4º dia – MAFRA a TORRES VEDRA – 31 quilômetros 

4º dia – MAFRA a TORRES VEDRAS – 31 quilômetros

Rezai o Terço todos os dias. Rezai, rezai muito! E fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas. Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu bom Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.

A jornada seria longa, cansativa e estávamos num sábado, de forma que parti às 6 h 30 min, ainda no escuro, transitando, inicialmente, por ruas frias e vazias.

Logo acessei um caminho de terra descendente que, em seu final, me levou a caminhar pelo acostamento da rodovia N-9, em franco declive.

Percorridos 5 quilômetros, obedecendo à sinalização, eu abandonei o piso asfáltico e adentrei à direita, num caminho matoso e ascendente, situado em meio a inúmeras chácaras e quintas.

Mais acima, eu transitei por Murgeira, novamente, por uma rodovia vicinal asfaltada, contudo, poucos metros adiante, acessei uma trilha matosa e empedrada que nasceu à direita e me levou, em brusco e arriscado descenso, até a Tapada Nacional de Mafra.

Trata-se de uma antiga área de caça real, atualmente, aberta ao público para observação da natureza, caminhadas, ciclismo, arco e flecha e outras atividades, e que, naquele momento ainda se encontra fechada.

Ali, eu girei à esquerda em aclive, sempre sobre piso asfáltico, transitei por Codeçal, um pequeno povoado, depois prossegui em duro ascenso até Chanca, uma vila de razoáveis dimensões, onde já avistei comércio aberto.

O trajeto sequente, ainda em forte ascendência, agora em terra, me levou a transitar pelo interior de um enorme bosque de eucaliptos mas, ao seu final, depois de forte declive, voltei ao piso asfáltico.

Após passar por Bandalhoeira, cheguei em Livramento, uma charmosa vila, onde notei um grande fluxo de veículos nas ruas, face ao horário que por ali transitei.

Então, defronte à igreja matriz do povoado, eu girei à direita, caminhei alguns metros por uma rodovia, depois, segui à esquerda e logo acessei uma larga estrada de terra ascendente, situada entre imensos parreirais.

Até Livramento a sinalização estava impecável, porém, a partir desse local as flechas desapareceram e me guiei pelo traçado gravado pelo aplicativo Wikiloc, que estava inserto em meu aparelho celular.

O trajeto prosseguiu belíssimo, fresco e hidratado, situado entre imensos parreirais, até que atingi o povoado de Melroeira, onde girei francamente à esquerda, após caminhar 18 quilômetros.

Sempre em descenso, passei por Turcifal, Mugideira e, em Orjanica, após transpor a rodovia nacional por um túnel, voltei a caminhar junto à natureza, por uma larga estrada de terra situada, como de praxe na região, entre imensos parreirais.

A chuva que vinha me rondando e premiando com uma leve e intermitente garoa, infelizmente, desabou de vez e, alguns quilômetros à frente, depois de transitar por uma extensa ciclovia, adentrei em Torres Vedra debaixo de forte temporal.

À tarde, quando a intempérie amainou, tive a oportunidade de conhecer o “casco viejo” dessa linda localidade, bem como visitar sua igreja matriz, cujo patrono é São Pedro.

Algumas fotos dessa etapa:

Sinalização do início da jornada: Excelente!

Em forte ascendência, entre eucaliptos.

O sol, finalmente, raiou...

Em forte declividade...

A igreja matriz de Livramento.

De volta aos campos. A sinalização, vide à esquerda, prossegue excelente.

Ladeado por imensos parreirais.

Ainda os parreirais, a tônica nessa bela etapa.

Em descenso, na direção a Melroeira.

Monumento em Orjanica.

A cidade de Torres Vedras já aparece no horizonte, à esquerda.

O patrono de Torres Vedra. O Caminho passa diante dessa estátua.

Localizado na Região Oeste, o território de Torres Vedras é povoado pelo homem desde os tempos mais remotos. Por aqui passaram comunidades de caçadores coletores, agricultores, metalúrgicos e, mais tarde, gregos e romanos, como Rufo, um de tantos nomes grafados na pedra que os imortalizou.

O primitivo nome do lugar esconde-se no mais profundo mistério, parecendo identificar-se com Chretina. Mas qualquer que tenha sido a data de fixação do nome Turres Veteras >Torres Vedras, este lembra as torres velhas, porque antigas, da sua primitiva fortificação, provavelmente construída ainda no período romano.

D. Afonso Henriques tomou-a após 1147, tendo permanecido, até então, sob o domínio islâmico. No reinado de Sancho I (1185-1211), a vila conheceu a primeira organização municipal. Todavia, só em 15 de Agosto de 1250, D. Afonso, terceiro do nome, cognominado de o bolonhês, doou aos homens e vassalos de Torres Vedras carta de Foral. O crescimento da vila fazia-se sentir já em finais do século XIII, tendo recebido do rei lavrador carta de feira, em 1293.

Terra de Rainhas, pelo menos desde D. Beatriz, que a recebeu antes de 1277, desde cedo foi lugar de implantação e de influência externa de diversos cenóbios como Santa Cruz de Coimbra, Santa Maria de Alcobaça e Celas, para além da presença dos mosteiros de São Vicente de Fora e de Santa Maria de Oia e das ordens militares do Hospital e de Santiago.

Mas também aqui se fundaram dois conventos de Agostinhos Calçados – Nossa Senhora da Assunção de Penafirme, em 1226, e Nossa Senhora da Graça de Torres Vedras, em 1366, a que se juntariam, mais tarde, os conventos dos frades Franciscanos de Varatojo, em 1470, e de Nossa Senhora dos Anjos, este fundado pela infanta D. Maria, senhora de Torres Vedras, para os frades Arrábidos, em 1570.

Aqui, reuniu Conselho Régio D. João I, em 1414, tendo então decidido conquistar Ceuta. E daqui partiriam, em direção ao Oriente, muitos aventureiros torrienses, ao longo dos séculos seguintes, na procura de novos mundos. Entre eles, Frei Aleixo de Meneses, Prior do convento de Nossa Senhora da Graça, entre 1588 e 1590, e, mais tarde, Arcebispo de Goa e de Braga e governador da Índia.

D. Manuel doou-lhe Foral Novo, em 1 de Junho de 1510, e D. João III fez Torres Vedras cabeça de comarca, estatuto que só exerceria efetivamente, a partir de 1619, dada a forte oposição de Alenquer, até então cabeça de comarca.

A partir de 1809, Torres Vedras ofereceria o seu nome ao maior sistema defensivo da história, com defesa efetiva, construído para defrontar as tropas de Napoleão e que seria o baluarte de defesa da capital: as Linhas de Torres Vedras.

A vila e o concelho cresceram, tornando-se um destino turístico, sobretudo a partir do início do século XX. Desde então, muitos elegem Torres Vedras como destino, quer na procura das termas quer da praia de Santa Cruz, renovando encontros permanentemente. A mesma vila elevou-se a cidade, em 1979, testemunhando um enorme crescimento urbano.

População: 80 mil pessoas.

A igreja matriz de Torres Vedras.

O interior da igreja matriz de Torres Vedras.

Uma rua de Torres Vedras.

RESUMO DO DIA - Clima: Nublado no início, depois, ensolarado, e chuvoso após a metade da jornada, variando a temperatura entre 12 e 16 graus.

Pernoite: Residencial Moderna - Cêntrico - Apartamento individual excelente - Preço: 30 Euros;

Almoço: Pipo Restaurante - Ótimo! Preço: 10 Euros o “menu do dia”.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada de grande extensão e que, também, apresenta alguns “tramos” de difícil trânsito, notadamente, em seu primeiro terço. O percurso, basicamente, mesclou rodovias vicinais com estradas de terra onde, em alguns trechos, pude desfrutar de silêncio e ermosidade. A etapa, também, me contemplou com belíssimas paisagens e imensos parreirais. Infelizmente, enfrentei muita chuva na parte final do itinerário, o que não diminuiu a beleza da cidade de Torres Vedras. Quanto à sinalética, como já afirmei acima, ela esteve perfeita até o povoado de Livramento, situado, acredito, no limite da jurisdição de Mafra; porque depois as flechas desapareceram e me guiei pelo traçado arquivado no aplicativo Wikiloc que estava inserto em meu aparelho celular. Sem ele, tenho dúvidas se conseguir chegar ao meu destino desse dia.