitiva como Juruoca, em 29 de julho de 1694, e passou a categoria de vila em 14 de agosto de 1834.

Considerada "O Paraíso dos Ecoturistas" é, sem dúvida, o melhor lugar do mundo para se viver em contato com a natureza e com pessoas que conservam, até hoje, os costumes de anos atrás.

Há muitas cachoeiras e lugares interessantes para serem visitados no município, uma delas, a cachoeira dos Garcias, que é uma das mais belas e, exatamente onde está localizado o hostel dos Garcias, uma de nossas paradas, bem no meio do novíssimo PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO PAPAGAIO.

A cidade também tem suas histórias e lendas, como o famoso e tradicional Carnaval Antecipado de Aiuruoca, que hoje é conhecido internacionalmente.

O rio Aiuruoca possui a nascente mais alta do Brasil, com 2450 metros de altitude, na serra do Itatiaia.

A cidade é conhecida como o sétimo chacra sagrado da era de aquário, uma das Cidades Sagradas do Sul de Minas Gerais, considerada a cidade da Taumaturgia, comunicação com a Consciência Angélica, que promove a purificação da alma.

(Extraído do site do Caminho dos Anjos)

Igreja matriz de Aiuruoca/MG e sua praça central.

Terra desbravada em 1692 pelo padre João de Faria Fialho, capelão dos bandeirantes, conforme descrição de Bento Pereira de Souza Coutinho, em missiva enviada ao governador-geral do Brasil, D. João de Lancaster, datada de 29 de julho de 1694. Abaixo, um trecho da carta:

"De frente a Villa de Taubaté, dizia elle, quatro ou cinco dias de viagem se acha estar o Rio Sapucahi e descendo da direita da dicta villa para a de Guaratinguetá, tomando a estrada real do sertão 10 dias de jornada para a parte norte sobre o Monte de Amantiquira, quadrilheira do mesmo Sapucahi, achou o padre Vigário João de Faria, seu cunhado Antonio Gonçalves Viana, o Capitão Manoel de Borba e Pedro de Avos, vários ribeiros com pintas de ouro de muita conta: e das campinas da Amantiquira, cinco dias de jornada, correndo para o norte, estrada também geral do sertão, fica a serra da Boa Vista, d’onde começam os campos geraes até confinar com os da Bahia: e da Serra da Boa Vista até o Rio Grande são 15 dias de jornada cujas cabeceiras nascem na Serra Da Juruoca, defrente dos quaes serros até o Rio do Guanhanhães e em Monte de Ebitipoca tem 10 léguas pouco mais ou menos de circuito, toda essa planície com cascalho formado de safiras e de frente aos mesmos Serro da Juruoca para a parte da estrada caminho do oeste pouco mais ou menos esta distancias são muitos montes escalvados pelos campos e muitos rios..."

Complementando a narrativa, ainda temos do livro "Primeiros Descobridores das Minas do Ouro na Capitania de Minas Gerais" o seguinte:

"Assim se denominou um descobrimento, ao sul das minas de São João Del Rei, por alusão a um penedo cheio de orifícios, em que se aninhavam e se reproduziam os papagaios".

Trata-se inequivocamente do nosso símbolo maior, o Pico do papagaio, nosso guardião intemporal.

Aí está, belíssimo relato sertanista, que retrata com detalhes a primeira vez que se teve notícia das terras de Aiuruoca, Aiuruoca de origem tupi, na sua melhor divisão histórica A – Juru – oka que se traduz Ajuru = Papagaio + Oka = Casa de Papagaio, tendo como seu descobridor o Padre João de Faria Fialho.

Vê-se, pelo exposto, que, antes da descoberta do Ribeirão do Carmo, hoje cidade de Mariana, em 1696, da cidade de Ouro Preto, em 1698, da criação da Capitania Independente de Minas, em 1720, da fundação da Cidade de Campanha, em 1727, o nome Aiuruoca ecoava como o voo do papagaio ajuru, pela história das minas do ouro.

Porém sua fundação oficial ocorreu em 1706, por João de Siqueira Afonso, taubateano, descobridor das Minas de Aiuruoca e fundador do arraial do mesmo nome, atraindo exploradores portugueses e paulistas.

Logo fundado o arraial, recebeu em 1708, a patente de capitão-mor e superintendente das Minas de Aiuruoca e Ibitipoca, o capitão Melchior Felix, de reconhecida nobreza das principais famílias de Taubaté, sendo neto do fundador da mesma, e morador no distrito de Aiuruoca, onde possuía roças e escravos.

É importante assinalar que, em 1744, encontrava-se, em Aiuruoca, o Tenente Coronel Simão da Cunha Gago um dos cabos da Bandeira de Fernão Dias Paes Leme, que aqui erigiu, como consta, uma Capela dedicada a nossa Senhora.

Simão da cunha Gago, juntamente, com vários aiuruocanos, fazendo-se acompanhar, em sua comitiva, do Padre Felipe Teixeira Pinto levando consigo a imagem da Conceição, desceram a serra desbravando matas, atravessando campos e rios chegaram a um promontório, na margem esquerda do rio Paraíba, onde fincaram bandeira e fundaram a cidade de Rezende.

Em 1764, Aiuruoca foi visitada pelo governador Luiz Diogo e pelo doutor Cláudio Manuel da Costa, inconfidente mineiro então secretário do governo, na tentativa de conter os contrabandistas e os desvios do fisco real.

Igreja matriz de Aiuruoca/MG e sua praça central.

Embora, em tempos áureos tenha registrado a expressiva população de 23.000 pessoas, atualmente, ali vivem 6.200 habitantes.

Entre seus filhos ilustres, importante destacar:

1. Isis Valverde, atriz brasileira. Filha de Sebastião Rubens Valverde (bioquímico) e Rosalba Nable Valverde (bacharel em direito)

2. Júlio Sanderson, médico que revolucionou a prática de medicina no Brasil. Deixou uma casa que hoje é museu. Autor de inúmeros livros, dentre eles: "Heróis de Curar", "A morte é Notícia - A cura é anônima", etc.

3. José Franklin de Massena e Silva, Aiuruoca, 1837 - Rio de Janeiro, 1877. Geólogo, Astrônomo e Matemático, formado em Roma, reconhecido primeiro alpinista do país (escalou o Itatiaia em 1860), cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, membro do Instituto Histórico e Genealógico do Brasil.

4. Major Antônio Martiniano da Silva Bemfica, o músico. Compositor sacro de alta relevância para Minas Gerais, irmão de José Franklin de Massena e Silva, assim como ele, foi feito, pelo imperador Pedro II, cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa

5. Antônio Márcio de Siqueira, atual Prefeito de Aparecida (São Paulo)

(Fonte Wikipédia)

Interior da igreja matriz de Aiuruoca/MG.

Depois de merecido descanso, fui fotografar a cidade e, depois, visitar a igreja matriz, dedicada à Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

Na praça central da cidade, pude observar o busto de Dantas Mota, um ilustre aiuruocano.

Ali, inserida numa placa, há uma mensagem à sua memória, sob minha humilde ótica, escrita com muita inspiração e, que, por isso, faço questão de transcrevê-la:

O busto de Dantas Motta, que está fincado na praça principal de Aiuruoca/MG.

Depois que você partiu para a planície dos mortos, ficou o silêncio no país das gerais.

Silêncio nas ruas, nas esquinas, nos bares.

A praça erma, soturna, alargou-se tanto que parece ter se confundido com o infinito. Um deserto de lua seca e sol frio.

Até os fantasmas de suas madrugadas sumiram das calçadas e da cozinha. Daquela nossa cozinha lareira que lhe dava um gosto de falar, de criar, de imortalizar as palavras, as epístolas e as elegias.

Motta,

Aqui está hoje e sempre, prostrada diante de seu bronze intemporal, sob seu vivo e imortal olhar, Aiuruoca que você tanto amou.”

(Dr. Julinho)

Retrato de Dantas Motta

Sobre o poeta, pesquisando na internet, encontrei seu mister averiguado por alguém do ramo, que faço questão de registrar, pois, de insólita análise:

NA ENCRUZILHADA DA POESIA - Minas. Minas. “Doce País das Gerais”.

Nascido em 22 de março de 1913, em Aiuruoca, cidade do Sul de Minas Gerais, a 370 quilômetros de Belo Horizonte, José Franklin Massena de Dantas Motta viveu mais de meio século dedicando-se à poesia e ao direito.

Morreu aos 60 anos, em 9 de fevereiro de 1974, há portanto 30 anos, deixando-nos órfãos de sua companhia, mas não de sua obra: seu grande legado.

Seus primeiros estudos foram ministrados por sua mãe, dona Ana Dantas Mota, que à época era professora primária, concluindo o secundário no Colégio Sul-mineiro.

Dantas Motta cursou a Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, onde se formou em 1938. Em Belo Horizonte, com seus colegas de escola, participou da revista Surto, publicação lítero-cultural “com expressiva importância dentro da renovação das letras mineiras contemporâneas”. Assim, nesse caminhar, com passos de mineiro, devagar e sempre, fez cantar de poesia o chão bruto, das montanhas e das planícies das Gerais.

A bibliografia de Dantas Motta, pouco conhecida, parece estar esquecida entre rosas e flores nas rochas de Aiuruoca, sua cidade natal.

Já se estudaram, em Dantas Motta, o homem, o advogado, o escritor. Também o poeta, que nós, brasileiros e mineiros, sabemos pouco. Poeta de Elegias: o artista dos poemas formados de cinco e seis versos alternados. Poemas líricos, cujo tema é quase sempre terno e triste.

Não se diga ser essa poesia meramente causal. Escreveu seus textos na Revista Elétrica (na cidade de Itanhandu), dirigida pelo poeta Heitor Alves, que circulou pela primeira vez em maio de 1927.

Foi precisamente em 1932 que se viu publicado o primeiro livro de versos Surupango: Ritmos Caboclos, num misto de Brasil com África. O poeta modernista Heitor Alves considerava Surupango com obra telúrica, “poema do Brasil roceiro”. Já Eduardo Frieiro reconheceu no adolescente Dantas Motta “pouca idade e muito talento”, ao observar que sua obra se inseria na “escola da brasilidade”, cujos versos eram inspirados no folclore afro-brasileiro.

Registram as Efemérides da Academia Mineira de Letras, cuidadosamente compiladas pelos acadêmicos Oiliam José e Martins de Oliveira, homenagem de Mata Machado.

A profundidade e a extensão de seus poemas estão registrados na tese de mestrado do professor Luiz Carlos Junqueira Maciel, aprovada na década de 80.

Toda a verdadeira poesia, com suas modalidades e com vários de seus fatores, está nitidamente fixada nas Elegias do País das Gerais – Poesia Completa, em edição da Editora José Olympio, Coleção Resgate, nº 6, de 1988.

Versos regulares e irregulares; quase todos, senão todos, os gêneros poéticos: o heroico, o lírico, o descritivo, o bucólico, o satírico, o epigramático. Versos, puros versos, poesia, pura poesia, é o que sempre salta, vivo, das páginas vividas das Elegias. Alguns versos pontuados pela melancolia, descrença, quase não pela ironia, crítica e sarcasmo.

O crítico literário Sérgio Milliet, ao discorrer sobre a obra de Dantas Motta, assim se manifestou: “Você já leu Dantas Motta”? Não tinha lido, e Mário de Andrade, observou: “Carece”. Carecia mesmo. Entretanto, à primeira leitura não me entusiasmei tanto assim. Parecia-me que o poeta juntava belos versos sem contudo chegar ao poema. Esses versos isolados eram porém tão excelentes que mais de uma vez pensei em Mallarmé. Mas eu desconfiava das paixões de Mário de Andrade, embora nunca o houvesse visto elogiar com ardor um escritor... Dantas Motta não hesitou em descer ao abismo mais pobre e mais perigoso, e o que de lá nos trouxe é de espantar, é de assustar. Mário de Andrade tinha razão: carece ler”.

Simples leitor e anotador, penso haver grifado, quanto baste à minha tímida iniciação, a transbordante, completa e contagiosa poesia de Dantas Motta, que está escondida, ainda, por todo este país das Gerais.

Nesta providencial encruzilhada encontram-se Minas Gerais e Dantas Motta, para a perpetração do milagre. Só em terras mineiras podia ser escrito Elegias, porque de terras mineiras nasceram os importantes escritores.

Depois de 30 anos de seu passamento, e 91 de grande vida, possa sorrir, do lugar reservado aos justos, com a homenagem de reconhecimento e de saudade.

Adriano da Silva Ribeiro, 26, graduado em letras e literaturas, é acadêmico do Curso de Direito pela PUC Minas Betim - (Publicado no Jornal Estado de Minas – Caderno Pensar – 14/02/2004)

Na sequência, fiz um breve giro pelas tranquilas ruas da singela urbe, aproveitando a ocasião para verificar o local por onde eu deixaria a cidadezinha na manhã seguinte.

À noite fomos, a Célia e eu, lanchar no bar e lanchonete da Cleide, e ali tivemos o prazer de conhecer e confraternizar com o prefeito de Aiuruoca, o Sr. Joaquim Mateus de Sene, mais conhecido como “Mateuzinho”.

Muito simpático, cumprimentou-nos pela aventura, e se colocou à disposição para resolver eventuais dificuldades que viéssemos a ter enquanto transitássemos por seu Município.

Brindando com o Sr. Joaquim Mateus de Sene, o "Mateuzinho", prefeito de Aiuruoca/MG, no bar da Cleide.

Também me proveu de informações atualizadas sobre a cidade, bem como declinou alguns dos planos a serem implementados pela Administração Municipal, até o fim de seu mandato.

Foi, sem dúvida, em encontro agradável, e que muito me enalteceu e alegrou.

Ainda mais, nesse dia degustamos o prato que é o “carro-chefe” do estabelecimento: angu com lombo de porco.

Um delicioso acepipe, que caiu muito bem, vez que foi acompanhado de uma cerveja estupidamente gelada.

Afinal, apesar de estarmos a 1.000 m de altitude, fazia muito calor naquela noite.

Imponente e inesquecível visão do Pico do Papagaio, ao fundo.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de razoável extensão sendo que, em minha opinião, o percurso situado entre a Cachoeira do Ouro Fala, até a transposição do rio Dourado, no 20º quilômetro, o trecho mais bonito que encontrei nesse roteiro. Infelizmente, a parte final do trajeto, revestiu-se de um teste de superação e paciência, que não desejo a ninguém. Talvez seja o caso de se hospedar na Estalagem Mirante, conforme proposto na planilha disponibilizada pelo site do Caminho dos Anjos, e deixar a parte final, até a cidade de Aiuruoca, para ser enfrentada no dia seguinte, bem cedo, como forma de se evitar o estressante tráfego de veículos que se processa nessa via. Que, conforme fiquei sabendo, deverá ser pavimentada em breve.

4º dia: AIURUOCA à CACHOEIRA DOS GARCIAS – 14 quilômetros