9ª Etapa – COIMBRA à MEALHADA (SERNADELO) – 25 QUILÔMETROS

9ª Etapa – COIMBRA à MEALHADA (SERNADELO) – 25 QUILÔMETROS – “POR LA CALZADA ROMANA DE CALE

“Se a chegada a Coimbra foi um parto largo e tortuoso, a saída se resolve em um suspiro. Antes que o peregrino se dê conta, a cidade universitária ficará atrás e seus passos se verão envolvidos de novo por um entorno rural. A jornada é curta e simples, sem maiores dificuldades, do que a subida desde Coimbra até Cioga do Monte, para sair do vale do Mondego. Por desgraça, oferece escassos atrativos. A maior parte do dia se circula por rodovias asfaltadas e aldeias minúsculas, com alguns trechos perigosos, como pelo acostamento da N-1, no alto de Santa Luzia, com um dos cruzamentos de caminhos realmente comprometedores. Boa parte do recorrido coincide com a antiga calçada romana de Aeminium (Coimbra) a Cale (Gaia/Porto), parte do extenso eixo viário militar Olisipo-Bracara (Lisboa-Braga), que articulava a Lusitana romana de norte a sul. Mealhada é uma cidade agradável, e oferece bons serviços para um final de etapa.” (Traduzido/transcrito do Guia El País Aguilar, edição do ano de 2007, que utilizei na viagem)

A jornada seria relativamente curta, porém era um sábado, dia em que o comércio, salvo exceções, fecha mais cedo.

Assim, para manter a tradição, às 6 h, eu deixei a Pensão onde pernoitara, e prossegui pela avenida que segue paralela ao rio Mondego.

Ainda estava bastante escuro, porém inúmeros carros circulavam pelas ruas urbanas, efeito de uma cidade grande, que abriga um expressivo número de estudantes universitários.

Eu passei defronte a Estação Ferroviária e prossegui adiante, de forma constante e retilínea, até que, dois quilômetros vencidos, eu ultrapassei uma rotatória e prossegui, por uma rodovia vicinal, em direção à Figueira da Foz.

O trajeto se tornou agradável e campestre, pois transitei entre inúmeros bosques, sempre em suave ascenso e, nesse ritmo, passei quase sem perceber por Ademia de Baixo, depois principiei a ascender por uma íngreme ladeira.

Em determinado ponto, fui abordado por um ciclista português que se apresentou como Guilherme e seguiu pedalando no meu ritmo, de forma que fomos conversando descontraidamente.

Ele me contou que sua intenção era fazer o Caminho correndo, e dessa forma ele percorrera o trajeto entre Lisboa e Coimbra, de 252 quilômetros, em 5 dias, algo bastante puxado, efetivamente.

No entanto, na chegada, fora acometido por uma intensa inflamação na planta dos pés o que o obrigara a consultar um médico.

O profissional que o examinou, receitara anti-inflamatórios, e aconselhara-o a desistir da aventura, sob pena de ser acometido por uma lesão mais profunda e dolorosa.

Então, ele passara o dia anterior percorrendo a cidade, na expectativa de melhoras, porém como elas não ocorreram, prontamente mudara seus planos, adquirira uma bicicleta, e prosseguia seu Caminho.

Contou-me que tinha 32 anos e era corredor semiprofissional de longas distâncias, assim, apesar da lesão, tinha certeza, de que conseguiria encerrar a bom termo sua peregrinação, mesmo de bike.

Nesse passo, conversando animadamente, passamos por Cioga do Monte, Trouxemil, Adões, Sargento Mor, percorremos um perigoso trecho pelo acostamento da movimentada rodovia N-1, e logo depois de Santa Luzia, quando o caminho derivou à esquerda, para uma estrada de terra, ele se despediu e prosseguiu por asfalto.

Fiz, então, uma providencial pausa para hidratação e ingestão de uma banana, posto que até ali, em 3 horas de caminhada, eu já percorrera 13 quilômetros.

A dia mantinha-se frio, e com um vento cortante, mas como eu estava muito bem agasalhado, a caminhada estava agradável e em bom ritmo.

Na sequência, prossegui por um aprazível e fresco bosque de eucaliptos, onde houvera extração recente, de forma que em face dos sulcos deixados pelas rodas dos tratores, encontrei diversos trechos alagados, que precisei vadear pelas laterais.

Finalmente, 3 quilômetros abaixo, eu desemboquei numa rodovia vicinal e por ela logo passei pela aldeia de Lendiosa e, ao chegar defronte à igrejinha do povoado, obedecendo as flechas, eu girei à esquerda e prossegui em frente.

Dois quilômetros depois, eu acessei uma estrada de terra, que seguiu em meio a um imenso olival, até sair próxima de uma pequena planície, situada à beira de um pequeno regato, onde o cultivo de hortaliças é intenso.

E, conquanto fosse um sábado, havia inúmeras pessoas trabalhando, inclusive utilizando pequenos tratores para revolver e corrigir o solo para o plantio, vez que a primavera já estava em pleno andamento.

Finalmente, numa rodovia vicinal, dobrei à direita e prossegui caminhando por mais um quilômetro, pelo acostamento da rodovia, até adentrar em Mealhada, uma cidade grande e bonita, localizada num cruzamento de caminhos.

Atravessei a cidade toda, depois prossegui mais dois quilômetros, por uma calçada construída para pedestres, junto ao Parque da Cidade, de grande tamanho, até aportar em Serdanelo, uma pequena aldeia pertencente ao município de Mealhada, quando meu relógio marcava 12 horas.

Lá fiquei hospedado no Residencial Hilário, onde, inclusive, há um espaço específico que serve de Albergue para Peregrinos, um dos dois únicos estabelecimentos desse gênero existentes no trecho entre Lisboa e Porto, já que o outro fica em São Caetano.

Para almoçar, utilizei o restaurante do próprio Residencial, e não me arrependi, pois fui muito bem tratado e servido pelo proprietário do Complexo, o Sr. Nuno.

Na ocasião, comentei com ele sobre a marcação do Caminho de Fátima, em flechas azuis, no sentido inverso ao Caminho de Santiago, que eu estava percorrendo.

Aleguei que até aquela cidade, eu não cruzara com nenhum peregrino, de forma que entendia que poucos estavam indo em direção ao Santuário de Nossa Senhora, algo estranho, pois estávamos próximos de 13 de maio, dia de sua aparição, em 1917.

Contou-me ele, que a sinalização pelo campo fora um esforço do governo português, no sentido de retirar das rodovias os peregrinos que se dirigem à Fátima, porém tal tentativa resultara inútil.

Porquanto eles preferem transitar pelas estradas, uma vez que o trajeto é mais curto e nela eles encontraram suprimentos e alojamento em maior quantidade.

Para tanto, e como forma de alertar os motoristas, utilizam um colete fosforescente ao redor do corpo, e caminham com uma mochilinha nas costas, fones de ouvido, vestem tênis ao invés de botas, e contam sempre com um carro de apoio.

E como os automóveis não podem transitar nas trilhas, por onde discorre o roteiro sinalizado, eles continuam preferindo transitar por asfalto.

Em minha opinião, um percurso barulhento, perigoso, desagradável e que não comporta grandes atrativos em termos de belezas naturais.

Bem, depois da “siesta”, dei uma volta pelas imediações, porém naquele distrito não existe nenhum tipo de comércio voltado para o peregrino.

Na verdade o forte ali são os restaurantes, o que rendeu à minúscula povoação o título de “A Verdadeira Capital do Leitão Assado à Bairrada”, sendo que por este tipo de comércio, foi atribuída por alguns a sua origem.

Assim, à noite retornei ao restaurante, onde ingeri apenas uma salada leve e um copo de vinho.

Depois, fui dormir, pois fazia muito frio e o domingo prometia uma jornada dura, toda por asfalto.

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa relativamente curta, no entanto cumprida quase integralmente sob piso asfáltico, embora, quase sempre, por estradas secundárias, passando por pequenas localidades agrícolas. No global, uma jornada tranquila, com muito verde, culminando com o pernoite num Residencial de excelente qualidade.

10ª Etapa – MEALHADA (SERNADELO) à ÁGUEDA – 24 QUILÔMETROS